terça-feira, 30 de julho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 41 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XLI

O dia estava ensolarado. Mas o ar frio e a brisa suave o embalava. Artistas de rua, turistas, comerciantes se misturavam, aproveitando o sol da manhã. Foi o que encontraram, Claude, Rosa e Fernanda, assim que saíram do Metrô Abbesses, linha 12. Enquanto atravessavam a rua, ouviram Claude:
- Enton preparem-se gatinhas... Nosso último passeio a três, em Paris! Le “mursdesje t’aime”.
Cruzaram o portão que dava entrada a um pequeno jardim, muito bem cuidado e organizado. Árvores antigas lançavam suas sombras pelo chão e o canto dos pássaros competia com a música do acordeon francês, que um senhor tocava na entrada do jardim.



Fernanda soltou das mãos dos pais e saiu correndo por entre os canteiros.
- Não corra assim, Fernanda! - Falou Rosa, chamando a atenção da filha – Você pode cair ou mesmo colidir com alguém, filha! Tenha modos! Muro do amor? - Pergunta para o marido, enquanto Fer voltava para eles, sorrindo,  o  rostinho corado pela corrida e pelo vento.
- Oui! O “muro dos apaixonados”. Nunca ouviu falar? É um local onde casais fazem seu voto e entrelaçam os seus sentimentos. – Diz ao se aproximarem do muro.
- É muito lindo! – Exclama Rosa, enquanto Claude pegava Borboletinha no colo, para que apreciasse melhor. - Talvez esse seja o muro mais romântico do mundo!
- O que é  românico, mamãe?
- Romântico, filha. A mamãe disse romântico, oui? - A corrige Claude, contendo o riso.
- Ahhh!  E o que é?
- Romântico é ter algo de apaixonado, meu amor. – Explica Rosa – é ser poético, sentimental... É gostar muito de alguém...
- É como ser  o herói dos contos de fada, Borboletinha!
- Ahhhh... É ser príncipe e princesa, igual você e a mamãe, quando você fala “eu te amo”? - Pergunta olhando para o pai.
- Touché! Acertou em cheio, hã? E este muro, o muro do "Eu te amo" tem quarenta metros quadrados. A frase "eu te amo" está escrita mais de mil vezes em mais de trezentas línguas diferentes. Ela foi inaugurada em doze de outubro de dois mil.
*A praça desAbesses, associada a passeios românticos, ficou ainda mais conhecida depois que os artistas Frédéric Baron, Claire Kito e Daniel Boulogne realizaram o muro dos apaixonados, já com mais de mil declarações de amor em diversos idiomas” .





Depois de andarem por toda extensão do muro, Claude continua:
- Havia um costume, quase uma lenda, que, depois de passarem por aqui, os apaixonados  colocavam um cadeado em uma das grades da ponte sobre o rio Sena, depois de trancar o cadeado, jogava-se a chave no rio e o casal ficaria  junto e feliz para sempre.
- E iremos fazer isso? – Pergunta Rosa, enquanto observam as várias  formas linguísticas de se escrever eu te amo.
- Infelizmente non. Chegamos tarde, chérie. Eram milhares de cadeados com nomes ou iniciais de casais pendurados na grade da ponte. Eles ocuparam toda a grade da Pont des Arts. Nos mais variados estilos. Mas esses cadeados começaram a atrair ladrões, pelo metal. Eles usavam cortadores de fio, o que causava danos estruturais. Enton, estão sendo retirados desde o começo de dois mil e treze.
- Que pena, que uma demonstração de amor acabe por conta de pessoas oportunistas...
- E como é que faz pra ser romântico agora? – Pergunta Fer, que prestara atenção no que Claude dizia e surpreendendo aos dois.
- De outras maneiras, por exemplo, podemos escrever poemas, fazer programas ao ar livre, dar flores, preparar um almoço ou jantar, fazer uma viagem, ou simplesmente dizer “eu te amo”. D’accord?
- D’accord,papai! A gente pode ir comer agora?
- Podemos, minha princesinha. O que você quer comer?
- Eu gostei daquele pãozinho todo enroladinho e recheado...
- Hummm, você quer dizer que gostou dos croissant! Voilá! Vamos até eles. Aqui perto tem um Bistrô e mm mmmmmm...





Horas mais tarde, no hotel.
- Térese, qualquer contratempo, você liga pra gente, d’accord? –Orienta Rosa para a babá.
- Oui, madame Geraldy. Non se preocupem, eu tomarei conta da Borboletinha como se fosse  minha irmã.
- Tenho certeza que sim. Se ela acordar, reforce que voltaremos logo...
- Não se preocupem! Eu saberei contornar a situação. Divirtam-se tranquilamente.
Claude abraça Rosa pela cintura e ambos saem para a noite. Seria a última noite deles na França. 
Quando descem do elevador, Rosa pergunta:
- Qual o nosso destino? Você não disse aonde vamos...
- Bien... – Responde Claude, sorrindo enigmaticamente - Um simples passeio em volta do Sena já seria muito romântico, hã? Mas vamos para um lugar ainda mais apaixonante.
Um táxi já os aguardava na porta do hotel. Depois de entrarem, Rosa continua:
- Tudo que fizemos e vimos foi apaixonante – Diz suspirando – O passeio pelo Sena em Paris ao pôr-do-sol; piqueniques aos pés da torre Eiffel, visita à Montmartre,  um bairro boêmio, com  seus artistas de rua ...
- Non esqueça a visita ao Monte Saint Michel, o jantar no Guinguette Du Vieux Moulin a beira do Rio Rhone em Avignon, o  passeio em Les Baux de Provence e Saint Remy, com seus  campos de lavanda e girassóis... Mas tudo isso foi só para entrarmos" no clima", gatinha.
- Está sendo uma aventura incrível, principalmente para Borboletinha. Ela adorou o porto de Cassis... Lembra só como ela ficou se banhando naquela  praia? E as falésias de Marseille, então? Verdadeira obras de arte da natureza!
- Nossa filha non tem medo de altura, chérie, percebeu? Non teve no passeio de carro que fizemos na MoyenneCorniche, entre Monaco, La Turbie e Éze, com aquela vista inacreditável sobre o Mediterrâneo e non teve na torre.
- Ela fez uma estranha analogia: disse que quanto mais perto do céu, mais fácil de sua oração ser ouvida  pelo “Papai do Céu”...
- E o que tem isso?
- Ela disse que você a ensinou a rezar, pra ela pedir a Ele que aceite a encomenda  do  seu irmãozinho...
- Voilá! Ela queria falarcom ele pelo celular, hã? Eu apenas disse que tinha que falar com uma oraçon...
- Não, foi muito mais que isso! Você a ensinou a falar com o coração! – disse, encostando sua cabeça no peito do marido, sentindo que ele a abraçava, protetora e carinhosamente. Perderam-se num silêncio, cúmplice do amor que sentiam.
Há algo místico e romântico na Europa, o friozinho incessante, os séculos de histórias, os castelos que nos lembram as histórias de contos de fadas. Um clima de romance único.
As luzes de Paris,que iluminam o Rio Sena, a lua brilhando no horizonte competindo em beleza com a Torre Eiffel fazem o clima perfeito para um casal em busca de romantismo.  E não foi isso que fizemos? Pensava Rosa, olhando pela janela, enquanto o táxi seguia. Claude ainda não falara para onde estavam indo. Mas fosse onde fosse, tinha certeza que seria  inesquecível.







Como havia sido passear de mãos dadas, se deliciar com os croissants das cafeterias e depois aproveitar o entardecer na famosa Champs-Élysée, sempre adornada por flores em seus canteiros...
A arte, a boemia, a liberdade e, sem dúvida, o amor. Paris era isso para os apaixonados. – Concluiu de si para si. Então, Claude a tirou dos devaneios:
- Hummm, ton quietinha!  O que foi, com sono?
- Não! Eu estava pensando, recordando tudo que já fizemos por aqui...
- Nada comparado ao que vai ver ainda, chérie! Bien, chegamos! – Exclama, quando o táxi para em frente a uma construção.
Rosa observou enquanto descia do táxi. Parecia um hotel de luxo. Construído à margem de um rio, aproveitava as rochas para servirem de pilastras e sustentarem os quatro ou cinco andares acima de suas cabeças.
Claude segurou a mão de Rosa e juntos atravessaram o amplo saguão, chegando até a recepção, elegantemente decorada com móveis em mogno. Incrivelmente planejado, os balcões seguiam a linha das rochas, que  haviam sido preservadas, embora desgastadas em sua superfície,  formando uma linha reta e continua.  Duas das quatro paredes eram de rochas puras também. A iluminação era o ponto alto do ambiente, deixando-o acolhedor e misterioso. Seria um cenário perfeito para O Conde de Montecristo, romance de Alexandre Dumas, pensa Rosa.
A recepcionista lançou um olhar de interesse para Claude, logo substituído por inveja, seguido de indiferença, ao notar as alianças, que Rosa fez questão de exibir, pousando discretamente sua mão sobre a de Claude, enquanto ele assinava  o livro de registro.
Assim que pegou as chaves reservadas, da suíte nupcial, ao contrário do que imaginava Rosa, desceram em vez de subirem com o elevador.
- Eu pensei ter entendido que íamos ocupar a  suíte nupcial..
- D’accord, entendeu certo, gatinha.
- Pensei também que ficasse  na cobertura... – Comenta Rosa.
- Geralmente ficam, mas é nossa última noite em Paris. Tinha que ser... especial e marcante, d’accord?
- D’accord, diz, imitando-o - Vai ser muito marcante passar a  nossa última noite no subsolo deste prédio, que deve estar cheio de “animaizinhos do mal”.
- Xiiiiii... Tenha calma, hã?
- Ter calma?!?!? Sinceramente, Claude, eu não vou fazer amor num lugar repugnante e mal cheir... – Claude a beija com paixão. Então, o elevador para e as portas se abrem.
E o que Rosa vê a deixa deslumbrada. Não havia subsolo. O subsolo era a suíte nupcial e dava de frente para o rio. Uma bancada de madeira ficava entre o quarto e as rochas da beira  do rio. Um perfume sedutor pairava no ar, uma cama com lençóis dobrados convidavam ao amor...


- Mas... como foi que achou esse lugar? – Exclamou, extasiada, sem acreditar no  que via, chegando próxima ao balcão de madeira
- Eu o projetei, há alguns anos atrás, antes de ir para o Brasil. Ficou pronto recentemente e Pierre, o proprietário, a guardou para nossa segunda lua de mel... Seremos os primeiros amantes a passar por aqui... – Responde Claude, envolvendo-a por trás.
- Devo um pedido de desculpas... Eu fui impulsiva e... Aquilo ali é uma mesa? – Pergunta, olhando para um dos braços  que as pedras faziam para dentro do rio.
- Oui... Non te lembra alguma coisa? Esse detalhe eu acrescentei depois de nosso jantar de dois anos. Tudo pela internet.  Enton, jantaremos primeiro, madame Geraldy! Tenha a gentileza de me acompanhar, hã?
- Ficarei encantada, monsieur. E depois?
-Bien, depois nos despediremos à altura da cidade dos amantes como amantes, gatinha!


Continua...

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