segunda-feira, 8 de julho de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 14 - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capitulo 14 -  Proposta

Verônica e Viviane saíam da primeira aula da faculdade, na segunda feira. Ambas cursavam medicina em uma das mais caras faculdades do país. As duas se encontraram no corredor principal da faculdade e aproveitaram para conversar.
— Oi, Verônica! Como foi a sua aula?
— Bem... E a sua?
Viviane suspirou.
— A mesma de sempre... Cada vez me convenço de que não nasci para ser médica.
— Não me diga que ainda pensa em fazer transferência de curso?
Viviane fez que não entendeu a pergunta da amiga.
— Não sei por que ainda pergunta... Você, mais do que ninguém, sabe que por mim já estaria longe desse curso.
— E vai querer mesmo cursar Administração? Você tem certeza disso? Quer dizer, mesmo nessa faculdade, não importa o quanto você tenha em dinheiro, cursar medicina é realmente um privilégio...
Viviane suspirou.
— Eu sei disso. Mas por mais que eu esteja apaixonada por um médico, eu não sinto o mesmo pela medicina.
— Isso tudo porque acha que seu avô quer que você siga a área da Medicina. Você devia ser sincera com ele. Não é porque ele sempre falava que queria que fosse médica que ele vai querer lhe obrigar a isso.
Viviane fez um muxoxo.
— Bem, isso é verdade. Mas, além disso, tem o meu tio Marcos.
— Aquele que está morando nos EUA? O que ele tem a ver com isso?
— Bem... Um dia, quando eu ainda estava no ensino médio, ele praticamente me disse que eu estava proibida de fazer Administração. Ele é realmente assustador, sabia? Até meu avô cede às vontades do Tio Marcos... Bem, no final, acho que fazer Medicina é o melhor para a família. – e andando um pouco mais devagar. - Mas mudando de assunto, você tem ficado muito amiga do Gabriel, não é?
Verônica riu.
— Por que isso de repente? – riu-se. - Não, se preocupe, não tenho qualquer interesse nele. Afinal, ele é seu prometido, não é?  – e olhando para Vivi com curiosidade. – Não me diga que você está com ciúmes?
— Muito engraçado. Eu quero manter distancia dele. Se ele mudasse para outro país seria melhor. Não, eu até pagaria uma passagem para ele ir para outro planeta.
Verônica não entendia a reação exagerada de Viviane ao nome Gabriel.
— Você o detesta tanto assim? Não acha que está exagerando um pouco só por causa de um beijinho de nada?
Viviane ficou calada por alguns segundos. As duas sentaram-se em um banco na área de convivência da faculdade.
— Acho que não foi só por aquilo. Talvez o problema não seja ele exatamente... É porque sinto que se eu ficar com ele seria como fazer o que minha família quer. Já não basta ter a profissão que é melhor para a família, não quero namorar e casar com alguém só porque minha família, em especial minha mãe, quer, não é?
— Bem, nisso você tem razão. Mas, acho que não deveria ficar descontando sua frustração em alguém que não tem nada a ver...
— Bem, de qualquer forma, ele não é nada em comparação ao Rafael...
Verônica riu-se.
— O coroa?
— É muita maldade chamá-lo assim, afinal ele não tem nem trinta anos ainda.
— E você ainda continua insistindo nisso?  Na minha opinião, você deveria deixar ele de lado e procurar outra pessoa... Aquele médico vive fugindo de você.
— Isso por que eu ainda não tenho 18 anos. Quando eu completar, você vai ver como eu vou ser correspondida!
Verônica começou a rir.
— A única coisa que sei, é que quando você completar 18 aninhos, se cometer algum crime, você vai ser responsável pelos seus próprios atos. Ou seja, se você não tomar cuidado, o médico vai lhe denunciar por perseguição.
Viviane olhou para Verônica assustada e as duas começaram a rir. De repente, alguém tocou no ombro de Verônica, que se virou.
— Gabriel? – perguntou assustada.
— Sou eu mesmo... Mas, porque está tão assustada... Por acaso, vocês estavam falando de mim?
Verônica tentou desconversar.
— Mas o que está fazendo aqui na faculdade de medicina? - perguntou ela - Você não cursa Engenharia Civil?
— Vim resolver algumas coisas... Mas, você não me respondeu. Estavam falando de mim?
Viviane, que estava sentada de costas, virou-se e olhou para ele.
— Você realmente se acha o centro das atenções, não é? Não se iluda tanto... Não gastamos nosso tempo falando de coisas tão insignificantes.
O rapaz se fez de admirado como se só naquele momento tivesse notado Viviane.
— Ora, ora... Se não é a princesinha mimada do castelo Demontieux... – e fazendo-se de admirado mais uma vez. – Ah! Eu não tinha percebido que era você. Afinal, você é uma garota tão comum.  Desculpa, eu não estava falando com você. – disse, sorrindo sarcástico.
Viviane sorriu com o mesmo sentimento.
— Mas eu estava. – disse parando. – Agora, será que é certo o principezinho do grupo Arantes interromper a conversa dos outros? Não parece educação de quem estudou nas melhores escolas da Europa... E falando nisso, porque você não volta para lá? – disse, levantando-se e puxando Verônica pelo braço. – Vamos.
Gabriel ficou parado. De repente, um amigo dele chamado André se aproximou.
— O que foi? Levou o fora de alguma garota? Por que está assim?
— Do que está falando?
— Bem, você não estava interessado em uma daquelas garotas que estavam aqui agora?
Gabriel achou aquela idéia absurda.
— Como se eu fosse gostar de uma garota tão irritante... – disse. – Mas ela não perde por esperar... Ah, com certeza. Aquela garota irritante nunca mais vai me tratar desse jeito.
André pareceu curioso.
— O que você está planejando?
— Nada de mais. Só uma brincadeirinha que ela nunca vai esquecer... – disse sorrindo.
— Isso tem a ver com o fato de você ter passado por aqui hoje?
— Elementar, meu caro Watson. – disse, rindo.
Fabiano se encontrava mais uma vez no hospital. Estava bastante cansado. Não dormira bem. Ficara pensando em muitas coisas do passado. De repente, enquanto andava, percebeu que parara em frente ao quarto de Rebeca. Bateu à porta e entrou. Ela estava acordada e olhava pela janela do quarto, admirando algo. Súbito, ela percebeu que o médico estava de pé junto a sua cama. Ele ficou observando-a por alguns segundos até que ela percebeu a sua presença.
— Doutor. Bom dia. Não o ouvi entrar.
Dr. Fabiano acordou de seus pensamentos. A paciente que a pouco tempo estava em coma, parecia cada vez melhor. Apesar da cabeça ainda estar enfaixada, o semblante dela ainda o admirava.
— Desculpa... – começou ele - Eu nem sei por que eu estou aqui. Apesar de não ser seu médico responsável, vim ver como estava. Parece que já está bem melhor. – disse, pronto para sair.
Ela sorriu.
— Por que não fica e me faz um pouco de companhia? Quer dizer, se puder, é claro... Às vezes, sinto falta de conversar com alguém... – disse.
— Bem, acho que não há nenhum problema em ficar alguns minutos.
Fabiano voltou-se e sentou-se ao lado da cama na qual ela estava deitada.
— É incrível a sua recuperação... O que o seu médico responsável falou sobre a sua perda de memória?
Ela desviou o olhar da janela novamente e olhou para ele.
— Ele disse que pode durar pouco tempo, mas não tem certeza disso... Há também a possibilidade de ser permanente, mas isso só o tempo dirá.  – e observando-o atentamente. – Mas é sobre isso que queria falar? Parece que está com algum problema...
Fabiano se sentia constrangido. Não sabia por que, mas sentia a necessidade de conversar com aquela pessoa que mal conhecia, mas por alguma razão se sentia bem quando estava com ela. Mesmo antes de ela acordar, já percebera isso.
— Eu não sei por que, eu nem te conheço... Eu não deveria...
— Você não deveria falar sobre seus problemas com uma paciente... Eu entendo. – disse, interrompendo-o. – Então, vamos ser amigos. Assim está melhor? – concluiu sorrindo.
Fabiano não conseguiu evitar sorrir.
— Que bom que sorriu... – disse ela. – Aquelas rugas na testa não combinam com o senhor, Dr...
— Fabiano. – Fabiano completou, informando o seu nome.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes. De repente, olhando aquela paciente, Fabiano percebeu que nem sabia o motivo pelo qual viera aquele quarto. Depois, lembrou-se de Érica.
— Como é possível uma pessoa não mudar nunca? – perguntou a si mesmo.
— Não é possível. – respondeu Rebeca.
Fabiano teve um pequeno sobressalto, pois não havia percebido que falara em voz alta seus pensamentos.
— As pessoas sempre mudam. – continuou ela, sem desviar o olhar da janela onde se via alguns pássaros em cima de uma árvore. – Todos os dias, toda hora... – e olhando para ele. - É como um rio que corre, atravessá-lo uma vez não é o mesmo que atravessá-lo uma segunda vez... Por mais que seja o mesmo rio, as mesmas pedras, o mesmo caminho, as águas não são as mesmas. Encontrar uma pessoa em um dia não é o mesmo que encontrá-la em outro dia.
Fabiano sorriu.
— Onde aprendeu isso?
— Não sei... – disse um pouco desconcertada. - Apenas me vem à cabeça... O cérebro humano é fascinante, não? Eu me pergunto que tipo de vida eu vivi para que esses tipos de pensamentos venham tão naturalmente a mim. – disse com o mesmo sorriso.
Fabiano ficou um pouco mais sério e com o olhar um pouco vago.
— Não se lembrar de nada... Sinto um pouco de inveja de você...
— Não sinta. – disse ela.
Fabiano percebeu que falara demais. Não tinha o costume de falar sem pensar, mas aquela jovem tinha o poder de fazê-lo dizer o que realmente sentia.
— Um dos médicos que me examinou para o relatório da polícia disse que eu tinha muitas marcas no meu corpo que não foram causadas pelo acidente. Falou também que existe uma possibilidade muito grande de eu ter sofrido várias agressões de forma frequente.
— Por que está me dizendo isso? – perguntou Fabiano um pouco confuso.
Rebeca sorriu distante.
— Sei que pode parecer bom eu não me lembrar de nada. Qualquer um diria isso. Afinal, parece que eu não tenho um bom passado. Mas, acho que não foi de todo ruim. Com certeza, teve momentos em que eu me senti feliz... É por isso que eu disse para não sentir inveja. Por mais que algumas lembranças te deixem triste, outras têm exatamente o efeito contrário. Até mesmo as pessoas, por mais lembranças ruins que elas tenham trazido, há sempre lembranças boas relacionadas a elas.
— Mesmo que uma pessoa apenas fingiu?
Rebeca sorriu suavemente. Por um momento, Fabiano pensou que nunca havia conhecido uma garota tão diferente.
— Não existe ninguém capaz de fingir completamente. Sempre haverá algo de verdadeiro, um sorriso, um comentário, um gesto.
Fabrício sorriu.
— Me parece ser um modo simplista de pensar. – comentou Fabiano.
Rebeca retribuiu o sorriso.
— Na verdade, as coisas são simples... Nós, humanos, é que temos a mania de complicar tudo.
— Estou começando a pensar que você leembrou de tudo e está nos enganando. – disse ele, fazendo uma brincadeira.
Ele levantou-se para sair e se aproximou da porta.
— Você disse que as pessoas sempre mudam. Mas, acho que há algo que nunca muda afinal.  – disse ele da porta, enquanto a observava.
Rebeca pareceu intrigada com a afirmação do Dr. Fabiano e ele continuou:
— Por mais que sejam outras águas, no final das contas, sempre vai ser água. – disse, saindo com um sorriso enigmático. – A essência de algo nunca muda, não é?
Fabiano saiu e Rebeca ficou imersa em pensamentos.
— Pode ser... Mas, e se as águas ficarem turvas? – falou para si mesma.
O dia havia passado rápido. Emanuela estava fechando a porta de casa. Tomava cuidado para ver se algum dos capangas de Fernandes não a estava seguindo. Passara a noite com a irmã no hospital. Voltara ali para pegar algumas roupas, mas já estava voltando. Ela e a irmã combinaram revezar durante a permanência do Rogério no hospital. Sabia que Mariana, assim como ela, estava cansada. Estava preparando-se para sair, quando, de repente, um carro preto importado parou em frente a sua casa. De dentro do carro saiu uma mulher bem vestida e com uma bolsa a tiracolo. Olhou para o número da casa de Emanuela e depois olhou para a garota.
— Com licença. – disse, se aproximando de Emanuela. – É aqui que moram as gêmeas Emanuela e Mariana?
— Sim. – respondeu Emanuela um pouco desconfiada. – Por que você está procurando por elas?
— Eu tenho um assunto muito importante para falar... É somente com elas.
— Eu sou uma das gêmeas. Meu nome é Emanuela.
A mulher não demonstrou qualquer reação de surpresa.
— Certo, Emanuela. Você me convidaria para entrar? É realmente um assunto muito importante.
Emanuela pareceu um pouco desconfiada, mas, resolveu acreditar nela.
— Claro. – Emanuela concordou, abrindo a porta.
Emanuela abriu a porta e, em poucos instantes, as duas estavam sentadas no sofá da sala.
— O que a senhora deseja? Por que quer falar comigo? – perguntou interessada.
— Eu tenho uma proposta para você e para a sua irmã. – disse, sendo direta.
Emanuela ficou surpresa com a sinceridade da mulher.
— P-proposta? Que tipo...? Você não veio enviada pelo Fernandes, não foi?
— Desculpe, mas eu não sei quem é Fernandes... Então, não posso ter sido enviada por ele.
Emanuela respirou um pouco mais aliviada, mas ainda não estava totalmente convencida.
— Então, o que veio me propor? Eu ainda não estou entendendo quem é você e o que quer comigo e minha irmã.
— Ah, desculpe, esqueci de me apresentar. Pode me chamar de Elisa.  
— Elisa?
— Sim, apenas Elisa.
Emanuela olhou ainda desconfiada para aquela mulher. Não sabia ao certo, mas havia algo de realmente falso nela.
— Bem, o que tenho para lhe falar não é nada ilegal... Na verdade, sou do conselho tutelar. Estaria disposta a me ouvir?
— Conselho tutelar? Eu e minha irmã já temos 18 anos, o que temos a ver com o conselho tutelar?
— Bem, como eu posso dizer... Você deve conhecer o Grupo Demontieux, não é?
— Sim... A senhora está falando daquele enorme Grupo Empresarial...
— Sim, esse mesmo.
— E o que isso tem a ver comigo e minha irmã?
Elisa respirou. Precisava exercer sua capacidade de persuasão naquele momento.
— O fato é que há pouco mais de um ano, o Dr. Otávio, presidente do Grupo, entrou com um pedido de adoção para adotá-las, mas só agora, depois que vocês completaram 18 anos é que os papéis foram liberados.
Emanuela pareceu surpresa.
— Alguém queria nos adotar? Como eu nunca soube disso?
— Talvez, porque era algo que estava sendo feito em sigilo.
Emanuela não estava acreditando naquela história.
— Isso é inacreditável... Mas, de qualquer forma, não estamos mais na idade de sermos adotadas.
— Tem razão, é por isso mesmo que estou aqui. Independente de serem adotadas ou não, o Dr. Otávio quer incluir vocês como netas dele.
Emanuela ficou sem reação.
— Do que está falando? Você está dizendo que um milionário que nem sequer nos conhece quer nos fazer herdeiras? Acha mesmo que vou acreditar nisso? É algum tipo de golpe?
Elisa sabia que não seria fácil.
— Bem, pessoalmente, eu também não entendo a mente dos milionários. Mas, acho que isso tem a ver com o fato da dona do orfanato no qual estava ter pedido esse favor a ele. Parece que eles eram amigos muito próximos e quis fazer essa última vontade dela. E ela parecia ter um apreço muito grande por vocês.
— Sim, isso é verdade. Dona Nininha era muito boa com a gente, talvez porque éramos as mais velhas do orfanato e estávamos há muito tempo lá. Mas, mesmo assim...
— Eu entendo que possa parecer estranho esse pedido. Mas, você não recusaria uma oferta assim, recusaria?
Emanuela ficou pensativa por um segundo.
— Eu ainda não sei o que pensar.
— De qualquer forma, ele também pensou que vocês seriam uma boa companhia para a neta dele. É uma garota que sempre esteve muito solitária.
Emanuela olhou sério para Elisa.
— Então, o que está querendo dizer é que ele quer que sejamos as damas de companhia da neta dele e em troca ele vai nos fazer herdeiras?
— Não foi isso que quis dizer...
Emanuela levantou-se.
— Desculpe, mas eu realmente não tenho como aceitar esse tipo de oferta.
Elisa parecia chocada.
— Então, não há nada que eu possa fazer para lhe convencer do contrário? – Emanuela balançou a cabeça negativamente. - Bem, se é isso, então, acho que não posso fazer mais nada. – fez uma pequena pausa. - Mas, tenho um pedido a fazer. Posso ir ao banheiro?
Emanuela pareceu surpresa com a mudança repentina de assunto.
— C-Claro. – disse ela, indicando o caminho.
Em poucos minutos, Elisa voltou e se despediu de Emanuela.
Ao sair da casa, abriu a porta do carro e entrou. Logo em seguida, o carro saiu.
Dentro do carro, Dr. Tarcísio olhou para Érica.
— Você realmente parece muito diferente. Não sabia que atores podem se tornar uma pessoa totalmente diferente.
Érica riu.
— Esse é um dos meus vários talentos, Tarcisinho.
— Você poderia, por favor, parar de me chamar assim? – pediu o advogado constrangido. – Então, diga, o que aconteceu? Ela acreditou na história?
Érica suspirou.
— Nem uma criança acreditaria naquela história, até meu poder de persuasão tem limites. Quem foi que pensou em um enredo tão surreal? Não me diga que foi você? – disse, enquanto via Tarcísio desviar os olhos. – Logo vi...
— Bem, eu não nasci para ser escritor... Sou um advogado.
— E por que não contratou alguém para inventar uma história melhor?
Tarcísio limpou a garganta.
— Quanto menos pessoas de fora da família souberem desse assunto melhor.
Érica balançou a cabeça negativamente.
— Eu não sei... Mas, aquela garota é muito inteligente. Mesmo que eu tenha feito parecer o mais realista possível, ainda não foi suficiente. Deve ter sido por isso que ela recusou. Agora, diga, o que nós vamos fazer?
— “Nós”?
— Sim, nós. Afinal, o Dr. Otávio quer ter um encontro com a suposta neta dele, não é? Falando nisso, peguei o que queria. – disse, abrindo a bolsa que levava. – Uma escova de dente e alguns fios de cabelo. Isso é suficiente?
— Sim. – disse ele, pegando o material. – Com isso, podemos confirmar através de um exame de DNA.
— Ainda acho que o Dr. Otávio deveria apenas dizer a verdade. Acho que não custa nada.
Tarcísio suspirou.
— Talvez ele esteja agindo assim porque tem medo de ser rejeitado como foi com o Jorge.
— Ah, eu ouvi sobre isso... Parece que eles não se davam muito bem, não é?
— Sim. Eles discutiam muito. O Dr. Otávio, na época, impôs muitas coisas ao filho. Ele se sente culpado até hoje pelo seu filho ter morrido daquela maneira quando estava brigado com ele. No fundo, o Dr. Otávio apenas quer conquistá-las primeiro antes de revelar tudo. Mas e você? Por que quer tanto voltar a morar na mansão?
Érica ficou calada por alguns segundos.
— Talvez eu seja parecida com o Dr. Otávio nesse caso e só quero reparar um erro.
— Está falando do erro de ter abandonado o Dr. Fabiano?
— Isso não é da sua conta. De qualquer forma, asssim que o resultado do teste sair, diga a mim imediatamente.
— E por que eu diria?
— Você não quer que as netas do Dr. Otávio morem na mansão? Eu posso fazer isso, mas do meu jeito. O que importa é apenas o resultado, não é?
Tarcísio balançou a cabeça afirmativamente, ainda indeciso se confiava ou não naquela mulher.
Mariana já estava a um bom tempo ali. Emanuela disse que voltaria logo, mas estava demorando bastante. Já era quase meio dia. Rogério tinha passado a manhã quase toda acordado conversando com ela, mas estava descansando naquele momento. Ela tentou ligar para o celular da irmã, mas por mais que chamasse, não atendia.
— Emanuela, onde você está? – perguntou para si mesma, enquanto tentava mais uma vez ligar para o celular da irmã.
De repente, alguém bateu à porta. Era o Dr. Rafael.
— Com licença. – disse entrando. – Como está o nosso paciente?
— Acho que bem melhor... Os machucados estão menos inchados... Deve ser o antiinflamatório que estão usando...
— Deve ser. – concordou Rafael rindo. – É impressão minha ou você parece gostar de medicina?
Mariana riu.
— Não é impressão. Eu realmente gosto dessa área. Eu estou estudando para fazer uma faculdade de medicina na área da pediatria.
— Muito interessante. A medicina é fascinante, não acha?
Mariana concordava plenamente.
— É. Diminuir o sofrimento das pessoas ou mesmo salvar algumas delas... Isso realmente traz um sentimento muito bom. Pena que alguns afirmam que médicos são apenas pessoas com complexo de Deus.
Rafael não conseguiu evitar rir.
— Pode ser que eles tenham razão... – disse ainda rindo. – Quando estamos em uma cirurgia temos a sensação de que podemos salvar qualquer pessoa, mas infelizmente não é assim.
— O senhor é cirurgião? – perguntou Mariana curiosa.
— Ainda não. – disse ele, enquanto pegava o prontuário de Rogério. – Mas tenho estudado para isso... Por enquanto, faço parte da equipe de apoio do hospital, por isso você pode me encontrar em qualquer lugar daqui.
De repente, Rafael lembrou-se que Mariana estava ali desde cedo e não a vira sair dali um só momento.
— Mariana, não é?
— Sim. – ela confirmou o próprio nome.
— Você já almoçou?
Mariana suspirou.
— Infelizmente não. Estou esperando a minha irmã, mas até agora ela não veio. E acho que não virá tão cedo. Nem o celular ela atende... – disse, tentando ligar mais uma vez.
— Venha almoçar comigo. – convidou ele - Afinal, se você é amiga do Fabrício, também é minha amiga. Além do mais, a comida servida aos médicos é muito boa.
Mariana pareceu vibrar.
— Posso mesmo? – perguntou Mariana. – Mas, e o meu pai?
Rafael riu da animação da garota.
— Não se preocupe. Chamarei uma enfermeira para que fique aqui por enquanto, para que não fique preocupada.
— Obrigada mesmo, Dr. Rafael. Eu realmente estou com fome... Você nem imagina... – e notando o erro. – Quer dizer, “o senhor”...
— Pode me chamar de você. “Senhor” me faz parecer muito velho.
— Ok! – disse Mariana sorrindo. – Então, eu vou almoçar com você.
Rafael mais uma vez não pode deixar de rir da espontaneidade da garota.
Verônica havia chegado da faculdade. Ao entrar em casa, procurou pelo irmão. Perguntou à empregada onde ele estava. Descobriu que ele estava na academia do prédio. Deixou a bolsa e foi encontrar-se com ele. Ao chegar lá, conseguiu encontrá-lo em meio a todos aqueles equipamentos.
— Qual a desculpa esfarrapada que vai dar agora Fabrício?
Fabrício que estava malhando parou de repente.
— Do que você está falando? – ele perguntou, não entendendo a rispidez da irmã.
Verônica sorriu impaciente.
— O papai me ligou hoje, logo depois que eu saía da faculdade... Ele estava extremamente irritado. Na verdade, eu nunca tinha visto ele tão irritado na minha vida.
— Com o quê? – perguntou Fabrício, não entendendo o que a irmã queria dizer.
Verônica tentou ser o mais clara possível.
— Tem certeza que você não sabe? Você não sabe que R$ 500.000 sumiram da nossa conta e que não fui eu que retirei esse dinheiro? Quando você disse que estava em um problema sério, você apenas disse que tinha ajudado aquela garota a fugir de alguém e não me contou detalhes. E agora isso.
Fabrício ficou pálido. Não era possível que o seu pai monitorasse tão de perto a conta conjunta dos dois irmãos.
— O que foi que você fez, Fabrício? – perguntou ela, olhando para a expressão assustada do irmão.
O Dr. Otávio estava mais uma vez em seu escritório. Ali também estavam o seu advogado e amigo Dr. Tarcísio e outros três sócios do Grupo também responsáveis pela administração, Homero, Fausto e Robert.
— Isso é verdade? Vocês têm certeza do que estão falando?
— Sim. – Homero confirmou a informação. – Alguém está usando o grupo para lavagem de dinheiro... E o responsável por isso parece ser o seu próprio irmão, Dr. Otávio.
Otávio não acreditava no que estava ouvindo.
— O meu próprio irmão... – Dr. Otávio não conseguia acreditar por mais que repetisse para si mesmo. – Mas por que razão ele teria necessidade de lavagem de dinheiro? Isso não faz o menor sentido!
Robert, um americano naturalizado brasileiro, olhou para o Dr. Otávio.
— Dr. Otávio. Há indícios muito fortes de que seu irmão seja o chefe do tráfico humano e de um dos maiores pontos de tráfico de drogas da região.
O Dr. Otávio estava totalmente pálido.
— Isso é impossível! O meu próprio irmão... Mas como eu não pude ver isso?
O Dr. Tarcísio resolveu explicar.
— Era um esquema muito bem armado. Se não fosse a auditoria jamais teríamos percebido...
— Auditoria? – O Dr. Otávio estava confuso. – Quem autorizou essa auditoria? – perguntou um pouco irritado. - Por que não me comunicaram?
— Mantivemos em segredo de qualquer pessoa da sua família, Dr. Otávio. Não sei se o senhor sabe, mas, houve uma vez em que o grupo quis realizar uma auditoria em uma das empresas e, de alguma forma, fomos impossibilitados de realizá-la pelo seu irmão. Então, resolvemos manter em segredo.
—E vocês têm provas disso? – perguntou Dr. Otávio. – De que realmente o meu irmão está envolvido nisso?
— Ainda não temos provas suficientes... – disse Fausto. – Mas, ao término das investigações talvez tenhamos provas suficientes para mandá-lo para a cadeia.
O Dr. Otávio ficou calado por um instante.
— Vocês podem sair, por favor... Eu preciso pensar um pouco. Vocês devem imaginar que isso não está sendo muito fácil para mim. Afinal, estamos falando do meu irmão.
Os quatro concordaram. Logo depois, quando ficou sozinho, o Dr. Otávio pegou um remédio para controlar sua pressão. Ultimamente, ela estava oscilando bastante.
Viviane estava mais uma vez no hospital. Por mais que a mãe e a amiga falassem, não conseguia ficar muito tempo sem falar com o Dr. Rafael. Logo ao chegar, tomou um susto. Ela viu Rafael saindo acompanhado de uma garota que aparentava ter a sua idade. Saíam do lugar onde apenas os médicos almoçavam. De longe, pôde perceber que Rafael parecia sorrir, enquanto se despedia da jovem. Logo que Rafael saiu, Viviane se pôs a seguir a garota que estava com ele. De repente, percebeu que ela ia entrar em dos quartos do hospital.
“Quem é aquela garota?” – perguntou a si mesma chegando mais próximo de Mariana.
Viviane tomou coragem e interpelou a garota antes que ela entrasse no quarto.
— Com licença. – disse Viviane, tocando no ombro de Mariana. – Posso falar com você?
Mariana ficou assustada por um instante.
— Claro. – respondeu confusa. – Mas, tem certeza que é comigo que quer falar? Eu conheço você de algum lugar?
Viviane ficou séria.
— É com você mesma que eu quero falar. – disse, encarando Mariana.
Mariana não entendia a rispidez com que aquela garota falava com ela.
— Eu vou ser simples e direta. – disse Viviane, olhando diretamente para Mariana. – Que tipo de relação você tem com Rafael?
Mariana ainda estava um pouco atordoada com o que Viviane acabara de falar.
— Do que você está falando?
Viviane sorriu irônica.
— Vai dizer que não conhece o Rafael? Você almoça com um cara e não sabe o nome dele? Que tipo de garota você é?
— Eu realmente não entendo porque você está falando assim comigo. Mas se isso tem a ver com o Dr. Rafael, fique tranquila, eu não tenho nada com ele.
Viviane pareceu se acalmar um pouco.
— Eu espero que sim. Por que vou logo avisando, o Rafael é meu. Não se atreva a olhar para ele... Eu tenho muito dinheiro e posso fazer da sua vida a pior possível.
Mariana sorriu, achando aquela situação um pouco ridícula.
— Eu não tenho medo de ameaças. E apesar de não entender essa sua reação, eu gostaria que você soubesse que não precisa se preocupar, eu não olho para o Dr. Rafael dessa maneira. Para falar a verdade, eu mal o conheço.
Viviane sorriu.
— Ainda bem que você entendeu.
— Entendeu o quê, Viviane? – perguntou alguém se aproximando.
Viviane teve um sobressalto. Ela conhecia aquela voz. Era Rafael.
— Não é nada, Rafael. – disse Viviane, tentando se explicar. – Eu apenas estava dizendo para a...
— Mariana. – disse Mariana, informando seu nome.
— Isso. Eu estava perguntando para Mariana se ela entendia que eu quero ser amiga dela... – explicou meio sem jeito.
Rafael sorriu.
— Que bom. Mariana pode ser uma boa influência para você. É uma boa garota. – comentou Rafael.
Viviane parecia um pouco constrangida.
— Então, eu já vou indo. – disse. - Até outro dia, Rafael. E bye bye, Mariana.
Enquanto se afastava, Rafael e Mariana a observavam.
— Não se importe muito com ela. Ela pode parecer uma má pessoa, mas é apenas um pouco teimosa... – disse sorrindo. – Eu ouvi a maior parte da conversa de vocês.
Mariana ficou um pouco surpresa, mas logo retomou a sua calma habitual.
— Ela parece estar muito apaixonada pelo senhor, quer dizer, por você.
Rafael sorriu.
— É o que ela sempre vive dizendo... Mas não passa de uma paixão adolescente. – e olhando para Mariana. – Mas, você me surpreendeu...
Mariana pareceu não entender o último comentário do Dr. Rafael.
— Pensei que fosse tão imatura quanto Viviane. – disse ele se afastando.
Mariana sorriu, se perguntando se aquilo foi realmente um elogio.

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