quinta-feira, 18 de julho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 38 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXXVIII

- E que mal tem ser impulsiva de  vez em quando, hã? Non foi assim que nos conhecemos? – Disse Claude sorrindo – Que tal sermos impulsivos agora e dar uma volta de barco?
- Assim, sem avisar ninguém?
- Exatamente assim. Tia Elisabeth non vai estranhar.  Ela sabe de nossas... experiências.
- Mas...
- Sem mas, hã? – Diz Claude, pegando-a pela mão e andando em direção ao barco, ancorado por uma corda  amarrada no mesmo galho da árvore que sustentava o balanço.
Fez um sinal para que Rosa parasse e  dobrou  a barra da calça, para não molhar, entrando primeiro no barco. Um barco pequeno, porém gracioso e bem conservado.  Depois, estendendo os braços, puxou-a para dentro dele.
Saltou pra fora, desamarrou e empurrou-o para dentro da água numa profundidade maior. E acabou molhando as pernas da calça.
Enquanto Rosa observava tudo que havia dentro do barco, Claude inspecionava a  parte do comando.
- Claude, você sabe mesmo pilotar um barco desses? - Perguntou Rosa, observando Claude acionar o motor e sair com o barco trepidando.
- Defina pilotar, chérie... -  Foi a resposta dele com um sorriso.
- Claude... Eu estou falando sério! O barco inteiro está tremendo – disse, segurando-se  em uma das madeiras que sustentavam a pequena cobertura sobre um dos bancos. 
- Isso é porque o motor ainda está “frio”, hã? Assim que pegar uma velocidade constante, ele  engrena e non teremos mais essa sensaçon. Non tem segredo em se pilotar um barco. Se você sabe a diferença entre esquerda e  direita, é só pegar o manche e pilotar.
- Direita... esquerda... – Falou  Rosa, apontando as duas direções com o dedo indicador.  -  Vai me deixar pilotar então?
- Mas você já pilota o barco da minha vida, gatinha... 
- Isso foi uma maneira romântica de dizer não...
- Non. Isso foi uma maneira romântica de dizer que quero ficar juntinho contigo aqui, apreciando  a natureza, hã? – Disse, colocando o motor em rotação maior.  
O barco, ao abrir caminho pelas águas do rio, fazia surgir pequenas ondas espumantes, cujas cristas  brancas destacavam-se  do fundo azul escuro da água.
O Sol penetrava nelas, fazendo-as brilharem. Cintilarem como pequenas gotas de diamante. Já estavam em rio aberto, com margens baixas e sem nenhuma rocha mais. Não havia mais perigo de se chocarem contra qualquer uma delas.
- É incrível a ação do vento e do tempo, non é?  O vento escavou durante longos anos as paredes destas rochas que ficaram para trás, transformando-as em verdadeiras obras de arte...
- É perfeito! Notou a transparência da água? Dá pra ver o fundo do rio, às vezes...
- Ton transparente quanto você, gatinha... Por que ainda está pensando em Roberta?
- Não estou pensando nela! – Exclamou irritada. Claude tinha o poder de ver o que lhe ia na alma.
- Está sim.  Está aborrecida, se comparando a ela...
- Desculpa, eu não consigo evitar... – Eu não sabia que ela era tão... tão...
- Ton insuportável!  Uma mulher pedante e superficial. Quer saber? Ela pode ser uma ótima atriz, mas non conseguiria jamais interpretar uma babá, ou uma mulher loucamente apaixonada.  Ela non teria “time” para tanto, hã?
Disse isso e a trouxe à sua frente, encostando-a em seu corpo.
- Vamos lá, “maruja” – Continuou com um tom malicioso na voz – Está na hora de aprender a pilotar este barco.
E pegando as mãos de Rosa trouxe-as até o manche, guiando-lhe os movimentos.
- Como disse, non tem segredos... É um motor simples, de baixa  velocidade. Tudo que você tem a fazer é segurar  aqui e comandar a direçon...
Então,  subiu com seus dedos pelos braços dela, enquanto seus lábios  enroscavam-se no pescoço dela.
Rosa fechou os olhos e  diminuiu a pressão das mãos  em torno do manche que segurava, soltando-o de repente, na intenção de  alcançar a cabeça do marido.
O motor rateou e o barco deu um solavanco inesperado, jogando-os para frente. Claude fez o movimento inverso, tentando equilibrar a ambos e acabaram caindo sentados no banco do barco.
- Oh, não! Exclamaram antes de explodirem numa gargalhada.
- Mon Dieu! Eu achei que aqui no Texas, estaríamos livres desses “desequilíbrios energéticos”!  - Fala Claude, tentando se controlar. -  tudo bem contigo? Machucou-se?
- A única coisa que está machucada é a minha autoestima: sou uma péssima piloto, não consegui manter o motor funcionando!
- A culpa non foi sua, hã? Como seu  co-piloto, eu devia  lhe dar outro tipo de instruçon... Mas, vamos à aula de número dois, d’accord?
Claude levantou-se e  deu  a partida novamente no motor. Uma... duas... três... inúmeras vezes. Mas  o motor não respondia. Abaixou-se, tentando ver se havia algum fio solto. E o barco descia o rio ao sabor de sua suave correnteza.
- Alguma coisa errada? – Perguntou Rosa, preocupada, abaixando-se também.
- Acho que desequilibramos o motor também, hã? A energia dele puf! Acabou, chérie! Está afogado.
- E nem temos uma cachoeira por aqui...
- Muito engraçad... – Claude não completa  sua frase, pois o  barco dá um solavanco, batendo em alguma coisa. – Mas o que foi isso?
- Batemos em alguma coisa... –diz Rosa e os dois levantam ao mesmo tempo. 


O barco estava agora literalmente preso entre uma árvore que caprichosamente crescia  dentro da água e outra, já adulta, na margem do rio.
- E essa agora... Como vamos sair daqui? – Perguntou Rosa, desolada.
- Podemos  esperar o motor  descansar e ressuscitar.  Ou podemos “descer” e empurrar o barco para que pegue no tranco, hã? – Falou em tom de gozação.
- Não há outra alternativa? Uma melhorzinha? – Revida no mesmo tom.
- Voilá... Sempre há outra alternativa, gatinha.  Já que o motor “afogou”, por que non aproveitamos o tempo e  nos afogamos de amor também? –
 Argumentou, envolvendo-a pela cintura, com o olhar quente de desejo, a hipnotizá-la.
E perderam-se no tempo, no espaço e nos olhos um do outro.  Se ofereceram ao mesmo tempo e encontraram-se no meio do caminho. Seus corpos se uniram,  ardentes, a paixão de sempre.
- Claude... não podemos fazer isso aqui...
- Por que non? Estamos só nós dois perdidos de amor... E  já fizemos amor em muitos lugares diferentes, hã?
- Não num barco encalhado no meio de um rio...
- Non... no meio do rio nunca. Mas podemos experimentar – Falava baixinho, enquanto a acariciava com o próprio rosto, fazendo-a se arrepiar com o contato da barba por fazer contra sua pele. 
- E se de repente ele... desencalha e vira?
- Podemos dar um jeito nisso. – Respondeu,  jogando a corda e passando-a pelo galho da pequena árvore. – Pronto. Mais segura agora?
Qualquer que fosse a resposta dela, nunca foi dita. Claude inclinou o rosto até sua boca e beijou-a docemente a princípio. Rosa não ofereceu resistência.
- Claude, isso é loucura! – Murmurou Rosa, ofegante.
- D’accord! Uma loucura deliciosa... e non dá mais pra voltar atrás, gatinha...
E  inclinando a cabeça, Claude a beijou.
Até que o mundo pareceu explodir e silenciar ao mesmo tempo. Eram um, eram únicos. Eram a criação do universo, num sopro divino da criação humana...
Quando todo o êxtase se foi, continuaram abraçados. E embalados pelo balanço das águas, adormeceram, entre sussurros de amor...
Na fazenda, Roberta ainda esperava pelo retorno de Claude. Insistia em ficar até que retornasse com ou sem a esposa. De preferência, sem.
- Elisabeth querida, se seu sobrinho pensa que vou desistir de esperá-lo, está muito enganado! Tenho até o meio dia de amanhã  livre.
- Roberta, entenda. Claude e Rosa se amam. Nada vai separá-los. Esse amor estava escrito nas estrelas, darling.
- Pois, eu posso  passar um corretivo e reescrevê-lo!
- A última pessoa que tentou, quase não sobreviveu... – Fala Elisabeth.
- Está se referindo à Nara, não é? Edmond me contou  tudo, numa noite em que precisava de... consolo. Coitado... Ter que ficar preso a uma pessoa naquelas  condições... Mas eu não serei estúpida como ela. Tenho outras estratégias...
- Roberta, se continuar com essas ideias, serei obrigada a encerrar nossa amizade.
- Oras, Elisabeth, eu apenas...
- O papai não voltou ainda com a mamãe? – Pergunta Fernanda, entrando na sala de mão dada com Gideon – Ihhh, quando eles demoram assim é porque tão namorando! – E recebe um olhar de ciúmes, quase mortal, de Roberta...

Continua...

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