XXXVIII
- E que mal tem ser impulsiva
de vez em quando, hã? Non foi assim que nos conhecemos? – Disse Claude
sorrindo – Que tal sermos impulsivos agora e dar uma volta de barco?
- Assim, sem avisar ninguém?
- Exatamente assim. Tia Elisabeth non
vai estranhar. Ela sabe de nossas... experiências.
- Mas...
- Sem mas, hã? – Diz Claude,
pegando-a pela mão e andando em direção ao barco, ancorado por uma corda
amarrada no mesmo galho da árvore que sustentava o balanço.
Fez um sinal para que Rosa parasse
e dobrou a barra da calça, para não molhar, entrando primeiro no
barco. Um barco pequeno, porém gracioso e bem conservado. Depois,
estendendo os braços, puxou-a para dentro dele.
Saltou pra fora, desamarrou e empurrou-o
para dentro da água numa profundidade maior. E acabou molhando as pernas da
calça.
Enquanto Rosa observava tudo que havia dentro
do barco, Claude inspecionava a parte do comando.
- Claude, você sabe mesmo pilotar um
barco desses? - Perguntou Rosa, observando Claude acionar o motor e sair com o
barco trepidando.
- Defina pilotar, chérie... -
Foi a resposta dele com um sorriso.
- Claude... Eu estou falando sério! O
barco inteiro está tremendo – disse, segurando-se em uma das madeiras que
sustentavam a pequena cobertura sobre um dos bancos.
- Isso é porque o motor ainda está
“frio”, hã? Assim que pegar uma velocidade constante, ele engrena e non
teremos mais essa sensaçon. Non tem segredo em se pilotar um barco. Se você
sabe a diferença entre esquerda e direita, é só pegar o manche e pilotar.
- Direita... esquerda... –
Falou Rosa, apontando as duas direções com o dedo indicador.
- Vai me deixar pilotar então?
- Mas você já pilota o barco da minha
vida, gatinha...
- Isso foi uma maneira romântica de
dizer não...
- Non. Isso foi uma maneira romântica
de dizer que quero ficar juntinho contigo aqui, apreciando a natureza,
hã? – Disse, colocando o motor em rotação maior.
O barco, ao abrir caminho pelas águas
do rio, fazia surgir pequenas ondas espumantes, cujas cristas brancas
destacavam-se do fundo azul escuro da água.
O Sol penetrava nelas, fazendo-as
brilharem. Cintilarem como pequenas gotas de diamante. Já estavam em rio
aberto, com margens baixas e sem nenhuma rocha mais. Não havia mais perigo de
se chocarem contra qualquer uma delas.
- É incrível a ação do vento e do
tempo, non é? O vento escavou durante longos anos as paredes destas
rochas que ficaram para trás, transformando-as em verdadeiras obras de arte...
- É perfeito! Notou a transparência
da água? Dá pra ver o fundo do rio, às vezes...
- Ton transparente quanto você, gatinha...
Por que ainda está pensando em Roberta?
- Não estou pensando nela! – Exclamou
irritada. Claude tinha o poder de ver o que lhe ia na alma.
- Está sim. Está aborrecida, se
comparando a ela...
- Desculpa, eu não consigo evitar...
– Eu não sabia que ela era tão... tão...
- Ton insuportável! Uma mulher
pedante e superficial. Quer saber? Ela pode ser uma ótima atriz, mas non
conseguiria jamais interpretar uma babá, ou uma mulher loucamente
apaixonada. Ela non teria “time” para tanto, hã?
Disse isso e a trouxe à sua frente,
encostando-a em seu corpo.
- Vamos lá, “maruja” – Continuou com
um tom malicioso na voz – Está na hora de aprender a pilotar este barco.
E pegando as mãos de Rosa trouxe-as
até o manche, guiando-lhe os movimentos.
- Como disse, non tem segredos... É
um motor simples, de baixa velocidade. Tudo que você tem a fazer é
segurar aqui e comandar a direçon...
Então, subiu com seus dedos pelos braços dela, enquanto
seus lábios enroscavam-se no pescoço dela.
Rosa fechou os olhos e diminuiu
a pressão das mãos em torno do manche que segurava, soltando-o de
repente, na intenção de alcançar a cabeça do marido.
O motor rateou e o barco deu um
solavanco inesperado, jogando-os para frente. Claude fez o movimento
inverso, tentando equilibrar a ambos e acabaram caindo sentados no banco
do barco.
- Oh, não! Exclamaram antes de
explodirem numa gargalhada.
- Mon Dieu! Eu achei que aqui no Texas,
estaríamos livres desses “desequilíbrios energéticos”! - Fala Claude,
tentando se controlar. - tudo bem contigo? Machucou-se?
- A única coisa que está
machucada é a minha autoestima: sou uma péssima piloto, não consegui manter o
motor funcionando!
- A culpa non foi sua, hã? Como seu
co-piloto, eu devia lhe dar outro tipo de instruçon... Mas, vamos à
aula de número dois, d’accord?
Claude levantou-se e deu
a partida novamente no motor. Uma... duas... três... inúmeras vezes. Mas
o motor não respondia. Abaixou-se, tentando ver se havia algum fio solto. E o barco descia o rio ao sabor de
sua suave correnteza.
- Alguma coisa errada? – Perguntou Rosa,
preocupada, abaixando-se também.
- Acho que desequilibramos o
motor também, hã? A energia dele puf! Acabou, chérie! Está afogado.
- E nem temos uma cachoeira por
aqui...
- Muito engraçad... – Claude não
completa sua frase, pois o barco dá um solavanco, batendo em alguma
coisa. – Mas o que foi isso?
- Batemos em alguma coisa... –diz
Rosa e os dois levantam ao mesmo tempo.
O barco estava agora literalmente preso
entre uma árvore que caprichosamente crescia dentro da água e outra, já
adulta, na margem do rio.
- E essa agora... Como vamos sair
daqui? – Perguntou Rosa, desolada.
- Podemos esperar o motor
descansar e ressuscitar. Ou podemos “descer” e empurrar o barco
para que pegue no tranco, hã? – Falou em tom de gozação.
- Não há outra alternativa? Uma
melhorzinha? – Revida no mesmo tom.
- Voilá... Sempre há outra
alternativa, gatinha. Já que o motor “afogou”, por que non aproveitamos o
tempo e nos afogamos de amor também? –
Argumentou, envolvendo-a pela
cintura, com o olhar quente de desejo, a hipnotizá-la.
E perderam-se no tempo, no espaço e
nos olhos um do outro. Se ofereceram ao mesmo tempo e encontraram-se no
meio do caminho. Seus corpos se uniram, ardentes, a paixão de sempre.
- Claude... não podemos fazer isso
aqui...
- Por que non? Estamos só nós dois
perdidos de amor... E já fizemos amor em muitos lugares diferentes, hã?
- Não num barco encalhado no meio de
um rio...
- Non... no meio do rio nunca. Mas
podemos experimentar – Falava baixinho, enquanto a acariciava com o próprio
rosto, fazendo-a se arrepiar com o contato da barba por fazer contra sua
pele.
- E se de repente ele... desencalha e
vira?
- Podemos dar um jeito nisso. –
Respondeu, jogando a corda e passando-a
pelo galho da pequena árvore. – Pronto. Mais segura agora?
Qualquer que fosse a resposta
dela, nunca foi dita. Claude inclinou o rosto até sua boca e beijou-a docemente
a princípio. Rosa não ofereceu resistência.
- Claude, isso é loucura! – Murmurou
Rosa, ofegante.
- D’accord! Uma loucura deliciosa...
e non dá mais pra voltar atrás, gatinha...
E inclinando a cabeça, Claude a
beijou.
Até que o mundo pareceu explodir e
silenciar ao mesmo tempo. Eram um, eram únicos. Eram a criação do universo, num
sopro divino da criação humana...
Quando todo o êxtase se foi,
continuaram abraçados. E embalados pelo balanço das águas, adormeceram, entre
sussurros de amor...
Na fazenda, Roberta ainda esperava
pelo retorno de Claude. Insistia em ficar até que retornasse com ou sem a
esposa. De preferência, sem.
- Elisabeth querida, se seu sobrinho
pensa que vou desistir de esperá-lo, está muito enganado! Tenho até o meio dia
de amanhã livre.
- Roberta, entenda. Claude e Rosa se
amam. Nada vai separá-los. Esse amor estava escrito nas estrelas, darling.
- Pois, eu posso passar um
corretivo e reescrevê-lo!
- A última pessoa que tentou, quase
não sobreviveu... – Fala Elisabeth.
- Está se referindo à Nara, não é?
Edmond me contou tudo, numa noite em que precisava de... consolo. Coitado...
Ter que ficar preso a uma pessoa naquelas condições... Mas eu não serei
estúpida como ela. Tenho outras estratégias...
- Roberta, se continuar com essas
ideias, serei obrigada a encerrar nossa amizade.
- Oras, Elisabeth, eu apenas...
- O papai não voltou ainda com a
mamãe? – Pergunta Fernanda, entrando na sala de mão dada com Gideon – Ihhh,
quando eles demoram assim é porque tão namorando! – E recebe um olhar de
ciúmes, quase mortal, de Roberta...
Continua...
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