O
conto que reproduzimos abaixo é da autoria de Humberto de Campos.
Para
maiores informações sobre o autor, favor acessar: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=640&sid=221.
Boa
leitura!
OS SUSPENSÓRIOS
8
de julho
Um
advogado ilustre, pessoa da minha estima, contava-me, há dias, um caso curioso
que o impressionara profundamente. Procurado por uma senhora, que desejava
divorciar-se, fizera ele a petição competente, com todo o segredo, e foi
levá-la ao juiz. E regozijava-se com a surpresa que ia causar ao péssimo esposo
da sua cliente, quando abriu a boca estupefato: no cartório havia, já, uma
petição do marido, que apelava para o mesmo recurso judiciário apoiado nas
mesmas razões em que se apoiava a mulher. E, como conversa puxa conversa,
contou-me o ilustre causídico uma história interessante, que ele havia lido,
poucos dias antes, em certa revista estrangeira.
Homem
de gênio desigual, o Sr. Fabiano preparava-se para sair, quando, de repente,
começou a perder a paciência. Faltava-lhe o suspensório, que devia estar preso
à calça vestida na véspera, e era com indignação que ele berrava, com as mãos
segurando o cós:
-
Não o viste, Maria?
A
criada respondia-lhe negativamente e ele trovejava para a mulher:
-
Não o viste, Marcela?
De
repente, coordenando as idéias, ajustando o "puzzle" das lembranças
recentes, calou-se, acalmando completamente a tempestade. E ia fazer o possível
para que ninguém falasse mais em tal coisa, quando a mulher chegou à porta do
quarto, avisando:
-
Fabiano, aí tem uma pessoa que quer falar contigo, com urgência.
-
Quem é?
-
O Sr. Octaviano, da farmácia.
Um
minuto depois, mostrando nas olheiras escuras as infinitas torturas de uma
noite de insônia, entrava no quarto, usando da intimidade que ligava as duas
famílias, o Sr. Octaviano, farmacêutico de renome. Estava soturno, grave,
circunspecto, e, sentindo-se a sós com o amigo, explicou, misterioso, o motivo
daquela visita matinal:
-
Você sabe - começou, - que eu tinha absoluta confiança em minha mulher. Em
minha casa não entrava, jamais, outro homem. Entretanto, ao penetrar, ontem, no
nosso quarto de dormir, encontrei isto debaixo da cama. Veja!
E,
dizendo isso, arrancou do bolso do sobretudo, que não tirara, um par de
suspensórios azul, com fivelas de prata, que exibiu, confiante, aos olhos
espantados do amigo.
A
essas vozes, porém, a porta escancara-se e, de um pulo, aparece no meio do
quarto uma figura de mulher. Era D. Marcela que, tendo visto e ouvido tudo pela
fechadura, bradava, branca de cólera:
-
Mas, que é isso, afinal? Esse suspensório é o teu, que estas procurando há meia
hora!
E
cerrando os punhos, no rumo do esposo:
-
Indigno! Canalha! Miserável! Não fico nesta casa mais, nem um minuto!
Cachorro!...
E
prorrompendo em soluços:
-
Bandido! Infame! Desgraçado!..
Atarantado
com o que acabava de ouvir, o Sr. Octaviano recuara até à parede, boquiaberto.
Pálido, tonto, desorientado, o Sr. Fabiano fizera outro tanto, em sentido
contrário. E ia a comédia por essa altura, com a moça a arrancar furiosamente
os cabelos no meio do quarto, quando apareceu à porta a criada, trazendo alguma
coisa nas mãos.
-
Patrão, achei os seus suspensórios.
A
patroa parou de chorar, estacando, de olhos escancarados, pálida, de cera. E a
criada continuou:
-
Estavam na secretária da senhora, ao lado do canapé.
Recobrando
animo, o Sr. Fabiano encaminhou-se, rápido, para a rapariga, e vendo que os
suspensórios eram cinzentos, e não azuis, como os seus, trovejou, furibundo:
-
De quem são estes suspensórios, senhora?
Mas
não obteve resposta. D. Marcela. apavorada havia saído pela porta dos fundos.
Fonte:
http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/biografias/bernardoelis.htm.
Hilário esse conto! E o final é surpreendente! Amei ler!
ResponderExcluirNossa!!!! kkkkkkkkkk chumbo trocado não dói!
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