Mariana
estava sentada próxima à cama onde o pai estava deitado. Tudo ocorrera de forma
rápida. Logo, quando encontrou o cartão de Fabrício, não pensou duas vezes e
ligou para ele contando toda a situação. Não esperava aquilo, mas Fabrício fez
questão que Rogério fosse para um hospital melhor, enquanto ele tentaria salvar
Emanuela. Olhou para os lados e ficou admirada com a estrutura do lugar. Com certeza era um hospital muito caro. De
repente, um médico entrou.
— Olá,
sou o Dr. Rafael. Você deve ser… – parou no meio da frase e olhando para
Mariana. – E aí, como vai? Está tomando os medicamentos que eu receitei? Parece
que já está melhor.
Mariana
ficou um pouco assustada.
“
Medicamentos? Com certeza ele se encontrou com a minha irmã.” – pensou.
—
Desculpe, mas o senhor deve estar me confundindo com a minha irmã gêmea…
O Dr.
Rafael ficou um pouco envergonhado.
— Me
desculpe… – e olhando para o prontuário do paciente. – Parece que a situação do
paciente é estável. Todos os primeiros cuidados já foram tomados, então, ele
precisa de repouso agora e de medicação.
— E
quando ele vai poder sair daqui? – perguntou ela ansiosa.
— Vai
depender da recuperação dele… – e olhando para ela. – Eu sei que não é da minha
conta, mas o que aconteceu? – perguntou
— Foi só
uma briga… – respondeu ela, baixando a cabeça.
Rafael
sorriu.
— E onde
está Fabrício?
— Ele
disse que foi resolver algo importante. – respondeu ela.
O Dr.
Rafael saiu, deixando Mariana cuidando do pai.
Fabrício
dirigia sem dizer uma palavra. Emanuela também se sentia estranha, não pelo
fato do que acabaram de passar, mas sim porque nunca havia sentido aquilo.
Quando Fabrício a abraçou, sentiu como se uma onda de energia tivesse passado
por seu corpo e seu coração ficou acelerado.
—
Então... Posso fazer uma pergunta? – disse ela, evitando o contato com os olhos
dele.
— Claro.
— Por que
me abraçou naquela hora?
Fabrício
ficou calado um instante.
— É que
você parecia muito nervosa, então, achei que precisava lhe acalmar... Bem, é
isso.
— Ah...
Os dois
ficaram calados por alguns segundos.
— Para
onde estamos indo? – perguntou ela quebrando o silêncio.
— Para a
minha casa, meu pai está viajando a negócios, então, não vamos ser
incomodados... – de repente, parou, vendo a expressão um pouco assustada de
Emanuela. – Digo... Quero dizer, pode ser que alguns deles estejam seguindo de
carro, então é melhor ir para um condomínio fechado do que ir ao hospital...
Mas, não vamos ficar completamente sozinhos, digo, de qualquer forma, minha
irmã também vai estar lá, então... E mesmo assim, temos muitos quartos,
então...
De
repente, Emanuela começou rir. Fabrício ficou confuso, enquanto a via rir.
— Eu
disse algo engraçado? – disse ele meio sem jeito.
Emanuela
continuou rindo, enquanto Fabrício continuava dirigindo sem entender. Depois de
alguns segundos, Emanuela parou.
— Fazia
muito tempo que eu não ria assim...
— Mas,
foi algo que eu falei?
— Não,
não foi nada... – disse Emanuela
sorrindo.
Fabrício
observou-a sorrir e ficou desconcertado quando Emanuela percebeu.
— Estamos
quase chegando. – disse ele, tentando disfarçar.
O Dr. Fabiano
chegou em casa. Estava extremamente cansado. Naquela noite, outro médico ficara
de plantão no hospital para que ele pudesse descansar. Chegou em casa e parecia
que todos já tinham ido dormir. De repente, ao olhar para a sala, percebeu que
Érica estava sentada na penumbra segurando uma taça de vinho. Ela estava de
camisola e parecia abstraída em seus pensamentos. Fabiano tentou passar pela
sala sem ser percebido por ela.
— Eu
estava esperando por você… – disse ela sem olhá-lo. – Por que não fala comigo?
Ou será que não me viu?
Fabiano
aproximou-se devagar e sentou-se ao seu lado.
— Você me
parecia muito ocupada em seus pensamentos…
Érica
sorriu melancólica.
— É…
Parece que eu estava mesmo perdida em pensamentos… – e insinuando-se para ele.
– Você sabe no que eu estava pensando?
Fabiano
levantou-se e se preparou para sair.
— Boa
noite. – disse friamente e, enquanto saía, sentiu que Érica o segurou pelo
braço.
— Não vá.
– pediu quase em súplica.
Fabiano a
olhou. O tom de voz dela havia mudado. Ela estava séria.
— Por que
me trata assim? – perguntou ela. – Será que não vai me perdoar nunca? Eu
realmente sinto muito a sua falta.
Fabiano olhou-a
nos olhos.
— Sabe,
Érica, desde quando você ainda era minha noiva, existia algo em você que me
intrigava muito… Eu nunca sabia dizer quando mentia ou dizia a verdade… E para
falar a verdade, talvez até hoje, eu não saiba. Mas uma coisa, eu tenho
certeza… Você é o tipo de mulher que qualquer homem deveria manter distancia…
Érica
sorriu e sentou-se novamente.
— Parece
que você mudou bastante nesses anos… Quem diria que o gentil Fabiano
responderia a uma mulher assim.
Fabiano
pareceu ter o olhar vago por um instante.
— É, acho
que todos mudam… Ou quase todos. – completou, olhando para ela e saindo em
seguida.
Érica
sentou-se e ficou por um tempo olhando para o pouco vinho que restava no copo.
— Todos
mudam… Não importa quem seja. – disse, tomando o último gole e levantando-se
para ir dormir. – É a lei da vida.
Fabrício
abriu a porta do apartamento e entrou junto com Emanuela. Ao chegarem, viram
Verônica na sala que também tinha acabado de chegar.
—
Fabrício, você... – disse e percebendo Emanuela. – Quem é ela?
—
Verônica, preciso que mantenha em segredo o fato dela estar aqui, ok?
Verônica
parecia desconfiada.
— No que
você está metido agora, Fabrício?
— Não se
preocupe, maninha... Depois, eu lhe conto, prometo. Mas, não diga nada ao nosso
pai. – e olhando para Emanuela. – Vamos, vou lhe mostrar um dos quartos de
hóspedes.
Fabrício
abriu um dos quartos que estava pronto e mostrou a Emanuela. Os dois entraram.
— Acho
que pode ficar aqui por hoje à noite. Se precisar do banheiro, ele fica no
final do corredor. E acho que tem água em um frigobar aqui.
Emanuela
assentiu, indicando que havia entendido. Fabrício olhou para as roupas dela.
— Vou
pegar algumas roupas da minha irmã que ela não usa mais para que possa se
sentir mais à vontade.
—
Obrigada.
Fabrício
se preparou para sair.
— Ah...
Posso perguntar algo? – disse Emanuela antes que Fabrício saísse. – Por que me
ajudou?
Fabrício pareceu
pensar em uma resposta.
— Bem...
No começo, eu pensei que você era como eu...
—E agora
você não acha isso? – perguntou curiosa.
— Na
verdade, não. Quer dizer, você é diferente de mim, o que é melhor ainda. –
disse meio sem jeito.
—
Diferente?
Fabrício
ficou calado durante alguns segundos.
— A
verdade é que me senti um pouco culpado e envergonhado. Durante muito tempo, eu
pensei que minha vida fosse uma droga e me revoltei com tudo. Mas, quando eu
olho para o que você passa e a forma como encara isso, eu realmente me sinto
envergonhado.
— Não se
sinta. Acho que todos nós temos nossos próprios sofrimentos na vida. Nossos
próprios desafios. O segredo para aproveitar as coisas boas é... Não se sentir
a vítima e não achar que um dia é igual ao outro.
Fabrício
riu-se.
— É disso
que estou falando... Você tem um modo diferente de ver a vida. Você é uma
garota legal, merece que eu a ajude.
— Mais
uma coisa. – Emanuela falou antes que Fabrício saísse. – Não se meta mais com o
Fernandes. Ele é muito perigoso. Assim que meu pai se recuperar, vou me mudar
para outra cidade, assim não terá problemas. Então, fique tranquilo.
Fabrício se calou enquanto saia. No caminho para o
seu quarto, encontrou a irmã.
— Por que está assim? – perguntou ela, vendo a
expressão de Fabrício.
— Assim como?
— Não sei... Triste? Desanimado? Sad? Escolha à vontade.
— Não estou.
— Ok, então... – disse ela não se convencendo. –
Mas, você não vai me dizer quem é a garota? Ela me parece familiar... Em que você se meteu dessa vez?
Fabrício olhou para os lados como que se
certificando que ninguém mais estivesse ouvindo.
— Eu vou lhe contar, mas isso fica apenas entre nós
dois. Não diga para o nosso pai e nem para a Vivi.
— Ok! Eu prometo. Mas, o que foi?
— Bem, eu acho que dessa vez eu me meti em algo
mais sério... – disse ele com uma expressão um pouco preocupada.
O Dr.
Otávio estava mais uma vez em seu escritório. Por alguma razão não conseguira
dormir. De repente, alguém bateu na porta. Ele autorizou a entrada e Gabriele
entrou.
— Dr. Otávio?
– cumprimentou.
— Olá
Gabriele. Entre, por favor.
Ela
entrou e ficou em pé, olhando alguns livros.
— Parece
que o senhor não tem conseguido dormir ultimamente. Há algo que eu possa fazer?
O que o preocupa?
Otávio
sorriu.
— Como
sempre muito prestativa… Você sabe que eu a considero como minha filha.
— Eu sei.
– disse sorrindo. – E como sua filha, eu pergunto no que tem pensado.
Otavio se
sentou, enquanto olhava para a noite através da janela próxima à poltrona.
— Tenho
lembrado do meu filho Jorge… Quando olho para a Viviane, eu lembro do quanto
ele também era voluntarioso… A Viviane lembra muito ele. Muito mesmo.
— Devo
discordar do senhor em um ponto. – disse Gabriele sorrindo – Eu acho que
Viviane com certeza é bem mais teimosa.
Otávio
riu.
— Tem
razão. – e mudando de assunto. – Gabriele… Gostaria de pedir perdão a você.
Gabriele
pareceu não entender o que o sogro falava.
— Pelo que,
Dr. Otávio?
— Eu
simplesmente disse que traria duas filhas do Jorge aqui e nem considerei como
se sente.
Gabriele
ficou calada por um instante, depois sorriu.
— Não tem
importância. Eu acho que, eu nem sequer mereço sua consideração. Quando
engravidei de Viviane, foi quase como um último recurso para segurar meu
casamento. Por causa disso, Jorge prometeu não ver mais a mulher por quem
estava apaixonado. Com certeza, essa mulher já estava grávida… No fundo, me comportei de forma egoísta em relação
a essas garotas.
Otávio
olhou para Gabriele, compreensivo.
— Você
tem um bom coração, Gabriele. Mas tenho certeza que qualquer mulher no seu
lugar faria muito pior que isso…
— Por
curiosidade, Dr. Otávio, quantos anos têm essas meninas exatamente? Devem ter a
mesma idade que a minha filha.
Otávio
pareceu pensativo por um segundo, mas respondeu.
— Apesar
de já terem 18 anos, são apenas três meses mais velhas que Viviane. – e
acrescentou sorrindo. – Isso me faz lembrar que nossa Vivi vai completar 18
anos daqui a alguns dias.
Gabriele
suspirou.
— Fico me
perguntando como isso vai afetá-la. – Gabriele comentou.
***
Logo pela
manhã, Fabrício levou Emanuela para ver a irmã e Rogério no hospital. Ao ver a
irmã chegando ao hospital, Mariana correu em direção a ela, abraçando-a.
— Como
você está, mana? – perguntou Mariana quase chorando.
— Está
tudo bem agora. – e olhando para Fabrício. – Alguém me ajudou bastante.
— Que
bom. Eu fiquei desesperada. Não sabia o que fazer!
Emanuela
tentou confortar a irmã.
— Não
vamos mais pensar nisso. – e olhando em direção ao quarto – Como o Rogério
está?
Mariana
suspirou.
— Bem.
Teve muitas escoriações, mas já foi medicado. Tem que ficar no hospital durante
algum tempo para se recuperar totalmente. Mas o que me preocupa não é isso…
Esse hospital me parece muito caro. Eu não sei se a gente vai ter dinheiro
suficiente para pagar a internação.
— Não se
preocupem com isso. – disse Fabrício, interrompendo a conversa. – Quando eu
pedi para trazê-lo aqui, eu já tinha me responsabilizado por todos os custos.
— Não
podemos depender tanto assim de você. – disse Emanuela, tentando se opor.
Fabrício
sorriu.
— Está
tudo bem. Afinal, fui eu que insisti com a sua irmã para que ele fosse transferido
para cá.
Emanuela
sorriu para Fabrício, que retribuiu da mesma forma.
— Eu vou
lá para o quarto. – disse. – Quero ver com os meus próprios olhos como ele
está. – disse Emanuela, falando para a irmã.
Enquanto
a irmã entrava no quarto, Mariana olhava intrigada para Fabrício.
— O que
foi? – perguntou ele meio sem jeito.
— Você...
Fabrício
pareceu um pouco desconsertado com o olhar de Mariana.
— O quê?
— Você
gosta da minha irmã, não é? – perguntou ela, sendo direta.
Fabrício
ficou surpreso com o fato de ela ser tão direta.
— Ah... –
Fabrício pareceu ficar sem palavras. – Sim, eu acho. Quer dizer, quem não
gostaria? Ela é uma boa garota, não é? Eu não desgosto dela, se é que quer
saber.
Mariana
olhou para ele e sorriu.
—
Entendo... – e como para si mesma. – Eu sou uma pessoa horrível então...
— O que
disse?
Mariana
sorriu.
— Estava
dizendo que minha irmã é fascinante, não é?
— É… Uma
garota excepcional… – disse ele, rindo-se enquanto se lembrava da cena em que
viu Emanuela sorrir.
Emanuela
estava sentada ao lado de Rogério. Estava apenas observando. Não conseguia
acreditar que tantas coisas aconteceram em apenas pouco tempo. Aos poucos,
Rogério foi acordando.
— Emanuela?
– perguntou com os olhos quase fechados.
— Como
consegue saber, hein? – perguntou sorrindo.
Rogério
sorriu.
— Por que
eu sou o pai de vocês… - disse com um pouco de dificuldade.
Emanuela
balançou a cabeça afirmativamente.
— Sim.
Você é o nosso pai. Sempre vai ser.
— Você me
perdoa, filha? – perguntou, se esforçando um pouco.
— O quê?
– perguntou ela um pouco confusa.
Rogério
deixou algumas lágrimas rolarem em seu rosto.
— Por eu
ter abandonado vocês…
Emanuela
sorriu.
— O
senhor está aqui com a gente, não está? Então, está tudo bem. Vamos só viver a
nossa vida. E trate de melhorar.
Ele
sorriu emocionado.
Rafael
estava indo em direção ao quarto de Rogério, quando viu Mariana sentada em um
banco do lado de fora do quarto.
— Onde
você está com a cabeça? – disse ela falando sozinha. – Você é uma pessoa muito
má, Mariana!
De
repente, Mariana percebeu que Rafael tinha ouvido o seu monólogo.
— Está
tendo algum problema? – perguntou o médico curioso, enquanto sentava-se ao lado
dela.
Mariana
ficou ruborizada.
— Ah... –
riu sem jeito. – O senhor deve achar que sou maluca, não é? Afinal, estava
falando sozinha...
Rafael
riu-se.
— Bem,
não se preocupe com isso. Muitas pessoas conversam consigo mesmas, não é só
você que faz isso. É claro que a maioria delas evitaria fazer isso em público...
—
Entendo... – disse ela meio sem jeito.
Rafael
olhou para Mariana e riu da expressão de constrangimento da garota.
— Mas, se
você quiser, tenho algum tempo... Pode me dizer o que tem a incomodado, assim
não precisa falar sozinha.
Mariana
olhou interessada para Rafael.
— Bem, o
senhor é médico... Então, acho que não tem problema eu falar sobre qualquer
coisa, mesmo eu mal conhecendo o senhor, né?
Rafael
ficou com uma expressão confusa no rosto.
— Sabe...
– continuou Mariana. – Não sou eu quem está com problemas, na verdade é uma
amiga minha.
— Sei...
— Então...
Essa minha amiga meio que parece se apaixonou por um cara a primeira vista...
Foi sem querer, sério mesmo.
— Bem,
não vejo isso como um problema.
— É porque
ainda não cheguei lá. – disse ela um tanto séria demais, fazendo com que Rafael
sentisse vontade de rir. – O problema é que ela tem uma prima muito próxima,
entende? Tipo, tão próxima, tão próxima, como se fosse irmã.
Rafael
mais uma vez sentiu vontade de rir, mas conteve-se.
—
Entendo, como se fosse irmã... E?
— Então,
essa prima gosta dele e ainda não sabe, por outro lado, ele também gosta dela e
também ainda não percebeu isso.
Rafael
fez uma expressão de quem estava entendendo a situação.
— Ah...
Então, eles dois se gostam e não sabem... Mas, se eles ainda não sabem, como é
que sua amiga sabe?
Mariana
ficou confusa por um segundo, mas depois pareceu segura.
— Bem,
porque ela é muito inteligente nesses assuntos. É verdade, que eu não tenho uma
grande inteligência para os estudos como a minha irmã mesmo tendo os mesmos
genes, mas dou de 10 a 0 quando se trata de assuntos do coração.
— Você?
Não estávamos falando da sua amiga?
Mariana
ficou sem palavras.
— Parece
que não estou convencendo, não é?
— Não...
Mariana
pareceu um pouco desanimada.
— Então,
poderia manter esse segredo? Não queria que minha irmã ou qualquer outra pessoa
soubesse que estou gostando do cara que ela gosta. O pior de tudo é que me
sinto culpada por isso e não sei o que fazer.
— Não
precisa se sentir culpada. – disse ele pensativo. – Quanto ao que fazer, você
tem duas escolhas, lutar pelo que quer ou desistir e deixar que o tempo dê um
jeito nisso. Você, com certeza, encontrará um bom rapaz para namorar. Talvez
esteja prestes a conhecê-lo e nem sabe.
Mariana
pareceu se animar.
— Tem
razão. – disse ela sorrindo.
Rafael
levantou-se e entrou no quarto de Rogério.
“Será que
o Dr. Rafael já passou por algo assim?” – pensou – “Ele me parece uma pessoa
que já experimentou isso... Bem, mas seria estranho, afinal ele é tão bonito e
com certeza as mulheres implorariam para ficar com ele. A não ser...”
— Será
que o Dr. Rafael é gay? – perguntou Mariana para si mesma. – Não me admira ele
ser uma pessoa tão sensível.
Fabrício
havia saído para pegar alguma coisa no carro que tinha esquecido. De repente,
três homens se aproximaram dele.
— O que
querem?
— Você
vem com a gente. – disse um deles, encostando uma arma em Fabrício, enquanto
outro abria a porta de um carro que estava perto.
Fabrício
não teve outra opção a não ser entrar.
Gabriel
chegou em casa. Estava exausto. Havia passado a noite se explicando para quem
tinha ouvido que não atacara Viviane e que não a beijara sem consentimento. A
forma como Viviane havia espalhado a história fazia dele um cara mal que
assedia mulheres, o mais perigoso da cidade.
“Por
causa daquela garota, a minha noite foi um desastre” – pensou.
— Eu
preciso me vingar dessa garota mimada. Alguém precisa dar uma lição nela. –
disse ele para si mesmo, enquanto pensava em algo.
Entrou no
quarto e sentou-se na frente do computador. De repente, teve uma ideia. Com
certeza era algo para se divertir.
— Viviane,
você não sabe com quem se meteu. – disse ele rindo, enquanto colocava seu plano
em prática.
Fabrício
estava em pé em frente aquele homem que olhando bem parecia mais repugnante do
que nunca. Seus homens o obrigaram a ir para um escritório que ficava dentro da
boate de onde ele havia resgatado Mariana.
O rapaz
olhou para trás e pode perceber que dois homens com expressão de poucos amigos
se mantinham de pé junto a porta.
— E aí, o
que tem a me dizer, garoto? Onde está aquela vadia? – perguntou Fernandes, que
estava sentado em sua cadeira próxima a sua mesa.
— Eu não
sei de quem está falando. – disse Fabrício atrevido.
Fernandes
riu.
— Você
tem coragem… Vir à minha boate, pegar uma das minhas garotas e sem
nenhuma cerimônia roubar de mim. Se tivéssemos nos conhecido em outra situação,
faria você ganhar muito dinheiro nesse ramo.
Fabrício parecia
sério.
— Não se
preocupe, mesmo que isso não tivesse acontecido, com certeza, eu educadamente
negaria a sua oferta. – comentou irônico.
Fernandes
riu alto, parecia divertir-se.
— É uma
pena, você ganharia muito dinheiro. É um negócio altamente rentável hoje em
dia… E a vadia não precisa nem ser bonita… Infelizmente, aqui eu não aceito
qualquer uma. Afinal, meus clientes são pessoas altamente seletivas.
Fabrício
desviou o olhar de Fernandes. De alguma forma, sentia-se enojado só de olhar
para aquele homem.
— Como eu
disse, infelizmente, eu não o conheci antes… – disse Fernandes mais sério. – E
aí como pretende se desculpar? Digo, o que pretende fazer para se livrar dessa?
Primeiro, quero que me diga onde está aquela garota e a irmã dela. Depois, quero
algo em troca do aborrecimento que tive esta noite.
Fabrício
olhou para Fernandes ainda com a expressão séria no rosto.
— Quanto
quer para deixar Emanuela ir? – perguntou sério.
Fernandes
se surpreendeu com a pergunta.
— Ora,
ora… Você é mesmo um rapaz que vai direto ao ponto… Mas, creio que você não
terá a quantia que desejo em troca de Emanuela.
Fabrício
parecia determinado.
— Diga
quanto é. Eu sou muito rico. Eu posso pagar a quantia que você pedir. Mas, em
troca, eu quero que você a deixe em paz e a família dela também.
Fernandes
pegou um cigarro e acendeu.
— Você
parece muito confiante… Você tem idéia da situação em que se encontra? Você não
está em condições de exigir nada.
Fabrício
não parecia hesitar.
— Quanto
quer? Eu já disse que eu posso pagar.
Fernandes
se inclinou para frente interessado.
— O que
você me diz de inicialmente R$ 500.000? E me dê o seu carro também.
Fabrício
pensou por um instante. Sabia que se tentasse negociar com aquele bandido
ficaria em desvantagem.
— Feito.
– respondeu de imediato, deixando Fernandes por alguns segundos sem reação –
Posso transferir agora se você quiser. É só me conseguir acesso à internet e o
número da sua conta.
Fernandes
riu. Tragou o cigarro que tinhas nas mãos.
—
Realmente, um homem de atitude. – comentou – Mas tenho uma condição…
O rapaz
ficou um pouco assustado, não esperava que aquele homem pedisse mais.
— Que
condição? – perguntou desconfiado.
Fernandes
levantou-se e caminhou em direção ao rapaz.
— Eu
quero que você assine um contrato de compra e venda.
Fabrício
olhou assustado para o homem que lhe propusera tamanho absurdo.
— O quê?!
– perguntou não entendendo. – Compra e venda? A que se refere exatamente?
— A quem
mais? A Emanuela é claro! – respondeu Fernandes sorrindo. – Afinal, você não a
está comprando? Não importa de que aspecto você veja, qualquer um é capaz de
dizer que o que você está fazendo se trata apenas de um negócio.
Fabrício
não conseguia esconder a raiva que sentia.
— Isso é
um absurdo…! – e olhando diretamente nos seus olhos. – E pra que você quer esse
contrato? Não basta receber o dinheiro?
Fernandes
deu de ombros, enquanto andava pelo escritório.
— Não
sei… Talvez como recordação. – e olhando diretamente para o rapaz. – Vai
aceitar ou não?
Fabrício
não entendia, mas por mais que essa ideia lhe desagradasse, queria ver Emanuela
longe daquele lugar.
— Tudo
bem. – disse por fim. – Mas você tem que manter a promessa de que vai deixá-la
em paz.
— É claro
que sim. Afinal, eu sou um homem de palavra. – disse Fernandes com um meio
sorriso.
Fernandes
chamou um dos homens que estava vigiando a porta. Falou-lhe algo. O homem saiu
e em alguns minutos voltou acompanhado de Rosália.
—
Rosália, redija um documento para mim… – disse Fernandes, logo ao vê-la entrar.
– Aqui está o que tem que escrever. – concluiu, entregando um papel manuscrito.
Rosália
não entendeu, mas ao ler o manuscrito sua expressão mudou.
— Compra
e venda?! – perguntou olhando para o irmão. – O que você está planejando? –
perguntou sussurrando.
Fernandes
olhou para ela sério.
— Apenas
faça.
Fernandes
saiu da mesa em que estava para que Rosália pudesse usar o computador. Depois
de alguns minutos, o documento estava pronto.
— Pronto.
Aqui está a sua via já devidamente assinada por mim… – disse Fernandes,
entregando um papel e fazendo com que Fabrício assinasse a outra via. – Agora estamos
quites. Por favor, entregue a chave do seu carro. – concluiu sorrindo.
Fabrício pegou
a chave do carro e colocou em cima da mesa, em seguira saiu, Rosália saiu logo
em seguida e antes que Fabrício chegasse à boate conseguiu chamá-lo.
— Você
não deveria ter feito aquilo. – disse a ele, logo depois que ele parou. -
Assinado aquele documento.
Fabrício
ficou um pouco confuso.
— Mas,
por que não? Aquele documento não tem valor legal... De qualquer forma, mesmo
se ele quisesse me ameaçar com aquilo, ele colocaria a si mesmo em risco.
Rosália
olhou para os lados se certificando de que ninguém estava a ouvindo.
— Tome
muito cuidado com Fernandes. Ele não é o tipo de pessoa que faz algo apenas por
fazer. Se eu fosse você, tomaria bastante cuidado. Ele não vai parar apenas com
um carro e uma pequena quantia em dinheiro. E uma última coisa...
Rosália
entregou algo para Fabrício. Era uma fotografia.
—
Entregue isso para ela. – disse saindo.
O rapaz
olhou para a fotografia. Nela havia três mulheres sorrindo e uma se parecia
muito com Emanuela.
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