terça-feira, 16 de julho de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 37 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXXVII

- O “marido” de  tia Elisabete acaba de telefonar. Non vai chegar de Houston a tempo de jantar conosco,  mon amour. – Fala Claude, entrando no quarto onde ficaria  Fernanda.
- Que pena! Eu estou curiosa pra conhecê-lo! – Diz Rosa, pendurando algumas roupas e ficando de costas para ele.
- E por quê, posso saber?
- Só curiosidade, Claude. Do tipo como será um guru americano, na terra dos cowboys, que curte praia de nudismo?
Claude  se aproxima de Rosa, abraçando-a por trás. Dá um beijo em seu pescoço e diz, roucamente:
- Ficou  curiosa também  sobre a praia de nudismo?
Rosa fecha o guarda-roupa e gira de frente para ele, mas antes que respondesse qualquer coisa, Claude  a beija demoradamente, encostando-a na porta do guarda-roupa. Era evidente o desejo que demonstrava em tê-la.
- Ainda temos um tempo antes do jantar... –  Claude fala sedutoramente, encostando sua testa à dela.
- Não posso... – Fala Rosa baixinho, passando  a mão pelo rosto do marido.
- Por que non?  
- Mamãe!!!!!
- Por isso... – Diz,  sorrindo com os lábios.
- Já acabei! -  Grita Fernanda do banheiro, quebrando de vez com o clima.
- A mamãe está indo, querida! – Responde Rosa.
- Mon Dieu, diz que o que ela terminou foi o banho,  chérie... – Fala Claude, afastando-se alguns centímetros de Rosa, sem soltá-la.
- Quem me dera! – Fala  Rosa divertida -  Ela  foi fazer o número dois. Rsrsrsrs. Não quer ir ajudá-la?
- Eu até iria, mas eu ouvi muito bem, ela chamou por você, oui? – Responde Claude, torcendo o nariz.
- Claude! Que coisa feia você fez!  Ela é sua filha e você também já fez isso um dia!
- D’accord... – Exclamou - Assim que voltarmos ao Brasil, vou pedir  desculpas a meu pai!
- Desculpas a seu pai? Não entendi?
- Por tê-lo impedido de fazer amor com minha mãe e deixá-lo nessa situaçon... constrangedora! – Concluiu quase sem jeito.
- Palhaço! E eu achando que era sério! – Diz, saindo do abraço.
- Mamãe!!!!
- Estou indo, filha! – Rosa caminha para o banheiro da suíte.
No dia seguinte, um tempo após o café da manhã, partem  com Elisabeth para a  fazenda vizinha, do “marido” dela.
 A casa de Gideon parecia coisa de cinema, pensava Rosa, enquanto tia Elisabeth parava o carro em frente a ela.


Uma  arquitetura doméstica incrível. Uma construção contemporânea que misturava estilos, mas possuía uma harmonia tão grande, que a deixava encantadora. Combinava colunas romanas, “esfinges” gregas com enquadramento colonial, estilo espanhol, e a imponência dos americanos.
E o jardim? Integrava a casa ao meio ambiente. Imenso, com a grama verdinha, muito bem aparada.  Parecia um tapete verde no qual flores, árvores de fruto, luz do sol e sombra, figuravam numa composição equilibrada. A fonte circular, no centro dele, típica do estilo romântico inglês, provavelmente não fora colocada ali apenas para servir de ornamento ou decoração, mas para  manter a umidade do ar e, quem sabe, saciar a sede, senão das pessoas, dos animais silvestres que passassem por ali, pois pelas suas pesquisas, no Texas,  o calor é muito forte no verão.
Com certeza uma releitura da fonte do Central Park, de  1857 -  herança cultural  inglesa que espalhou-se por toda a Europa via França, e foi  introduzida na América do Norte, em Monticello – Virgínia, senão lhe falhava a memória.
Tudo a ver com a casa de um guru, pois a água é um elemento condutor de energia e oferece tranqüilidade, ajudando as pessoas a tornarem-se mais serenas e equilibradas.
 - Incrível!  Deixou escapar, enquanto descia do carro – Parece cenário de cinema!
- Parece não, darling! Foi  mesmo. Por aqui foram rodadas algumas cenas do seriado Dallas da rede CBS: dinheiro, vingança, sexo, paixão, sede de poder e intrigas familiares, esse era o enredo.
- Uma série muito boa, hã? Teve até continuaçon ano passado. – Comenta Claude – Borboletinha,  tenha modos, pare de correr e volte aqui!
- Ah, papai!!!
- Obedeça o seu pai, filha! – Diz  Rosa, reforçando a ordem de Claude -  Ah, eu me lembro dela, era com o  ator Larry Hagman , o Major Nelson da Jeannie é um Gênio. - Completa.
- Isso mesmo, Rosa! Foi o  suspense que deixou Dallas conhecido no mundo todo: o episódio "Quem atirou em J.R."*  fez história na televisão!
- Pensei que essa ideia era original da TV brasileira com : “Quem matou Salomão Hayala”** Uma novela brasileira, que já teve até remake.
- Well, honey... – Fala Elisabeth em tom de dúvida – Isso teremos que pesquisar. Sabemos que na sétima arte, nada se cria, tudo se copia...
-  E quem conta um conto aumenta um ponto... – Diz Rosa, ao mesmo tempo em que a porta da entrada da casa era aberta.
- Good morning! Sejam bem vinidos a cá! – Falou Gideon – Elisabeth tentou ensinar portuguese for me... Sorry - Diz sorrindo -  Eu ainda não aprender direito.
- Good morning, dear! – Tenho certeza que  nos entenderemos! Aqui estão meus amados sobrinhos: Claude,  Rosa e nossa little butterfly: Fernanda. Meus queridos, este é Gideon!


Depois das apresentações, Gideon os convida a entrar e conhecer a casa por dentro. A decoração era ímpar! Bom gosto desde a escolha do papel de parede, costume americano, até a madeira dos móveis. Sofisticação equilibrada.
- Rosa ficou encantada com sua casa, querido. – Comentou Elisabeth, falando em português e  bem devagar. – Como já lhe falei, ela é arquiteta e Claude, engenheiro.
- Oh! E qual sua opinião sobre ela? – Pergunta Gideon, interessadamente.
- É uma casa muito...  pitoresca, eu diria – Falou Rosa – Uma combinação transcendental entre o passado e o exótico.
- Rosa, você quis dizer atemporal, non é chérie? – Comenta Claude.
- Você tem uma certa  implicância com  nossas filosofia de vida, não é, Claude? – Pergunta Gideon descontraído.
- Non é implicância. Eu apenas discordo de alguns pontos de vista de vocês,  mas nada que possa abalar nossa amizade, oui?
- E essa garotinha linda, não fala  nada? – Pergunta, olhando para Fernanda.
- O papai não gosta de gnomos. Mas ele  gosta da fada dos dentes e até conhece ela! Mas eu só vou conhecê-la quando ficar grande – Diz  ingenuamente.
Antes que alguém pudesse dizer alguma coisa além de sorrir, o almoço é anunciado e eles são conduzidos à mesa.
- Então, você conhece a fada dos dentes e assim a consolou... – Fala Rosa baixinho – Muito engenhoso de sua parte, Claude Geraldy...
Durante o almoço, uma conversa sobre negócios logo se estabelece entre Claude e Gideon que, muito simpático, parecia  gostar de explicar sobre  o Texas. Acabou contando toda a história do estado americano, até chegar ao seu encontro com Elisabeth.
- E como todos sabem, o petróleo localizado no Golfo do México promoveu o rápido crescimento de Houston e ela se tornou a maior cidade do Estado e uma das maiores do país.
- Engraçado... Filmaram Dallas em Houston? O cinema é mesmo  fantástico! Uma caixa de fantasias. – Diz Rosa. – Como esquecer a  frase: “Houston, temos um problema”?
- Outra grandiosidade do Texas: o quartel-general da NASA foi construído em Houston, em mil novecentos e sessenta e quatro. Em sessenta e nove, com a missão da  Apollo 11 rumo à Lua, a indústria aeroespacial passou a ganhar gradualmente maior importância na economia do Estado e a indústria cinematográfica não poderia ficar atrás! – Completa Gideon.
- Crianças, os texanos são muito orgulhosos de quem eles são e do que têm e com o tempo a  gente descobre que eles têm  mesmo motivos pra se orgulhar! O Texas tem várias coisas diferentes pra  se fazer.
- E é o que vieram fazer aqui, não é mesmo? Passear e se divertir!  E faremos isso:  nestas duas cidades fantásticas: Houston e Austin.
- O que podemos esperar ou planejar para eles,  honey? – Pergunta Elisabeth.
Claude e Rosa escutam atentamente as opiniões. Claude parecia satisfeito com o que  escutava e com a  firmeza de Gideon. Esperava encontrar um playboy “espertinho”,  que estivesse interessado em passar a perna em tia Elisabeth e encontrara um homem com opiniões formadas, cabeça feita e financeiramente muito bem estabelecido. Inteligente, bem humorado, só  tinha um defeito: era guru também! Mas,  parecia fazer tia Elisabeth feliz. E ela merecia ser feliz.
- Well... Houston é uma cidade muito cultural, com museus e outros tipos de arte, como sinfonias  e concertos. E restaurantes do mundo inteiro. Há o Galleria, o maior shopping do Texas, gigantesco mesmo!  A Rice University e o Johnson Space Center - NASA.Tudo muito bom de se apreciar.
- Mas a minha cidade favorita – Intervém Elisabeth -  é Austin! Ela  é fantastic! Capital da música, inspira vida e gente saudável.
- E San Antonio? – Pergunta Claude – O que me diz dela?
- Podemos ir também . É onde fica o Álamo, lugar que foi importantíssimo na revolução texana: a batalha do Álamo. Naquele tempo, o Texas era no México e não norte-americano. Os texanos foram invadidos pelos mexicanos porque não queriam mais pagar impostos. Como número de soldados era muito diferente, é claro que eles perderam, mas a batalha acabou desencadeando a revolução texana. O Texas venceu e separou-se do México, virando um país chamado República do Texas por onze  anos... Mas vocês não vieram pra cá pra estudar história, não é? Vamos planejar por onde começar... mmm... mmm... mm...
Assim, Claude, Rosa e Fernanda passam vinte e cinco dos trinta dias que tinham, passeando pelo Texas. Claude  teve o cuidado de evitar as praias de nudismo. Borboletinha se adaptou facilmente à cultura texana.
Estavam na última semana, já arrumando as malas e teriam que despachar uma delas direto para o Brasil, lotada de lembranças do Texas, caso contrário, pagariam taxas de bagagem excedente na saída dos Estados Unidos e no aeroporto de Paris, ao chegarem. Sem contar que carregariam peso à toa.
Não ajudou
Três dias antes de partir, Elisabeth recebia uma visita inesperada. Inesperada e inconveniente: Roberta Vermont.
Atriz,  filha de um casal simpático à causa  holística e esotérica: o pai, um ator francês e a mãe, uma bailarina brasileira que fora trabalhar em uma companhia de dança  francesa. Conhecia Roberta desde criança e havia até “empurrado” Claude para um relacionamento com ela, o qual hoje agradecia por não ter  dado certo.
Roberta se tornara uma pessoa insensível em busca do sucesso profissional e de um marido rico que lhe bancasse os sonhos e aventuras. Os pais foram dados como mortos - estavam desaparecidos desde o tsunami que assolou o Japão -  em dois mil e onze.
Apareceu por lá, parando seu carro em frente à casa de Elisabeth, no minuto em que ela acabava de entrar para pedir que fosse servido o lanche da tarde. Rosa brincava de esconde-esconde com Fernanda pelo jardim e a filha acabava de encontrá-la.
Quando Roberta desceu do carro, olhou à sua volta e sorriu, dando alguns passos, apreciando o lugar, distraidamente.
Bem que você podia ter um filho, não é Elisabeth?” – Pensou, sonhando em morar naquele lugar. “Mas o Claude serve, mesmo sendo apenas seu sobrinho. Afinal, um dia ele vai herdar tudo que é seu mesmo
Fernanda corria para o “pique”, na intenção de bater e ganhar a vez de novo.
- Borboletinha,  cuidado onde pisa, querida! – Gritou Rosa, correndo atrás dela e saindo detrás da árvore onde se escondera.
O choque foi inevitável! O corpo de Rosa bateu frontalmente com Roberta e por pouco  as duas não caem. Mas o grito de susto faz Fernanda voltar para perto da mãe.
Roberta é  indelicada ao falar:
- Sua estúpida! Você é cega? – Então, ao ver Fernanda chegando perto, tenta mudar o tom  - Esta é  a filha do Claude, não é? – Pergunta  altiva. -  E você deve ser a babá...  – Fala, olhando rapidamente e com desdém para Rosa. - Quer chamar Elisabeth, por favor?
Inocente e escutando só a última fala, Fernanda diz:
- Eu chamo a titia, mamãe! – E entra rapidamente na casa.
- Mamãe?! - Exclama, prestando mais atenção em Rosa - Oh, God! Você  é a esposa do Claude? – Falou Roberta, medindo-a de cima a baixo. – Então,  Nara foi trocada por você?! Pobre Nara, imagino como se sentiu ofendida.
- Nem tanto quanto você deve ter ficado, quando Claude a trocou por ela! – Responde Rosa,  indignada, fervendo de raiva. Não por ter sido confundida com uma babá, mas pela ousadia e pouco caso dessa desconhecida.
- Vem titia, a moça tá procurando você! – Dizia Fer, praticamente puxando a tia pela mão.
- Borboletinha, devag... - “Oh, Lord!  Roberta Vermont...  - Pensa Elisabeth -  Mon Dieu, que a força esteja  comigo!”
Roberta estava a ponto de outra indelicadeza, mas ignorou Rosa, ao ver  Elisabeth. Aproximou-se dela com um sorriso duvidoso nos lábios, passos  decididos e pensados.
- Oras, sua coisin... Elisabeth, querida! Eu estava tão ansiosa para encontrá-la novamente! – Diz, abraçando Elisabeth de maneira branda.
- Roberta Vermont! Mas que  surpresa! Que ventos a trazem até aqui?
- Os ventos do trabalho, ma chér amiê! – Explica, enquanto tira os óculos de sol - Consegui um papel num filme  franco-americano e estamos rodando as cenas que se passam aqui no Texas. Lembrei de você e depois de me informar sobre sua presença aqui, dei uma fugidinha das gravações...
- Devia ter telefonado, dear! Estou com...
- Vem, mamãe! O papai e o tio Gi tá esperando a gente pro lanche! – Diz Fernanda, largando Elisabeth e puxando Rosa para dentro, mas a tempo de ouvir a resposta de Roberta.
- Telefonado? E dado a você, tempo de esconder o Claude de mim? Francamente, Elisabeth, até parece que você não me conhece.
- Bem, já que está aqui, venha tomar um chá conosco. Chegou bem na hora do lanche...
Na sala, onde o  lanche era servido, Fernanda divertia-se com Gideon e suas caretas.
- Rosa, que foi, chérie? Que carinha é essa, hã? – Pergunta Claude, aproximando-se  dela e abraçando-a, ao mesmo tempo em que vê sua tia entrando acompanhada por Roberta. – Oh, já entendi... – Murmura.
- Claude, mon amour! – Diz Roberta, querendo cumprimentá-lo, mas Claude não solta Rosa. -  Mon Dieu, como sua... esposa é sensível! – sarcasticamente. - Querida, você  se chateou só porque  pensei que fosse uma babá?  Mas que culpa eu tenho se parece uma?
- Eu posso  até parecer uma babá, querida, mas estou casada com o Claude. E você? Não está cansada de ser trocada? – Diz Rosa, num ímpeto, arrependendo-se imediatamente. – Oh, céus! Desculpe, tia Elisabeth, estou na sua casa e isso foi muita grosseria...
Então, se desvencilha de Claude  e sai para o jardim, novamente. Cruza toda a extensão do pequeno bosque de tia Elisabeth, até chegar à beira do rio que cortava a fazenda
Minutos depois, escuta passos e a voz de Claude.
- Enton, foi aqui que se escondeu, gatinha? Por que fugiu assim, hã?
- Eu não fugi. – Responde, sem olhar para ele - Saí apenas para ... admirar a beleza do lugar, foi isso.
- Voilá! Posso admirar junto com você?
- Não. Por que não volta e admira um pouco mais sua ex-namorada?
- Porque eu prefiro admirar você, minha namorada atual... A minha eterna namorada, oui?
- Tem certeza? Ela é alta, tem estilo e não se pareceria nunca com uma babá, como eu! – Murmura Rosa.
- Entendi. – Diz, sentando-se ao lado dela no balanço. - Ficou bravinha porque Roberta a confundiu com uma simples babá. Mas você a colocou no seu lugar, usou suas garras de gatinha, hã?  Porque saiu daquele jeito?
- Porque fui grosseira, mal educada, extremamente  impulsiva e... estava com ciúmes! – Foi baixando o tom de voz.
- E que mal tem ser impulsiva de vez em quando hã? Non foi assim que nos conhecemos? – Disse Claude sorrindo – Que tal sermos impulsivos agora e dar uma volta de barco?


Continua

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