sexta-feira, 1 de julho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 29



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 29

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

CEMA
JOÃO
JERÔNIMO
BRAZ
JUCA CIPÓ
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO
DIANA
GENTIL PALHARES

CENA  1  -  RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A fala macia de Cema fez João voltar-se para a porta de entrada. Lá estavam ela e o marido.


CEMA  -  Braz precisa falá com ocê.

Alegre o rapaz tocou o ombro do irmão,  como a chamar-lhe a atenção para os conceitos inamistosos emitidos contra o negro. Braz permanecia quieto, calado.

JOÃO  -  Tá aí o home, mano! Olha o Braz aí!

Com duas passadas, Jerônimo achegou-se ao casal. Falou seco, sem meios termos, dirigindo-se a Braz.


JERÕNIMO  -  Por onde andô?

JOÃO  -  (encorajou, notando a timidez do outro)  Fala, Braz .

BRAZ  -  João... eu, eu num tenho nem cara de olhá procê.

JOÃO  -  Vamo lá. Que foi que o Pedro Barros te obrigô a fazê contra mim?
BRAZ  -  Não... até que ele não me judiô... não me obrigô. Me tratô muito bem... tentando me convencê a reclamá os direito da pedra, porque eu te ajudei a cavá a gruna. E me fez assiná um papel... em que dizia isso.

Cema atirou, com raiva, algumas notas de dinheiro sobre a mesa.


CEMA  -  E ele recebeu dinheiro pra te fazer isso, João!

Jerônimo apontou para o dinheiro e para a figura angustiada do negro.

JERÔNIMO  -  E você não chama isso de traição?

João pensou, enquanto manuseava as notas, espalhadas por sobre a mesa.

JOÃO  -  Quando muito... foi uma fraqueza, Braz... não foi traição. (bondosamente devolveu o dinheiro á mulher do amigo, fitando os olhos lacrimosos do negro).

JERÔNIMO  -  Essa não! (em atitude de revolta)  Essa não! Você é um santo! Vai pro céu quando morrê. Pode ficá certo que vai.
     
JOÃO  -  (pausadamente)  Então eu ia negá a sua parte, Braz? A parte de todo mundo que me ajudô a cavá a gruna? Então ocê acha que eu ia fugi com a pedra... pra não reparti o dinheiro dela, com ninguém? Nossa Senhora!  (andava nervosamente, de um lado para outro no centro da sala, gesticulando fartamente)  Vai sobrá dinheiro pra todo mundo. (virou-se para o irmão)   Faz a conta aí, Jerônimo. Quanto é que a gente vai ganhá? A mil cruzeiros o quilate...

JERÕNIMO  -  É muito dinheiro. O diamante tem 750 quilates, no mínimo... assim de olho. Num sei fazê conta muito bem, mas seu doutô Rodrigo, que é esperto nessas coisa, disse que é quase um bilhão de cruzeiros.

JOÃO  -  Virge Mãe!   Ninguém vai precisá brigá pra recebê a sua parte. Pega esse dinheiro e devolve pro Pedro Barros. Diz a ele que ocê num precisa de nada disso. Que todo mundo aqui vai ficá rico.

CENA  2  -  COROADO  -  CARTÓRIO  -  INT.  -  DIA.
     
Durante vários minutos, em companhia do Delegado Falcão, Pedro Barros examinou os livros de escritura do tabelionato de Coroado. A poeira ainda flutuava no ar provocada pela mexida incessante nos volumes arquivados nas velhas e corroídas prateleiras. Unhas, mãos e cara do coronel estavam envoltas numa fina camada de pó pardacento. De repente, Juca Cipó entrou. Excitadíssimo, como sempre.

JUCA CIPÓ  -  Eles saíro do banco... agora entraro na igreja. Acho que tavam com os bolso cheio da nota, meu patrão.

Barros fechou estrepitosamente o grande livro do cartório.

PEDRO BARROS  -  É, mas não vão ter dinheiro pra pagá. O “seu” Valmir, gerente do banco, deu um golpe errado.
   
DELEGADO FALCÃO  -  A que conclusão o senhor chegou, meu coronel?

PEDRO BARROS  -  A de que a escritura do Matão é falsa!

DELEGADO FALCÃO  -  Falsa? Mas... pelo que acabamos de ver... nos livros que o escrivão nos emprestou... a escritura é absolutamente verdadeira.
  
PEDRO BARROS  -  (raivoso)  Voce tá do lado deles ou do meu? Aquela pedra tem que vir pro meu bolso, Falcão. E vindo pra mim, vem pra você, também. Ou você já não quer mais ser meu genro?
   
DELEGADO FALCÃO  -  Eu... eu quero... é lógico, mas... seu co... coronel, nós temos que agir dentro da lei! Eu não po... posso fugir a isso... me desviar... nem um milímetro...

PEDRO BARROS  -  Pois eu tou exigindo que você cumpra a lei, ora essa!   Você manda interditá a mina e obriga João a entregá a pedra...

DELEGADO FALCÃO  -  A quem?

PEDRO BARROS  -  Á lei, ora bolas! A você, que representa ela!

O delegado voltou a insistir, batendo com a mão espalmada contra a capa preta do livro oficial.

DELEGADO FALCÃO  -  A escritura... é verdadeira, repito!
 
JUCA CIPÓ  -  (saltou, atrevido e frenético)  Se meu patrão tá dizeno que é falsa, tem que sê falsa!
   
PEDRO BARROS  -  O sujeito que vendeu as terra do Matão pra Sebastião Coragem tá morto há muitos anos. A gente pode prová que a assinatura dele não é verdadeira.

DELEGADO FALCÃO  -  Mas, eu não posso provar!

PEDRO BARROS  -  (ordenou, de cara amarrada)   Manda interditá a mina e depois a gente arranja as provas.

DELEGADO FALCÃO  -  Mas...

PEDRO BARROS  -  Obedece, Falcão. Ou pode dá por encerrado o seu noivado com a minha filha!

Juca pulava, dando palmadas nas coxas.

JUCA CIPÓ  -  É isso mesmo. Escreveu não leu, pau comeu! Dá duro nele, meu patrão!

O olhar do delegado refletia desespero e ódio.

PEDRO BARROS  -  Vai ou não vai obedecê á minha ordem?

Falcão pesava os prós e os contras, mas era carta vencida no jogo desleal de Pedro Barros.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  IGREJA  -  EXT.  -  DIA.

Ao deixar a igrejinha, benzendo-se, ainda, Jerônimo deu de cara com o casal.


JERÔNIMO  -  É... ela tinha que voltar... assim, não é, João?

Lara girou o corpo com agilidade, fitando o moço.

DIANA  -  Vim só avisar vocês pra tomar cuidado. Os homens de Falcão vão atrás de vocês. Se preparem pra uma emboscada. Vão tirar o diamante.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO - TABERNA DE GENTIL PALHARES  -  INT.  -  DIA.

Entraram na taberna de Gentil Palhares. O bem-humorado homem recebeu-os com um sorriso e uma expressão de intranqüilidade. Ouvira a última parte do diálogo.


GENTIL PALHARES  -  Eu avisei. Eu avisei, João!

JOÃO  -  Mas, ninguém pode fazê isso. O diamante é meu! Eu achei!
   
DIANA  -  Estão dizendo que a escritura do local da mina é falsa...

JOÃO  -  É mentira!

JERÔNIMO  -  Eles tinha de se apegá a alguma coisa...  A gente tava esperano, não tava?
  
DIANA  -  Foge, João, antes que eles te agarrem...

Jerônimo, que estava á porta, avisou, olhando para as bandas da praça:

JERÔNIMO  -  É tarde, mano. Falcão vem aí, com os homes!

Sem que ninguém percebesse, Gentil, por baixo do balcão, passou ás mãos de Jerônimo um calibre 45.

GENTIL PALHARES  -  (disse baixinho)  Defende teu irmão.

Falcão comandava um grupo de dois homens e Juca Cipó. O delegado entrou, ameaçadoramente, segurando a coronha do revólver, preso no cinto. João ficou frente a frente com o enviado do coronel.

JOÃO  -  (sem receio)  O que o senhô qué?

DELEGADO FALCÃO  -  Não sei se você já sabe... mas a mina onde achou o diamante raro... não lhe pertence...

JOÃO  -  (fervendo de indignação)  É do meu pai e minha também!

DELEGADO FALCÃO  -  Pois é... acontece que o sujeito que vendeu pro seu pai, passou uma escritura falsa.

JOÃO  -  A gente procura prová isso, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO  -  Tá certo... mas, até que prove, João, sou obrigado a lhe pedir pra me entregar o diamante...

João passeou os olhos pela sala. Á sua frente, Diogo Falcão, um capanga estrategicamente postado em cada lado e, á entrada, da porta, o lunático Juca Cipó.  

JERÔNIMO  -  Eles tão querendo te agarrá, João.

Houve um imperceptível movimento entre os bandos. João, Jerônimo e Braz entreolharam-se, num átimo.

DELEGADO FALCÃO  -  (procurando tranqüilizar o inimigo)  Absolutamente, ninguém faz nada contra ninguém. Estou só pedindo o que é de direito... que você me entregue a pedra... para que fique em meu poder... até que me prove, por lei, que a mina é de vocês.

A revolta de João nasceu com a explosão de um petardo: repentina, incontrolável, violenta.


JOÃO  -  (com firmeza e decisão)  Pois eu digo o contrário. A pedra fica comigo!

João permanecia imperturbável, pronto para tudo. Aguardou a reação.

DELEGADO FALCÃO  -  Desculpe, João, mas quem dita as ordens sou eu.
   
JOÃO  -  Se for provado que a mina não é nossa, eu entrego ela...
   
JERÔNIMO  -  (instigava o irmão)  Dá na cara deles, João! Senta a mão neles!
  
JUCA CIPÓ  -  (berrou, histérico)  Acaba logo com isso, Falcão!

JOÃO  -  Calma, gente, ninguém precisa brigá.

DELEGADO FALCÃO  -  De pleno acôrdo. (assentiu)  Você me entrega a pedra e eu deixo você seguir seu caminho em paz.
 
JERÔNIMO  -  (em defesa do irmão)  Acontece, seu Falcão, que ele não vai entregá!

DELEGADO FALCÃO  -  Desculpe... mas sou obrigado a usar da força...  (volveu os olhos para João)  Eu sei que você está com ela.

Os olhares dos Coragem cruzaram-se num choque de segundos. Jerônimo estava preocupado com a passividade do outro.

JERÔNIMO  -  Meu irmão... você não vai deixá que eles pegue o nosso diamante! Pra não brigá... ocê não vai permiti uma coisa desta...?
  
DELEGADO FALCÃO  -  Você é um sujeito sensato e não gosta de briga ou confusão. É claro que vai me obedecer sem criar problemas.
   
JOÃO  -  Olha. Seu delegado, pago pra num entrá numa briga, sou home de paz, mas quando entro, pago pra num saí. E tou pagando, agora, pra vê se há algum home aqui que tem coragem de me tirá o diamante. Eu juro! Ele tá em meu poder! Aqui! (bateu com a mão em cima do bolsinho suplementar)  Guardado comigo! Quero vê home pra me arrancá o diamante...

Falcão tentou dar um passo á frente, mas a arma de Jerônimo brilhou nas mãos do rapaz.

JERÔNIMO  -  Quero vê se existe alguém com corage! Quero vê! Nós vamo saí, e não vamo corrê, porque home num corre. Mas, vou avisá: não tenta, Falcão! Não tenta, que eu sei atirá muito bem e já tou com coceirinha no dedo.  (virou-se para o irmão)  João, vai até o carro. Eu te protejo!
  
JUCA CIPÓ  -  Eles vão fugi. Não deixa!

Jerônimo apontou o cano da 45 para o peito do jagunço. Lutou contra o desejo de premir o gatilho. Juca fez um gesto de defesa, com as mãos cruzadas sobre a cara horripilante. 

JERÔNIMO  -  Ninguém tenta impedi. Vai saí fogo. Braz, pro carro. João, depressa.

CORTA PARA:

CENA 5  -  COROADO  -  TABERNA DE GENTIL PALHARES  -  EXT.  -  DIA.


Jerônimo saiu de costas para a rua, observando os movimentos do bando de Pedro Barros.


JERÔNIMO  -   Se alguém se mexê, eu atiro! E pra matá!

O carro partiu levando os garimpeiros e deixando a frustração entre os homens encarregados de manter a lei e a decência em Coroado.

JUCA CIPÓ  -  Cê foi besta, seu delega! Devia ter reagido!
 
DELEGADO FALCÃO  -  Bem, meu dever é manter a ordem, não acha? Eu não queria um tiroteio aqui, na cidade.

JUCA CIPÓ  -  Mas, meu patrão disse...

DELEGADO FALCÃO  -  Eu sei bem o que seu patrão disse.  A gente pega o diamante... de algum jeito. E não vai demorar muito. Questão de tempo...

FIM DO CAPÍTULO 29
Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)



E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...


#  JOÃO FAZ UM BURACO NO SOLO, EM SEU QUARTO, PARA ESCONDER O DIAMANTE.

# DR. MACIEL, POR ORDEM JUDICIAL, RETORNA A COROADO.

#JOÃO É ATACADO NA CHOUPANA.
 
NÃO PERCA O CAPÍTULO 30 DE  

Um comentário:

  1. Essa cena de João justificando a ¨fraqueza¨ de Braz e tudo o que falou depois, foi uma cena muito linda, inesquecível! E a cena com Falcão também foi muito boa!

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