segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 35 - SEGUNDA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 35 – Amigos

Emanuela olhou para o prédio logo ao chegar. Aquele era um dos escritórios do Grupo Demontieux.
— É difícil acreditar que seu pai trabalha até mesmo aos domingos.
Verônica suspirou.
— Ele é o que as pessoas chamam de viciados em trabalho. Tem sido assim desde que minha mãe morreu. Ele bem que poderia trabalhar em casa, mas parece que prefere ficar aqui...
— Parece que essa é a forma que ele conseguiu para fugir, né? – comentou Emanuela, pensativa.
As duas entraram no prédio e foram direto para o andar onde se encontrava o escritório do pai de Verônica. Na porta, Emanuela logo viu a placa – Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento e embaixo - Diretor Executivo Eduardo Ramalho.
Assim que as duas entraram no escritório, Emanuela logo pôde visualizar um homem nos seus 46 anos, cabelo grisalho concentrado em uma pilha de papéis e seu laptop.
— E, então, o que desejam? – disse ele olhando rapidamente para as duas. Logo em seguida, sua atenção se voltou para Emanuela. – Você não é a neta do Dr. Otávio?
— Sim, sou eu.
— Pai. – disse Verônica de repente – A Manu tem algo muito importante para falar sobre o Fabrício.
Dr. Eduardo olhou, parecendo um pouco irritado.
— O que ele fez agora?
— Dr. Eduardo... Sinto muito dizer, mas seu filho realmente precisa da sua ajuda.
Eduardo parecia um pouco confuso.
— Do que está falando?
Emanuela tentava encontrar as melhores palavras para dizer aquilo.
— Não vai dizer?
— Pai... – disse Verônica – Dessa vez, o Fabrício realmente se meteu em algo grande.
Eduardo suspirou. Era como se estivesse esperando por aquilo.
— Me diga todos os detalhes. – disse ele sério.
Emanuela então contou tudo que havia acontecido e que Fabrício lhe contara sobre como ele havia se envolvido com Fernandes.
Dr. Eduardo ficou calado por uns instantes, depois de ouvir toda a história.
— Então, era por isso que ele não queria me dizer onde tinha gasto o dinheiro e como tinha se livrado do carro. Moleque inconsequente.
Emanuela notou que Eduardo mais parecia preocupado do que realmente irritado. Por alguns instantes, pôde ver as reações de Fabrício nele. De fato, eram pai e filho.
— Parece que só há um jeito. Reportarmos isso à polícia imediatamente.
— Isso não vai dar certo. – disse Emanuela. – Fernandes tem pessoas na polícia. Talvez o senhor não saiba, mas Fernandes está envolvido em muitas coisas perigosas. Coisas que até mesmo políticos estão envolvidos.
— Então, o que está dizendo é que não posso tirar meu filho de lá?
— Pai... É por isso que a Emanuela veio. Ela tem uma ideia.
Emanuela ficou calada por alguns instantes.
— Há muito tempo atrás, quando eu ainda tinha contato com Fernantes, eu escutei muitas vezes ele falando em um político da área. O senhor deve saber mais ou menos como funciona a política nesse país. Muitas vezes, os próprios políticos estão por trás e apoiam as máfias, fazendo com que a polícia não as investiguem, porque eles também lucram com isso. As empresas também fazem esse tipo de coisa, então... Se por acaso, alguém der algo que esses políticos querem, então, talvez...
— Entendo aonde quer chegar. – disse ele – Uma troca de favores com um político a fim fazer a polícia pressionar esse Fernandes para liberar Fabrício.
— Então, pai... – disse Verônica ansiosa – O senhor consegue fazer isso?
— Não se preocupem. Deixem isso comigo. Não é algo que crianças devem se meter de qualquer forma. Podem ir.
As duas logo saíram do edifício. Verônica parecia desanimada.
— O que foi? Acha que seu pai não vai conseguir? – perguntou Emanuela, vendo a expressão de Verônica.
— Não é isso... Talvez ele consiga. É como eu disse antes, essas grandes empresas sempre se envolvem nesse tipo de coisa. Mas algo que deveria ser tão simples como chamar a polícia e denunciá-los, não é.
— Verdade. Embora eu ache que existam policiais honestos e governantes que tenham boas intenções, mas é difícil superar o sistema.
— Acha que algum dia nosso país vai sair desse poço profundo de corrupção? – perguntou Verônica.
— Eu não sei... Mas quero acreditar nisso. Acho que enquanto houver pessoas honestas, sempre há esperança. Tudo depende da gente.
— Tem razão. – disse Verônica, sorrindo. – E eu espero que meu irmão se livre logo dessa.
***
No dia seguinte, na segunda, Fabrício foi chamado às pressas por Rosália. Fernandes queria vê-lo imediatamente. Ao entrar na sala, parecia que Fernandes estava realmente irritado.
— O que você fez?! – gritou ele.
— Do que está falando? – perguntou Fabrício, confuso.
Fernandes riu.
— Você pediu ajuda ao seu papai, não foi? Eu te tratei tão bem... Você ia me suceder. E me apunhala pelas costas!
Fabrício notou que Fernandes parecia furioso. Seus olhos estavam vermelhos de raiva.
— Eu não sei do que você está falando.
Fernandes riu.
— Saia daqui! SAIA DAQUI! Saia daqui ou eu te mato! Nunca mais apareça na minha frente!
Fabrício saiu assustado.
— O que deu nele? – perguntou para si mesmo. E lembrando-se de Emanuela, que disse que faria o possível para tirá-lo dali. – Não me diga...
Rosália veio o mais rápido que pôde.
— O que aconteceu?
— Eu não sei. De repente, ele me disse que não queria mais olhar na minha cara. Acho que aconteceu alguma coisa.
Rosália sorriu.
— Aquela sua namorada é rápida. Agora você está livre. Saia imediatamente daqui.
— Também acredito nisso. – disse ele, embora um pouco desconfiado, já que Fernandes mencionou seu pai.
— Vá embora. – disse Rosália. – Poucos têm a sorte que você tem. Vá embora e não olhe para trás. Esqueça tudo que viu e ouviu por aqui, entendeu?
Fabrício balançou a cabeça afirmativamente.
— Obrigado por tudo. – Fabrício retribuiu com um sorriso.
De repente, Rosália ouviu Fernandes chamá-la. Parecia estar em fúria.
— Você vai ficar bem? – perguntou Fabrício, preocupado.
— Vá. Não se preocupe comigo. Eu sei lidar com o Fernandes. – disse, indo  para a sala do meio-irmão.
Ao entrar na sala, viu Fernandes vermelho de raiva.
— Foi você, não foi? Tenho certeza que isso tem algum dedo seu.
O coração de Rosália disparou. Nunca vira o irmão com tanta raiva.
— Como aquele moleque conseguiria algo assim?
— N-não sei do que está falando. – gaguejou ela. Pouquíssimas vezes vira o irmão tão furioso.
Fernandes se aproximou de Rosália.
— Foi você, não foi?! Sua vadia! Como se atreve, hein! – gritou ele.
De repente, ele agarrou-lhe o pescoço. Rosália tentava respirar, mas não conseguia. Tentava tirar as mãos dele de seu pescoço, mas não tinha força suficiente.
— Essa é a última vez que se mete nos meus assuntos, entendeu!? Da próxima vez, eu esqueço que somos meio-irmãos e faço você desaparecer! – vociferou.
Depois, soltou o pescoço dela com ímpeto, fazendo com que ela caísse no chão, quase desmaiada.
Rosália ainda tinha dificuldade para respirar e tossia.
— Só não te mato dessa vez, por causa dessa sua barriga imunda!
— O-o que tem... – tossiu. – O que tem o meu filho?
Fernandes parecia estar um pouco mais calmo.
— Eu já achei uma utilidade para isso que você chama de filho.
Rosália parecia se desesperar.
— O que... – ela ainda respirava com dificuldade. - O que vai fazer com meu filho? – disse com o olhar desesperado.
— Sabe, Rosália... Você não imagina o quanto órgãos de crianças estão supervalorizados no mercado negro ultimamente. Tenho recebido muitos pedidos, até mesmo de fora do país.
Rosália parecia não acreditar no que estava ouvindo.
— O que você disse? – e tremendo - Não! Não! Você não pode fazer isso com meu filho! Por favor! – suplicou em lágrimas. – Não faça isso, Fernandes! Pela nossa mãe! Não faça isso! Ele também tem o seu sangue! É seu sobrinho! Não sente nada?
Fernandes olhou friamente para a meio-irmã.
— Eu não me importo com esse tipo de coisa. – e levantando ela pelo braço. – Você vai aprender a nunca mais se meter nos meus negócios. – disse, dando-lhe um tapa.
Rosália apenas chorava.
— Eu fujo! – gritou ela de repente.
Fernandes riu alto.
— Você tem coragem, não é? – e apertando-lhe o rosto com uma das mãos. – Se você fizer isso, eu te mato! Nem que eu tenha que procurar você no inferno! E você sabe que eu cumpro minhas ameaças. Não tem como fugir, Rosália, dessa vez você vai pagar pelo que fez.
Fernandes abriu a porta e saiu. Rosália caiu no chão e começou a chorar.
***
Verônica estava em pé perto da porta do apartamento de Fabrício. Tinha vindo direto da Faculdade para lá. De vez em quando suspirava. Olhou para o apartamento ainda fechado, preocupada. Não conseguia imaginar quando o irmão voltaria. Tinha vindo cedo para ver se ele já tinha chegado, mas nada acontecera. Seu pai também não havia dado nenhuma notícia, apenas permaneceu calado quando chegou em casa. Obviamente, ele também estava preocupado.
Verônica suspirou de novo.
— Até quando vai ficar suspirando assim? – perguntou uma voz perto.
A garota olhou para onde vinha a voz e se surpreendeu. Lá estava seu irmão, são e salvo. Ela correu e o abraçou.
— Eu não acredito! Você está aqui, vivo!
— Achava que eu estaria morto?
— Não fale bobagens! É claro que queria que estivesse vivo! Mesmo sendo um chato irritante, você é meu único irmão. Não sabe como fiquei preocupada. Eu sabia que o papai iria conseguir!
— Do que está falando?
— Eu e Emanuela pedimos ajuda ao nosso pai. Ele disse que ia fazer algo, mas não sabia que seria tão rápido.
Fabrício ficou sério.
— O que foi agora? – perguntou ela. – Não me diga que está chateado porque ele ajudou. Como pode você ainda pode ser...?
— Não é isso...  Eu só me sinto um pouco humilhado.
— Por quê? Por que um pai fez de tudo para ajudar um filho? Fabrício, você deveria fazer as pazes com o papai...
— Acha que é tão fácil?
— Mesmo assim... Eu sei que nosso pai não é perfeito e errou muito no passado, fez nossa mãe sofrer e até a mesmo a gente... Mas mesmo assim, continua sendo nosso pai. E mesmo que não pareça, ele realmente se importa com a gente.
Fabrício suspirou.
— Todos nós erramos, Fabrício. – continuou ela. – Você sentiu isso na pele. Nós nos enganamos, fazemos escolhas erradas, muitas vezes, pensando que estamos no caminho certo. Eu acho que foi isso que aconteceu com nosso pai. A maneira que ele pensou em demonstrar o amor dele foi dedicando todo o tempo para nos dar o melhor que podia. Então... Por favor, prometa que vai fazer as pazes com ele, certo?
— Tudo bem. Prometo. – disse ele, se afastando.
— Para onde vai? – perguntou ela.
Fabrício abriu a porta do apartamento.

— Para onde mais? Vou tomar um banho e descansar. Parece que eu atravessei uma tempestade.

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