quarta-feira, 1 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 16



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 16

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DIANA
JOÃO
JERÔNIMO
RODRIGO
ESTELA
PEDRO BARROS
DALVA

CENA 1  -  COROADO  -  CHOUPANA NA FLORESTA  -  INT.  -  DIA.

Diana observava o interior da pobre choupana de barro seco, taipa e sapê. Servira, noutros tempos, para armazenagem de material de garimpo. A moça contemplava o conjunto em desordem. Balançava-se indolente. Os ganchos rangiam na parede de barro batido. O tropel do cavalo despertou-a. João entrou.


DIANA  -  Pensei que me deixasse mofando aqui, hoje.

JOÃO  -  Trouxe comida pra você. Tá com fome?

DIANA  -  É claro que estou com fome. Mas, quero saber o que é que você pretende com tudo isso.
   
JOÃO  -  Come!

Diana, esfaimada, atendeu á ordem.

DIANA  -  Bem, hoje vou dar o fora daqui, grandalhão. Já me encheu a paciência. Desde ontem você me tem como sua prisioneira.

O jovem Coragem ajoelhou-se diante da moça.

JOÃO  -  Você não é minha prisioneira... Eu quero te salvar...

DIANA  -  Salvar... mas salvar de que, João?

JOÃO  -  Do pecado. Quero salvar a mim mesmo. Eu chego aqui e... entro em pecado.

DIANA  -  Besteira!  (T) E para que você me prende? Quer me transformar em freira, por acaso?

Ajoelhado ainda, João Coragem ouvia as perguntas da mulher.

JOÃO  -  (insistiu)  Minha idéia... era pedir pra outra... pra filha de Pedro Barros... vir aqui... te dar uma lição de moral. Pra vê se você ficava igual a ela. Se conseguisse... eu me casava com você.

Diana gargalhou. Tomou a cabeça do rapaz entre as mãos, desgrenhando-lhe a cabeleira negra.

DIANA  -  Pedir pra filha de Pedro Barros me dar lição de moral! Esta é muito boa.  ( continuava comendo, avidamente)  E pediu?

JOÃO  -  Não... não tive coragem... de me aproximar da casa dela. Estive hoje, o dia inteiro, rondando a casa. Os criados me dissero que ela está no quarto... doente. Eu não tive coragem de pular a janela pra ir no quarto dela...
  
DIANA  -  (apreensiva)  E fez muito bem. Olhe aqui, João: eu gosto de ser o que sou. Ninguém vai me mudar...

JOÃO  -  Quero que você tenha paciência... porque amanhã cedo... bem cedinho, mesmo, eu vou pedir ao Padre Bento pra vim te dá uns conselho.

DIANA  -  Não adianta!  (com ar altivo)  Nem o padre, nem o papa. Eu não mudo, João. Nem o próprio Deus vai me fazer ficar diferente!
  
JOÃO  -  Por que você não quer mudar de jeito?

DIANA  -  Simplesmente porque não quero. Custei a me livrar daquela prisão...
   
JOÃO  -  (sobressaltado)  Prisão?

DIANA  -  É... prisão... num outro sentido. Agora que eu me libertei... não quero voltar. Estava até te esperando... só pra me despedir... porque, hoje, eu tenho de dar o fora. Vou continuar a minha vida... sem me prender a ninguém. Nem a você, que foi o cara mais legal que conheci até hoje. Mas eu gosto... de variar, me entende?

Diana acabara de comer. Levantou-se, empurrando a cabeça do rapaz, ternamente.

DIANA  -  Estou começando a achar que isto que existe... entre nós... está ficando muito sentimental...

João puxou-a para si e seus lábios colaram-se, mais uma vez, enquanto súbito relâmpago iluminava a escuridade ambiente. Jerônimo estava á porta. Á luz do flash registrara a cena que desejava. O Coronel Pedro Barros não perderia por esperar...
CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  CHOUPANA NA FLORESTA  -  INT.  E EXT.  -  DIA.


João entendeu tudo ao ver a máquina fotográfica nas mãos de Jerônimo. Enrubesceu de raiva. Aquilo era demais. Avançou contra o rapaz, tentando apoderar-se do aparelho. Jerônimo, mais rápido, escondeu a máquina entre os braços poderosos.


JERÔNIMO  -  Só quero te provar o que disse, Jão. Que ela e a filha de Pedro Barros... são a mesma.
   
DIANA  -  (com ódio)    Idiota! Não sou a mesma, coisa nenhuma!

Tentou investir contra o rapaz em busca da máquina fotográfica. Jerônimo deixou célere a choupana. Pulou no cavalo e afastou-se, perdendo-se na poeira da estrada. O sol causticava a zona dos garimpos.

João Coragem empurrou a moça para a rêde e, fechando a porta, saiu no encalço do irmão. Diana gritava na choupana batida pelo calor.

Bateu com raiva na porta de madeira. Resistente.
As unhas riscavam traços desiguais na madeira lisa. Diana chorava com desespero.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  RUAS  -  EXT.  -  DIA.

Os dois cavalos cruzaram em disparada as ruas de Coroado. Pararam diante do hotel de Gentil Palhares. Jerônimo entrou, correndo.


JERÔNIMO  -  Dr. Rodrigo! Dr. Rodrigo!

O promotor surgiu do interior da casa. Jerônimo lhe entregou a máquina. João apareceu, esbaforido.

JOÃO  -   ( partiu na direção do promotor)  Me dê isto!

Rodrigo estendeu a mão, em sinal de advertência.

RODRIGO  -  Pare, João... eu explico.

JOÃO  -  Já sei o que oceis querem!

RODRIGO  -  (procurava explicar)  É uma arma que a gente tem na mão.

JOÃO  -  Arma... contra a moça? Que foi que ela fez proceis?

RODRIGO  -  Não é contra ela... é contra o pai dela.
   
JOÃO  -  Disse e repito: aquela não é a professora. Aquela é outra. Eu dou minha palavra!

O rapaz avançou contra o promotor, desvairado. Jerônimo cerrou o punho e acertou o irmão. O sôco violento, de baixo para cima, dado com ira, lançou João Coragem ao solo. Meio zonzo com o ataque inesperado, João tentou levantar-se.

RODRIGO  -  (enérgico)  Estão loucos, rapazes? Dois irmãos!

JERÔNIMO  -  (espumando)  Essa mulher... tá pondo ele perdido.  Vai ser a destruição de tudo o que planejamos.

JOÃO  -  (levantou-se trêmulo)  Eu acho que tenho o direito de gostar de quem eu quero. Se ocê não teve sorte, irmão, eu não tenho culpa. Não venha agora, desforrá em cima de mim. Pra acabá com isso... me dê esse troço aí... pra destruir o retrato que ocê tirô...

JERÔNIMO  -  (arrancou a máquina das mãos do promotor)  Escuta uma coisa... eu agora vou em frente. Você disse bem. Nunca tive sorte. Sempre fui o irmão apagado, o coitado. Não vou ser mais, Jão. Não vou ser mais!

João ainda tentou retirar a máquina das mãos do rapaz. Jerônimo recuou. Havia qualquer coisa na sua voz que obrigou o mais velho a interromper a investida.

JERÔNIMO  -  Prova, Jão! Prova que as duas não são a mesma mulher... e eu te juro... te devolvo o retrato. Juro!

Rodrigo aproximou-se do garimpeiro alto e robusto. Abraçou-o, em atitude pacificadora.

RODRIGO  -  É uma boa idéia. Prove... prove, João, e estará fazendo um benefício a você mesmo.

Olhando os dois homens, duros e inflexíveis, o rapaz voltou as costas e desapareceu pela porta da frente.

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE  -  INT. - DIA.


PEDRO BARROS  -  (off) Lara! Lara!

O vozeirão de Pedro Barros cruzava o casarão da fazenda como vento de temporal. Estela apareceu no alto da escada Trajava um vestido leve, de padrão alegre.

ESTELA  -  Ela ainda está no quarto, Pedro!

PEDRO BARROS  -  Já tou cheio de ver essa menina no quarto! Manda ela descer. Já! Quero falar com ela. Anda, vai lá e chama ela!

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA - GRANDE  -  CORREDOR  -  SEQUENCIA  -  INT.  -  DIA.

Estela bateu á porta do quarto da filha. Pancadas leves com os nós dos dedos.


ESTELA  -  Lara! Lara!

A porta se abriu e Dalva apareceu, sombria, o rosto magro, maçãs salientes.

DALVA  -  Que é?

ESTELA  -  Será possível que não podemos falar com nossa filha? Pedro está impaciente. Tenho medo quando ele fica assim. É violento! Está querendo falar com ela imediatamente.

DALVA  -  Falar com ela? Pra que?

ESTELA  -  Há dois dias que você não nos deixa entrar neste quarto. Isto não pode continuar.

DALVA  -  Entre. Veja você mesma... com seus próprios olhos...

CORTA PARA:

CENA 6  -  CASA - GRANDE  -  QUARTO DE LARA  -  SEQUENCIA  -   INT.  -  DIA.

Afastando-se da porta, Dalva permitiu a entrada de Estela. Era visível o nervosismo das duas. Estela olhou o interior da dependência. Olhos arregalados, feições transtornadas.

ESTELA  -  Onde... onde ela está?

DALVA  -  Há dois dias que eu minto. Há dois dias que ela não está em casa. (desesperava-se)  Que é que eu podia fazer, Estela? Que é que eu podia fazer?




FIM DO CAPÍTULO 16
Maria de Lara (Gloria Menezes) e Dalva (Mirian Pires)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# DIANA SENTE A TERRÍVEL DOR DE CABEÇA E VOLTA A SER MARIA DE LARA, DIANTE DE JOÃO E POTIRA, QUE FICAM PERPLEXOS, SEM ACREDITAR NO QUE VÊEM!

# COM UM VIOLENTO PONTAPÉ, PEDRO BARROS ENTRA NO QUARTO DE LARA  E PERGUNTA A DALVA E ESTELA - ONDE ESTÁ MINHA FILHA?

NÃO PERCA O CAPÍTULO 17 DE


3 comentários:

  1. Eita doidera!!!!
    Essa Diana ainda levav todos pro hospicio kkkkkkkk

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  2. Annie, kkkkk, imagine a gente que viu a novela, que confusão! Até se ver a transformação de Diana em Lara, era aquela dúvida: seriam a mesma pessoa? Toni, que bom recordar essas cenas, estou gostando muito! Bjs.

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  3. Cá pra nós, a Diana era bem mais interessante que a Lara! Agora entendo pq, na época, o povo preferia as maluquices da Diana. Acho bacana quando ela enfrenta o pai, e chama ele de raposa matreira! rsrsr

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