quarta-feira, 28 de setembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 67


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 67

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

PEDRO BARROS
DALVA
DUDA
FAUSTO PAIVA
RITINHA
JERÔNIMO
DR. RAGAEL
ENFERMEIRO
ENFERMEIRA
MOREIRA
DIANA
BRANCA

CENA 1  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRENDE  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Pedro Barros vivia um de seus dias de felicidade. Era todo sorrisos. De há muito o pessoal da fazenda não via o coronel tão satisfeito. Distribuía cigarros aos empregados, bajulava os capangas e, tolerante, admitia que os rapazes tomassem uma dose extra, “para esquentar antes de dormir”. Ria descontroladamente ao telefone, ante os olhares abismados dos familiares.


PEDRO BARROS  -  Essa não, Falcão! Essa não! Me conta outra porque essa é muito forte! Só pode ser boato! Não acredito! (as lágrimas chegavam a escorrer-lhe pelo rosto, entranhando-se nas barbas grisalhas)  É muito grande a piada. É demais! Demais! Tá bem. Eu te espero. Vem jantar com a gente! (ria, ainda, ao colocar o fone no gancho negro. Voltou-se para os amigos sentados á mesa) Vocês não podem imaginar! Só faltava esta!

DALVA  -  Estou curiosa por saber a razão de tanta graça...

Pedro Barros não se controlava. Ria a não mais poder.


PEDRO BARROS  -  Os Coragem... tiveram a coragem... desculpe o trocadilho infame... de fazer Jerônimo se candidatar pra eleição de prefeito de Coroado! (o coronel se engasgava de tanto rir. Um criado apareceu com um copo de água gelada. Pedro Barros bebeu o líquido de uma só vez)  Não é uma piada? Uma grande piada? O irmão preso... criminoso... com todo mundo revoltado com ele... e ele ainda tem a pretensão! Só rindo, Dalva!

As gargalhadas do velho varavam as dimensões da casa e se perdiam na vastidão de suas terras.

CORTA PARA:

CENA 2  -  RIO DE JANEIRO  -  SEDE DO FLAMENGO  -  CONCENTRAÇÃO  -  EXT.  -  DIA.

Durante toda a manhã, Duda praticou exercícios físicos, de conjunto. Correu, flexionou o tórax, chutou bola, pulou corda. Sob tensão nervosa, os médicos do Flamengo anotavam as reações do jogador. Fausto Paiva, a um canto, comentava com seu auxiliar os resultados do primeiro teste a que submetiam o grande craque da Gávea. Era visível a má vontade do treinador. Nem mesmo os mais otimistas aceitavam o retorno de Duda á forma anterior. Reunidos os jogadores ouviam as orientações técnicas e as ordens do severo treinador de campo. Logo depois os rapazes deixaram o gramado e partiram lépidos para os chuveiros.

CORTA PARA:

CENA 3  -  RIO DE JANEIRO  -  CASA DE DUDA  -  INT.  -  DIA.

Ritinha abriu a porta e Duda entrou.


RITINHA  -  Como foi tudo, bem?

DUDA  -  Um treino só, Ritinha. Temos que ter paciência.

RITINHA  -  Não sentiu dor nenhuma?

Duda descalçou a bota e atirou-a para debaixo do sofá.

DUDA  -  Não. Mas isso não é nada. Vamos ver quando começarem os treinos intensivos.

Ritinha achegou-se ao marido e sentou-se num de seus joelhos. Duda abraçou-a pela cintura.


RITINHA  -  Eduardo (tirou um envelope do bolso da blusa)  chegou uma carta para você, hoje. De Coroado.

Tomando o envelope, Duda procurou o endereço do remetente.


DUDA  -  É de Jerônimo. (leu, silenciosamente. Á medida que seus olhos passeavam pelo papel, as feições se fechavam)  Diabo! João tá preso, acusado de um crime que não cometeu!

RITINHA  -  (tapou a boca com a mão)  Nossa Senhora, Eduardo! Como é que pode?

Jerônimo relatava o roubo, a viagem do irmão a Morrinhos e sua tentativa de reaver o diamante. As perseguições, as tramas de Pedro Barros e a posterior prisão na gruna causaram impressão desoladora ao rapaz. Ritinha chorava em silencio.


VOZ DE JERÔNIMO  -  (off)  “De Potira e Rodrigo  (dizia a carta)  as notícias são melhores. Os dois vão casá breve. Ele tá muito animado. Ela, também. Vai sê um casamento muito simples. A gente não pode tê alegria, com a perda do nosso querido pai e com a prisão do mano...”

Duda levantou-se, sufocando um soluço. Jogou a carta sobre a mesinha de mármore.

DUDA  -  Quanta coisa acontece com a gente! E por que, Santo Deus? Por quê? Será que a gente perdeu o direito de viver bem? De achar uma pedra? De vencer na vida? De ter nome? (andava de um lado para outro, na sala)  Cada um que procure o seu diamante. Cada um que procure vencer! Pôxa vida! Cada um que lute a seu modo! Mas, que lute por bem, não com arma suja!

Bateu com os punhos cerrados contra a vidraça do terraço, partindo-a em mil pedaços. Uma fina linha vermelha, de traço irregular, surgiu-lhe no dorso da mão. Ferimento superficial. Duda sugou o sangue, com os olhos fechados.

CORTA PARA:

CENA 4  -  RIO DE JANEIRO  -  CONSULTÓRIO DO DR. RAFAEL  -  INT.  -  DIA.


Rafael acabara de entrar no consultório recém-arrumado. A enfermeira veio ao seu encontro, nervosa.

ENFERMEIRA  -  Bom dia, doutor! Tenho más novidades.(o médico estacou, aguardando o pior)  Sua paciente... Dona Diana Lemos... conseguiu fugir... à noite passada.

DR. RAFAEL  -  (a  surpresa deixou-o aparvalhado)  Fugiu?

ENFERMEIRA  -  Ajudada por ele, doutor! Por ele! (com o indicador esticado, a mulher acusava o jovem louro, de nariz afilado e pele espinhenta).

DR. RAFAEL  -  (ordenou, autoritário)  Digam... o que foi que aconteceu com Diana?

ENFERMEIRO  -  (confessou, tìmidamente)  Eu... eu caí na lábia dela!

ENFERMEIRA  -  Combinaram encontro e... tudo o mais!

O rapaz contou a história. A promessa de encontro, um giro numa das boates da zona sul e depois... o sonho... um quarto de hotel, a cama de lençóis brancos... Depois o jato de água morna. A bebida gelada e o sabor do cigarro fumado a dois. Rafael enervava-se com o relato.


DR. RAFAEL  -  O senhor será punido. Proibido de trabalhar, durante um mês. Sem vencimentos... Quanto á senhora, providencie uma ligação urgente para Coroado. O número está ali, no meu caderno de endereços. Casa de Pedro Barros. Temos de avisar a família.

A moça procurou o número pedido pelo médico, pegou o fone e discou.

ENFERMEIRA  -  Interurbano, urgente, por favor!

CORTA PARA:

CENA 5  -  SEDE DO FLAMENGO  -  SALA DO DIRETOR  -  INT.  -  DIA.

Fausto Paiva tremia de raiva, mas se obrigava, como empregado do clube, a prestar obediencia aos diretores.


FAUSTO PAIVA  -  Olha aqui, seu Moreira. Desse jeito eu não sei trabalhar. Quando vim para o Flamengo, vocês me deram carta branca. Agora, tá todo mundo querendo dar palpite, em pressão de todo lado. Assim, a coisa não vai!

O impasse atribulava a vida do homenzarrão, mas o diretor procurava acomodar a situação.

MOREIRA  -  Quero que você entenda, a pressão não é nossa, é da torcida. Você sabe o que é a torcida do Flamengo. Vale pela torcida de todos os clubes do mundo. Lembra-se do último jogo? O time foi vaiado. O Maracanã estava cheio de faixas: Queremos Duda.

FAUSTO PAIVA  -  E eu com isso? Quem escala o time sou eu, não a torcida.

MOREIRA  -  Mas, quem paga a você é esta mesma torcida que você procura diminuir...

Fausto emudeceu por instantes.

FAUSTO PAIVA  -  Eu não posso escalar um jogador sem condições.

MOREIRA  -  Pelo menos meio tempo, pra dar uma satisfação á torcida.

FAUSTO PAIVA  -  (não  voltou atrás. Irredutível)  Nem cinco minutos.

MOREIRA  -  É sua última palavra?

FAUSTO PAIVA  -  É.

O diretor colocou a pá de cal na conversa.

MOREIRA  -  Pois a diretoria decidiu, ontem, em reunião. Duda vai jogar a próxima partida!

FAUSTO PAIVA  -  (estourou)  Então, a diretoria que escale o time! Eu peço demissão!

Desceu os degraus da arquibancada, bufando de raiva.

CENA 6  -  COROADO  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A primeira coisa que Dalva avistou foi a perna de uma mulher. Depois um jornal aberto. E no sofá, por inteiro, o corpo da dona das pernas. Dalva respirou fundo.


DALVA  -  Você?

DIANA  -  Não me esperava?

DALVA  -  (estava em dúvida sobre a personalidade dominante. Lara ou Diana?) Não... isto é... você fugiu há dois dias da clínica. Pensei que... que tivesse voltado para lá.

DIANA  -  É... mas não voltei. Estou aqui, pra encher todo mundo. (não havia dúvida. A maneira vulgar de falar, denunciava a dona do corpo: Diana Lemos. Lara permanecia oculta nas trevas da mente. Ou da alma)  Já tomou suas providencias? Avisou ao delegado pra não me deixar ver João?

DALVA  -  (nervosa)  Não... não aconteceu nada disso.

DIANA  -  Se não aconteceu, melhor. Eu vim disposta a desmascarar todo mundo. Vim pra arrasar, pra bagunçar o coreto de muita gente. Seu, do meu pai e da fulana que está hospedada aqui.

Dalva controlou a voz, que lhe saiu esganiçada como a de uma criança amedrontada.

DALVA  -  Está pensando que pode... defender João?

DIANA  -  Estou pensando, não! (desafiou)  Eu vou defender João. Vou fazer o que aquela outra idiota não fez, por medo. Eu não tenho compromisso com ninguém.

Barros aproximava-se lento, movido pela curiosidade. Ouvira vozes na sala ao lado.


DALVA  -  Nem com seu pai?

DIANA  -  Eu não tenho pai!

O coronel ativou as passadas e adentrou a sala.

PEDRO BARROS  -  Nem precisa dizer nada. Basta olhar na cara dela pra gente ver que tá dominada por aquela alma ruim.

DIANA  -  Alma ruim porque diz as verdades. E quem tem muitos podres, não pode enfrentar verdades. Por exemplo: a de que você preparou o golpe contra João. Que mandou roubar o diamante dele.

PEDRO BARROS  -  (gritou, alterado)  Isto não é verdade!

DIANA  -  Como não é verdade? E as marcas que eu tenho nas minhas costas? Por que fizeram aquilo comigo? Pra me impedir de contar ao João toda a verdade.

PEDRO BARROS  -  É mentira!

DIANA  -  Não é não! E vocês sabem que ele não matou Lourenço. Desconfiam até de mim. Por isso não tem certeza de ter sido ele. Mas fazem carga contra o pobre. E acusam ele. E deixam aquela sujeita que está aqui exigir justiça! Aquela tonta, imbecil! Que procura defender o marido... mais safado que o diabo pôs no mundo!

Branca ouvia as palavras acres da moça. Desceu as escadas. Não reconhecia na jovem atrevida a filha tímida do Coronel Pedro Barros.


BRANCA  -  Essa é... Lara?

DIANA  -  Não. Eu não sou Lara. Sou Diana. Nunca ouviu falar de mim? Sou aquela que seu marido mandou surrar, pra evitar dizer as verdades.

BRANCA  -  Como? Eu não entendo...

DIANA  -  Sabe quem era Lourenço D’Ávila? (olhou para todos, um a um)  Ladrão e traidor, dona! Traiu Pedro Barros nas barbas dele. E Pedro Barros tinha ódio dele. Não lhe disseram isso? (sorriu, irônicamente. Branca empalidecera mortalmente)  E você está representando bem o seu papel de vítima.

PEDRO BARROS  -  Já chega...

DIANA  -  (cortou)  Não, não chega. Sabe por que Pedro Barros finge que quer justiça?(segurou a mulher pelo vestido, balançando-a como um boneco de molas)  E sabe por que mantém você aqui? Porque tem interesse em se livrar do João. Mas eu garanto que foi ele quem mandou matar Lourenço. E agora quer jogar a culpa toda em cima do João.

PEDRO BARROS  -  (babava-se de raiva)  Eu não vou ouvir mais nada! Leva ela embora daqui, Dalva!

A tia tentou pegar no braço da jovem. Com um hábil movimento ela esquivou-se à mão da mulher.


DIANA  -  Eu vou porque quero. Vou desandar por aí com Pedro Barros. E com o ladrão do Lourenço. E com a esposa vítima. E com a tia malvada.

Deixou a sala, rindo alto, estridente, ante a cara fechada dos que assistiram ao seu ataque. Diana reinava absoluta no corpo de Maria de Lara.


Ritinha (Regina Duarte)
FIM DO CAPÍTULO  67

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** DIANA VAI À DELEGACIA PARA VER JOÃO E BRIGA COM FALCÃO, QUE NÃO PERMITE A VISITA.

*** DR. RAFAEL EXIGE QUE DIANA DEIXE LARA VOLTAR, MAS ELA RESISTE!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 68 DE


Um comentário:

  1. Toni, adoro essas cenas com Diana, muito bom esse capítulo! E o próximo vai ser legal, com Diana aprontando! Gostei! Bjs.

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