domingo, 20 de novembro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 90


Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 90

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

RITINHA
JERÔNIMO
PEDRO BARROS
LÍDIA
LÁZARO
MARIA DE LARA
ALBERTO

CENA 1  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  DIA.

Como secretária do novo prefeito de Coroado, Ritinha atendia diàriamente, a dezenas de pessoas interessadas em falar ou avistar-se com Jerônimo. Trabalho a que, aos poucos, foi se acostumando. Aquela era a primeira vez que o Coronel Pedro Barros punha os pés na prefeitura, desde que Jerônimo assumira o cargo. Durante alguns minutos o velho arrogante questionou Ritinha, querendo saber de tudo – quanto ganhava? De onde vinha o dinheiro? Por que estava trabalhando, etc. E logo após, passou a criticar a personalidade de Jerônimo: “Um turrão! Cabeça dura! Burro de viseira!” Ritinha absorveu como podia a indelicadeza do coronel. Ele agora cachimbava na sala de espera, aguardando a chegada do prefeito.


Rita de Cássia levantou-se antes que o cunhado abrisse a porta e ingressasse em seu gabinete. Avisou-o da presença de Pedro Barros.

JERÔNIMO  -  (fechando a cara)  Mande entrar.

PEDRO BARROS  -  (entrou, zangado)  Tou muito chateado com você, moço. Tão chateado que minha intenção era a de te mandar pro inferno, junto com a mulher do seu amigo promotor.

JERÔNIMO  -    Eu lhe peço pra nunca mais falar nisso!

PEDRO BARROS  -  Não tou satisfeito com teus atos, com tua maneira de falar comigo. Você aqui é um simples empregado meu. (frisou, com um acento de maldade, as palavras finais do que acabara de dizer).

JERÔNIMO  -  Não pode ser como o senhor tá pensando!  (retrucou, levantando-se e esmurrando a mesa)  O senhor não pode mandar em mim!

PEDRO BARROS  -  Posso e vou mandar!  (ripostou inteiramente descontrolado)  E não tolero tua arrogância. Depois daquilo que você me disse na delegacia, eu devia acabar com a sua alegria. Mas te dou mais uma chance. Se for cordato, a gente pode continuar juntos. Se botar as manguinhas de fora, (indicou com o dedo a porta da rua)  pode ir tratando de abandonar o cargo, porque eu vou botar pra quebrar...

Barros sentou-se na poltrona de couro macio e Jerônimo cruzou a sala em passo lento, preocupado. Tornou a falar, depois de alguns instantes de reflexão.


JERÔNIMO  -  Acho que assim a gente não pode continuar!

PEDRO BARROS  -  Pode muito bem. É só você amansar esse gênio miserável e abrandar esse orgulho idiota! Você pode até vencer na vida. Pode subir de posto e amanhã ser deputado na capital, representando Coroado. Tudo depende de você!

JERÔNIMO  -  Não desse jeito! (retrucou, balançando a cabeça)  Não desse jeito!

PEDRO BARROS  -  (com movimento calculado, retirou um papel do bolso)  Não seja burro! Aproveita a oportunidade que a vida te deu. Você tá preso a sentimento de família e tua família nem merece. Veja isto! (entregou a carta ao rapaz)  Muito confidencial.  Recebi do meu amigo deputado Siqueira. Ele ficou impressionado com você. E, num desabafo, diz que tá muito satisfeito porque a filha dele mostrou um interesse fora do comum por você. Pode ler.

Jerônimo começou a ler a carta, enquanto o coronel continuava a falar, matraqueando incessante:

PEDRO BARROS  -  Nem era pra te mostrar. Mas eu mostro, pra você ver que pode até fazer um bom casamento com a moça, se quiser. É do gosto do pai, que tá doido pra que a filha assente a cabeça. É uma desmiolada e precisa sossegar. Pra isso, tem que casar. E você é o marido ideal pra ela, porque tem gênio. Essa espécie de moça não pode casar com homem banana...

Acabara de ler a carta do Deputado Siqueira, devolvendo-a ao coronel.

JERÔNIMO  -  Nunca pensei em me casar com essa moça.

PEDRO BARROS  -  Pois pensa, de agora em diante. Convém pra você. O pai é rico, você tá arrumado na vida.

JERÔNIMO  -  (com azedume)  É... também... uma ordem?

PEDRO BARROS  -  Não. Na tua vida particular eu não me meto. É só um conselho. Ordem é pra outra coisa... (falava rápido, sem dar tempo a contestações. Com a intimidade de quem dá ordens, o coronel retirou do arquivo a pasta do registro de impostos)  É sobre isto que a gente tem de conversar (falou, batendo com a mão espalmada contra a capa dura e negra)   Você está intimado a comparecer na minha casa, hoje á noite. Vamos falar também sobre as coisas que você tem que fazer aí, na prefeitura. Eu tenho muitas sugestões a te dar. Apenas umas sugestõezinhas à toa... (jogou a pasta na mesa de carvalho, esparramando papéis pelo chão. Jerônimo cerrou os dentes de raiva. Permanecia indefeso, diante daquele homem diabólico. Barros terminou a conversa)  Leva isso... é de interesse teu e meu...

O rapaz pegou do livro de impostos e recolocou-o no arquivo. Pedro Barros saiu, jogando cinzas do charuto no tapete azulado.

Ritinha apareceu na porta.


JERÔNIMO  -  Ele quer me dominar, Ritinha! Até quando eu vou ter que agüentar isso?

RITINHA  -  Tem paciência. Com jeito você vai amansando ele!

JERÔNIMO  -  É o mesmo que tentar amansar o diabo, Rita. Esse homem é o demônio!

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  EXT.  -  NOITE.

Passava das 8 horas e a noite avançada. Coroado iniciava sua atividade noturna. Jovens a passear de mãos dadas na pracinha, forasteiros a beber tragos nas vendinhas e bares e alguma movimentação nas casas de jogo e dança. Jerônimo apagara as luzes do gabinete e dirigia-se para fora, quando Lídia sussurrou ao seu ouvido:


LÍDIA  -  Oi, gostosão! (Jerônimo voltou-se, assustado)  Vim te buscar pra te levar á casa do coronel. Ele disse que você ia jantar conosco.

JERÔNIMO  -  Não precisa se preocupar.

LÍDIA  -  Quero te mostrar uma pedra que eu encontrei ontem, no rio. Juca me disse que é um diamante. E eu digo que não é.

JERÔNIMO  -  (com interesse profissional)  A pedra... tá aí com você?

LÍDIA  -  Tá. Quer ver? Pode acender a luz?

CENA 3  -  COROADO  -  PREFEITURA  -  INT.  -  NOITE.

Jerônimo tornou a abrir a porta e iluminou o confortável gabinete. Do fundo da bolsinha de crochê a jovem retirou uma pequena caixinha de couro. De dentro puxou uma pequenina pedra coruscante.


JERÔNIMO  -  É... é olho de mosquito. Como foi que você achou?

LÍDIA  -  Garimpando! Eu e Juca. Achei gozadíssimo. Uma emoção nova, sensacional! Quero te levar no lugar do rio onde achei a pedra. Quer vir comigo?

JERÔNIMO  -  (surpreso)  Agora, de noite?

LÍDIA  -  Que é que tem? Só pra te mostrar o local. (falou insinuante, com um toque sensual na voz)  Você me ensina como é que se cata as pedras, com técnica? Eu sei que há um jeito especial...

JERÔNIMO  -  (rindo)  Você quer ser garimpeira?

A moça conseguira reavivar o bom humor perdido do jovem prefeito. Ele sorriu com gosto.


LÍDIA  -   Só pra sentir um prazer... diferente.

JERÔNIMO  -  Vamos indo.

LÍDIA  -  (aproximou-se como uma gata em cio)  Você me dá essa sensação... diferente. Eu adoro sensações novas, excitantes... (suas mãos de Lídia exploraram o peito forte e cabeludo do rapaz, num carinho irresistível. Jerônimo ouvia, em eco, as palavras de Pedro Barros: “Essa espécie de moça não pode casar com homem banana...” Lídia continuava alisando-lhe a pele)  Só que eu dava a vida pra saber se você sabe beijar... (ergueu a cabeça, com os lábios a centímetros da boca do rapaz)  Só por curiosidade...

JERÔNIMO  -  (sentiu as forças fugirem)  Você tá doidinha pra isso, não?

Apertou-a contra o peito, esmagando-lhe os seios com uma das mãos. O beijo, a princípio brando, transformara-se num vulcão de ânsias. Lídia suspirou.


LÍDIA  -  Nossa! Quase perco o ar!

JERÔNIMO  -  Você já pode dizer que o animal raro sabe beijar. (afastou-a, carinhosamente e, tomando o livro de impostos, tornou a convidar)  Vamos indo.

LÍDIA  -  (não se moveu um milímetro do lugar)  Vem cá! Não deu pra ver bem, Jerônimo! Volta!

Por entre a blusa aberta, fina e leve, o jovem prefeito fixou dois pontinhos róseos, como setas dirigidas ao seu coração. Era preciso fugir da mira. Esperou-a do lado de fora.

CORTA PARA:

CENA 4  -  FAZENDA DE PEDRO BARROS  -  CASA-GRANDE -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.


PEDRO BARROS  -  É muito pouco o que eu exijo de você...

JERÔNIMO  -  Mas, coronel...

Jerônimo discutia os pontos básicos do interesse de Pedro Barros. O velho chefe desejava que o prefeito fizesse vista grossa a algumas atividades comerciais, escapando, desta forma, ao rigor do fisco. Era pedir demais.


PEDRO BARROS  -  Só deve fechar os olhos... Mais nada. Acho que não precisamos mais discutir.

Impotente, Jerônimo levantou-se, empurrando a cadeira com raiva. Fixou olhos fuzilantes na cara perversa do antagonista. E deixou o escritório. Lídia correu atrás dele.


LÍDIA  -  Ei, espera! Eu te trouxe, eu te levo!

PEDRO BARROS  -  (vociferou)  Cabeça dura, desgraçado!

CORTA PARA:

CENA 5  -  MATA ADENTRO  -  ACAMPAMENTO  -  EXT.  -  NOITE.


João Coragem partira pela manhã, à procura de Braz e Cema. As tendas de lona, armadas á beira do rio, davam ao local o aspecto de um safári. A noite caíra e os vagalumes enchiam a escuridão de pontinhos luminosos. Alberto cochilava diante da barraca de Lara. O fogo murchara. Tudo era silencio. Lázaro passou as pernas por cima do corpo do rapaz e entrou na tenda. Ajoelhou-se ao lado da mulher. Maria de Lara abriu os olhos, sonolenta. Com um movimento rápido, Lázaro tapou-lhe a boca com a mão.


LÁZARO  -  Quietinha! É melhor pra ti! Não vou te fazer nada. Só quero saber se você ainda quer me gratificá pra eu te ajudá a dá sumiço daqui. (Lara tinha os olhos abertos de medo) Se quer, é só fazê que sim com a cabeça. Aí a gente pode ganhá o mundo. Te levo pra longe de teu marido. (a moça tentou desvencilhar-se das mãos do bandido)  Por que agora você quer reagi? Daquela vez tava até mais camarada... disposta a tudo. Tava até mais bunita. De repente, virou essa pamonha que num quer nada...

O leve gemido de Lara despertou Alberto á entrada da cabana.


MARIA DE LARA  -  Hã!

LÁZARO  -  Quietinha... ou eu dou conta de ocê!

ALBERTO  -  Larga ela! Larga ou eu atiro!

A voz indefinível do rapaz obrigou Lázaro a erguer-se como uma mola. Viu o cano apontado em sua direção. E o dedo de Alberto premindo de leve o gatilho. Lázaro espumou de raiva.

LÁZARO  -  (deu um passo à frente)  Atira nada. Você não sabe manejar isso, pirralho!

ALBERTO  -  (avisou, seguro e frio)  Não te dou nem tempo pra pensar!



FIM DO CAPÍTULO  90
Lourenço e Branca

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** LARA CONTA A JOÃO QUE ESTÁ SENDO ASSEDIADA POR LÁZARO. IRADO, JOÃO EXPULSA O BANDIDO DO ACAMPAMENTO E GANHA MAIS UM INIMIGO!

*** JERÔNIMO E LÍDIA FICAM NOIVOS.

*** DIANA VOLTA À VIDA, NO ACAMPAMENTO, E FOGE!


 NÃO PERCA O CAPÍTULO 91 DE

2 comentários:

  1. Pobre João, mais um inimigo, mais problemas! Toni, gosto da maneira como você descreve cada personagem! Muito bom! Bjs.

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  2. Obrigado, Maria! Seus comentários são um grande incentivo pra seguir em frente! Estamos com mais 30 capítulos para o final desta saga maravilhosa!
    Bjs

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