ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - CAPÍTULO 42 - AUTOR: TONI FIGUEIRA

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes

http://youtu.be/zIuryHGvAVc

CAPÍTULO 42

Personagens deste capítulo:

HELÔ

VÍTOR

MARISA

RODOLFO AUGUSTO

RENATÃO

RICARDINHO

MARIO MALUCO

ARAKEN

MISS JULY

OLIVEIRA RAMOS

SUSI

ELISA

CENA 1  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  NOITE.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.

SUSI  -  (reagiu indignada) Mas que calúnia! Você viu, Oliveira, como sua filha me odeia?  Chegou ao absurdo de inventar que tenho um caso com Renatão e que só quero seu dinheiro! (e para Helô) Queridinha, não acha que já tá apelando?

HELÔ  -  (deu de ombros) Não falei em caso, falei que você é gamada nele, mas, pensando bem... sabe que isso é bem possível!

OLIVEIRA RAMOS  -  Parem com isso, pelo amor de Deus!

SUSI  -  Você viu como sua filha me trata? Faço tudo pra me dar bem com ela e só recebo patadas!

HELÔ -  Não ia embora, Gata Amarela? O que está esperando?

SUSI  -  (fez uma pausa e decidiu)  Voltei atrás! Se dona Elisa, esta pobre mulher, precisa de ajuda, vamos ajudá-la. Eu confio no meu marido. Oliveira, meu querido, se você acha melhor assim... ela fica!

HELÔ  -  Ela ia ficar, de qualquer maneira, independente de você querer ou não!

SUSI PROCUROU ABRIGO NOS BRAÇOS DO BANQUEIRO.

SUSI  -  Oliveira, você está vendo? Ela me odeia...

OLIVEIRA RAMOS  -  Bem, se está tudo resolvido, vamos parar com essa discussão! Chega!

SUSI  -  Vou pro meu quarto!

HELÔ  -  Vá! Vá, Gata Amarela!

 

CORTA PARA:

CENA 2  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA -  INT.  -  NOITE.

UMA HORA DEPOIS, HELÔ VOLTOU PARA CASA. VÍTOR RECEBEU-A, ALIVIADO.

VÍTOR  -  Poxa, até que enfim! Posso saber o que minha mulher fazia na rua até esta hora?

HELÔ  -  (abraçou-o e beijou-o)  Hum, mas que gostoso voltar para casa e encontrar meu marido preocupado comigo! Estava na casa de meu pai, amor. E tenho novidade: minha mãe voltou para casa.

VÍTOR  -  Que bom! Eu também tenho novidades!

HELÔ  -  Tou curiosa! Fala!

VÍTOR  -  Consegui o emprego! Começo a dar aulas segunda-feira!

ABRAÇARAM-SE, FELIZES.

CORTA PARA:

CENA 3  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE JANTAR  -  INT.  -  DIA.  

SUSI  TOMAVA CAFÉ, OBSERVADA POR ELISA, SENTADA, COSTURANDO.

SUSI  -  Miss July, a senhora quer fazer o favor de afastar essa mulher daqui? Eu tenho medo. Não posso tomar café com uma louca me olhando.

MISS JULY  -  (aproximou-se de Elisa e falou brandamente) Dona Elisa, a senhora não quer dar uma volta na piscina? Está um sol muito bonito!

ELISA  -  (mostrou a língua para Susi e virou-se para Miss July) Agora não posso. Estou muito ocupada. Tenho que terminar este vestido até a semana que vem. Sabe, ele pode chegar de repente...  

MISS JULY  -  Mas a senhora podia continuar costurando lá mesmo.

ELISA  -  (fitou Susi, desafiadora) Não. Vou ficar aqui!

A GOVERNANTA FEZ UM GESTO DE IMPOTÊNCIA PARA SUSI, QUE SAIU PARA O SEU QUARTO, RESMUNGANDO.

SUSI  -  Que inferno! Eu sabia que isso não ia dar certo! Eu sabia!

ELISA  -  Miss July, você já recebeu a correspondência?

MISS JULY  -  Ainda não, dona Elisa.

ELISA  -  (irritou-se) Não é possível! Augusto deve estar interceptando as minhas cartas! Lá no Sanatório faziam a mesma coisa. Roberto nunca passou uma semana sem me escrever!

OLHOU, ENLEVADA, PARA UMA FOTOGRAFIA DO CANTOR ROBERTO CARLOS SOBRE A MESA.

ELISA  -  O meu querido Roberto!

CORTA PARA:

CENA  4  -   “FOLHA DO RIO”  -  SALA DE ARAKEN  -  INT.  -  DIA.

A MENÇÃO DE UM NOVO NOME NO CASO NÍVEA LOUZADA TIROU POR COMPLETO O SONO DE VÍTOR, ASSIM COMO TINHA TIRADO O DE ARAKEN TEIXEIRA.

NO DIA SEGUINTE, VÍTOR DIRIGIU-SE À REDAÇÃO DO JORNAL PARA SABER COMO ESTAVAM AS INVESTIGAÇÕES.

ARAKEN  -  Bem, procurei, por conta própria levantar outros detalhes, nomes de pessoas que teriam algum envolvimento com Nívea, conhecidos, até que  cheguei  aos de  Verinha, Lauro Lemos, Nelson Mota, e alguns mais, que a polícia nem ouviu, sequer! (coçou   o   queixo,   pensativo)  Conversei   com  o  delegado  Zélio Fontoura e achei muito estranho que os depoimentos dessas pessoas, inclusive o dos garçons, não constasse dos autos.

VÍTOR  -  Então falou com os amigos de Nívea? Eles sabem quem é Lucrécia?

ARAKEN  -  Falei com Susi e Verinha... Não conhecem ninguém com esse nome!

VÍTOR  -  Que estranho...

ARAKEN  -  Só falta falar com Ricardinho. Marquei com ele hoje à noite, no Castelinho. É bem provável que ele saiba quem é esta mulher.

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASTELINHO  -  EXT.  -  NOITE.

À NOITE, ARAKEN E RICARDINHO ENCONTRARAM-SE NA ENTRADA DO CASTELINHO.

RICARDINHO  -  Fala, Araken! Quer falar comigo?

ARAKEN  -  (apertaram-se as mãos) Fala, meu camarada! Quero sim. Você conhece uma mulher chamada Lucrécia?

RICARDINHO  -  Lucrécia? (e deu um sorriso de mofa)  Gozado... Muito gozado.

ARAKEN  -  Por quê? Você sabe quem é?

RICARDINHO  -  Lucrécia?... Claro que sei...

ARAKEN  - Então fale de uma vez! Eu e Vítor estamos empenhados em descobrir quem é essa mulher!

RICARDINHO  -  Peraí... esse Vítor não é o padreco?

ARAKEN  -  É...  ele mesmo.

RICARDINHO  -  (dando tapinhas no ombro do repórter) Olha, Araken, sinto muito, mas não vou facilitar a vida desse cara! Por mim, vocês não vão saber nada! Fui!

RICARDINHO DEU PARTIDA NA MOTO E ARRANCOU.

CORTA PARA:

CENA  6  -  APARTAMENTO DE MARISA  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

RODOLFO AUGUSTO CHEGOU AO APARTAMENTO DA IRMÃ, ATENDENDO SEU CHAMADO, E ENCONTROU-A NERVOSA, COM UM COPO DE UÍSQUE NA MÃO.

RODOLFO AUGUSTO  -  Minha irmã, você não acha que está bebendo demais? Que horror! Você sabe que isso só a afasta cada vez mais de sua filha!

MARISA  - Gugu, preciso de sua ajuda! Meu marido, o armador sueco, está no Brasil à minha procura para regressar à Europa!

RODOLFO AUGUSTO  -  E por que você não volta com ele? Ele não sabe que você mora neste apartamento?

MARISA   -  Não. Eu menti. Disse que estava num hotel. Não quero voltar à Suécia, pelo menos enquanto não conseguir arrebatar minha filha das mãos de Renatão! Não volto... muito embora as probabilidades tenham sido reduzidas a menos da metade,   depois   do   escândalo   da bebedeira. O problema é que, mais cedo ou mais tarde, vai acabar me descobrindo aqui. Ele sabe que tenho este imóvel... e pensa que está alugado!

RODOLFO AUGUSTO   -  Não sei como ajudá-la... O que quer que eu faça?

MARISA  -  Posso ficar... na sua casa?

RODOLFO AUGUSTO  -  Ah, não! Na minha casa, não! Sinto muito, irmãzinha, mas adoro morar só, sem ninguém pra interferir na minha vida! Definitivamente, não daria certo!

MARISA  -  Aquele canalha do Renatão! Se não fosse tão cafajeste... Você viu como ele continua bonitão? Parece que, com o passar dos anos, fica mais charmoso, mais interessante...

RODOLFO AUGUSTO  -  (malicioso) É impressão minha ou esse entusiasmo está um pouco exagerado?

MARISA  -  Apesar de tudo, não consigo sentir ódio dele, sabia? (fez uma pausa) Isso mesmo! Tive uma idéia! Por que não pensei nisso antes?

RODOLFO AUGUSTO  -  Não entendi... o que você pretende fazer?

MARISA  -  Me aguarde, irmãozinho! Me aguarde!

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE HELÔ  -  SALA  -  INT.  -  NOITE.

ERA QUASE MEIA-NOITE QUANDO O TELEFONE TOCOU. VÍTOR ATENDEU.

VÍTOR  -  Alô, pode falar... aqui é Vítor Mariano.

VOZ DE MULHER  -  (off)  Oi. É com você mesmo que eu quero falar. Eu fui amiga de Nívea. Me disseram que você está à minha procura. Aqui é Lucrécia.

VÍTOR  -  (estremeceu) Estou, sim. Onde podemos nos encontrar?

VOZ DE MULHER  -  (off)  Você sabe onde é a Boate do Diabo? Estarei a sua espera hoje, depois da meia-noite. Não precisa se incomodar comigo, pois eu te conheço. Tchau...

OS PENSAMENTOS DE VÍTOR FERVILHAVAM. MILHARES DE LEMBRANÇAS ACUDIAM-LHE À MENTE. AS PALAVRAS DE MANOLO, O GARÇON DO CASTELINHO, ECOAVAM EM SEUS OUVIDOS: “SÓ SEI QUE A MORENA DISSE, DA SEGUNDA VEZ: SE DISSER MAIS UMA VEZ ESSE NOME, EU TE DOU NA CARA!”

O RELÓGIO DA SALA BATEU MEIA-NOITE.

HELÔ  - (off)  Vítor, você não vem dormir?

HELÔ VIU PELA PORTA DO QUARTO QUE O MARIDO PROCURAVA ALGUMA COISA NA GAVETA DA MESINHA DA SALA.

HELÔ  -  O que você tá procurando, amor?

VÍTOR -  Estou procurando um analgésico. Estou com dor de cabeça (e depois de certa hesitação) Acho que vou à farmácia comprar. Durma você, eu volto já. Té logo.

E SAIU.

CORTA PARA:

CENA 8  -  BOATE DO DIABO  -  INT.  -  NOITE.

A BOATE DO DIABO ERA UM INFERNINHO. ESFUMAÇADO E DEPRIMENTE COMO TODOS ELES. A DECORAÇÃO FAZIA JUS AO NOME: ERA DIABÓLICA, ALUCINATÓRIA. ILUMINAÇÃO, QUASE NENHUMA. TODOS OS FREQUENTADORES USAVAM MÁSCARAS. AS MULHERES TINHAM O ROSTO PINTADO DE BRANCO.

VÍTOR FICOU PARADO NA PORTA, SEM CORAGEM DE ENTRAR.

RICARDINHO  -  (cochichou para Mario Maluco) Chegou o nosso homem.

MARIO MALUCO COCHICHOU NO OUVIDO DE SUA GAROTA, QUE SE LEVANTOU E FOI COCHICHAR COM OUTRA. UMA DELAS FOI ATÉ A PORTA, TOMOU VÍTOR PELA MÃO E INICIOU UMA DANÇA SENSUAL.

VÍTOR  -  Você é Lucrécia?

A GAROTA RIU E AFASTOU-SE. DE REPENTE ELE FOI ENVOLVIDO PELAS OUTRAS MOÇAS, QUE RODARAM À SUA VOLTA, DEIXANDO-O ATORDOADO. POR FIM, VÍTOR CAIU SENTADO NUMA CADEIRA. A MÚSICA ERA ENSURDECEDORA.

RICARDINHO  -  (gritou) Bebida para ele!

VÍTOR  -  Não, obrigado. Eu só vim procurar uma pessoa.

MARIO ENCHEU UM COPO DE UÍSQUE.

RICARDINHO -  Que pessoa?

VÍTOR  -  Uma moça chamada Lucrécia. O senhor  conhece?

RICARDINHO  -  Claro que conheço. Ela não está aqui. Mas vai chegar.

RENATÃO, QUE TAMBÉM ESTAVA NO LOCAL, APROXIMOU-SE.

RENATÃO  -  Lucrécia? Quem falou em Lucrécia?

MARIO APONTOU PARA VÍTOR, QUE ATÉ ESSE INSTANTE NÃO TINHA RECONHECIDO NENHUM DELES, TODOS MASCARADOS.

MARIO MALUCO  - Foi ele. Veio encontrar-se com Lucrécia.

 

RICARDINHO COLOCOU QUALQUER COISA DENTRO DO UÍSQUE DE VÍTOR, QUE NÃO PERCEBEU.

VÍTOR  -  (apurando o ouvido para a voz que falava atrás da máscara) Espera aí, eu acho que conheço vocês. Já ouvi essa voz.

UMA GAROTA COLOCOU UMA MÁSCARA NO SEU ROSTO. VÍTOR NÃO RESISTIU. ELA OBRIGOU-O A BEBER. ELE ESTAVA ATORDOADO. MAS PERCEBEU QUE RICARDINHO – A VOZ ERA DELE, NÃO TINHA DÚVIDA – SE AFASTAVA COM O CELULAR E COMEÇAVA A DISCAR.

RICARDINHO -  (ao celular)  Olha, você quer encontrar seu marido, venha aqui na Boate do Diabo. Venha, que ele está atrás de uma tal de Lucrécia.

CORTA PARA:

CENA 9  -  APARTAMENTO DE HELÔ -  QUARTO  -  INTERIOR  -  NOITE.

DO OUTRO LADO DA LINHA, COM O FONE NO OUVIDO, HELÔ PULOU DA CAMA, ATORDOADA.

HELÔ  -  Lucrécia!

 

FIM DO CAPÍTULO 42

 Vítor e Susi

e no próximo capítulo...

*** Vítor percebe que caiu numa armadilha, ao reconhecer a voz de Ricardinho, na Boate do Diabo. Fica indignado ao perceber que o malandro ligou para Helô e parte para cima dele!

*** A identidade de Lucrécia é revelada!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 43 DE