quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO VIII


O telegrama de Jerônimo, dando conta do acidente de Duda, chegara ao Flamengo. Hernani e o diretor Paulo Moreira não perderam tempo. Viajaram rapidamente a Coroado. Duda contou-lhes o que tinha acontecido e falou da operação.
- Depois vocês falam com o pai da minha mulher. Foi ele quem me operou...

O delegado Falcão, satisfeito, colocou o fone no gancho e voltou­se para o coronel:
- A telefonista ouviu toda a conversa... Ele mandou chamar dona Estela e ela atendeu censurando muito ele, pelo que havia feito com dona Lara. Ele disse que precisava dela... da dona Estela...
"Ele" era Lourenço. O coronel não tinha dúvidas.
- Onde ele está? - perguntou Pedro Barros, perturbado.
- O telefonema era de Morrinhos, em Goiás - revelou Falcão.
- Então, mande seus homens pra lá.
- Vou fazer isso, hoje mesmo - afirmou Falcão.
O dr. Maciel atravessou a sala do rancho enrolando o estetoscópio. Não fora possível fazer nada. O velho Sebastião estava morto. O choque provocado pelo roubo do diamante encurtara a vida do humilde garimpeiro. No quarto, o padre Bento consolava a família enlutada.
Estela queria saber por que o marido não lhe dirigia mais a palavra. Dalva esclareceu:
- Você é muito ingênua... Pedro já sabe de tudo que se passou entre você e Lourenço.
Estela estremeceu. Quem haveria contado? Os jagunços não teriam coragem de magoar o patrão. Então, só restava Dalva.
- Agora eu sei. Agora eu vejo tudo muito bem. Você está pretendendo roubar meu lugar dentro desta casa. Pois olhe... eu lhe cedo de bom grado!

Aninha, a telefonista, informava ao delegado do novo telefonema de Lourenço. João acabara de entrar na delegacia e ouviu as últimas palavras do delegado ao telefone.
- Então, já sabe onde anda o Lourenço? - perguntou João. Ele ficou sabendo que Lourenço se encontrava em Morrinhos, hospedado na casa da mulher.
- Eu vou até lá. Vou acabar com a vida dele.
- Você vai se dar mal, João! Muito mal! - alertou o delegado.

Lara apareceu de volta à fazenda, inesperadamente.
- Lara! Que bom que você está aqui! - afirmou Dalva, surpresa. Lara estava desconfiada de que tinha perdido o filho e exigia uma confirmação.
- Foi um acidente! - disse Dalva. 
Lara, enojada, olhava o rosto pálido da tia.
- Só posso dizer que você foi vítima inocente de Lourenço. O que ele pretendia era roubar João. E você, naquela hora, era uma ameaça. Você, ou Diana, ia avisar João do golpe.
Lara deixou escapar um grito surdo de revolta, e dor.

Em Morrinhos, João Coragem perguntou ao dono de uma taberna se ele conhecia a mulher de um tal Lourenço d' Ávila.
- Conheço. Muita gente tem perguntado, inclusive a polícia.
- Eu não sou polícia. Trago recado do marido dela – mentiu João.
O homem deu a informação que João procurava.
Lourenço, ajeitando a mochila no ombro, despedia-se da mulher, quando alguém bateu à porta. Lourenço apressou-se. As pancadas tornaram-se mais fortes. Lourenço beijou a mulher e desapareceu pela porta dos fundos. Então, Branca abriu a porta. João invadiu a casa à procura de Lourenço. Vasculhou todos os cômodos.
- Aqui ele não está - vociferou o garimpeiro. - Mas eu sei onde ele vai pra vender o meu diamante.
Branca ainda tentou deter João. Ele a empurrou de encontro à mesa colocada no centro da sala.
- Dona, não adianta tentar barrar meus passos pro seu marido ganhar tempo e fugir. Eu alcanço ele. Nem que for fora do mundo. Eu alcanço - disse João, com firmeza, já saindo pela porta.

Ritinha explicara para Duda por que ela não queria acompanhá-lo ao Rio de Janeiro. Ela preferia ter o filho em Coroado, distante das atribulações da cidade grande. Duda aceitou as ponderações de Ritinha. O dr. Maciel abriu a porta do quarto:
- Estão te chamando, lá no carro.
Duda apanhou as malas, beijou a mulher e saiu. Ritinha chorava, abafadamente.

Os garimpeiros, espantados, rodeavam o cadáver desfigurado que haviam acabado de retirar do rio. Braz identificou o homem pelas roupas.
- Está me parecendo... ou muito me engano ou é o Lourenço d'Ávila!
A notícia espalhou-se rapidamente por toda Coroado. Lourenço d'Ávila estava morto. As suspeitas recaíram todas sobre João Coragem. E o coronel Pedro Barros não perdeu tempo.
- Chegou a nossa vez, Falcão. Não há dúvida de que foi João quem matou Lourenço. Encontramos o corpo... o safado está ausente... isso já deve bastar como prova, não acha?
Falcão não achava. Desta vez, ele queria tudo dentro da lei. Era preciso fazer o reconhecimento do cadáver.
- Tem de mandar alguém chamar a mulher de Lourenço, não tem? - perguntou Barros.
- Tem. É ela quem vai dar a palavra final.
Barros prontificou-se a buscar Branca d' Ávila em Morrinhos. Falcão não se opôs ao "generoso" gesto do coronel.

Branca d' Ávila chorava:
- Mataram meu marido!
- Um corpo foi encontrado - esclareceu o coronel. - A gente precisa que a senhora vá ver ele pra dizer se é seu marido.
Juca Cipó mencionou o nome de João Coragem. Branca estremeceu.
- João Coragem?! Esse homem esteve aqui procurando por Lourenço.
- Pois é - disse o coronel. - Parece que João jurou Lourenço de morte e cumpriu. E... acho que depois fugiu, o sem-vergonha. - Então... não há dúvida; foi ele mesmo. Foi ele mesmo... que matou o meu Lourenço!
Pedro Barros e Juca entreolharam-se satisfeitos.

Reunidos no rancho, Sinhana, Lara e Jerônimo preocupavam-se com a falta de notícias de João. As coisas, agora, estavam diferentes.
- O povo... Esse mesmo povo que nos apoiava... que estava do nosso lado... se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora, ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... - lamentava Jerônimo.

Falcão retirou o lençol que encobria o cadáver. Branca, trêmula, observou o corpo.
- É meu marido! É ele! Foi assassinado! - gritou Branca. Ela exigia punição imediata para o assassino.
- Mas... quem é o culpado? - perguntou Falcão.
Branca não hesitou:
- João Coragem! Prendam esse homem ou eu não acredito mais na Justiça!

Nos arredores do rancho, Jerônimo percebeu um cavaleiro se aproximando. Era João. Os dois abraçaram-se fortemente. João queria ir sem demora para casa, rever seus pais e Potira. Jerônimo disse que a polícia o esperava.
- Por quê?! - surpreendeu-se João.
Jerônimo estranhou aquela reação.
- De onde você vem?
João contou que tinha ido até Franca, onde esperava encontrar Lourenço. Mas na cidade ninguém sabia dele.
- Hoje... é o enterro dele, João! - informou Jerônimo, abruptamente.
João pasmou-se.
- Morreu? O desgraçado morreu?
- Morreu matado! E estão dizendo... que foi você, mano! Aí é que está o diabo!

Estela ameaçava seu marido:
- Eu posso dizer a todo mundo que foi você quem mandou Lourenço roubar o diamante de João Coragem.
- E como é que você pode ter certeza disso? - perguntou Pedro Barros.
- Lourenço me disse.
- Se ele disse é porque você estava de combinação com ele. Tinham a intenção de me trair, não é?
Estela engasgou diante da perspicácia do marido. Pedro Barros continuou falando:
- E tem mais... Eu sei que você deu suas jóias como metade do pagamento das suas dívidas de jogo. A outra metade... tem de pagar já. O Souza telefonou. Está me intimando a pagar e eu não pago. A dívida é sua, você que se arranje. E mais uma coisa: você tem três dias pra sumir dessa casa. Não posso nem olhar pra tua cara.

Ritinha lia a carta de Duda para Domingas. O jogador dizia que estava bem de saúde, apenas sentia uma dormência na perna operada. Um exame superficial realizado pelo departamento médico dó Flamengo nada revelara de anormal. Domingas decidiu contar toda a verdade:
- Ritinha, teu pai mentiu. Ele não extraiu a bala!
Ritinha perdeu a fala. Era preciso avisar Duda imediatamente!

João resolveu apresentar-se ao delegado Falcão.
- Eu soube... que queria falar comigo.
- Quero, sim. Muito, João. Mas com você... atrás das grades! João tentou resistir à ordem de prisão. Sem sucesso.

No quarto da pensão, o dr. Rodrigo, que acabara de voltar para Coroado, ouvia Jerônimo contar os acontecimentos que abalaram toda a família Coragem: o roubo do diamante, a perna ferida de Duda, a morte do pai, as suspeitas que recaíam sobre João em relação à morte de Lourenço. Rodrigo estava estupefato. Mais tarde, Gentil, o dono da pensão, entrou no quarto e informou que João havia sido preso.
- Vamos lá, Jerônimo! - disse Rodrigo.
Na delegacia, Rodrigo perguntou se Falcão tinha razões suficientes para prender João Coragem.
- A viúva de Lourenço acusou João de ter dado fim à vida do marido. E, se não bastasse isso, ele desacatou minha autoridade! - disse Falcão.
- Eu tenho certeza de que faria o mesmo - afirmou Jerônimo, bufando de raiva.

O telefone tocou na casa do dr. Maciel. Era do Rio, para Ritinha. Ela correu para atender. Duda, revoltado, contou da barbeiragem de Maciel.
- Eu... eu sabia, Eduardo. Soube ontem. Ontem mesmo tentei uma ligação pra você - balbuciou Ritinha.
Duda maldizia o pai de Ritinha. Ela suspirava, trêmula, a cada palavra do marido.
- Que é que vai acontecer, agora? - perguntou Ritinha. Duda ia ser operado novamente.

Rodrigo entrou na casa do rancho carregando diversos livros. Eram para Jerônimo. O promotor havia convencido Jerônimo a se candidatar à Prefeitura de Coroado.
Também queria ver Potira.
- Desde que cheguei, ainda não vi minha noiva... onde ela está? Jerônimo foi buscar a índia. Potira, a contragosto, dirigiu-se ao encontro de Rodrigo. .
- Estava doido de saudade de você, Potira! - disse Rodrigo, emocionado.
Potira não tinha tanta saudade assim; mas correspondeu ao beijo ardente de Rodrigo. Jerônimo saiu apressadamente da sala, devorado pelo ciúme.
Ritinha resolveu partir ao encontro de Duda. Quando voltou da anestesia, ficou surpreso ao ver a mulher.
- Ritinha! Você aqui, meu amor!
Os dois se abraçaram emocionados. Ritinha revelou que tinha vindo para ficar definitivamente com ele.
- Foi ótimo você vir. Preciso muito de apoio moral. Estou numa fossa que dá gosto. Eu sei que eles escondem, mas há perigo de eu não voltar a jogar direito.
- Não diga isso, Eduardo, pelo amor de Deus! Eu ia me sentir responsável...

O promotor Rodrigo conseguiu a liberdade provisória de João Coragem.
Falcão abriu a porta da cela:
- Você está em liberdade, João... Mas liberdade provisória. Fica proibido de deixar a cidade sem minha ordem. E tome cuidado com o que fizer daqui pra frente. Não conte com o apoio do povo de Coroado. Sua fama de santo está decaindo.
- Por Deus que preciso ser santo... pra agüentar tudo isso! Um santo bem santo, mesmo! - disse João.

Pedro Barros e Souza aguardavam Estela no escritório da casa­grande. Souza era uma figura estranha, longas mãos de unhas tratadas e eternamente vestido de branco. Estela empalideceu ao dar de cara com ele.
- O que é isso? Uma cilada?
Souza não respondeu. Preferiu comunicar a decisão que tomara minutos antes.
- Está tudo acertado. O coronel se dispõe a pagar o restante de sua dívida...
Pedro Barros confirmou o acordo. Mas, como sempre, ele tinha condições: Estela deveria abandonar a casa imediatamente e deixar uma carta para Lara.
- Eu sei - disse Estela, com os lábios trêmulos. - Um atestado de que não presto, para você sair limpo de toda a história. Com auréola de santo...
- Você não tem escolha... - concluiu Pedro Barros.
Em seu velho carro, Souza fumava, aguardando Estela. Ela entrou, sorrindo cinicamente.
Os dois trocaram um olhar cúmplice. A trama surtira efeito. O dinheiro ali estava, com a assinatura do velho coronel. Estela soltou os cabelos e abraçou o jogador. A comédia havia terminado. O jagunço, espantado, abriu a porteira e viu o automóvel desaparecer na estrada coma esposa do patrão abraçada a um estranho.

No garimpo, Lara informava a João sobre a partida da mãe.
- Acho que preciso fazer alguma coisa por ela - disse Lara.
- Fique aqui comigo - pediu João. - Estou num tal estado que nem consigo trabalhar, de tanta coisa dentro da minha cabeça.
Lara compreendia, e queria confortá-lo:
- João... há alguém que pode ajudar você... que pode dizer o que se passou na noite do roubo: .
- Quem? - perguntou João.
Era Diana. Lara queria que João a ajudasse a trazer Diana.
- Eu não quero que ela volte nunca mais, Lara. Deixe a alma daquela mulher em paz; deixe que ela desapareça para sempre!

Na delegacia, Branca d' Ávila, acompanhada pelo coronel, queria saber o que estava sendo feito para punir o culpado da morte de seu marido.
Falcão explicou-lhe que o promotor estava colocando obstáculos para retardar a prisão de João Coragem.
- Como assim? - perguntou Pedro Barros.
- Declarou que as provas eram insuficientes.
- Mas isso é um absurdo! - enfureceu-se Branca.
- O juiz pode não ser da opinião do promotor. E se o juiz estiver de acordo comigo, ele pede a prisão de João, ainda hoje - esclareceu Falcão.
E foi o que aconteceu. O juiz assinou o pedido de prisão de João e o delegado não perdeu tempo. Reuniu alguns auxiliares e tomou rumo da casa dos Coragem. João não estava em casa. Fora para o garimpo.
- Deixou um recado - disse Sinhana. - Mandou avisar que está armado e vai lhe receber a bala...

Falcão não demonstrou nenhuma reação. Partiu rapidamente na direção da gruna. Mas Jerônimo e Sinhana, pegando um atalho, conseguiram chegar antes ao local onde João estava.
- João! Os homens do delegado vêm aí.
João se entrincheirou no interior da gruna. Sinhana e Jerônimo desapareceram por entre as árvores. Nesse instante, Falcão e seus homens chegaram.
- João! Está me ouvindo?
Um tiro foi a resposta. Os homens jogaram-se ao chão.
- Vou te dar quinze minutos pra sair daí! - avisou Falcão.
João resistiu durante horas. Mas em vão. No fim, cansado e sem munição, entregou-se.

QUEREMOS DEDICAR O CAPÍTULO DE HOJE AO OSVALDO DO MURAL (O TIO SUKITA), QUE ELE POSSA CONTINUAR SENDO UM BOM COMPANHEIRO DE PAPO AQUI E LÁ NO MURAL. UM GRANDE ABRAÇO!

2 comentários:

  1. JE, lembro dessa parte da novela, quando em consequência do diamante encontrado por João Coragem, começaram os problemas mais sérios de toda a família. Era uma tragédia constante, o pai morto, Duda com sérios problemas por causa do tiro, a perda do filho de Lara e a prisão de João. E mais coisas ruins viriam! Tudo pela ganância, pela cobiça que a pedra despertou! Que novela! Bjs.

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  2. Muito bom o cap. de hoje também. Pena que João acabou sendo preso novamente. Que legal Ritinha voltou para ficar com Duda.
    Beijos pra voce Je.

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