quarta-feira, 10 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 46



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 46

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

 DR. MACIEL
BRAZ CANOEIRO
DOMINGAS
SEBASTIÃO
JOÃO
JERÔNIMO
DUDA
RITINHA
SINHANA

CENA 1  -  COROADO - CASA DO DR. MACIEL  -  INT.  -  NOITE.

O médico ria gostosamente, gozando a situação.


DR. MACIEL  -  Ah, agora eles vêm me pedir ajuda, não é?

BRAZ CANOEIRO  -  O moço Duda foi ferido a bala!  Tá passano mal.

DR. MACIEL  -  Pois que me importa! Não tenho obrigação de tratar de nenhum deles!

DOMINGAS  -  Como não tem obrigação, seu doutô?  (ameaçadoramente)  É um médico! Tem um juramento a cumprir!

Maciel cruzou a sala, sob os olhares reprovadores de Braz e Domingas. Foi até o bar, abriu a garrafa e encheu o copo. Ergueu-o contra a luz como a examinar a composição química de um medicamento. Tomou a bebida de uma talagada.

DR. MACIEL  -  É. Sou médico. Um médico que eles desprezam. Um médico que eles acusam... um médico sem nenhum valor para eles...
   
BRAZ CANOEIRO  -  (cortou)  Seu doutô, o sinhô me desculpe, mas num é hora disso. O moço Duda é um jogadô de futebol famoso e foi ferido na perna... isso pode sê ruim pra carreira dele!

DR. MACIEL  -  Melhor! Melhor que ele nunca mais volte a jogar!
   
BRAZ CANOEIRO  -  (recriminou-o, revoltado)  O sinhô não fala como médico!

DR. MACIEL  -  Falo como vítima.  Como vítima daquela gentalha maldita que me acusou na polícia. Por culpa deles... a minha filha nem me olha na cara. Portanto... eu me recuso a ir cuidar do Eduardo.

BRAZ CANOEIRO  -  Eu posso dizê isso a ele?   Posso?

DR. MACIEL  -  Pode! Vá correndo! Eu estou com sono e quero me deitar!

Dito isto, o Dr. Maciel deixou a sala. Domingas fez o sinal da cruz e Braz deixou cair os braços, impotente.

CORTA PARA:

CENA 2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  QUARTO  -  INT.  -  NOITE.


A luz mortiça do lampião incidia fúnebremente sobre a face cadavérica do ancião. Os raros cabelos, embebidos de suor que lhe escorria pelo rosto, continham pequenos pedaços de barro avermelhado, resquícios das brutalidades que sofrera nas mãos dos bandidos.


SEBASTIÃO  -  (arquejante, quase num sussurro inaudível)  Eu tive toda a culpa, filho.

JOÃO  -  Não diga isso, velho... o sinhô fez o que qualquer um de nós havia de fazê pra salvá a vida de Cema.

SEBASTIÃO  -  Seria bom... se tivesse morrido. Eu vou ficá com peso na consciência. Por minha fraqueza... tudo aconteceu.
   
JOÃO  -  (levantou-se, angustiado)  Pai, num dianta ficá agora se martirizano, quereno sabê quem teve culpa ou quem não teve! Isso num resolve nada.

JERÔNIMO  -  Também acho.  O que resolve, agora, é tomá uma atitude. ( e fitando energicamente o irmão)  E quem vai tê que tomá essa atitude é você, João.  Tá mais do que certo que a gente foi vítima de um golpe. Você foi atraído na casa do seu sogro, pra ele mandá roubá o teu diamante e acabá com a nossa família. Agora, eu quero vê se você vai ter corage de ir lá e acabá com toda a raça dele. Até com a filha dele... tua mulhé.

João torcia as mãos, intimamente revoltado com a injustiça das palavras do irmão. Somente ele, naquela casa, sabia das razões do chamamento da casa-grande. Somente ele podia medir as conseqüências do ato selvagem que levara á morte o filho que Lara tinha nas entranhas. O seu filho! 

JOÃO  -  Por que... minha mulhé?

JERÕNIMO  -  (com ironia)  Porque tava na cara que ela tava combinada com o pai, não é, João?

Era demais para quem sofrera bastante naquela noite: a perda do filho, a esposa gravemente ferida, o irmão com a perna ameaçada, o pai moribundo e, para culminar, o roubo do diamante que representava o seu futuro no amor e na riqueza. Quando tornou a falar, João Coragem refletia a combinação de revolta com a ira.

JOÃO  -  Não tá nada na cara, não! Tu nem sabe das coisa... é melhor ficá calado...

JERÔNIMO  -  Eu num sei das coisa! Mas, tudo tá tão claro, João! Ou será que você, agora, vai querê defendê o pai dela?
  
JOÃO  -  Não, a ele num defendo... mas a ela... ela, como eu, como ocê, como pai e Duda... também foi vítima.

JERÔNIMO  -  (virou o rosto em gesto de descrédito)  Essa, não! Não me venha com isso, agora!

CORTA PARA:

CENA  2  -  CASA DO RANCHO CORAGEM  -  SALA  -  INT.  -  MADRUGADA.

 
Braz acabara de regressar de Coroado. Esbaforido. Com a tez negra banhada de suor. Mal podia falar. João e Jerônimo alcançaram o final de suas palavras.


BRAZ CANOEIRO  -   ...e ele disse... que não vem... que num tem obrigação de tratá do Duda... porque ocês são inimigo dele.

Ritinha juntou as mãos como em prece, pressentindo a gravidade da revelação.


RITINHA  -  Ele perdeu o juízo... não pode se negar a tratar de ninguém!

Sinhana correu os olhos pelo quarto, demorando-se no revólver que Eduardo atirara sobre o velho baú. Os irmãos entenderam a mensagem da mãe.

JERÔNIMO  -  Nós trazemos ele, mãe. Nem que seja amarrado.
 
DUDA  -  (revirando-se na cama, suplicou)  Gente... não demorem... eu não agüento de dor!

Os irmãos examinaram o tambor da arma, girando-o com força. O revólver de João, de cabo de madrepérola, mantinha-se preso ao cinto, ao lado direito de sua perna. Não trocaram palavras durante a longa caminhada.

CORTA PARA:

CENA 3  -  COROADO  -  PRAÇA  -  EXT.  -  AMANHECER.


Amanhecia. Ao longe o sol coloria de tintas rubras o horizonte montanhoso. A praça, antes regurgitante de gente, dormia quieta, embalada pelo leve rumor da viração que atormentava a copa das árvores. O ruído das  ferraduras feriu bruscamente o silencio da madrugada.

CORTA PARA:

CENA 4  -  COROADO  -  CASA DO DR. MACIEL  -  EXT.  -  AMANHECER.

Domingas veio atender á porta, sonolenta.


JOÃO  -  Cadê o doutô?

DOMINGAS  -  Tá dormino.

JERÔNIMO  -  Acorda ele.
  
DOMINGAS  -  Gente... num adianta. Eu já fiz tudo. Ele disse que podem matá ele que num vai!

JERÔNIMO  -  Onde é o quarto dele?
   
DOMINGAS  -  Escutem... não compliquem as coisas. Chamem outro médico.

JOÃO  -  Não há tempo, Domingas.  Se meu irmão não for medicado agora... ele morre!

Os rapazes entraram na casa. Domingas voltou a benzer-se com gestos lentos.

CORTA PARA:

CENA 5  -  CASA DO DR. MACIEL  -  QUARTO.  -  INT.  -  AMANHECER.

Maciel sentiu o lençol voar de seu corpo e o vento frio da madrugada fustigar-lhe o peito. Acordou assustado.


DR. MACIEL  -  O que é isto?

JERÔNIMO  -    (com a arma encostada ao peito do médico)  É um convite pra ir tratá do meu irmão!

DR. MACIEL  -  Mas eu já disse...

JOÃO  -   (corta)  Não importa o que disse. A gente veio lhe buscá.

JERÔNIMO  -  Por bem... Por enquanto.

DR. MACIEL  -  Mas eu me recuso. Eu posso escolher os meus clientes.

JERÔNIMO  -   ... e a gente também pode escolher a melhor maneira de lhe mandá pro outro mundo  (arrematou, com os dentes cerrados e a arma engatilhada. Apontou o cano para a testa do médico irresponsável) Anda! Se levante! Se arruma em dois minuto! E vamo simbora!  (com um gesto rápido apanhou o relógio de cabeceira e o colocou a centímetros da cara do inimigo)  Tem dois minuto!

Levantando-se com lentidão, Maciel percebeu a decisão do jovem. Não havia dúvida. Começou a vestir-se.

JERÔNIMO  -  (com a ponta do cano cutucou as costelas do viciado médico)  Mais depressa! Vamo logo!
   
DR. MACIEL  -    (enquanto vestia o terno amarfanhado, foi perguntando)  Que é que ele tem?

JERÔNIMO  -  Atiraro na perna dele. Veja tudo que é preciso pra cuidá disso.  Pode tê quebrado a perna... sei lá.

FIM DO CAPÍTULO  46
Lázaro (Dary Reis) e Braz (Milton Gonçalves)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** DR. MACIEL ALEGA QUE NÃO TEM RECURSOS PARA CUIDAR DO FERIMENTO DE DUDA. JOÃO E JERÔNIMO SÃO TAXATIVOS: OU OPERA, OU MORRE!

*** JOÃO DÁ O PRAZO DE UM DIA PARA O DELEGADO FALCÃO PRENDER OS CRIMINOSOS, OU FARÁ JUSTIÇA COM AS PRÓPRIAS MÃOS!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 47 DE

2 comentários:

  1. Toni, que situação: um médico bêbado, atendendo um paciente sob a mira de revólver! Pobre Duda! Pobre família Coragem! Bjs.

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  2. É, Maria, a "chapa" tá esquentando cada vez mais pra família Coragem! rsrsrs
    Bjs

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