Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 52
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RITINHA
DR. MACIEL
MARIA DE LARA
JOÃO
ESTELA
DALVA
LOURENÇO
CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.
Maciel atravessou a sala enrolando o estetoscópio. Nada foi possível fazer. O velho Sebastião estava nas últimas. O choque provocado pelo roubo do diamante encurtara a vida do humilde garimpeiro. No quarto, Padre Bento oficiava a extrema-unção, sob os olhares compungidos de toda a família. Lara e Ritinha afastaram-se, por um instante, dando entrada na sala onde o médico, abatido, aguardava o equipamento de urgência.
RITINHA - O senhor fez tudo, não fez?
DR. MACIEL - Você tem alguma dúvida?
RITINHA - Não... não é isso. Eu queria dizer... havia tempo de fazer alguma coisa?
DR. MACIEL - (enrugou os lábios, franzindo a testa) O estado dele era muito grave.
Maciel atravessou a sala enrolando o estetoscópio. Nada foi possível fazer. O velho Sebastião estava nas últimas. O choque provocado pelo roubo do diamante encurtara a vida do humilde garimpeiro. No quarto, Padre Bento oficiava a extrema-unção, sob os olhares compungidos de toda a família. Lara e Ritinha afastaram-se, por um instante, dando entrada na sala onde o médico, abatido, aguardava o equipamento de urgência.
RITINHA - O senhor fez tudo, não fez?
DR. MACIEL - Você tem alguma dúvida?
RITINHA - Não... não é isso. Eu queria dizer... havia tempo de fazer alguma coisa?
DR. MACIEL - (enrugou os lábios, franzindo a testa) O estado dele era muito grave.
MARIA DE LARA - (dirigiu-se a ele, com certo acanhamento) Houve uma causa, doutor?
DR. MACIEL - Sim. O susto que ele passou, piorou muito as coisas.
MARIA DE LARA - Não fosse o susto, ele viveria muito tempo?
DR. MACIEL - Ninguém pode prever. O fato é que o susto precipitou sua morte. Enfim... uma infelicidade nunca vem só. E eu não tenho mais nada que fazer aqui. Vou embora... (olhou para dentro do quarto, onde a velha Sinhana segurava as mãos do marido e entre elas brilhava, trêmulo e triste, o fulgor de uma vela) ... antes que eles me responsabilizem pela morte do velho. É uma gente muito estranha.
Dr. Maciel deu uns passos e parou á porta da rua. Olhou para a filha.
DR. MACIEL - Você fica?
RITINHA - Fico, pai.
Ritinha segurou as mãos da concunhada, num gesto de amizade.
RITINHA - (fitando Lara nos olhos) Eu tenho medo do que está para acontecer. Os três irmãos queriam muito bem ao pai. Amor e respeito assim, nunca se viu igual.
João deixou o quarto, cabisbaixo. Lara chamou-o, com doçura, percebendo o estado de ânimo do marido.
MARIA DE LARA - João! João! Isto acontece a todos nós. Talvez ele estivesse destinado a morrer...
JOÃO - (de mau humor) Num tava! Destinado, todos nós tamo... mas, não tão já. Naquela sua fraqueza, ele podia vivê muitos anos. Os doutô da cidade sempre dissero. A fraqueza vinha das luta... num era doença. Era um home forte de espírito. Justo. Honesto. Não merecia esse destino. Sabe por que ele morreu? Inconformado, Lara! Porque teve que dizê onde tava o meu diamante... Ele sabia o que era pra mim aquela pedra. O que representava na minha vida!
Os olhos úmidos teimavam em não aceitar as lágrimas que suplicavam liberdade. João lutava contra o pranto. Lara abraçou-o, sentindo a sua convulsão interior.
MARIA DE LARA - João... eu estou aqui. Eu sei que isso não é tudo... mas eu estou aqui.
Ele apertou-a, deixando-lhe vincos avermelhados na pele clara dos braços. Os seios de Lara esmagavam-se de encontro ao peito musculoso do marido.
JOÃO - Você é tudo pra mim, Lara. Mas eu num tava pensano só em mim. Pensava na família. (Lara aconchegou-se ainda mais entre os braços robustos do esposo)Agora vou sê obrigado a mudá minha vida. Porque essa conformação, eu num recebo. Logo que meu pai tivé debaixo da terra, eu me meto por aí, procurando aquêle bandido. Vou agarrá, Lara... um por um... nem que isto me custe a minha própria vida.
João Coragem fez com a mão o gesto de quem estrangula um assassino.
CORTA PARA:
CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - DIA.
Tudo se modificara na vida em comum do coronel com a esposa. O velho não admitia, sequer, estar presente onde a mulher se encontrasse. Afastava-se, completamente, quase sempre seguido do inseparável Juca Cipó. Estela mostrava-se intrigada com a atitude repentina do marido.
ESTELA - (dirigiu-se à cunhada) Que há com estes dois? Será que decidiram me evitar dentro da minha própria casa?
DALVA - Por quê?
ESTELA - Porquê Pedro não fala comigo há três dias!
DALVA - (ironizou) E voce não sabe por quê?
ESTELA - Não, eu não sei o que ele tem contra mim. Depois que voltamos da viagem, ficou diferente. Você sabe o que ele tem?
Dalva sorriu maquinalmente, dando a impressão de um boneco de palha: sorriso sêco como o capim crestado.
DALVA - Você é muito ingênua... Nesta altura, Pedro já tomou conhecimento de tudo o que se passou entre voce e o empregado fugitivo.
Estela estremeceu com o choque da notícia. Num movimento automático, olhou para os quatro cantos da casa, como á espera de uma bala vingativa. Quando voltou a falar, a voz saía-lhe do peito, baixa e trêmula.
ESTELA - Quem contou? Foi Juca, com certeza?
DALVA - Juca, Oto, Manuel, Inácio, Virgílio, Chicão... todos os empregados... qualquer um deles pode ter contado. Porque todos tinham conhecimento. Ou você pensava que estava nos enganando?
A idéia veio-lhe indecisa e, em segundos, tornou-se clara, lógica. Indignada, replicou á ironia da outra.
ESTELA - Nenhum empregado teve coragem de magoar Pedro. Mas você não... você lhe contou tudo!
DALVA - (deu-lhe as costas, indiferente) Se tivesse feito, teria sido um benefício para ele.
ESTELA - (esbravejava, com as mãos crispadas de ira) Então confessa... foi você!
DALVA - Não confesso nada! Eu só queria que você tivesse um pouco de juízo. Um pouco de vergonha. Nada mais. Acha justo enganar Pedro?
ESTELA - Você está muito preocupada com Pedro! Deus do Céu! Eu creio que ele realizaria um milagre se conseguisse humanizar essa... essa rocha!
Riu, com escárnio, apontando a figura antipática postada á sua frente. Dalva empalidecera e seus lábios tremiam.
DALVA - Estela, me respeite...
ESTELA - Agora, eu sei. Agora, eu vejo tudo muito bem. Você está, apenas, pretendendo me roubar o lugar dentro desta casa. Pois olhe... eu lhe cedo, de bom grado! Nem precisava você ter me intrigado com meu marido!
CORTA PARA:
CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.
Apesar de ferido e procurado pelos capangas de Pedro Barros, sob o comando de um dos auxiliares do delegado, Lourenço achava meio de escapar por entre as sombras da noitinha, para comunicar-se com Estela através do fio interestadual, mal sabendo que todas as chamadas de fora estavam sendo controladas na central e Coroado.
O telefone voltou a tilintar na casa-grande. Estela assustou-se e de um salto, segurou o fone. Entreabrindo a porta do confortável escritório de Pedro Barros, Dalva ficou na escuta, absolutamente tensa.
ESTELA - Alô! Sim, sou eu. Fale! (a voz do outro lado disse qualquer coisa que não agradou a mulher. Tornou a falar, nervosa) Não pode me telefonar para cá. Toda a polícia está empenhada em te agarrar. Não quero te proteger, mas é melhor que você desapareça. (a voz tornou a dizer alguma coisa que não deixava a mulher tranqüila) Não! Eu não posso! Não exija isso de mim. Eu não posso ir com você. Não irei...nem pela maior fortuna do mundo. Onde você está? Morrinhos? Onde é isso? Goiás? E pode sair assim, para telefonar?
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - CENTRO TELEFÔNICO - INT. - DIA.
No Centro Telefônico a conversa era ouvida e anotada pela encarregada das ligações interestaduais. A jovem trabalhava rápido, registrando no papel o desenrolar do diálogo. A cada palavra seu interesse aumentava.
LOURENÇO - (prosseguia, numa voz longínqua) Tive que pedi a ajuda de minha mulhé, mas não vou ficá aqui. Se ocê quer se encontrá comigo, eu te espero dentro de uma semana, na capital do Rio de Janeiro. É lá que eu penso realizá um grande negócio. Tá me entendendo, Estela?
ESTELA - (em voz baixa, com a mão em concha sobre o bocal do telefone) Estou. Mas... não espere. Não irei.
LOURENÇO - Telefono noutro dia, pra dizê a minha direção...
ESTELA - Não telefone mais. Adeus!
DR. MACIEL - Sim. O susto que ele passou, piorou muito as coisas.
MARIA DE LARA - Não fosse o susto, ele viveria muito tempo?
DR. MACIEL - Ninguém pode prever. O fato é que o susto precipitou sua morte. Enfim... uma infelicidade nunca vem só. E eu não tenho mais nada que fazer aqui. Vou embora... (olhou para dentro do quarto, onde a velha Sinhana segurava as mãos do marido e entre elas brilhava, trêmulo e triste, o fulgor de uma vela) ... antes que eles me responsabilizem pela morte do velho. É uma gente muito estranha.
Dr. Maciel deu uns passos e parou á porta da rua. Olhou para a filha.
DR. MACIEL - Você fica?
RITINHA - Fico, pai.
Ritinha segurou as mãos da concunhada, num gesto de amizade.
RITINHA - (fitando Lara nos olhos) Eu tenho medo do que está para acontecer. Os três irmãos queriam muito bem ao pai. Amor e respeito assim, nunca se viu igual.
João deixou o quarto, cabisbaixo. Lara chamou-o, com doçura, percebendo o estado de ânimo do marido.
MARIA DE LARA - João! João! Isto acontece a todos nós. Talvez ele estivesse destinado a morrer...
JOÃO - (de mau humor) Num tava! Destinado, todos nós tamo... mas, não tão já. Naquela sua fraqueza, ele podia vivê muitos anos. Os doutô da cidade sempre dissero. A fraqueza vinha das luta... num era doença. Era um home forte de espírito. Justo. Honesto. Não merecia esse destino. Sabe por que ele morreu? Inconformado, Lara! Porque teve que dizê onde tava o meu diamante... Ele sabia o que era pra mim aquela pedra. O que representava na minha vida!
Os olhos úmidos teimavam em não aceitar as lágrimas que suplicavam liberdade. João lutava contra o pranto. Lara abraçou-o, sentindo a sua convulsão interior.
MARIA DE LARA - João... eu estou aqui. Eu sei que isso não é tudo... mas eu estou aqui.
Ele apertou-a, deixando-lhe vincos avermelhados na pele clara dos braços. Os seios de Lara esmagavam-se de encontro ao peito musculoso do marido.
JOÃO - Você é tudo pra mim, Lara. Mas eu num tava pensano só em mim. Pensava na família. (Lara aconchegou-se ainda mais entre os braços robustos do esposo)Agora vou sê obrigado a mudá minha vida. Porque essa conformação, eu num recebo. Logo que meu pai tivé debaixo da terra, eu me meto por aí, procurando aquêle bandido. Vou agarrá, Lara... um por um... nem que isto me custe a minha própria vida.
João Coragem fez com a mão o gesto de quem estrangula um assassino.
CORTA PARA:
CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - DIA.
Tudo se modificara na vida em comum do coronel com a esposa. O velho não admitia, sequer, estar presente onde a mulher se encontrasse. Afastava-se, completamente, quase sempre seguido do inseparável Juca Cipó. Estela mostrava-se intrigada com a atitude repentina do marido.
ESTELA - (dirigiu-se à cunhada) Que há com estes dois? Será que decidiram me evitar dentro da minha própria casa?
DALVA - Por quê?
ESTELA - Porquê Pedro não fala comigo há três dias!
DALVA - (ironizou) E voce não sabe por quê?
ESTELA - Não, eu não sei o que ele tem contra mim. Depois que voltamos da viagem, ficou diferente. Você sabe o que ele tem?
Dalva sorriu maquinalmente, dando a impressão de um boneco de palha: sorriso sêco como o capim crestado.
DALVA - Você é muito ingênua... Nesta altura, Pedro já tomou conhecimento de tudo o que se passou entre voce e o empregado fugitivo.
Estela estremeceu com o choque da notícia. Num movimento automático, olhou para os quatro cantos da casa, como á espera de uma bala vingativa. Quando voltou a falar, a voz saía-lhe do peito, baixa e trêmula.
ESTELA - Quem contou? Foi Juca, com certeza?
DALVA - Juca, Oto, Manuel, Inácio, Virgílio, Chicão... todos os empregados... qualquer um deles pode ter contado. Porque todos tinham conhecimento. Ou você pensava que estava nos enganando?
A idéia veio-lhe indecisa e, em segundos, tornou-se clara, lógica. Indignada, replicou á ironia da outra.
ESTELA - Nenhum empregado teve coragem de magoar Pedro. Mas você não... você lhe contou tudo!
DALVA - (deu-lhe as costas, indiferente) Se tivesse feito, teria sido um benefício para ele.
ESTELA - (esbravejava, com as mãos crispadas de ira) Então confessa... foi você!
DALVA - Não confesso nada! Eu só queria que você tivesse um pouco de juízo. Um pouco de vergonha. Nada mais. Acha justo enganar Pedro?
ESTELA - Você está muito preocupada com Pedro! Deus do Céu! Eu creio que ele realizaria um milagre se conseguisse humanizar essa... essa rocha!
Riu, com escárnio, apontando a figura antipática postada á sua frente. Dalva empalidecera e seus lábios tremiam.
DALVA - Estela, me respeite...
ESTELA - Agora, eu sei. Agora, eu vejo tudo muito bem. Você está, apenas, pretendendo me roubar o lugar dentro desta casa. Pois olhe... eu lhe cedo, de bom grado! Nem precisava você ter me intrigado com meu marido!
CORTA PARA:
CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.
Apesar de ferido e procurado pelos capangas de Pedro Barros, sob o comando de um dos auxiliares do delegado, Lourenço achava meio de escapar por entre as sombras da noitinha, para comunicar-se com Estela através do fio interestadual, mal sabendo que todas as chamadas de fora estavam sendo controladas na central e Coroado.
O telefone voltou a tilintar na casa-grande. Estela assustou-se e de um salto, segurou o fone. Entreabrindo a porta do confortável escritório de Pedro Barros, Dalva ficou na escuta, absolutamente tensa.
ESTELA - Alô! Sim, sou eu. Fale! (a voz do outro lado disse qualquer coisa que não agradou a mulher. Tornou a falar, nervosa) Não pode me telefonar para cá. Toda a polícia está empenhada em te agarrar. Não quero te proteger, mas é melhor que você desapareça. (a voz tornou a dizer alguma coisa que não deixava a mulher tranqüila) Não! Eu não posso! Não exija isso de mim. Eu não posso ir com você. Não irei...nem pela maior fortuna do mundo. Onde você está? Morrinhos? Onde é isso? Goiás? E pode sair assim, para telefonar?
CORTA PARA:
CENA 4 - COROADO - CENTRO TELEFÔNICO - INT. - DIA.
No Centro Telefônico a conversa era ouvida e anotada pela encarregada das ligações interestaduais. A jovem trabalhava rápido, registrando no papel o desenrolar do diálogo. A cada palavra seu interesse aumentava.
LOURENÇO - (prosseguia, numa voz longínqua) Tive que pedi a ajuda de minha mulhé, mas não vou ficá aqui. Se ocê quer se encontrá comigo, eu te espero dentro de uma semana, na capital do Rio de Janeiro. É lá que eu penso realizá um grande negócio. Tá me entendendo, Estela?
ESTELA - (em voz baixa, com a mão em concha sobre o bocal do telefone) Estou. Mas... não espere. Não irei.
LOURENÇO - Telefono noutro dia, pra dizê a minha direção...
ESTELA - Não telefone mais. Adeus!
FIM DO CAPÍTULO 52
e no próximo capítulo...
*** MARIA DE LARA DESCOBRE, FINALMENTE, QUE PERDEU O FILHO.
***JOÃO VIAJA PARA MORRINHOS, NO ENCALÇO DE LOURENÇO!
*** MARIA DE LARA DESCOBRE, FINALMENTE, QUE PERDEU O FILHO.
***JOÃO VIAJA PARA MORRINHOS, NO ENCALÇO DE LOURENÇO!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 53 DE
Tão triste essa cena da morte de Sebastião Coragem! E essa tia Dalva, que mala sem alça, rsrsrs. Legal Toni!
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