Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 47
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
DR. MACIEL
RITINHA
JERÔNIMO
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
CEMA
DOMINGAS
PRESO
CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - QUARTO - INT. - DIA.
Expressão fechada, o médico examinava demoradamente a perna de Eduardo. Removera o torniquete e, com mãos trêmulas, inseguras, limpava as bordas da ferida, com gaze e algodão esterilizados.
Duda não suportou o silencio do sogro.
DUDA - Há meia hora que o senhor olha, olha e não faz nada. Fica só limpando!
DR. MACIEL - Já mediquei contra infecção. Acho que fiz o que devia fazer. E não preciso que ninguém me ensine a tratar de um ferimento.
DUDA - Mas não disse se é grave, se a bala está aí. Que diabo aconteceu com a minha perna?
O médico levantou-se, limpou as mãos na toalha e recolocou os instrumentos na maleta.
DR. MACIEL - Limpei bem o ferimento. Dei os medicamentos que precisava... mais do que isso não posso fazer.
Ritinha se aproximou do pai, enquanto Jerônimo, enquanto Jerônimo, como uma corda tangida com violência, deu um passo á frente.
RITINHA - Papai... por que não pode fazer?
DR. MACIEL - Porque o caso é complicado. A bala deve estar aí dentro, alojada no osso... e eu não tenho recursos pra extraí-la. Apenas isto!
JERÔNIMO - (brusco) Não tem recursos... ou não quer fazer o que precisa?
DR. MACIEL - (com sinceridade) Não tenho recursos, repito! Isto é uma operação muito séria. De muita responsabilidade. É preciso abrir... é preciso atingir o osso... e eu não tenho condições nem instrumentos para tal emergência.
RITINHA - Papai... o senhor tem que dar um jeito!
JERÔNIMO - (com a arma reluzindo) Eu juro, doutô, que o senhor não sai daqui com vida se não operar meu irmão.
RITINHA - (suplicava) Papai, faça alguma coisa.
DR. MACIEL - Vocês não me acreditam? Eu repito... que não posso fazer este trabalho... é difícil... e não temos condições.
JERÔNIMO - (com agressividade) Mas, vai fazê, doutô! De um jeito ou de outro, vai fazê. Ou eu mato o sinhô, doutô!
Maciel olhou assustado para o cano da arma e para o dedo nervoso que se interpunha entre o gatilho e sua vida. Olhou para a filha, como a pedir-lhe ajuda. Olhar súplice. Resolveu lutar contra os restos de honradez profissional que existiam dentro de si. Fizera o que pudera para demonstrar a impossibilidade de êxito na intervenção.
DR. MACIEL - Depois... não digam que eu tive culpa... se lhe acontecer alguma coisa.
DUDA - Eu me responsabilizo pela minha vida. Me tire a bala do osso e nada vai acontecer.
DR. MACIEL - Aqui não posso fazer nada. Levem ele para minha casa. No consultório... eu vou ver o que posso fazer.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
DELEGADO FALCÃO - Vamos lá. O que foi desta vez?
Diante da cara fechada de João Coragem, mastigando o palito de fósforo, Diogo Falcão abriu o livro de ocorrências e registros policiais de Coroado.
DELEGADO FALCÃO – Vamos lá, conte logo!
João parou de tamborilar com os dedos sobre o tampo da mesa e aguardou alguns segundos, enquanto coordenava os pensamentos.
JOÃO - Nessa noite... enquanto na praça de Coroado se fazia a festa do Divino... na minha casa, um bando de assaltante entrou pra matá... pra roubá...
Falcão levantou a cabeça, parou de palitar o dente e fez a pergunta, já interessado nas declarações de João Coragem.
DELEGADO FALCÃO - Tem certeza?
JOÃO - Precisa certeza? Quase mataro Cema! Trouxe ela aí... pro sinhô vê em que estado deixaro a pobre. (chamou a esposa do negro Braz) Mostra, Cema, o que te fizero!
CEMA - Um sujeito me agarrô... me levô pra fora... me obrigô a entregá a arma que eu tinha... me... me rasgô toda a roupa... me dominô...
Cema olhou envergonhada para o marido, como a suplicar que se afastasse ou não permitisse que detalhasse o acontecido. Morria de vergonha de ter de declarar a tentativa torpe do desconhecido, em possuí-la á força, em pleno barro do terreiro.
DELEGADO FALCÃO - Prossiga!
CEMA - Me levô pra dentro, onde já tavam os outro home... e, apontando uma arma pra minha cabeça... obrigaro seu Bastião a dizê onde estava o diamante do João.
JOÃO - Quando eles tavam saino, meu irmão Duda agarrô um deles... e foi baleado... na perna. Meu pai tá passando mal... do susto... meu irmão baleado... meu diamante roubado.
Falcão olhava admirado para o grupo que relatava os acontecimentos do rancho dos Coragem.
JOÃO - Eu vim aqui... pra fazê essa queixa... pra lhe obrigá a prendê os assaltante... porque eu não quero fazê justiça com as minha própria mão. Ainda acredito na justiça de Deus e dos home. Por isso eu lhe dou o prazo pra essa cambada de assassino que invadiu a minha casa sê presa. Lhe dou o prazo de um dia... pra metê os bandido na cadeia. Se dentro desse prazo o sinhô não fizé nada... olhe aqui... eu juro... eu juro diante do sinhô, Braz e Cema e diante de Deus... eu juro que faço a minha justiça!
DELEGADO FALCÃO - Espere, espere, tenha calma, João. Você está dizendo tudo isto... me pede para punir os assaltantes, mas não me disse quem são eles...
JOÃO - (categórico, sem pestanejar) São os home de Pedro Barros!
DELEGADO FALCÃO - Veja bem. É uma acusação muito grave. O Coronel Pedro Barros é seu sogro...
JOÃO - Mas, é meu inimigo também. Foi ele quem mandô os home fazê o que fizero na minha casa.
Caprichando na caligrafia, Diogo Falcão anotava as declarações. Do fundo do xadrez um ébrio exigia o café matinal:
PRÊSO - Tragam minha xícara de... pinga!
CORTA PARA:
CENA 3 - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.
Entraram todos, á exceção de Sinhana e Potira, na casa de Maciel. Duda carregado por Jerônimo e o garimpeiro Antonio. João, naquele instante, continuava depondo na sede da acanhada delegacia de Coroado.
DOMINGAS - Como está ele?
Maciel orientava os rapazes que seguravam Duda numa espécie de cadeira de mãos.
DR. MACIEL - Levem para o consultório. Para o consultório. (respondeu á pergunta de Domingas) Mal. E querem que eu faça milagre.
Jerônimo apareceu na sala, revólver na mão. Ar cansado e decidido.
JERÔNIMO - Fizemos tudo como o sinhô mandô. Agora, chegô a sua vez...
DR. MACIEL - Que Deus os perdoe pelo mal que, involuntàriamente, estão fazendo ao seu irmão. (virando-se para Domingas) Preciso que você me ajude.
A voz de Ritinha fê-lo voltar-se de repente.
RITINHA - Também posso ajudar, papai?
DR. MACIEL - Não, você não. Não agüentaria. Ferva todos os instrumentos, Domingas.
Enquanto a criada partia para a cozinha, Maciel abriu o bar á cata da garrafa de aguardente. Jerônimo investiu rápido, retirando-lhe a bebida das mãos...
JERÔNIMO - Agora não. Eu quero que o sinhô faça as coisa direitinho.
O médico tremia, como se possuído do delirium tremens, olhando àvidamente a garrafa de cachaça.
DR. MACIEL - Mas, eu preciso... preciso de um pouco de coragem... para fazer uma operação desta natureza!
JERÔNIMO - Não! O menor erro, a menor tremida na sua mão... eu lhe mando pros inferno. E outra coisa: (bateu firme com o punho na concha da mão) Eu quero a bala aqui. Na minha mão.
Duda estava deitado sobre a mesa dura do consultório, fitando a luz que caía direta sobre seu corpo. Conjeturava sobre os problemas futuros. O Flamengo. Que diriam seus diretores e o técnico Fausto Paiva, agora que o campeonato iria começar e sua presença era tida e havida como indispensável para a campanha? Como resolver o problema que alterava, de um momento para o outro, todo o curso de sua vida? E Hernani? E Paula? Gozariam, certamente, com a imprestabilidade de sua perna. E se ficasse aleijado para sempre? Logo agora que tudo lhe parecia fácil – a fama, a riqueza, o amor... imerso em tais pensamentos, quase não notou a entrada do médico acompanhado de Domingas.
DR. MACIEL - Saia todo mundo. Eu fico só com Domingas.
Jerônimo tentou permanecer, mas achou melhor atender às ponderações do sogro do irmão.
Expressão fechada, o médico examinava demoradamente a perna de Eduardo. Removera o torniquete e, com mãos trêmulas, inseguras, limpava as bordas da ferida, com gaze e algodão esterilizados.
Duda não suportou o silencio do sogro.
DUDA - Há meia hora que o senhor olha, olha e não faz nada. Fica só limpando!
DR. MACIEL - Já mediquei contra infecção. Acho que fiz o que devia fazer. E não preciso que ninguém me ensine a tratar de um ferimento.
DUDA - Mas não disse se é grave, se a bala está aí. Que diabo aconteceu com a minha perna?
O médico levantou-se, limpou as mãos na toalha e recolocou os instrumentos na maleta.
DR. MACIEL - Limpei bem o ferimento. Dei os medicamentos que precisava... mais do que isso não posso fazer.
Ritinha se aproximou do pai, enquanto Jerônimo, enquanto Jerônimo, como uma corda tangida com violência, deu um passo á frente.
RITINHA - Papai... por que não pode fazer?
DR. MACIEL - Porque o caso é complicado. A bala deve estar aí dentro, alojada no osso... e eu não tenho recursos pra extraí-la. Apenas isto!
JERÔNIMO - (brusco) Não tem recursos... ou não quer fazer o que precisa?
DR. MACIEL - (com sinceridade) Não tenho recursos, repito! Isto é uma operação muito séria. De muita responsabilidade. É preciso abrir... é preciso atingir o osso... e eu não tenho condições nem instrumentos para tal emergência.
RITINHA - Papai... o senhor tem que dar um jeito!
JERÔNIMO - (com a arma reluzindo) Eu juro, doutô, que o senhor não sai daqui com vida se não operar meu irmão.
RITINHA - (suplicava) Papai, faça alguma coisa.
DR. MACIEL - Vocês não me acreditam? Eu repito... que não posso fazer este trabalho... é difícil... e não temos condições.
JERÔNIMO - (com agressividade) Mas, vai fazê, doutô! De um jeito ou de outro, vai fazê. Ou eu mato o sinhô, doutô!
Maciel olhou assustado para o cano da arma e para o dedo nervoso que se interpunha entre o gatilho e sua vida. Olhou para a filha, como a pedir-lhe ajuda. Olhar súplice. Resolveu lutar contra os restos de honradez profissional que existiam dentro de si. Fizera o que pudera para demonstrar a impossibilidade de êxito na intervenção.
DR. MACIEL - Depois... não digam que eu tive culpa... se lhe acontecer alguma coisa.
DUDA - Eu me responsabilizo pela minha vida. Me tire a bala do osso e nada vai acontecer.
DR. MACIEL - Aqui não posso fazer nada. Levem ele para minha casa. No consultório... eu vou ver o que posso fazer.
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.
DELEGADO FALCÃO - Vamos lá. O que foi desta vez?
Diante da cara fechada de João Coragem, mastigando o palito de fósforo, Diogo Falcão abriu o livro de ocorrências e registros policiais de Coroado.
DELEGADO FALCÃO – Vamos lá, conte logo!
João parou de tamborilar com os dedos sobre o tampo da mesa e aguardou alguns segundos, enquanto coordenava os pensamentos.
JOÃO - Nessa noite... enquanto na praça de Coroado se fazia a festa do Divino... na minha casa, um bando de assaltante entrou pra matá... pra roubá...
Falcão levantou a cabeça, parou de palitar o dente e fez a pergunta, já interessado nas declarações de João Coragem.
DELEGADO FALCÃO - Tem certeza?
JOÃO - Precisa certeza? Quase mataro Cema! Trouxe ela aí... pro sinhô vê em que estado deixaro a pobre. (chamou a esposa do negro Braz) Mostra, Cema, o que te fizero!
CEMA - Um sujeito me agarrô... me levô pra fora... me obrigô a entregá a arma que eu tinha... me... me rasgô toda a roupa... me dominô...
Cema olhou envergonhada para o marido, como a suplicar que se afastasse ou não permitisse que detalhasse o acontecido. Morria de vergonha de ter de declarar a tentativa torpe do desconhecido, em possuí-la á força, em pleno barro do terreiro.
DELEGADO FALCÃO - Prossiga!
CEMA - Me levô pra dentro, onde já tavam os outro home... e, apontando uma arma pra minha cabeça... obrigaro seu Bastião a dizê onde estava o diamante do João.
JOÃO - Quando eles tavam saino, meu irmão Duda agarrô um deles... e foi baleado... na perna. Meu pai tá passando mal... do susto... meu irmão baleado... meu diamante roubado.
Falcão olhava admirado para o grupo que relatava os acontecimentos do rancho dos Coragem.
JOÃO - Eu vim aqui... pra fazê essa queixa... pra lhe obrigá a prendê os assaltante... porque eu não quero fazê justiça com as minha própria mão. Ainda acredito na justiça de Deus e dos home. Por isso eu lhe dou o prazo pra essa cambada de assassino que invadiu a minha casa sê presa. Lhe dou o prazo de um dia... pra metê os bandido na cadeia. Se dentro desse prazo o sinhô não fizé nada... olhe aqui... eu juro... eu juro diante do sinhô, Braz e Cema e diante de Deus... eu juro que faço a minha justiça!
DELEGADO FALCÃO - Espere, espere, tenha calma, João. Você está dizendo tudo isto... me pede para punir os assaltantes, mas não me disse quem são eles...
JOÃO - (categórico, sem pestanejar) São os home de Pedro Barros!
DELEGADO FALCÃO - Veja bem. É uma acusação muito grave. O Coronel Pedro Barros é seu sogro...
JOÃO - Mas, é meu inimigo também. Foi ele quem mandô os home fazê o que fizero na minha casa.
Caprichando na caligrafia, Diogo Falcão anotava as declarações. Do fundo do xadrez um ébrio exigia o café matinal:
PRÊSO - Tragam minha xícara de... pinga!
CORTA PARA:
CENA 3 - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.
Entraram todos, á exceção de Sinhana e Potira, na casa de Maciel. Duda carregado por Jerônimo e o garimpeiro Antonio. João, naquele instante, continuava depondo na sede da acanhada delegacia de Coroado.
DOMINGAS - Como está ele?
Maciel orientava os rapazes que seguravam Duda numa espécie de cadeira de mãos.
DR. MACIEL - Levem para o consultório. Para o consultório. (respondeu á pergunta de Domingas) Mal. E querem que eu faça milagre.
Jerônimo apareceu na sala, revólver na mão. Ar cansado e decidido.
JERÔNIMO - Fizemos tudo como o sinhô mandô. Agora, chegô a sua vez...
DR. MACIEL - Que Deus os perdoe pelo mal que, involuntàriamente, estão fazendo ao seu irmão. (virando-se para Domingas) Preciso que você me ajude.
A voz de Ritinha fê-lo voltar-se de repente.
RITINHA - Também posso ajudar, papai?
DR. MACIEL - Não, você não. Não agüentaria. Ferva todos os instrumentos, Domingas.
Enquanto a criada partia para a cozinha, Maciel abriu o bar á cata da garrafa de aguardente. Jerônimo investiu rápido, retirando-lhe a bebida das mãos...
JERÔNIMO - Agora não. Eu quero que o sinhô faça as coisa direitinho.
O médico tremia, como se possuído do delirium tremens, olhando àvidamente a garrafa de cachaça.
DR. MACIEL - Mas, eu preciso... preciso de um pouco de coragem... para fazer uma operação desta natureza!
JERÔNIMO - Não! O menor erro, a menor tremida na sua mão... eu lhe mando pros inferno. E outra coisa: (bateu firme com o punho na concha da mão) Eu quero a bala aqui. Na minha mão.
Duda estava deitado sobre a mesa dura do consultório, fitando a luz que caía direta sobre seu corpo. Conjeturava sobre os problemas futuros. O Flamengo. Que diriam seus diretores e o técnico Fausto Paiva, agora que o campeonato iria começar e sua presença era tida e havida como indispensável para a campanha? Como resolver o problema que alterava, de um momento para o outro, todo o curso de sua vida? E Hernani? E Paula? Gozariam, certamente, com a imprestabilidade de sua perna. E se ficasse aleijado para sempre? Logo agora que tudo lhe parecia fácil – a fama, a riqueza, o amor... imerso em tais pensamentos, quase não notou a entrada do médico acompanhado de Domingas.
DR. MACIEL - Saia todo mundo. Eu fico só com Domingas.
Jerônimo tentou permanecer, mas achou melhor atender às ponderações do sogro do irmão.
FIM DO CAPÍTULO 47
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
*** CEMA CONTA AO DELEGADO QUE FOI AGREDIDA POR JUCA CIPÓ
*** JOÃO REAFIRMA QUE, SE O DELEGADO NÃO PRENDER OS CRIMINOSOS ATÉ O DIA SEGUINTE, VAI FAZER SUA JUSTIÇA!
*** DR. MACIEL, SEM CONSEGUIR RETIRAR A BALA DA PERNA DE DUDA, FECHA O FERIMENTO E ARRUMA OUTRA BALA PARA MOSTRAR AOS CORAGEM!
NÃO PERCA O CAPÍTULO 48 DE
Toni, Dr. Maciel não queria fazer a cirurgia, vai fazer um horror, mas a culpa não é dele, afinal de contas! A nota de humor, foi o bêbado na delegacia querendo uma xícara de pinga, rsrsrs. Muito bom! Bjs.
ResponderExcluirRsrs muito legal, não é, Maria? Tb achei muito engraçado o bêbado querendo seu café da manhã! Janete era genial! Bjs
ResponderExcluir