sexta-feira, 12 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 47



Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair 

CAPÍTULO 47

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DUDA
DR. MACIEL
RITINHA 
JERÔNIMO
DELEGADO FALCÃO
JOÃO
CEMA
DOMINGAS
PRESO

CENA 1  -  CASA DO RANCHO CORAGEM - QUARTO  -  INT.  -  DIA.
   
Expressão fechada, o médico examinava demoradamente a perna de Eduardo. Removera o torniquete e, com mãos trêmulas, inseguras, limpava as bordas da ferida, com gaze e algodão esterilizados.

Duda não suportou o silencio do sogro.


DUDA  -  Há meia hora que o senhor olha, olha e não faz nada. Fica só limpando!

DR. MACIEL  -  Já mediquei contra infecção. Acho que fiz o que devia fazer. E não preciso que ninguém me ensine a tratar de um ferimento.
   
DUDA  -  Mas não disse se é grave, se a bala está aí. Que diabo aconteceu com a minha perna?

O médico levantou-se, limpou as mãos na toalha e recolocou os instrumentos na maleta.


DR. MACIEL  -  Limpei bem o ferimento. Dei os medicamentos que precisava... mais do que isso não posso fazer.

Ritinha se aproximou do pai, enquanto Jerônimo, enquanto Jerônimo, como uma corda tangida com violência, deu um passo á frente.


RITINHA  -  Papai... por que não pode fazer?

DR. MACIEL  -  Porque o caso é complicado. A bala deve estar aí dentro, alojada no osso... e eu não tenho recursos pra extraí-la. Apenas isto!
   
JERÔNIMO  -  (brusco)  Não tem recursos... ou não quer fazer o que precisa?

DR. MACIEL  -  (com sinceridade)  Não tenho recursos, repito! Isto é uma operação muito séria. De muita responsabilidade. É preciso abrir... é preciso atingir o osso... e eu não tenho condições nem instrumentos para tal emergência.
   
RITINHA  -  Papai... o senhor tem que dar um jeito!
  
JERÔNIMO  -  (com a arma reluzindo)  Eu juro, doutô, que o senhor não sai daqui com vida se não operar meu irmão.

RITINHA  -  (suplicava)  Papai, faça alguma coisa.
   
DR. MACIEL  -  Vocês não me acreditam? Eu repito... que não posso fazer este trabalho... é difícil... e não temos condições.

JERÔNIMO  -  (com agressividade)  Mas, vai fazê, doutô!  De um jeito ou de outro, vai fazê. Ou eu mato o sinhô, doutô!

Maciel olhou assustado para o cano da arma e para o dedo nervoso que se interpunha entre o gatilho e sua vida.   Olhou para a filha, como a pedir-lhe ajuda. Olhar súplice. Resolveu lutar contra os restos de honradez profissional que existiam dentro de si. Fizera o que pudera para demonstrar a impossibilidade de êxito na intervenção.


DR. MACIEL  -  Depois... não digam que eu tive culpa... se lhe acontecer alguma coisa.
  
DUDA  -  Eu me responsabilizo pela minha vida. Me tire a bala do osso e nada vai acontecer.

DR. MACIEL  -  Aqui não posso fazer nada. Levem ele para minha casa. No consultório... eu vou ver o que posso fazer.

CORTA PARA:

CENA 2  -  COROADO  -  DELEGACIA  -  INT.  -  DIA.


DELEGADO FALCÃO  -  Vamos lá. O que foi desta vez?

Diante da cara fechada de João Coragem, mastigando o palito de fósforo, Diogo Falcão abriu o livro de ocorrências e registros policiais de Coroado.


DELEGADO FALCÃO  – Vamos lá, conte logo!

João parou de tamborilar com os dedos sobre o tampo da mesa e aguardou alguns segundos, enquanto coordenava os pensamentos.


JOÃO  -  Nessa noite... enquanto na praça de Coroado se fazia a festa do Divino... na minha casa, um bando de assaltante entrou pra matá... pra roubá...

Falcão levantou a cabeça, parou de palitar o dente e fez a pergunta, já interessado nas declarações de João Coragem.


DELEGADO FALCÃO  -  Tem certeza?

JOÃO  -  Precisa certeza? Quase mataro Cema! Trouxe ela aí... pro sinhô vê em que estado deixaro a pobre. (chamou a esposa do negro Braz)  Mostra, Cema, o que te fizero!

CEMA  -  Um sujeito me agarrô... me levô pra fora... me obrigô a entregá a arma que eu tinha... me... me rasgô toda a roupa... me dominô...

Cema  olhou envergonhada para o marido, como a suplicar que se afastasse ou não permitisse que detalhasse o acontecido. Morria de vergonha de ter de declarar a tentativa torpe do desconhecido, em possuí-la á força, em pleno barro do terreiro.


DELEGADO FALCÃO  -  Prossiga!

CEMA  -  Me levô pra dentro, onde já tavam os outro home... e, apontando uma arma pra minha cabeça... obrigaro seu Bastião a dizê onde estava o diamante do João.
   
JOÃO  -  Quando eles tavam saino, meu irmão Duda agarrô um deles... e foi baleado... na perna. Meu pai tá passando mal... do susto... meu irmão baleado... meu diamante roubado.

Falcão olhava admirado para o grupo que relatava os acontecimentos do rancho dos Coragem.


JOÃO  -  Eu vim aqui... pra fazê essa queixa... pra lhe obrigá a prendê os assaltante... porque eu não quero fazê justiça com as minha própria mão. Ainda acredito na justiça de Deus e dos home. Por isso eu lhe dou o prazo pra essa cambada de assassino que invadiu a minha casa sê presa. Lhe dou o prazo de um dia... pra metê os bandido na cadeia. Se dentro desse prazo o sinhô não fizé nada... olhe aqui... eu juro... eu juro diante do sinhô, Braz e Cema e diante de Deus... eu juro que faço a minha justiça!
  
DELEGADO FALCÃO  -  Espere, espere, tenha calma, João. Você está dizendo tudo isto... me pede para punir os assaltantes, mas não me disse quem são eles...
   
JOÃO  -  (categórico, sem pestanejar)  São os home de Pedro Barros!

DELEGADO FALCÃO  -  Veja bem. É uma acusação muito grave. O Coronel Pedro Barros é seu sogro...

JOÃO  -  Mas, é meu inimigo também. Foi ele quem mandô os home fazê o que fizero na minha casa.

Caprichando na caligrafia, Diogo Falcão anotava as declarações. Do fundo do xadrez um ébrio exigia o café matinal:


PRÊSO  -  Tragam minha xícara de... pinga!

CORTA PARA:

CENA  3  -  CASA DO DR. MACIEL  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

Entraram todos, á exceção de Sinhana e Potira, na casa de Maciel. Duda carregado por Jerônimo e o garimpeiro Antonio. João, naquele instante, continuava depondo na sede da acanhada delegacia de Coroado. 


DOMINGAS  -  Como está ele?

Maciel orientava os rapazes que seguravam Duda numa espécie de cadeira de mãos.


DR. MACIEL  -  Levem para o consultório. Para o consultório.  (respondeu á pergunta de Domingas)  Mal. E querem que eu faça milagre.

Jerônimo apareceu na sala, revólver na mão. Ar cansado e decidido.

JERÔNIMO  -  Fizemos tudo como o sinhô mandô. Agora, chegô   a sua vez...

DR. MACIEL  -  Que Deus os perdoe pelo mal que, involuntàriamente, estão fazendo ao seu irmão. (virando-se para Domingas)  Preciso que você me ajude.

A voz de Ritinha fê-lo voltar-se de repente.

RITINHA  -  Também posso ajudar, papai?

DR. MACIEL  -  Não, você não. Não agüentaria. Ferva todos os instrumentos, Domingas.

Enquanto a criada partia para a cozinha, Maciel abriu o bar á cata da garrafa de aguardente. Jerônimo investiu rápido, retirando-lhe a bebida das mãos...


JERÔNIMO  -  Agora não. Eu quero que o sinhô faça as coisa direitinho.

O médico tremia, como se possuído do delirium tremens, olhando àvidamente a garrafa de cachaça.


DR. MACIEL  -  Mas, eu preciso... preciso de um pouco de coragem... para fazer uma operação desta natureza!

JERÔNIMO  -  Não! O menor erro, a menor tremida na sua mão... eu lhe mando pros inferno. E outra coisa: (bateu firme com o punho na concha da mão)  Eu quero a bala aqui. Na minha mão.

Duda estava deitado sobre a mesa dura do consultório, fitando a luz que caía direta sobre seu corpo. Conjeturava sobre os problemas futuros. O Flamengo. Que diriam seus diretores e o técnico Fausto Paiva, agora que o campeonato iria começar e sua presença era tida e havida como indispensável para a campanha? Como resolver o problema que alterava, de um momento para o outro, todo o curso de sua vida? E Hernani? E Paula? Gozariam, certamente, com a imprestabilidade de sua perna. E se ficasse aleijado para sempre? Logo agora que tudo lhe parecia fácil – a fama, a riqueza, o amor... imerso em tais pensamentos, quase não notou a entrada do médico acompanhado de Domingas. 


DR. MACIEL  -  Saia todo mundo. Eu fico só com Domingas.

Jerônimo tentou permanecer, mas achou melhor atender às ponderações do sogro do irmão.

FIM DO CAPÍTULO  47
Duda, com a perna machucada, pede socorro ao Dr. Maciel

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** CEMA CONTA AO DELEGADO QUE FOI AGREDIDA POR JUCA CIPÓ

*** JOÃO REAFIRMA QUE, SE O DELEGADO NÃO PRENDER OS CRIMINOSOS ATÉ O DIA SEGUINTE, VAI FAZER SUA JUSTIÇA!

*** DR. MACIEL, SEM CONSEGUIR RETIRAR A BALA DA PERNA DE DUDA, FECHA O FERIMENTO E ARRUMA OUTRA BALA PARA MOSTRAR AOS CORAGEM!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 48 DE

2 comentários:

  1. Toni, Dr. Maciel não queria fazer a cirurgia, vai fazer um horror, mas a culpa não é dele, afinal de contas! A nota de humor, foi o bêbado na delegacia querendo uma xícara de pinga, rsrsrs. Muito bom! Bjs.

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  2. Rsrs muito legal, não é, Maria? Tb achei muito engraçado o bêbado querendo seu café da manhã! Janete era genial! Bjs

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