sexta-feira, 22 de junho de 2012

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU - CAPÍTULO 62 - AUTOR: TONI FIGUEIRA

Novela de Antonio Figueira
Inspirada na Obra de Dias Gomes



CAPÍTULO 62
Personagens deste capítulo:
 VÍTOR
HELÔ
ARAKEN
RENATÃO
SAMUCA
DOM JOSÉ
D. CONSUELO
MISS JULY
CELSO BARROSO
DETETIVE JONAS
DELEGADO FONTOURA
OLIVEIRA RAMOS
D. DIDI
D. MARIETA
EMILIANO

CENA 1  -  PENSÃO PRIMAVERA  -  QUARTO DE VÍTOR  -  INT.  -  NOITE.

A NOITE JÁ HAVIA CAÍDO, QUANDO VÍTOR ABRIU A PORTA DO QUARTO PARA D. DIDI, ACOMPANHADA PELO DETETIVE JONAS E MAIS DOIS TIRAS.

D. DIDI  -  (assustada) O senhor me desculpe, padre, mas esses homens são da polícia e insistem em falar com o senhor!

VÍTOR  -  Tudo bem, obrigado, D. Didi. Entrem, por favor. O que desejam?

DETETIVE JONAS  -  Recebemos uma denúncia contra o senhor. Uma denúncia bastante grave. Não queremos fazer escândalo, por isso será melhor que o senhor consinta na busca!

D. DIDI LEVOU A MÃO À BOCA, ESCANDALIZADA.

VÍTOR  -  Busca? Mas que busca? Isso é um absurdo! Denúncia de quê?!

A UM SINAL DE JONAS, OS TIRAS INICIARAM A VISTORIA DO QUARTO. ABRIRAM GAVETAS, DESARRUMARAM TUDO, INCLUSIVE SEUS LIVROS. ATÉ QUE UM DELES LEVANTOU O COLCHÃO E VIU AS CAIXAS.

TIRA 1  -  (mostrou a Jonas, como um troféu) Aqui estão, Detetive!

SOB OS OLHARES PERPLEXOS DE VÍTOR E D. DIDI, JONAS EXAMINOU AS CAIXAS E DIRIGIU-SE A VÍTOR, MUITO SÉRIO.

DETETIVE JONAS  -  Senhor Vítor Mariano, o senhor está preso, em nome da lei!

VÍTOR  -  Pre... preso?!

CORTA PARA:

CENA 2  -   APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE JANTAR  -  INT.  -  DIA.

MISS JULY SERVIA O CAFÉ, NO MOMENTO EM QUE OLIVEIRA RAMOS FOI ATRAÍDO PELA MANCHETE DE PRIMEIRA PÁGINA DA “FOLHA DO RIO”.

OLIVEIRA RAMOS  -  (leu, ansioso) “Ex-padre é preso envolvido com tráfico de drogas”!

MISS JULY  -  (sem acreditar no que ouvia) Meu Deus! Mas é... é...

OLIVEIRA RAMOS  -  (cortou) É ele mesmo! Vítor, meu genro e marido de minha filha! (continuou a ler) “Vítor Mariano, ex-padre, foi preso ontem á noite, envolvido com uma quadrilha de contrabandistas e traficantes de drogas...”

MISS JULY  -  (estupefata) Meu Deus! Mas isso não pode ser verdade! Deve haver algum engano! Ai, coitada da Helô, quando souber!...

OLIVEIRA RAMOS  -  Cadê ela?

MISS JULY  -  No quarto. Ainda não acordou.

OLIVEIRA RAMOS LEVANTOU-SE DA MESA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Vou pro escritório. Preciso dar um telefonema agora!

MISS JULY  -  Não vai tomar café?...

OLIVEIRA RAMOS  -  (afastando-se) Depois, Miss July. Depois.

CORTA PARA:
  
CENA 3  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  ESCRITÓRIO  -  INT.  -  DIA.

OLIVEIRA RAMOS  -  (exultante) Alô, Renatão? Acabei de ler o jornal! Então deu tudo certo!

DO OUTRO LADO DA LINHA, RENATÃO DEMONSTRAVA ENTUSIASMO E SATISFAÇÃO.

RENATÃO  -  Exato, doutor Oliveira. Tudo conforme planejado. O nosso padre Vítor está atrás das grades!

OLIVEIRA RAMOS  -  Muito bom. Muito bom, Renatão.

OLIVEIRA DESLIGOU E DISCOU OUTRO NÚMERO EM SEGUIDA.

OLIVEIRA RAMOS  -  Gouveia Neto? Aqui é Oliveira Ramos. Acabei de ler a reportagem sobre a prisão do Vítor. Está tudo bem, mas quero acertar com você para que a “Folha do Rio” dê uma maneirada na cobertura, a fim de não dar na vista, mas deixando aos demais jornais a primazia de fazer o escândalo. Entendeu? Isso, isso mesmo. Um abraço!

CORTA PARA:

CENA  4  -  DELEGACIA  -  SALA DO DELEGADO FONTOURA  -  INT.  -  DIA.

FONTOURA E O DETETIVE JONAS CONVERSAVAM SOBRE O ASSUNTO DO DIA.

DELEGADO FONTOURA  -  Bem, Jonas, ao final de algumas diligências e acareações, cheguei à conclusão, muito lógica, que que há alguma coisa arranjada em torno desse caso... (coçou o queixo, pensativo) Sabe o que me intriga? É que tudo está certinho demais. Todas as peças no lugar. Não pode ser assim!

DETETIVE JONAS  -  Do que o senhor está desconfiado?
 
DELEGADO FONTOURA  -  Não sei. Não é nada concreto. Só instinto.

JONAS COÇOU A CABEÇA, TENTANDO IMAGINAR O QUE PODERIA ESTAR ERRADO.

DETETIVE JONAS  -  Puxa! “Bola 2” acusou o padre, a gente foi lá no quarto dele e achou a muamba. Depois ele reconheceu o padre. Tá na cara...

DELEGADO FONTOURA  -  Pois é isso que me intriga. Tudo muito certo. E a atitude de Oliveira também é meio esquisita. No fundo, parece que está gostando que o genro esteja preso!

DETETIVE JONAS  -  Sério?... Ele deu a entender isso?

DELEGADO FONTOURA  -  A governanta dele, uma tal de Miss July, ligou, querendo notícias do padre, mas ele ignorou completamente a prisão. Muito pelo contrário: tentei falar com ele duas vezes. Só consegui na segunda tentativa, e ele foi muito frio. Disse que estava ocupado e sem tempo pra este assunto!

CORTA PARA:

CENA  5  -  APARTAMENTO DE EMILIANO  -  QUARTO  -  INT.  -  DIA.


EMILIANO SE ARRUMAVA PARA IR PARA O BANCO TRABALHAR, QUANDO D. MARIETA ENTROU NO QUARTO, ESBAFORIDA, COM O JORNAL NA MÃO.

D. MARIETA  -  Emiliano! Uma desgraça! (mostrou a manchete) Olha pra isso!

EMILIANO  -  “Ex-padre é preso envolvido com tráfico de drogas”! (vociferou, indignado) Mas isso é uma mentira, um disparate!
  
D. MARIETA  -  Vítor, preso! Foi ela! Eu sabia! Ela desgraçou a vida dele! Está se vingando por ele ter se separado dela!

EMILIANO  -  Não fala isso, mulher! É uma acusação muito séria!

D. MARIETA  -  (batendo o jornal com a mão) Tá na cara! Foi vingança da Helô! Eu falei pra vocês que ela não prestava, mas ninguém quis me ouvir!

CORTA PARA:

CENA  6  -  BANCO OLIVEIRA RAMOS  -  SALA DE OLIVEIRA  -  INT.  -  DIA.


OLIVEIRA RAMOS ESTAVA EM REUNIÃO COM UM GRUPO DE ACIONISTAS DO BANCO, QUANDO HELÔ ENTROU NA SALA, INTEMPESTIVAMENTE, SEGUIDA PELA SECRETÁRIA, VIRGÍNIA.

HELÔ  -  (encaminhou-se para a mesa do pai, com a “Folha do Rio” nas mãos) Oliveira Ramos!

O BANQUEIRO E OS ACIONISTAS VOLTARAM-SE AO MESMO TEMPO, SURPRESOS.

OLIVEIRA RAMOS  -  Helô! Minha filha, estamos no meio de uma reunião e...

HELÔ  -  (agressiva, jogou o jornal na mesa) Quero que chame seus advogados e mande libertar Vítor agora!

OLIVEIRA RAMOS  -  Minha filha, você sabe que eu não...

HELÔ  -  (cortou, autoritária, a voz trêmula) Agora, Oliveira Ramos! Faça isso agora, ou não respondo por mim! Nem sei do que sou capaz! Faço o maior escãndalo que você nunca mais vai esquecer!

OLIVEIRA RAMOS  -  Calma, minha filha! Está bem, eu vou falar com nossos advogados. Mas, por favor, fique calma!

CORTA PARA:

CENA  7  -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

O TELEFONE TOCOU. KONSTANTÓPULUS ATENDEU.

KONSTANTÓPULUS  -  Alô! Um momento, D. Consuelo. (cobriu o bocal com a mão e dirigiu-se a Samuca, que acabava de chegar) Seu Samuca, é para o senhor. É D. Consuelo. Está muito nervosa. Já ligou umas dez vezes!

SAMUCA  -  Não quero falar com ela!

KONSTANTÓPULUS  -  Mas, o que eu digo?

SAMUCA  -  Diga que eu viajei pro Nepal, que fui pra Marte, que eu morri! Diga o que quiser, Konstan, mas, com ela, eu não quero assunto!

CORTA PARA:

CENA  8  -  APARTAMENTO DE OLIVEIRA RAMOS  -  SALA  -  INT.  -  DIA.

A CAMPAINHA TOCOU INSISTENTEMENTE. MISS JULY CORREU A ATENDER. ERA O ADVOGADO CELSO BARROSO, ACOMPANHADO DE DOIS POLICIAIS.

DR. CELSO  -  Bom dia, senhora.

MISS JULY  -  Bom dia. O que desejam?

DR. CELSO  -  Meu nome é Celso Barroso. Sou advogado de D. Jurema de Alencar. (mostrou-lhe uma folha de papel timbrado) Tenho uma ordem de busca nesta casa!

 MISS JULY  -  (indecisa) Busca? Mas... busca de quê?!

 DR. CELSO  -  O medalhão de D. Helô, que foi encontrado junto ao corpo de Nívea Louzada.

MISS JULY  -  Ah, sei... Sinto muito, mas o Doutor Oliveira está no trabalho e...

DR. CELSO  -  (cortou) Pois então, por favor, ligue para ele, porque vamos fazer essa busca com ou sem a presença dele!

MISS JULY  -  Está bem, eu vou ligar. Entrem, por favor. Um momento.

CELSO BARROSO E OS POLICIAS ENTRARAM, E MISS JULY COMEÇOU A DISCAR PARA O BANCO OLIVEIRA RAMOS.

CORTA PARA:

CENA  9   -  APARTAMENTO DE RENATÃO  -  SALA  -  INT.  -  DIA.


“ALELUIA!” “ALELUIA!” KONSTANTÓPULUS ABRIU A PORTA E DEU PASSAGEM A D. CONSUELO, QUE ENTROU EM COMPANHIA DE DOM JOSÉ.

D. CONSUELO  - 
¿Dónde está Samuquito? Yo necesito hablar con el! Y yo no me voy sin verlo!


KONSTANTÓPULUS MOSTROU-SE, A PRINCÍPIO, INDECISO, MAS ANTE A FIRMEZA DA VELHA SENHORA, ACHOU MELHOR CHAMAR SAMUCA, QUE, EM POUCOS MINUTOS, SURGIU NA SALA..

SAMUCA  -  O que vocês querem aqui? Não chega a mentirada toda que me envolveu, Consuelo? Não temos mais nada a dizer.

D. CONSUELO  -  (suplicou)
Por favor, Samuquito, dame una oportunidad! Estoy sufriendo mucho con nuestra separación!

SAMUCA  -  Não. Você atrapalhou demais a minha vida. Por sua causa, Joaninha não quer mais falar comigo. Nossa conversa agora é só através de um advogado!
  
D. CONSUELO  -  (cambaleou, e foi amparada por Dom José) No puedes hacer esto a mí. Te amo, Samuquito!

DOM JOSÉ  -  (preocupado com o estado emocional da velha) 
Señor Samuca, te pido que hables con D. Consuelo. Ella insistió en venir, pero es muy débil, muy fraca! ... (e apelou) Recuerda: todas las cosas locas el hizo por amor, para tener usted a su lado!

SAMUCA  -  (mostrou-se irredutível) Já disse que não temos mais nada a dizer. Por favor, vão embora e me deixem em paz!

NAQUELE MOMENTO, D. CONSUELO LEVOU A MÃO AO PEITO, FEZ UMA CARETA DE DOR E CAIU NOS BRAÇOS DE DOM JOSÉ, QUE, COM O AUXÍLIO DE SAMUCA, DEITOU-A NO DIVÃ.

DOM JOSÉ  -  (muito nervoso, tomou-lhe o pulso) Mi Dios!...

SAMUCA  -  (olhos arregalados) O... o que aconteceu?

DOM JOSÉ  -  (balbuciou, muito pálido) Está muerta!

SAMUCA  -  (atônito) Mor... morta?! Não... não pode ser!

DOM JOSÉ  -  (confirmou, com tristeza na voz)
Desafortunadamente, es cierto. Su corazón dejó de bater. Murió como un pequeño pájaro. D. Consuelo si fue, señor Samuca. Si fue para siempre.

CORTA PARA:

CENA  10  -  “’FOLHA DO RIO”  -  REDAÇÃO  -  INT.  -  DIA.


ALGUMAS HORAS DEPOIS, ARAKEN LIGOU, ANSIOSO,  PARA O ESCRITÓRIO DE CELSO BARROSO.

ARAKEN  -  (ao celular) E então, Dr. Celso? Fez a busca? Conseguiram encontrar o medalhão?
  
DR. CELSO  -  (off) Fizemos a busca, Araken, mas, infelizmente, não encontramos nada!

ARAKEN  -  Eu imaginei que não seria tão fácil! Esse medalhão deve estar muito bem escondido! O Oliveira Ramos é uma águia, não joga pra perder!

DR. CELSO  -  (desanimado) Pois é... e para piorar, o Ministério Público deu parecer contrário ao pedido de revisão criminal, por insuficiência de provas.

ARAKEN  -  Então, é chegado o momento de por o plano B em ação!

DR. CELSO  -  O que você pretende fazer?

ARAKEN  -  Vou pôr em prática uma idéia que eu tive, pra recuperar esse medalhão! Aguarde notícias minhas. Dr. Celso!

CORTA PARA:

CENA  11  -  DELEGACIA  -  CELA DE VÍTOR  -  INT.  -  DIA.


O DELEGADO FONTOURA, EM COMPANHIA DO ADVOGADO DE OLIVEIRA RAMOS, FOI PESSOALMENTE À CARCERAGEM ABRIR A CELA DE VÍTOR.

DELEGADO FONTOURA  -  Padre Vítor, este é o Dr. Moreira, advogado do Dr. Oliveira Ramos, que está cuidando do seu caso. Ele pagou sua fiança e pediu o relaxamento da prisão. Como o senhor é réu primário e, pessoalmente, acredito na sua inocência, prosseguiremos as investigações com o senhor em liberdade. Está livre. Pode ir embora.

VÍTOR  -  (surpreso) Mas... eu não pedi nada a Oliveira Ramos. Sou inocente e acredito na justiça.

DR. MOREIRA  -  (adiantou-se) Padre, desculpe, mas não é o momento para demonstrações de orgulho. Se é inocente, não há motivos para permanecer atrás das grades.

DELEGADO FONTOURA  -  O Dr. Moreira está certo, padre. Aceite a oferta do seu sogro e aguarde em liberdade o resultado das investigações.

VÍTOR  -  (refletiu alguns segundos e decidiu) Está bem. Eu vou aceitar.

DELEGADO FONTOURA  -  Muito bem. Gostaria apenas de lembrá-lo que não poderá ausentar-se da cidade e deverá, a qualquer momento ser intimado a comparecer à delegacia para prestar esclarecimentos.

VÍTOR  -  Obrigado, Doutor Fontoura. Estarei à sua inteira disposição.
    
VÍTOR LEVANTOU-SE DO CATRE. OS OLHOS ILUMINARAM-SE E CORREU A JUNTAR ALGUNS PERTENCES NUMA PEQUENA MOCHILA.

CORTA PARA:         

CENA  12  -  DELEGACIA  -  EXT.  -  NOITE.

JÁ NA CALÇADA EM FRENTE À DELEGACIA, VÍTOR DESPEDIU-SE DO DR. MOREIRA E VIROU-SE PARA IR EMBORA, QUANDO ESTACOU, SURPRESO: HELÔ ESTAVA PARADA A ALGUNS METROS, À  SUA ESPERA. SORRIA, EMOCIONADA.

VÍTOR  -  Helô!

HELÔ  -  Vítor!...



FIM DO CAPÍTULO 62

e no próximo capítulo...
***  Vítor está decidido a descobrir quem armou a cilada para que fosse preso.

*** Lídia, a nova enfermeira, apresenta-se na casa de Oliveira Ramos para cuidar de Elisa.

*** Vítor vai à procura de Mãozinha na Galeria Alaska, em busca da verdade!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 63 DE







3 comentários:

  1. Toni, que bom Vítor ter saído logo da prisão! E muito bom o fato do delegado acreditar que foi uma armação. E será que Helô vai tentar voltar com Vítor agora? Samuquito deu-se mal mais uma vez, e como se não bastasse, Dona Consuelo ainda foi morrer nos braços dele! Pelo menos agora é viúvo, poderá casr com Joaninha rsrsrs. Gostei muito! Bjs.

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  2. Muitas emoções. O que fará Vitor agora? Qual será o futuro de sua relação com Helô? E Samuca? Livre, mas pobre como sempre. kkkkkkk Gostei, Toni!

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  3. Amigos, a reta final vai ficar mais emocionante! A morte de Consuelo fazia parte da sinopse original. Helô está tentando se reaproximar de Vítor. Vamos ver se ele vai perdoar o pai dela quando souber que ele foi o mandante da cilada contra ele.
    Abraços!

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