Capítulo III - Recordações
Uma semana depois, Claude está aguardando Rosa, que já tinha enviado uma proposta por email Mas ele queria vê-la, sentia necessidade disso, e não entendia porquê.
Rosa chega e Janete a faz entrar na sala de Claude...
J: Com licença, Dr. Claude? A Rosa está aqui.
C: Ah, que bom!
Rosa entra e seu olhar percorre todo o escritório. Ela gosta do que vê. Seu olhar caminha, até encontrar com o de Claude, que também percorria seu corpo, perfeitamente emoldurado por um vestido florido, cor-de-rosa pálido, o que deixava seu rosto e seu sorriso ainda mais luminosos. E os olhares se encontraram e se perderam, por um segundo. “Quase todo tempo do mundo”.
C: Por favor, senta, hã? Quer beber alguma coisa, um cafezinho, um chazinho?
R: Não, obrigada. Podemos ir direto ao assunto. O senhor analisou minha proposta?
C: Serafina, pra começar, ou melhor, pra gente “recomeçar novamente” – E dá um sorriso – Eu sou Claude, hã? Nada de senhor...
R: Ok. Mas por favor, eu prefiro que me chame de Rosa. Então, você – enfatiza a palavra – já analisou a proposta que enviei?
C: Sim, eu dei uma analisada, mas gostaria que você fizesse umas mudanças, Serafi... Rosa; queria sugerir algumas mudanças.
Na verdade, ele estava querendo ganhar tempo. Rosa o intrigava. Por mais que ele evitasse pensar nela, quando se dava conta lá estava Rosa, povoando seus pensamentos. E que pensamentos... Mon Dieu!
Rosa tenta se controlar, mas sua irritação é visível. Claude parece se divertir com a reação dela. Ele tinha consciência que o projeto estava perfeito. Mas queria conhecê-la mais, sentia vontade de protegê-la, beijá-la. Desejava Rosa, como nunca desejou outra mulher.
“Eu devia esfregar esse projeto na cara dele – pensa Rosa – Está tudo certinho, eu revisei, está de acordo com a ABNT. Está perfeito! Mas eu preciso do dinheiro”.
R: Tudo bem. - responde, engolindo o orgulho. - Que quer que eu mude?
C: Será que a gente poderia almoçar primeiro, hã?
R: Você está me convidando pra almoçar com você?
C: Estou sim, você aceita? E dá aquele sorriso.
“Assim fica difícil resistir” – pensa Rosa. “Mas eu vou enfrentar esse medo”
R: Eu aceito. Aonde vamos? Porque eu não estou vestida pra ir aos lugares que você deve frequentar...
C: Que isso, você tá muito bem! Mas nós vamos almoçar na minha casa, hã? A Dadi, minha empregada, já está esperando. Depois a gente volta e resolve as mudanças.
R: Então você já tinha planejado tudo? Isso é covardia Doutor Claude. Mas eu aceito o desafio! Vamos?
No apartamento de Claude, Dadi já os esperava.
C: Seja bem vinda à minha casa! Dadi esta é Rosa – Rosa esta é Dadi. Ela praticamente me criou Rosa, quando minha mãe morreu, e depois da morte de meu pai ela me adotou definitivamente. Rsrsrs
D: È um prazer conhecer a senhora, D. Rosa!
R: O prazer é meu, mas pára com isso de senhora... Dona... é só Rosa.
D: É melhor assim mesmo, Dona Rosa, pra eu ir me acostumando...
R: Não entendi, Dadi. - E olha para Claude.
C: Non me olha assim non... Eu também non entendi nada.
Dadi vai pra cozinha, pensando “Hum, vai começar tudo de novo...”.
Depois de almoçarem, eles se dirigem à sala, Dadi os serve com um café e avisa que precisa sair pra ir à lavanderia. Segue o diálogo.
R: Você não tem irmãos?
C: Non. Sou filho único. Sempre quis ter, mas non aconteceu, hã. E você?
R: Ah! Eu tenho dois irmãos: A Terezinha e o Dino. Eles moram com meus pais ainda. São mais novos que eu, bem mais novos. Meus pais já tem idade. Meu pai veio da Itália, com uns 10 anos, com meus avós, que vieram pra cuidar de um casal de italianos que veio morar aqui, depois que receberam uma herança. Quando meus avós morreram, meus pais já estavam casados e tão afeiçoados aos italianos que continuaram com eles. É o mesmo casarão que eles moram ainda. O casal teve um filho só, que foi pra Itália, depois que se formou. Esse casal acabou deixando a casa para os meus pais, em condições de usufruto, em testamento. E aí, com coração mole eles acabaram deixando algumas pessoas morarem lá. Por isso o pessoal do bairro chama o casarão de cortiço. Nossa! Falei demais, não é? - Completa Rosa, quando percebe Claude olhando-a fixamente.
C: Non, eu adoro ouvir sua voz! E você, saiu de casa por quê?
Rosa sente-se incomodada com a pergunta, pois isso a faz lembrar de algo que demorou muito pra esquecer.
C: Perdon, eu fui por demais curioso, non? - Claude recorda do comentário de Frazão.
R: É que isso ainda me machuca. Essa história eu quero apagar, esquecer... O que eu queria mesmo era restaurar aquele lugar. Por isso fui fazer arquitetura e urbanismo, me especializei, mas meu pai não entende. Ele nunca aceitou que eu saísse de casa.
Silêncio. Cada um imerso em suas histórias de abandono. Rosa quebra o silêncio.
R: Mas olha só, não ficou uma marquinha, hem! Viu como sou uma excelente restauradora? Rsrsrsrsrsrsrsrsrsr - Exclama enquanto passa a mão pela testa de Claude.
Ele retribui o gesto, acariciando o rosto de Rosa, aproxima seus lábios dos dela e começa um beijo delicado, mas firme, enquanto suas mãos contornam o corpo dela, descendo pela cintura abaixo, e voltando a subir por baixo do vestido, sentindo a maciez da sua pele. Seus corpos já não escondem mais o intenso desejo, e Claude se apressa em carregá-la para o quarto...
R: Claude, Claude! Que foi? Está passando mal? Que cara é essa? Claude! Está sonhando acordado?
Ele então cai em si. Fora um devaneio apenas. Tenta disfarçar, levanta e vai pra cozinha, pensando “Passando mal... mal eu fiquei agora, hã?”.
Alguns minutos depois eles voltam pra construtora. Passa das quinze horas.
Na construtora
Claude e Rosa saem do elevador, no maior alto astral. Janete e Frazão que conversam na recepção se olham:
F: Minha linda será que está pintando um clima aí, hem? Tomara que sim. Os dois merecem ser felizes...
J: Concordo! A gente podia dar uma mãozinha pro destino.
F: Estou dentro!
C: O que vocês eston cochichando ai, hã?
F: Calma francês... calma! Não aprende mesmo, a controlar seu mau humor!
C: Non... E eu vou resolver uns detalhes da casa com a Rosa, hã? Non estou pra ninguém...
Já na sala de Claude...
R: Bom, me diz o que você quer que eu mude?
C: Pra falar a verdade... nada!
R: Como assim, nada?! Nada? Você está brincando! Eu sabia, você está irritado por causa do ferimento - Vai falando e apontando o dedo pra ele - Me fez de idiota esse tempo todo, e eu ainda caí nesse truquezinho barato! Que ódio! .Seu... seu...
Claude a puxa para si, beijando-a, impetuosamente. Rosa tenta evitar, batendo no peito dele, que consegue baixar os braços dela, prendendo-a ainda mais ao seu corpo, querendo que ela se entregue ao momento, mas ela se afasta e diz:
R: Seu grosso, eu não estou à venda! Não me julgue na mesma escala que usa com suas amiguinhas! E sai sem falar com ninguém, esbarrando em Frazão, que entrava na sala.
F: Oh francês, que foi isso? Vocês estavam rindo a pouco e agora ela saí assim, chorando, toda ofegante. Alguma você aprontou! Já te falei que ela é diferente...
C: Essa italianinha tá me tirando do sério, hã? E ela bem que estava gostando do beijo...
F: Claude, Claude você está brincando com fogo! Vai acabar se queimando, mon ami!
Claude faz uma careta, volta pra sua mesa e começa a ler uns relatórios. Mas alguém, em seus pensamentos, o impede...
Sônia, divertido esse devaneio de Claude rsrsrs. Esse casal, é encantador! Estou gostando muito de ler! Bjs.
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