Capítulo
23 – Revelação
Viviane
seguia em silêncio ao lado de Gabriel, que de vez em quando olhava de relance
para ela.
— Para
onde quer ir? – perguntou ele depois de um tempo.
— Para
qualquer lugar. – Viviane respondeu quase mecanicamente.
— Se
quiser, pode me contar o que aconteceu, quem sabe eu possa ajudar.
Viviane
permaneceu calada por alguns instantes, enquanto olhava a paisagem pela janela
do carro.
— Você
não pode ajudar. E você não quer saber.
— Se
estou dizendo é porque quero saber.
Viviane
olhou para Gabriel.
— Você
não quer. Só está perguntando exatamente como quando as pessoas perguntam como
você está sem qualquer interesse na resposta.
Gabriel
riu-se.
— Devia
dar uma chance para as pessoas.
— Para
quê? As pessoas não me dão uma chance, não acho que elas mereçam uma.
Gabriel
suspirou, ficando um pouco impaciente.
— Olha,
acho que não deveria pensar assim... Você só está sentindo...
— Pena de
mim mesma? – completou ela, olhando para Gabriel. – Tem razão, eu não tenho o
direito de ficar triste, nem chateada, não é? Sou rica e não tenho o direito de
chorar, porque sou privilegiada e muitas pessoas gostariam de estar no meu
lugar. Existem muitas pessoas passando fome, necessidade. É como meu avô diz,
eu sou de fato privilegiada porque não sei o que é passar fome. Tem razão, não
posso sentir pena de mim mesma.
Gabriel
pareceu um tanto desconcertado.
— Não foi
exatamente isso que quis dizer.
— Existem
pessoas que dizem que dinheiro trás tudo, não é? Mas não é verdade. Eu trocaria
o título de herdeira por uma vida comum. Com uma mãe normal, que me levasse na
escola ao invés do motorista, com um avô normal que me contasse histórias e não
precisasse trabalhar em um escritório e com um pai... E com um pai que eu
realmente tivesse certeza que é meu pai.
Gabriel
olhou assustado para Viviane.
— O que
está tentando dizer?
— Não se
importe com o que eu falo. Não estou tentando dizer nada. – disse olhando pela
janela novamente.
Depois de
alguns minutos conduzindo o carro, Gabriel parou em um sinal.
—
Viviane, você quer ir para onde agora? Acho que já...
Ele parou
de repente, quando viu que Viviane tinha adormecido. Tomou uma decisão e seguiu
em direção à sua casa. Ao chegar, parou o carro e desceu. Logo em seguida,
abriu a porta de Viviane.
—
Viviane. – disse, tentando acordá-la inutilmente.
Se
agachou e a observou. Os cabelos longos e loiros de Viviane caíam sob o rosto
dela. Gabriel lentamente tirou os cabelos que estavam sobre o rosto. Percebeu
que o rosto de Viviane ainda estava molhado.
— Então,
você estava chorando escondida? – disse quase sussurrando. – Eu realmente
queria saber algo para poder te ajudar. Se você me dissesse quem sabe se tornaria
menos difícil para você... O que tenho que fazer para que possa acreditar em
mim?
De
repente, o celular dele começou a vibrar.
— Alô?
Sim, sou eu dona Gabriele. Não, não se
preocupe, ela está comigo. O quê? – Gabriel parecia assustado. – Sim, eu aviso
a ela amanhã pela manhã. Claro.
Ele
desligou o celular e olhou preocupado para Viviane.
— O que
eu faço agora?
***
Gabriele
tinha acabado de ligar para Gabriel e avisado do estado em que estava o Dr.
Otávio.
A
ambulância chegou rapidamente ao hospital. Em seguida, os outros familiares
chegaram. Os filhos de Dr. Otávio com suas respectivas esposas, também
acompanhados das gêmeas, Emanuela e Mariana. Também estavam presentes o
advogado Tarcísio e Gabriele.
Fabiano
tinha acabado de voltar e dizer que a condição do Dr. Otávio no momento esta
estável, mas que era preciso ficar em observação para, em seguida, fazerem a
cirurgia.
— Como o
meu pai pode adiar uma cirurgia tão importante? – perguntou Bruno preocupado. –
Ele deveria ter nos avisado mais cedo da condição da saúde dele.
— Eu
também disse o mesmo, Dr. Bruno, mas seu pai não ouviu. Ele queria esperar pelo
aniversário de Viviane antes de fazer a cirurgia.
Iêda
também parecia preocupada.
— Também
acho que meu sogro passou dos limites, acho que a saúde dele é o mais
importante. Mesmo que Viviane seja sua neta querida, ele não poderia ter se
arriscado tanto.
— Gente -
disse Camila. – pensemos pelo lado positivo, pelo menos a saúde dele está
estável. Vai dar tudo certo. Dr. Otávio é um homem forte.
— Fico
pensando em Viviane quando souber disso... – comentou Iêda e olhando para
Gabriele. – Mas o que aconteceu naquela hora para ela sair correndo daquele
jeito sem falar com ninguém?
Gabriele
apenas suspirou, tentando evitar os olhos de todos que se puseram sobre ela.
— Bem,
pessoal. – disse Fabiano. – Isso realmente não é importante agora. O importante
é a saúde do nosso pai. Depois vêm outras questões menores. Se tudo der certo,
ele fará a cirurgia amanhã pela manhã.
— E qual
é a situação atual? Como é essa cirurgia? – perguntou Otávio Jr. se fazendo de
interessado.
— Bem, se
ele tivesse demorado mais, possivelmente teria menos chance de sobrevivência.
Apesar de que a cirurgia também nesse momento é muito delicada. De qualquer
forma, acho melhor não ficarmos todos aqui. Gabriele, Camila, Iêda e as meninas
podem ir para casa. – disse Fabiano. – Qualquer coisa, nós ligamos.
Gabriele
e as outras concordaram. Todas se puseram a sair do hospital. Antes de sair
dele, Mariana olhou para fora, chamando a atenção de Emanuela. Do lado de fora,
a chuva começara a cair.
— Eu
realmente tenho uma sensação ruim quando chove à noite. Você acha que vai ficar
tudo bem com o Dr. Otávio? Não queria que ele morresse. Nós mal o conhecemos.
— Não
pense demais, Mariana. É só uma coincidência. – disse Emanuela um pouco
apreensiva.
***
Viviane
acordou de repente. Olhou para um relógio que estava no criado mudo. Era 2 da
madrugada. De repente, se assustou ao ver Gabriel sentado em uma cadeira
próxima.
— Onde
estou?
— No meu
quarto.
— O quê?
– perguntou muito nervosa.
Gabriel
riu-se.
— Estou
brincando. Você está em um quarto de hóspedes. Na minha casa.
— O que
estou fazendo na sua casa?
Gabriel
suspirou um pouco impaciente.
— E você
queria o quê? Que eu ficasse dirigindo até ficarmos sem gasolina.
— Você
poderia ter me deixado na...
— O quê?
Na sua casa? Sério?
Viviane
ficou sem palavras.
— Então,
não vai me dizer o que aconteceu? Por que saiu de lá daquele jeito?
Viviane
suspirou.
— Eu já
disse, você não precisa saber.
Gabriel
balançou a cabeça.
— Não,
você disse que eu não queria saber. Mas eu realmente quero te ajudar. Dizem que
só ter alguém para ouvir já ajuda. Não é a toa que os psicólogos ganham tanto
dinheiro.
— Não
sabia que era tão sensível. – disse Viviane séria.
— E aí?
Não vai me dizer o que te deixou nesse estado?
Viviane
ficou em silêncio durante algum tempo e depois olhou para Gabriel.
—
Aconteceu que o feitiço virou contra o feiticeiro. Foi isso que aconteceu.
— O que
quer dizer com isso?
— No
final das contas, eu que era a neta bastarda. Isso não é engraçado? De repente,
eu descubro que aquele que passei a vida toda pensando que era meu pai, não era
o meu pai.
— Eu...
Realmente não tenho palavras. – disse Gabriel um tanto surpreso.
— Nem eu.
– disse ela com o olhar vago.
Gabriel
olhou para Viviane. De alguma forma, queria animá-la.
— Vou
pegar algo para você comer. Acho que não comeu nada hoje à noite, não é? –
disse saindo.
De
repente, o celular de Gabriel que ficara em cima do criado mudo tocou. Viviane
pensou em chamá-lo, mas logo percebeu que reconhecia o número que estava
ligando.
— Da
minha casa? Aquela mulher realmente... – disse irritada, atendendo o celular.
“Gabriel?
Eu pensei melhor, não diga nada a Viviane pela manhã. Se tudo correr bem e
espero que corra, podemos avisar quando a cirurgia do Dr. Otávio terminar,
assim ela não precisa passar por isso, você entendeu?” – disse Gabriele do
outro lado da linha. – Alô?”
Gabriel
voltou. Tinha ouvido o celular tocar. Quando chegou, Viviane parecia pálida.
— O que
aconteceu com meu avô?
—
Viviane... O seu avô passou mal, logo quando você saiu. Mas não se preocupe,
ele...
Viviane
levantou-se depressa, pegando a chave de seu carro que também estava em cima do
criado mudo.
— Para
onde vai? – perguntou Gabriel segurando-a pelo braço.
— Eu
preciso ficar perto do meu avô... Foi minha culpa, Gabriel. – disse prestes a
chorar e um pouco fora de si. - Eu esqueci que meu avô estava com a saúde
debilitada. Como eu pude esquecer... Foi minha culpa. Minha culpa. Se meu avô
morrer, eu nunca vou me perdoar. Preciso ir vê-lo agora.
Gabriel
percebeu que Viviane estava quase tendo uma crise de nervos.
—
Viviane, se acalme. Se quer ver seu avô no hospital, irei com você, ok? Eu vou
dirigir, está bem? Fique aqui, vou só pegar um casaco e um guarda-chuva porque
está chovendo lá fora. Fique aqui. – disse, saindo rapidamente.
Gabriel
demorou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para que Viviane sumisse
do quarto. Rapidamente, ele correu para os outros cômodos da casa, mas não a
encontrou. Teve um mau pressentimento. Correu em direção à janela que dava para
fora e viu Viviane saindo de carro.
— Droga!
– disse ele, correndo e pegando a chave de um dos carros de seu pai.
Quando
saiu, já era tarde demais. Viviane já estava saindo do condomínio em alta
velocidade.
— Droga!
– disse ele, entrando no carro rapidamente e tentando segui-la.
Estava
muito escuro e chovendo forte. Gabriel via com dificuldade à frente. Mas
percebeu que o carro de Viviane já ia bem distante. Ficou preocupado, pois
Viviane não tinha qualquer experiência em direção, principalmente em pista
molhada. De repente, o seu celular tocou. Era Gabriele.
Ele
atendeu o telefone pelo carro e colocou o fone de ouvido.
— Dona,
Gabriele! Sim. Estou dirigindo agora. Não posso falar muito. Sim, foi Viviane
que atendeu. Não posso dizer mais nada agora.
Depois de
desligar, tentou ver inutilmente algo a frente, mas estava chovendo forte.
Depois de algum tempo, perdeu o carro de Viviane. Mas pelo menos sabia que ela
seguia para o hospital Alcântara. De repente, percebeu ao longe um estranho
engarrafamento. Mais uma vez, teve um mau pressentimento.
— Viviane...
***
Viviane
pegou o carro e saiu. Não podia esperar por Gabriel. A chuva estava forte e,
mesmo tendo se molhado, entrou no carro. Não poderia esperar. Por sua causa seu
avô estava entre a vida e a morte.
— Tenho
que chegar mais rápido. – disse, acelerando mais.
Estava no
caminho certo, era questão de minutos para chegar ao hospital. A chuva ficou
mais forte, o que a impossibilitava de ver a estrada com clareza. De repente,
percebeu um carro a sua frente. Tentou frear, mas a tração diminuíra devido à
chuva. Em milésimos de segundos, virou a direção do carro tentando
desesperadamente evitar uma colisão. Com o movimento o carro de Viviane virou,
batendo no carro à sua frente.
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