segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 23 - SEGUNDA PARTE - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 23 – Revelação

Viviane seguia em silêncio ao lado de Gabriel, que de vez em quando olhava de relance para ela.
— Para onde quer ir? – perguntou ele depois de um tempo.
— Para qualquer lugar. – Viviane respondeu quase mecanicamente.
— Se quiser, pode me contar o que aconteceu, quem sabe eu possa ajudar.
Viviane permaneceu calada por alguns instantes, enquanto olhava a paisagem pela janela do carro.
— Você não pode ajudar. E você não quer saber.
— Se estou dizendo é porque quero saber.
Viviane olhou para Gabriel.
— Você não quer. Só está perguntando exatamente como quando as pessoas perguntam como você está sem qualquer interesse na resposta.
Gabriel riu-se.
— Devia dar uma chance para as pessoas.
— Para quê? As pessoas não me dão uma chance, não acho que elas mereçam uma.
Gabriel suspirou, ficando um pouco impaciente.
— Olha, acho que não deveria pensar assim... Você só está sentindo...
— Pena de mim mesma? – completou ela, olhando para Gabriel. – Tem razão, eu não tenho o direito de ficar triste, nem chateada, não é? Sou rica e não tenho o direito de chorar, porque sou privilegiada e muitas pessoas gostariam de estar no meu lugar. Existem muitas pessoas passando fome, necessidade. É como meu avô diz, eu sou de fato privilegiada porque não sei o que é passar fome. Tem razão, não posso sentir pena de mim mesma.
Gabriel pareceu um tanto desconcertado.
— Não foi exatamente isso que quis dizer.
— Existem pessoas que dizem que dinheiro trás tudo, não é? Mas não é verdade. Eu trocaria o título de herdeira por uma vida comum. Com uma mãe normal, que me levasse na escola ao invés do motorista, com um avô normal que me contasse histórias e não precisasse trabalhar em um escritório e com um pai... E com um pai que eu realmente tivesse certeza que é meu pai.
Gabriel olhou assustado para Viviane.
— O que está tentando dizer?
— Não se importe com o que eu falo. Não estou tentando dizer nada. – disse olhando pela janela novamente.
Depois de alguns minutos conduzindo o carro, Gabriel parou em um sinal.
— Viviane, você quer ir para onde agora? Acho que já...
Ele parou de repente, quando viu que Viviane tinha adormecido. Tomou uma decisão e seguiu em direção à sua casa. Ao chegar, parou o carro e desceu. Logo em seguida, abriu a porta de Viviane.
— Viviane. – disse, tentando acordá-la inutilmente.
Se agachou e a observou. Os cabelos longos e loiros de Viviane caíam sob o rosto dela. Gabriel lentamente tirou os cabelos que estavam sobre o rosto. Percebeu que o rosto de Viviane ainda estava molhado.
— Então, você estava chorando escondida? – disse quase sussurrando. – Eu realmente queria saber algo para poder te ajudar. Se você me dissesse quem sabe se tornaria menos difícil para você... O que tenho que fazer para que possa acreditar em mim?
De repente, o celular dele começou a vibrar.
— Alô? Sim, sou eu dona Gabriele.  Não, não se preocupe, ela está comigo. O quê? – Gabriel parecia assustado. – Sim, eu aviso a ela amanhã pela manhã. Claro.
Ele desligou o celular e olhou preocupado para Viviane.
— O que eu faço agora?
***
Gabriele tinha acabado de ligar para Gabriel e avisado do estado em que estava o Dr. Otávio.
A ambulância chegou rapidamente ao hospital. Em seguida, os outros familiares chegaram. Os filhos de Dr. Otávio com suas respectivas esposas, também acompanhados das gêmeas, Emanuela e Mariana. Também estavam presentes o advogado Tarcísio e Gabriele.
Fabiano tinha acabado de voltar e dizer que a condição do Dr. Otávio no momento esta estável, mas que era preciso ficar em observação para, em seguida, fazerem a cirurgia.
— Como o meu pai pode adiar uma cirurgia tão importante? – perguntou Bruno preocupado. – Ele deveria ter nos avisado mais cedo da condição da saúde dele.
— Eu também disse o mesmo, Dr. Bruno, mas seu pai não ouviu. Ele queria esperar pelo aniversário de Viviane antes de fazer a cirurgia.
Iêda também parecia preocupada.
— Também acho que meu sogro passou dos limites, acho que a saúde dele é o mais importante. Mesmo que Viviane seja sua neta querida, ele não poderia ter se arriscado tanto.
— Gente - disse Camila. – pensemos pelo lado positivo, pelo menos a saúde dele está estável. Vai dar tudo certo. Dr. Otávio é um homem forte.
— Fico pensando em Viviane quando souber disso... – comentou Iêda e olhando para Gabriele. – Mas o que aconteceu naquela hora para ela sair correndo daquele jeito sem falar com ninguém?
Gabriele apenas suspirou, tentando evitar os olhos de todos que se puseram sobre ela.
— Bem, pessoal. – disse Fabiano. – Isso realmente não é importante agora. O importante é a saúde do nosso pai. Depois vêm outras questões menores. Se tudo der certo, ele fará a cirurgia amanhã pela manhã.
— E qual é a situação atual? Como é essa cirurgia? – perguntou Otávio Jr. se fazendo de interessado.
— Bem, se ele tivesse demorado mais, possivelmente teria menos chance de sobrevivência. Apesar de que a cirurgia também nesse momento é muito delicada. De qualquer forma, acho melhor não ficarmos todos aqui. Gabriele, Camila, Iêda e as meninas podem ir para casa. – disse Fabiano. – Qualquer coisa, nós ligamos.
Gabriele e as outras concordaram. Todas se puseram a sair do hospital. Antes de sair dele, Mariana olhou para fora, chamando a atenção de Emanuela. Do lado de fora, a chuva começara a cair.
— Eu realmente tenho uma sensação ruim quando chove à noite. Você acha que vai ficar tudo bem com o Dr. Otávio? Não queria que ele morresse. Nós mal o conhecemos.
— Não pense demais, Mariana. É só uma coincidência. – disse Emanuela um pouco apreensiva.
***
Viviane acordou de repente. Olhou para um relógio que estava no criado mudo. Era 2 da madrugada. De repente, se assustou ao ver Gabriel sentado em uma cadeira próxima.
— Onde estou?
— No meu quarto.
— O quê? – perguntou muito nervosa.
Gabriel riu-se.
— Estou brincando. Você está em um quarto de hóspedes. Na minha casa.
— O que estou fazendo na sua casa?
Gabriel suspirou um pouco impaciente.
— E você queria o quê? Que eu ficasse dirigindo até ficarmos sem gasolina.
— Você poderia ter me deixado na...
— O quê? Na sua casa? Sério?
Viviane ficou sem palavras.
— Então, não vai me dizer o que aconteceu? Por que saiu de lá daquele jeito?
Viviane suspirou.
— Eu já disse, você não precisa saber.
Gabriel balançou a cabeça.
— Não, você disse que eu não queria saber. Mas eu realmente quero te ajudar. Dizem que só ter alguém para ouvir já ajuda. Não é a toa que os psicólogos ganham tanto dinheiro.
— Não sabia que era tão sensível. – disse Viviane séria.
— E aí? Não vai me dizer o que te deixou nesse estado?
Viviane ficou em silêncio durante algum tempo e depois olhou para Gabriel.
— Aconteceu que o feitiço virou contra o feiticeiro. Foi isso que aconteceu.
— O que quer dizer com isso?
— No final das contas, eu que era a neta bastarda. Isso não é engraçado? De repente, eu descubro que aquele que passei a vida toda pensando que era meu pai, não era o meu pai.
— Eu... Realmente não tenho palavras. – disse Gabriel um tanto surpreso.
— Nem eu. – disse ela com o olhar vago.
Gabriel olhou para Viviane. De alguma forma, queria animá-la.
— Vou pegar algo para você comer. Acho que não comeu nada hoje à noite, não é? – disse saindo.
De repente, o celular de Gabriel que ficara em cima do criado mudo tocou. Viviane pensou em chamá-lo, mas logo percebeu que reconhecia o número que estava ligando.
— Da minha casa? Aquela mulher realmente... – disse irritada, atendendo o celular.
“Gabriel? Eu pensei melhor, não diga nada a Viviane pela manhã. Se tudo correr bem e espero que corra, podemos avisar quando a cirurgia do Dr. Otávio terminar, assim ela não precisa passar por isso, você entendeu?” – disse Gabriele do outro lado da linha. – Alô?”
Gabriel voltou. Tinha ouvido o celular tocar. Quando chegou, Viviane parecia pálida.
— O que aconteceu com meu avô?
— Viviane... O seu avô passou mal, logo quando você saiu. Mas não se preocupe, ele...
Viviane levantou-se depressa, pegando a chave de seu carro que também estava em cima do criado mudo.
— Para onde vai? – perguntou Gabriel segurando-a pelo braço.
— Eu preciso ficar perto do meu avô... Foi minha culpa, Gabriel. – disse prestes a chorar e um pouco fora de si. - Eu esqueci que meu avô estava com a saúde debilitada. Como eu pude esquecer... Foi minha culpa. Minha culpa. Se meu avô morrer, eu nunca vou me perdoar. Preciso ir vê-lo agora.
Gabriel percebeu que Viviane estava quase tendo uma crise de nervos.
— Viviane, se acalme. Se quer ver seu avô no hospital, irei com você, ok? Eu vou dirigir, está bem? Fique aqui, vou só pegar um casaco e um guarda-chuva porque está chovendo lá fora. Fique aqui. – disse, saindo rapidamente.
Gabriel demorou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para que Viviane sumisse do quarto. Rapidamente, ele correu para os outros cômodos da casa, mas não a encontrou. Teve um mau pressentimento. Correu em direção à janela que dava para fora e viu Viviane saindo de carro.
— Droga! – disse ele, correndo e pegando a chave de um dos carros de seu pai.
Quando saiu, já era tarde demais. Viviane já estava saindo do condomínio em alta velocidade.
— Droga! – disse ele, entrando no carro rapidamente e tentando segui-la.
Estava muito escuro e chovendo forte. Gabriel via com dificuldade à frente. Mas percebeu que o carro de Viviane já ia bem distante. Ficou preocupado, pois Viviane não tinha qualquer experiência em direção, principalmente em pista molhada. De repente, o seu celular tocou. Era Gabriele.
Ele atendeu o telefone pelo carro e colocou o fone de ouvido.
— Dona, Gabriele! Sim. Estou dirigindo agora. Não posso falar muito. Sim, foi Viviane que atendeu. Não posso dizer mais nada agora.
Depois de desligar, tentou ver inutilmente algo a frente, mas estava chovendo forte. Depois de algum tempo, perdeu o carro de Viviane. Mas pelo menos sabia que ela seguia para o hospital Alcântara. De repente, percebeu ao longe um estranho engarrafamento. Mais uma vez, teve um mau pressentimento.
— Viviane...
***
Viviane pegou o carro e saiu. Não podia esperar por Gabriel. A chuva estava forte e, mesmo tendo se molhado, entrou no carro. Não poderia esperar. Por sua causa seu avô estava entre a vida e a morte.
— Tenho que chegar mais rápido. – disse, acelerando mais.
Estava no caminho certo, era questão de minutos para chegar ao hospital. A chuva ficou mais forte, o que a impossibilitava de ver a estrada com clareza. De repente, percebeu um carro a sua frente. Tentou frear, mas a tração diminuíra devido à chuva. Em milésimos de segundos, virou a direção do carro tentando desesperadamente evitar uma colisão. Com o movimento o carro de Viviane virou, batendo no carro à sua frente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário