segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 25 - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 25 – Calmaria

Já eram 6 horas da manhã de domingo. Otávio Jr. e Bruno esperavam do lado de fora da sala do hospital em que Dr. Otávio estava sendo operado. As mulheres não estavam acompanhando naquele momento, porque se encontravam na ala de emergência do hospital. Tinham ido até lá dar apoio a Gabriele depois que descobriram sobre o acidente de Viviane.
— O está acontecendo? Nosso pai está entre a vida e a morte e Viviane sofreu um acidente. – comentou Bruno.
— Aqui se faz, aqui se paga. – disse Otávio Jr. insensível. – Nosso pai deve ter aprontado bastante.
Bruno olhou para Otávio Jr., incrédulo com o que estava ouvindo.
— Não deveria dizer algo assim, enquanto ele está lá dentro sendo operado. Às vezes, tenho a impressão de que realmente odeia ele.
— Não morro de amores como você e Fabiano. Enquanto vocês foram bem tratados, eu sempre recebi desprezo dele. Não me culpe por não ficar tão sensível quanto você em um momento assim.
Bruno estava impressionado com a insensibilidade do irmão.
— Como pode dizer isso? Nosso pai sempre foi muito ocupado, mas sempre quis o bem para nós quatro. Inclusive Jorge. Ele sempre se esforçou muito para nos dar a melhor criação mesmo depois da morte da nossa mãe. Pode não ser um homem perfeito, mas mesmo errando, não podemos acusar de não ter feito o seu melhor.
Otávio olhou para o irmão e suspirou.
— Me admira que um homem da sua idade tenha uma visão tão romântica das coisas.
Nesse instante, a conversa dos dois foi interrompida com a saída de Fabiano e do principal médico da sala. Bruno se aproximou apreensivo do irmão.
— E então? Como o nosso pai está?
— Nós quase o perdemos. – disse Fabiano. – Mas o doutor aqui fez tudo o que foi possível e o Dr. Otávio conseguiu passar por mais essa.
O outro médico sorriu.
— Por enquanto, ele precisa de repouso. O pós-operatório é o período mais crítico nesse momento.
Bruno respirou aliviado.
— Que bom. Dr. Otávio ainda precisa viver muito.
— Acho que podemos avisar para os outros agora. – disse Fabiano. – Também quero saber como está nossa sobrinha.
— Qual das sobrinhas? Afinal temos três agora.
Fabiano sorriu.
— Tem razão. Depois de tanto fingir que não eram da família por causa do capricho do nosso pai, acho que acabei as desconsiderando. Bem, agora já não é mais um segredo.
Bruno pareceu um pouco preocupado.
— Tem razão. Isso quer dizer que seremos interrogados sobre o aparecimento dessas novas sobrinhas também.  A mídia vai dar em cima. Não teremos sossego por alguns dias.
Otávio Jr. se aproximou dos dois.
— Então, vou avisar a minha esposa sobre a cirurgia do nosso pai. Vou ver o que está acontecendo com a Viviane também. – disse, se afastando.
Bruno e Fabiano estranharam o fato de Otávio Jr. se voluntariar para tal tarefa.
***
Iêda e Camila conversavam na sala de espera perto de onde Viviane estava descansando.
— Eu ainda não acredito no que aconteceu... – comentou Iêda.
— Sobre o quê exatamente? Aconteceram tantas coisas... – perguntou Camila.
Iêda suspirou.
— Até parece coisa de novela. Eu pensava que esse tipo de coisa não acontecesse na vida real. Com tantas coisas acontecendo, é claro que a saúde do Dr. Otávio não ia ficar bem.
Camila parecia pensativa.
— Mas, eu ouvi dizer que ele já não estava com a saúde muito boa... – comentou Camila.
— Eu também soube disso e até aqui no hospital, eu ouvi alguns comentários... Eu realmente espero que tudo dê certo. Ele sempre me tratou muito bem.
— Digo o mesmo. – disse Camila, logo em seguida, olhando disfarçadamente para os lados. – Mas, se acontecesse alguma coisa... Claro que não vai acontecer. Mas, se porventura acontecer, você sabe quem vai tomar o lugar na presidência do Grupo?
Iêda olhou para Camila confusa.
— Quem mais? O seu marido. Pensei que soubesse...
Camila sorriu, se fazendo de desentendida.
— O meu marido? Mas, eu achei que por Marcos ser o vice-presidente, ele substituiria Otávio em qualquer emergência.
— Se fosse há um mês, quem sabe, mas acho que os acionistas não vão permitir isso. Dizem que há indícios muito fortes de que o Dr. Marcos está envolvido com negócios ilegais e que usava algumas empresas do Grupo para lavagem de dinheiro. É verdade que, mesmo com a auditoria, o advogado dele conseguiu fazer com que as provas fossem inconclusivas.
De repente, Iêda pareceu admirada. Ela olhava para duas pessoas que haviam chegado.
— Falando nele...
Marcos e Rebeca haviam chegado. Marcos estava sério e foi ao encontro de das duas.
— Olá, meninas. Vocês já tiveram alguma notícia sobre o Dr. Otávio? Resolvi passar aqui primeiro para saber como está minha sobrinha também.
— Viviane está bem. – respondeu Iêda. – Quanto ao Dr. Otávio, bem, até agora não tivemos notícias dele.
De repente, Camila viu o marido chegar. Ele logo percebeu a presença de Marcos.
— É uma pena, tio, mas acho que não foi agora.  – disse Otávio Jr., assim que chegou.
Marcos riu como quem ri de uma criança.
— Do que está falando?
Otávio riu.
— O que estou dizendo é que o meu pai resistiu à cirurgia.
— É verdade? – disse Iêda animada. – Vou avisar a Gabriele então. – disse, saindo.
Otávio disfarçou a irritação que aquele comentário lhe causara.
— Parece que tem uma impressão errada de mim, Otávio Jr. – disse ele, olhando sério para Otávio Jr. – Mas acho que a pessoa infeliz aqui não sou eu, afinal, se meu irmão não sobrevivesse, a pessoa que mais lucraria com isso era você. – disse, enquanto observava a expressão de ira do sobrinho.
Otávio Jr. riu.
— Quem vê você falando assim, vai pensar que o demônio aqui sou eu. – disse, se afastando.
***
Fabrício havia saído ainda pela manhã, enquanto Verônica estava na lanchonete junto com as gêmeas. Tanto Emanuela e Mariana quanto Gabriele, que continuava perto do quarto onde Vivi se encontrava naquele momento em descanso, tinham recebido a boa notícia do sucesso da cirugia do Dr. Otávio.
— Gostaria de pedir um favor a vocês. – disse Verônica, olhando para as irmãs. – Queria que vocês tivessem paciência com a Vivi. Ela não é uma má pessoa, entende?
As duas permaneceram em silêncio.
— Principalmente agora – continuou. – Ela se culpa por achar que por causa dela o avô quase morreu e ainda está tendo que enfrentar o fato de descobrir que não é neta biológica do Dr. Otávio.
Mariana olhou com um olhar interrogativo.
— Você acha que ela vai aceitar a nossa ajuda? Afinal, mais do que nunca ela deve ter muita raiva da gente. – disse Mariana.
Verônica balançou a cabeça negativamente.
— A Vivi pode fazer coisas impensadas, como o que ela fez na festa, mas a intenção dela nunca é ruim. Não estou querendo defender as atitudes ruins dela, só quero dizer que ela não é uma má pessoa. Mais do que antes, ela precisa de alguém agora. O avô dela não está em condições de ajudá-la e ela não permite que a mãe nem se aproxime. Ela precisa de vocês.
— Precisa? – perguntou Mariana.
— Sim.-  e olhando para as duas. – Vivi, desde criança, sempre foi muito sozinha. A mãe e o avô trabalhavam feito loucos. Os tios, da mesma maneira. E vocês devem imaginar como aquela mansão é grande para uma criança. É claro que ela tinha uma babá, mas nada se compara a ter uma mãe por perto. E, ao contrário, do que vocês pensam, ela não era assim.
— E como ela era? – perguntou Emanuela.
— Ela era extremamente quieta. Tinha dificuldade de fazer amigos. E isso foi interpretado de maneira diferente. Não sei se souberam, mas aos dez anos, ela quase foi sequestrada.
— Não sabíamos... – murmurou Mariana.
— Na época, o Dr. Otávio contratou guarda-costas. A situação piorou, é claro. Quem queria fazer amizade com uma garota que andava com guarda-costas? Alguns anos depois, a mulher que era a sua babá faleceu. Mas, o pior de tudo é que Viviane não chorava. Estava sempre sorrindo. Sempre dizendo que estava tudo bem. E se comportando pior a cada ano que passava. E eu pensava que realmente estava tudo bem. Até que percebi, um dia, que Viviane não me contava de verdade o que estava sentindo.
Emanuela pareceu um pouco confusa.
— Como descobriu?
Verônica riu com melancolia.
— Não contem o que vou dizer agora. Mas, um dia, logo depois da morte da babá dela, quando eu entrei em um banheiro feminino que era pouco usado na escola, ouvi alguém chorando. Era ela. Ela chorava e repetia: “Por que estou sempre sozinha?”.
Verônica ficou com o olhar vago como que se lembrando da cena.
— Foi realmente triste... Nunca pensei que veria um momento tão triste de alguém. Ainda lembro do quanto ela soluçava. Vivi nunca mostrava esse lado para ninguém, nem mesmo para mim. Até mesmo agora, não importa o quanto ela está triste, ela nunca demonstra. É mais fácil ter acesso de raiva do que chorar. Por isso, hoje, quando eu a vi chorar, percebi que ela deve estar mais triste do que nunca, já que ela nem sequer está tentando esconder isso. Por isso, eu peço... Não tenham resentimentos pelo que ela fez.
Emanuela ficou pensativa.
— Não temos. Por um lado também sabemos que Vivi tem seus motivos para ter se comportado daquele jeito. Não se preocupe, vamos tentar, do nosso jeito, ajudar Viviane.
***
Fabiano estava no hospital, quando viu Rebeca chegar. Ele logo sorriu ao vê-la.
— Você aqui.
— Vim assim que soube pelo noticiário. Então, estou aqui para ajudar no que for necessário.
Fabiano riu.
— Obrigado. Você sempre está tentando ajudar. Peço desculpas pelo incômodo.
— Eu que peço desculpas. Eu saí cedo da festa, se eu tivesse ficado um pouco mais, poderia ter ajudado. Pena que só soube agora. Há a mesma reportagem em todos os canais.
Fabiano suspirou.
— Essa é o preço por sermos uma família influente. Não temos privacidade. E o que meu pai precisa mais nesse momento é de repouso absoluto. Essa fase do pós-operatório é a mais delicada.
— Entendo...
Fabiano olhou para Rebeca um tanto confuso.
— Mas você parece um pouco diferente... O que aconteceu?
Rebeca pareceu ficar surpresa com aquela pergunta.
— Nada. Não aconteceu nada.
***
Fernandes estava em sua sala pensativo. De repente, lembrou-se de algo. Afastou a cadeira em que estava sentado e abriu a gaveta. Pegou uma pasta e abriu-a, de dentro tirou um papel. Sorriu. Pegou o telefone e ligou para a meio-irmã Rosalia que estava naquele momento servindo bebidas na boate. Em alguns minutos, ela apareceu.
— O que você quer? – perguntou ela ao chegar. – Eu não posso demorar muito, hoje nós temos muitos clientes.
Fernandes pareceu se irritar.
— Eu sou o dono dessa espelunca aqui. Você esqueceu?
Rosália suspirou.
— Sim. Por que me chamou? – disse ela, se aproximando.
— Chame o Renato?
Rosália pareceu surpresa. Renato era alguém que se poderiam chamar de uma pessoa para trabalhos sujos.
— O Renato? – perguntou surpresa. – Faz muito tempo que você não entra em contato com ele...
— Sim, faz. – disse ele sério. – Agora, vá chamá-lo.
Rosália ia saindo, quando reconheceu o papel que estava nas mãos de Fernandes.
— Esse não é aquele contrato estranho que você fez aquele rapaz assinar? – e como se lembrando – Como era o nome dele? Fabrício, acho que era esse o nome... – e olhando um pouco assustada para Fernandes. – O que você planeja fazer com isso?
Fernandes olhou com cara de poucos amigos para a meio-irmã.
— E desde quando, você tem haver com o que eu faço ou deixo de fazer?
O rosto de Rosália demonstrava uma expressão que era um misto de admiração e assombro.
— Conhecendo você como eu conheço, acho que esse rapaz não está com sorte.
Fernandes sorriu.
— Pelo contrário, eu diria que ele tem muita sorte. – e ficando sério de repente. – Agora vá chamar o Renato.
Rosália saiu. Passou por volta de uma hora até que alguém bateu a porta. Fernandes autorizou a entrada e um homem magro, não muito alto, entrou.
— E aí chefia? Há quanto tempo? Tem algum trabalho para mim?
Fernandes levantou-se de onde estava sentado.
— Você continua o mesmo, não é, Renato?
— Como sempre. – disse ele sorrindo. – E aí, o que a vossa excelência manda? Quer que eu dê um trato em alguém?
Fernandes sorriu.
— O serviço não é desse tipo. Quero que investigue tudo sobre uma pessoa. Tudo. Investigue tudo. Eu sei que você tem contatos o bastante para isso.
— Modéstia a parte. – disse Renato sorrindo.
— E outra coisa. – disse ele sério. – Eu quero saber tudo sobre a relação que existe entre ele e uma garota chamada Emanuela.
Renato concordou afirmativamente com a cabeça.
— Seu pedido é uma ordem. Mas, você sabe que uma ficha completa não é muito barato.
Fernandes olhou como se alguém o tivesse ofendido.
— Você sabe que não precisa se preocupar com o dinheiro. – disse ele, voltando para a poltrona e sentando-se.
— E como é o nome do indivíduo? – perguntou Renato.
— Fabrício Alves de Medeiros. E para lhe ajudar, é alguém relacionado com o Grupo Demontieux.

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