Capítulo 25 – Calmaria
Já eram 6
horas da manhã de domingo. Otávio Jr. e Bruno esperavam do lado de fora da sala
do hospital em que Dr. Otávio estava sendo operado. As mulheres não estavam
acompanhando naquele momento, porque se encontravam na ala de emergência do
hospital. Tinham ido até lá dar apoio a Gabriele depois que descobriram sobre o
acidente de Viviane.
— O está
acontecendo? Nosso pai está entre a vida e a morte e Viviane sofreu um
acidente. – comentou Bruno.
— Aqui se
faz, aqui se paga. – disse Otávio Jr. insensível. – Nosso pai deve ter
aprontado bastante.
Bruno
olhou para Otávio Jr., incrédulo com o que estava ouvindo.
— Não
deveria dizer algo assim, enquanto ele está lá dentro sendo operado. Às vezes,
tenho a impressão de que realmente odeia ele.
— Não
morro de amores como você e Fabiano. Enquanto vocês foram bem tratados, eu
sempre recebi desprezo dele. Não me culpe por não ficar tão sensível quanto
você em um momento assim.
Bruno
estava impressionado com a insensibilidade do irmão.
— Como
pode dizer isso? Nosso pai sempre foi muito ocupado, mas sempre quis o bem para
nós quatro. Inclusive Jorge. Ele sempre se esforçou muito para nos dar a melhor
criação mesmo depois da morte da nossa mãe. Pode não ser um homem perfeito, mas
mesmo errando, não podemos acusar de não ter feito o seu melhor.
Otávio
olhou para o irmão e suspirou.
— Me
admira que um homem da sua idade tenha uma visão tão romântica das coisas.
Nesse
instante, a conversa dos dois foi interrompida com a saída de Fabiano e do
principal médico da sala. Bruno se aproximou apreensivo do irmão.
— E
então? Como o nosso pai está?
— Nós
quase o perdemos. – disse Fabiano. – Mas o doutor aqui fez tudo o que foi
possível e o Dr. Otávio conseguiu passar por mais essa.
O outro
médico sorriu.
— Por
enquanto, ele precisa de repouso. O pós-operatório é o período mais crítico
nesse momento.
Bruno
respirou aliviado.
— Que
bom. Dr. Otávio ainda precisa viver muito.
— Acho
que podemos avisar para os outros agora. – disse Fabiano. – Também quero saber
como está nossa sobrinha.
— Qual
das sobrinhas? Afinal temos três agora.
Fabiano
sorriu.
— Tem
razão. Depois de tanto fingir que não eram da família por causa do capricho do
nosso pai, acho que acabei as desconsiderando. Bem, agora já não é mais um
segredo.
Bruno
pareceu um pouco preocupado.
— Tem
razão. Isso quer dizer que seremos interrogados sobre o aparecimento dessas
novas sobrinhas também. A mídia vai dar
em cima. Não teremos sossego por alguns dias.
Otávio
Jr. se aproximou dos dois.
— Então,
vou avisar a minha esposa sobre a cirurgia do nosso pai. Vou ver o que está
acontecendo com a Viviane também. – disse, se afastando.
Bruno e
Fabiano estranharam o fato de Otávio Jr. se voluntariar para tal tarefa.
***
Iêda e
Camila conversavam na sala de espera perto de onde Viviane estava descansando.
— Eu
ainda não acredito no que aconteceu... – comentou Iêda.
— Sobre o
quê exatamente? Aconteceram tantas coisas... – perguntou Camila.
Iêda
suspirou.
— Até
parece coisa de novela. Eu pensava que esse tipo de coisa não acontecesse na
vida real. Com tantas coisas acontecendo, é claro que a saúde do Dr. Otávio não
ia ficar bem.
Camila
parecia pensativa.
— Mas, eu
ouvi dizer que ele já não estava com a saúde muito boa... – comentou Camila.
— Eu
também soube disso e até aqui no hospital, eu ouvi alguns comentários... Eu
realmente espero que tudo dê certo. Ele sempre me tratou muito bem.
— Digo o
mesmo. – disse Camila, logo em seguida, olhando disfarçadamente para os lados.
– Mas, se acontecesse alguma coisa... Claro que não vai acontecer. Mas, se
porventura acontecer, você sabe quem vai tomar o lugar na presidência do Grupo?
Iêda
olhou para Camila confusa.
— Quem
mais? O seu marido. Pensei que soubesse...
Camila
sorriu, se fazendo de desentendida.
— O meu
marido? Mas, eu achei que por Marcos ser o vice-presidente, ele substituiria
Otávio em qualquer emergência.
— Se
fosse há um mês, quem sabe, mas acho que os acionistas não vão permitir isso.
Dizem que há indícios muito fortes de que o Dr. Marcos está envolvido com
negócios ilegais e que usava algumas empresas do Grupo para lavagem de
dinheiro. É verdade que, mesmo com a auditoria, o advogado dele conseguiu fazer
com que as provas fossem inconclusivas.
De
repente, Iêda pareceu admirada. Ela olhava para duas pessoas que haviam
chegado.
— Falando
nele...
Marcos e
Rebeca haviam chegado. Marcos estava sério e foi ao encontro de das duas.
— Olá,
meninas. Vocês já tiveram alguma notícia sobre o Dr. Otávio? Resolvi passar
aqui primeiro para saber como está minha sobrinha também.
— Viviane
está bem. – respondeu Iêda. – Quanto ao Dr. Otávio, bem, até agora não tivemos
notícias dele.
De
repente, Camila viu o marido chegar. Ele logo percebeu a presença de Marcos.
— É uma
pena, tio, mas acho que não foi agora. –
disse Otávio Jr., assim que chegou.
Marcos
riu como quem ri de uma criança.
— Do que
está falando?
Otávio
riu.
— O que
estou dizendo é que o meu pai resistiu à cirurgia.
— É
verdade? – disse Iêda animada. – Vou avisar a Gabriele então. – disse, saindo.
Otávio
disfarçou a irritação que aquele comentário lhe causara.
— Parece
que tem uma impressão errada de mim, Otávio Jr. – disse ele, olhando sério para
Otávio Jr. – Mas acho que a pessoa infeliz aqui não sou eu, afinal, se meu
irmão não sobrevivesse, a pessoa que mais lucraria com isso era você. – disse,
enquanto observava a expressão de ira do sobrinho.
Otávio
Jr. riu.
— Quem vê
você falando assim, vai pensar que o demônio aqui sou eu. – disse, se afastando.
***
Fabrício
havia saído ainda pela manhã, enquanto Verônica estava na lanchonete junto com
as gêmeas. Tanto Emanuela e Mariana quanto Gabriele, que continuava perto do
quarto onde Vivi se encontrava naquele momento em descanso, tinham recebido a
boa notícia do sucesso da cirugia do Dr. Otávio.
—
Gostaria de pedir um favor a vocês. – disse Verônica, olhando para as irmãs. –
Queria que vocês tivessem paciência com a Vivi. Ela não é uma má pessoa,
entende?
As duas
permaneceram em silêncio.
— Principalmente
agora – continuou. – Ela se culpa por achar que por causa dela o avô quase
morreu e ainda está tendo que enfrentar o fato de descobrir que não é neta
biológica do Dr. Otávio.
Mariana
olhou com um olhar interrogativo.
— Você acha
que ela vai aceitar a nossa ajuda? Afinal, mais do que nunca ela deve ter muita
raiva da gente. – disse Mariana.
Verônica
balançou a cabeça negativamente.
— A Vivi
pode fazer coisas impensadas, como o que ela fez na festa, mas a intenção dela
nunca é ruim. Não estou querendo defender as atitudes ruins dela, só quero
dizer que ela não é uma má pessoa. Mais do que antes, ela precisa de alguém
agora. O avô dela não está em condições de ajudá-la e ela não permite que a mãe
nem se aproxime. Ela precisa de vocês.
—
Precisa? – perguntou Mariana.
— Sim.- e olhando para as duas. – Vivi, desde criança,
sempre foi muito sozinha. A mãe e o avô trabalhavam feito loucos. Os tios, da
mesma maneira. E vocês devem imaginar como aquela mansão é grande para uma
criança. É claro que ela tinha uma babá, mas nada se compara a ter uma mãe por
perto. E, ao contrário, do que vocês pensam, ela não era assim.
— E como
ela era? – perguntou Emanuela.
— Ela era
extremamente quieta. Tinha dificuldade de fazer amigos. E isso foi interpretado
de maneira diferente. Não sei se souberam, mas aos dez anos, ela quase foi sequestrada.
— Não
sabíamos... – murmurou Mariana.
— Na
época, o Dr. Otávio contratou guarda-costas. A situação piorou, é claro. Quem
queria fazer amizade com uma garota que andava com guarda-costas? Alguns anos depois,
a mulher que era a sua babá faleceu. Mas, o pior de tudo é que Viviane não
chorava. Estava sempre sorrindo. Sempre dizendo que estava tudo bem. E se
comportando pior a cada ano que passava. E eu pensava que realmente estava tudo
bem. Até que percebi, um dia, que Viviane não me contava de verdade o que
estava sentindo.
Emanuela
pareceu um pouco confusa.
— Como descobriu?
Verônica
riu com melancolia.
— Não
contem o que vou dizer agora. Mas, um dia, logo depois da morte da babá dela, quando
eu entrei em um banheiro feminino que era pouco usado na escola, ouvi alguém
chorando. Era ela. Ela chorava e repetia: “Por que estou sempre sozinha?”.
Verônica
ficou com o olhar vago como que se lembrando da cena.
— Foi
realmente triste... Nunca pensei que veria um momento tão triste de alguém.
Ainda lembro do quanto ela soluçava. Vivi nunca mostrava esse lado para
ninguém, nem mesmo para mim. Até mesmo agora, não importa o quanto ela está
triste, ela nunca demonstra. É mais fácil ter acesso de raiva do que chorar.
Por isso, hoje, quando eu a vi chorar, percebi que ela deve estar mais triste
do que nunca, já que ela nem sequer está tentando esconder isso. Por isso, eu
peço... Não tenham resentimentos pelo que ela fez.
Emanuela
ficou pensativa.
— Não temos.
Por um lado também sabemos que Vivi tem seus motivos para ter se comportado
daquele jeito. Não se preocupe, vamos tentar, do nosso jeito, ajudar Viviane.
***
Fabiano
estava no hospital, quando viu Rebeca chegar. Ele logo sorriu ao vê-la.
— Você
aqui.
— Vim
assim que soube pelo noticiário. Então, estou aqui para ajudar no que for
necessário.
Fabiano
riu.
—
Obrigado. Você sempre está tentando ajudar. Peço desculpas pelo incômodo.
— Eu que
peço desculpas. Eu saí cedo da festa, se eu tivesse ficado um pouco mais,
poderia ter ajudado. Pena que só soube agora. Há a mesma reportagem em todos os
canais.
Fabiano
suspirou.
— Essa é
o preço por sermos uma família influente. Não temos privacidade. E o que meu
pai precisa mais nesse momento é de repouso absoluto. Essa fase do pós-operatório
é a mais delicada.
—
Entendo...
Fabiano
olhou para Rebeca um tanto confuso.
— Mas
você parece um pouco diferente... O que aconteceu?
Rebeca
pareceu ficar surpresa com aquela pergunta.
— Nada.
Não aconteceu nada.
***
Fernandes
estava em sua sala pensativo. De repente, lembrou-se de algo. Afastou a cadeira
em que estava sentado e abriu a gaveta. Pegou uma pasta e abriu-a, de dentro
tirou um papel. Sorriu. Pegou o telefone e ligou para a meio-irmã Rosalia que
estava naquele momento servindo bebidas na boate. Em alguns minutos, ela
apareceu.
— O que
você quer? – perguntou ela ao chegar. – Eu não posso demorar muito, hoje nós
temos muitos clientes.
Fernandes
pareceu se irritar.
— Eu sou
o dono dessa espelunca aqui. Você esqueceu?
Rosália
suspirou.
— Sim.
Por que me chamou? – disse ela, se aproximando.
— Chame o
Renato?
Rosália
pareceu surpresa. Renato era alguém que se poderiam chamar de uma pessoa para
trabalhos sujos.
— O
Renato? – perguntou surpresa. – Faz muito tempo que você não entra em contato
com ele...
— Sim,
faz. – disse ele sério. – Agora, vá chamá-lo.
Rosália
ia saindo, quando reconheceu o papel que estava nas mãos de Fernandes.
— Esse
não é aquele contrato estranho que você fez aquele rapaz assinar? – e como se
lembrando – Como era o nome dele? Fabrício, acho que era esse o nome... – e
olhando um pouco assustada para Fernandes. – O que você planeja fazer com isso?
Fernandes
olhou com cara de poucos amigos para a meio-irmã.
— E desde
quando, você tem haver com o que eu faço ou deixo de fazer?
O rosto
de Rosália demonstrava uma expressão que era um misto de admiração e assombro.
—
Conhecendo você como eu conheço, acho que esse rapaz não está com sorte.
Fernandes
sorriu.
— Pelo
contrário, eu diria que ele tem muita sorte. – e ficando sério de repente. –
Agora vá chamar o Renato.
Rosália
saiu. Passou por volta de uma hora até que alguém bateu a porta. Fernandes
autorizou a entrada e um homem magro, não muito alto, entrou.
— E aí
chefia? Há quanto tempo? Tem algum trabalho para mim?
Fernandes
levantou-se de onde estava sentado.
— Você
continua o mesmo, não é, Renato?
— Como
sempre. – disse ele sorrindo. – E aí, o que a vossa excelência manda? Quer que
eu dê um trato em alguém?
Fernandes
sorriu.
— O
serviço não é desse tipo. Quero que investigue tudo sobre uma pessoa. Tudo.
Investigue tudo. Eu sei que você tem contatos o bastante para isso.
—
Modéstia a parte. – disse Renato sorrindo.
— E outra
coisa. – disse ele sério. – Eu quero saber tudo sobre a relação que existe
entre ele e uma garota chamada Emanuela.
Renato
concordou afirmativamente com a cabeça.
— Seu
pedido é uma ordem. Mas, você sabe que uma ficha completa não é muito barato.
Fernandes
olhou como se alguém o tivesse ofendido.
— Você
sabe que não precisa se preocupar com o dinheiro. – disse ele, voltando para a
poltrona e sentando-se.
— E como
é o nome do indivíduo? – perguntou Renato.
—
Fabrício Alves de Medeiros. E para lhe ajudar, é alguém relacionado com o Grupo
Demontieux.
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