Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 1
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
SINHANA
SEBASTIÃO
JERÔNIMO
JOÃO
JUCA CIPÓ
JAGUNÇO
LOCUTOR
GARIMPEIROS
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
SINHANA
SEBASTIÃO
JERÔNIMO
JOÃO
JUCA CIPÓ
JAGUNÇO
LOCUTOR
GARIMPEIROS
LETREIRO:
RIO DE JANEIRO - 1965
CENA 1 - ESTADIO DO MARACANÃ - EXT. - DIA
O Maracanã estremecia. Bandeiras rubro-negras, aos milhares, agitavam-se no imenso anel do estádio. A cada finta, a cada passe, a multidão respondia com a cadencia do “olé”! Feições transtornadas, mãos que se apertavam em desespero, na solidariedade do sofrimento. Era o Flamengo na ânsia da vitória. Em todo o campo – num eco gigantesco – a voz dos locutores brotava de dezenas de milhares de transistores. O Brasil acompanhava atento a “tortura” de seu time mais querido. Frios, os ponteiros dos relógios assinalavam os instantes finais. O Flamengo insistia.
LOCUTOR - (off) ...Avança o Flamengo nos minutos derradeiros da partida. O placar permanece mudo. Só a vitória interessa á equipe da Gávea... Lá vai Gérson. Domina o couro.
Ultrapassa o meio do campo. Finta um adversário. Passa por outro e estende na direita a Carlos Alberto, que entrega a Duda – a maior figura em campo... O Brasil acompanha atento a “tortura” do seu time mais querido. Frios, os ponteiros do relógio assinalam os instantes finais. O Flamengo insiste!
O repentino silêncio foi quebrado apenas pelo locutor nervoso
LOCUTOR - (off) ...Duda investe pelo miolo. Vence um adversário. Dois. Penetra na área. Atenção. Pode marcar....
De repente a loucura. O grito da multidão em uníssono.
LOCUTOR - (off) “Gooooooool! Goooooooool! Do Flamengo! Duda! Duda!
Espocavam foguetes, frenéticas as bandeiras são agitadas. No gramado, um inferno.
LOCUTOR - “Uma pirâmide humana esmaga o ídolo da Gávea... Duda chora. O juiz olha o seu cronômetro. Vai terminar a partida. Há um delírio no Maracanã, senhoras e senhores. E atenção! – terminou o jogo... Flamengo, campeão carioca de 1965!
Surdos e tamborins misturam-se aos gritos de Mengo! No gramado verde, salpicado de papéis, os rádio-repórteres investiam de microfones volantes.
REPÓRTER - E agora, Duda? Depois do título e do gol histórico...
DUDA - Um só pensamento. Pedir licença ao clube para ver minha mãe. Visitar minha terra e abraçar meus irmãos, que não vejo há muitos anos. É tudo o que quero.
REPÓRTER - Senhoras e senhores, que admirável exemplo de profissional. Dono da tarde, autor do gol que deu o campeonato ao Flamengo, Duda foge de qualquer outro compromisso para voltar á sua terra, rever sua gente e sua mãezinha, numa cidade distante, no interior do país...
CORTA PARA:
LETREIRO: COROADO
CENA 2 –RANCHO CORAGEM - SALA DE JANTAR - INT. - DIA
Na casa rústica de Coroado, a velha Sinhana colocava o último prato sobre a mesa de pés maciços. Num canto da parede a imagem de São José. Sobre o baú secular – herança não se sabe de quem – algumas amostras sem valor de pedras da região. O cheiro do feijão bem temperado inundava a sala onde o garimpeiro Sebastião – pele curtida, enrugada, faces esquálidas – retirava a bota enlameada e gasta.
SINHANA - Sabe, velho,esta noite sonhei com o nosso Duda, o ingratão.
SEBASTIÃO - Se preocupa não. O menino tá mais arranjado na vida que os dois irmãos, o Jerônimo e o João.
Sinhana chegou á janela. Ao longe, na linha do horizonte, o risco das montanhas arranhava o céu. O verde das árvores tingia de alegria a solidão ambiente. A velha porteira, corroída pelo tempo, fechava os sonhos de liberdade do gado tristonho, a ruminar. Ao longe, um manto de poeira levantava-se da estrada de barro batido. Num galope cadenciado, um cavaleiro se aproximava.
SINHANA - (sotaque carregado) Jerome vem aí.
CENA 3 – RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Era um jovem de traços belos, cabeleira revolta, gestos agressivos e expressão sofrida. O cavalo estacou retido pela pressão das rédeas, o suor do animal se confundindo com o suor do homem. Fôra longa a esticada de Coroado ao rancho humilde e pobre.
Ligeiro o jovem saltou da sela, atou o laço num tronco de árvore e dirigiu-se á casa, agitado.
CENA 4 – RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA
JERÔNIMO - Mãe! Mãe!
SINHANA - Que e isso, Jerome! Que escarcéu é esse? Será que achou rubim?
JERÔNIMO - Não. Mãe. Tava no garimpo, não. Vim da cidade, correndo pra lhe mostrá esse telegrama que seu Zequinha, do correio, me deu. É do Duda, mãe!
SINHANA - (estremeceu)) Duda? Que é que diz, meu filho? Má nova?
JERÔNIMO - (alegre) Que ele chega depois de amanhã!
A noticia fôra forte demais. Sinhana escorou o corpo pesado de encontro á porta de madeira, com lágrimas a estourarem de seus olhos, O pensamento voltou aos dias de outros tempos. Ao filho ausente. Nascido ali. Na natureza agreste da região. Dali partira para a cidade grande. Aprendera a arte do futebol – “tão diferente das lutas do garimpo” – e hoje, famoso – “tava nos jornais e na boca de toda gente”.
JERÔNIMO - Chega depois de amanhã, mãe. Parece mentira...
SINHANA - Tu leu direito, filho? É verdade mesmo?
JERÔNIMO - Então. Mãe, eu não sei lê? Olha: (lê em voz alta) “Chego trem de quinta-feira. Duda”.
Sinhana pensava nos anos de ausência do filho. Nunca escrevera uma linha, nunca mandara notícia... e as lágrimas deslizaram incontidas pela face da velha mãe. Jerônimo se aproximou. Com rudeza levantou as pontas do avental e enxugou as lágrimas da mãe.
SEBASTIÃO - Deixa isso pra lá, velha. Sei porquê ta chorando, mas cada um tem seu jeito de sê.
SINHANA - (voltou-se para o marido) Se alegra, Bastião. Seu filho Duda vai chegar.
SEBASTIÃO - Ouvi tudo, mulher. Tou alegre. Você sabe que tou. (dirigindo-se ao filho) Seu irmão já sabe?
JERÔNIMO - João? Inda não.
SINHANA - Então corre, vai dizê pra ele. Tá no garimpo.
CORTA PARA:
CENA 2 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA
Peitos nus, tostados pelo sol, os garimpeiros catavam a riqueza. As peneiras rudes passando, mão-a-mão, num ritmo de máquina. O trançado fino deixando escapar fios cristalinos de água do rio, retendo o cascalho bruto, as peneiras rolavam ns dança das mãos. Peneira na água. Peneira no sol. De mão-para-mão. Barro no rio. Cascalho no sonho que não se acabava. Era a cata do diamante.
Jerônimo apareceu correndo.
JERÔNIMO - (telegrama na mão) João! Ô João!
O homem rijo susteve a peneira. Era um jovem másculo de peito largo, irmão Coragem de olhos negros, mãos calosas do trabalho duro de sol-a-sol. Fez sinal ao outro que esperasse. Era todo concentração no dançar das pedras. Jerônimo avizinhou-se, impaciente.
JERÔNIMO - Bamburrou, mano?
JOÃO - Nada. É um chibiu, pedrinha miúda.
JERÔNIMO - Olho de mosquito...
JOÃO - Que era que tu vinha gritando, feito maluco?
JERÔNIMO - Trago notícia, Jão. Chegou telegrama do Rio. Do Duda... ele vai vir depois de amanhã.
JOÃO – (virando-se risonho) Duda? Vai vir aqui?
JERÔNIMO – Pode lê o telegrama, mano.
JOÃO - (segurando o telegrama com a mão molhada e suja de barro) É mesmo. Puxa, há quanto tempo não vejo aquele sem-vergonha. Vai ser uma alegria pros velhos...
JERÔNIMO - Tão chorando de alegria.
JOÃO - (feliz) Menino, vai sê uma festança!
Dois homens se aproximavam a cavalo. Um deles, tipo estranho, de gestos afeminados, conhecido em toda a região do garimpo. Juca Cipó. Homem de feições traiçoeiras, onde a maldade se mostrava clara. Caráter formado em anos de crime contra a gente simples do garimpo. Juca era temido. Rostos sombrios, ele e o companheiro alcançaram a margem do rio. Súbito silencio quebrou a alegria dos presentes.. O próprio ar pareceu parar de repente.
JUCA CIPÓ - Tardes...
JOÃO - Tardes...
JUCA CIPÓ - Como vai o garimpo, gentes? Bamburrando muito?
JOÃO - Que o quê.... só farinhada, quando muito.
JUCA CIPÓ - Trago um recado do patrão procês. Do coroné Pedro Barros.
Todos os olhos se voltaram a um só tempo.
JOÃO - Que recado?
JUCA CIPÓ - Avisar a ocês que tem gringo na cidade. O coroné manda prevenir que quem vender diamante pra eles vai se dá mal...
Jerônimo sentiu o rosto ferver. Tentou sacar da arma que descansava na bainha. Deu um passo á frente na direção do capanga. João, pressentindo a aproximação do perigo, num gesto rápido, conteve a fúria do irmão. Juca Cipó permanecia atento, o riso sarcástico na boca feminina.
JERÔNIMO – (impetuoso) - Pois diga lá ao “seu” coronel Pedro Barros que quem vai se dar mal é ele. Nós vendemos nossas pedra pra quem quisé.
JOÃO - Calma, Jerônimo... ( e dirigindo-se a Juca Cipó) Este garimpo é nosso. “Seu” coronel Pedro Barros manda lá, no garimpo dele.
Impassível, acariciando a crina do animal, Juca observava a reação dos Coragens. Jerônimo apertou os olhos, nervosamente.
JUCA - Tá certo. Mas na hora de vendê as pedras ocês tem que vendê pra ele.
JOÃO - A gente sempre vende.
JERÔNIMO - E ele se aproveita pagando o que qué...
JOÃO - (explodindo) Até o dia que a gente quisé vendê a outro, porquê a gente é livre, Juca!
Juca irritou-se. Sorriu, irônico.
JOÃO – (chegando perto da montada) Hôme, vou até lhe dizê... Tenho encontro marcado com os gringos e vou vendê minhas pedras pra eles.
JUCA - Pois vamos vê... O recado tá dado. O resto é com ocês. Vamo.
Juca partiu a galope seguido do capanga. Os irmãos permaneceram rígidos, como que tocados por um vento de morte. Ao longe os cavalos se perdiam numa curva da estrada. O tropel cessara.
JERÔNIMO - Que vontade, Jão, de dar uma surra nesse jagunço desgraçado.
JOÃO - Calma, mano. Nada de gastá vela com mau difunto...
João estreitou o irmão num abraço e caminhou com ele até a beira do rio.
JOÃO - Anda. Vem me ajudá a catá um pouco. Esta noite sonhei que estava correndo atrás de um boi.
JERÔNIMO - Sonhar com boi é pedra grande na certa!
JOÃO - E o boi era zebu.
JERÔNIMO - Melhor ainda.
O cascalho acumulava-se á margem do rio. Macias as águas rolavam acariciando o fundo barrento. O ritmo da peneirada voltou a alegrar os homens rudes e a confundir-se com a movimentação da natureza – o rio a correr, os pássaros a voar, o vento a embalar a copa das árvores. João lembrou-se do telegrama e da chegada do irmão.
JOÃO - Como será que ta o Duda, mano?
JERÔNIMO - Tá um home. É jogadô de futebol, de fama.
JOÃO - Vivo que ele é. Encontrou uma mina nos pés, o safado. E a gente aqui, a dá duro feito um escravo...
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
# NO GARIMPO DO CORONEL PEDRO BARROS, SEUS CAPANGAS CASTIGAM O GARIMPEIRO BRAZ, ACREDITANDO QUE ENGOLIU UM DIAMANTE.
# COROADO ESTÁ EM FESTA COM A CHEGADA DO ÍDOLO DO FLAMENGO.
# RITINHA ESTÁ ANSIOSA PARA REVER SEU AMOR DE INFÃNCIA.
# JOÃO CORAGEM SE IMPRESSIONA COM A BELEZA DE MARIA DE LARA, FILHA DE SEU INIMIGO, O CORONEL PEDRO BARROS.
RIO DE JANEIRO - 1965
CENA 1 - ESTADIO DO MARACANÃ - EXT. - DIA
O Maracanã estremecia. Bandeiras rubro-negras, aos milhares, agitavam-se no imenso anel do estádio. A cada finta, a cada passe, a multidão respondia com a cadencia do “olé”! Feições transtornadas, mãos que se apertavam em desespero, na solidariedade do sofrimento. Era o Flamengo na ânsia da vitória. Em todo o campo – num eco gigantesco – a voz dos locutores brotava de dezenas de milhares de transistores. O Brasil acompanhava atento a “tortura” de seu time mais querido. Frios, os ponteiros dos relógios assinalavam os instantes finais. O Flamengo insistia.
LOCUTOR - (off) ...Avança o Flamengo nos minutos derradeiros da partida. O placar permanece mudo. Só a vitória interessa á equipe da Gávea... Lá vai Gérson. Domina o couro.
Ultrapassa o meio do campo. Finta um adversário. Passa por outro e estende na direita a Carlos Alberto, que entrega a Duda – a maior figura em campo... O Brasil acompanha atento a “tortura” do seu time mais querido. Frios, os ponteiros do relógio assinalam os instantes finais. O Flamengo insiste!
O repentino silêncio foi quebrado apenas pelo locutor nervoso
LOCUTOR - (off) ...Duda investe pelo miolo. Vence um adversário. Dois. Penetra na área. Atenção. Pode marcar....
De repente a loucura. O grito da multidão em uníssono.
LOCUTOR - (off) “Gooooooool! Goooooooool! Do Flamengo! Duda! Duda!
Espocavam foguetes, frenéticas as bandeiras são agitadas. No gramado, um inferno.
LOCUTOR - “Uma pirâmide humana esmaga o ídolo da Gávea... Duda chora. O juiz olha o seu cronômetro. Vai terminar a partida. Há um delírio no Maracanã, senhoras e senhores. E atenção! – terminou o jogo... Flamengo, campeão carioca de 1965!
Surdos e tamborins misturam-se aos gritos de Mengo! No gramado verde, salpicado de papéis, os rádio-repórteres investiam de microfones volantes.
REPÓRTER - E agora, Duda? Depois do título e do gol histórico...
DUDA - Um só pensamento. Pedir licença ao clube para ver minha mãe. Visitar minha terra e abraçar meus irmãos, que não vejo há muitos anos. É tudo o que quero.
REPÓRTER - Senhoras e senhores, que admirável exemplo de profissional. Dono da tarde, autor do gol que deu o campeonato ao Flamengo, Duda foge de qualquer outro compromisso para voltar á sua terra, rever sua gente e sua mãezinha, numa cidade distante, no interior do país...
CORTA PARA:
LETREIRO: COROADO
CENA 2 –RANCHO CORAGEM - SALA DE JANTAR - INT. - DIA
Na casa rústica de Coroado, a velha Sinhana colocava o último prato sobre a mesa de pés maciços. Num canto da parede a imagem de São José. Sobre o baú secular – herança não se sabe de quem – algumas amostras sem valor de pedras da região. O cheiro do feijão bem temperado inundava a sala onde o garimpeiro Sebastião – pele curtida, enrugada, faces esquálidas – retirava a bota enlameada e gasta.
SINHANA - Sabe, velho,esta noite sonhei com o nosso Duda, o ingratão.
SEBASTIÃO - Se preocupa não. O menino tá mais arranjado na vida que os dois irmãos, o Jerônimo e o João.
Sinhana chegou á janela. Ao longe, na linha do horizonte, o risco das montanhas arranhava o céu. O verde das árvores tingia de alegria a solidão ambiente. A velha porteira, corroída pelo tempo, fechava os sonhos de liberdade do gado tristonho, a ruminar. Ao longe, um manto de poeira levantava-se da estrada de barro batido. Num galope cadenciado, um cavaleiro se aproximava.
SINHANA - (sotaque carregado) Jerome vem aí.
CENA 3 – RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Era um jovem de traços belos, cabeleira revolta, gestos agressivos e expressão sofrida. O cavalo estacou retido pela pressão das rédeas, o suor do animal se confundindo com o suor do homem. Fôra longa a esticada de Coroado ao rancho humilde e pobre.
Ligeiro o jovem saltou da sela, atou o laço num tronco de árvore e dirigiu-se á casa, agitado.
CENA 4 – RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA
JERÔNIMO - Mãe! Mãe!
SINHANA - Que e isso, Jerome! Que escarcéu é esse? Será que achou rubim?
JERÔNIMO - Não. Mãe. Tava no garimpo, não. Vim da cidade, correndo pra lhe mostrá esse telegrama que seu Zequinha, do correio, me deu. É do Duda, mãe!
SINHANA - (estremeceu)) Duda? Que é que diz, meu filho? Má nova?
JERÔNIMO - (alegre) Que ele chega depois de amanhã!
A noticia fôra forte demais. Sinhana escorou o corpo pesado de encontro á porta de madeira, com lágrimas a estourarem de seus olhos, O pensamento voltou aos dias de outros tempos. Ao filho ausente. Nascido ali. Na natureza agreste da região. Dali partira para a cidade grande. Aprendera a arte do futebol – “tão diferente das lutas do garimpo” – e hoje, famoso – “tava nos jornais e na boca de toda gente”.
JERÔNIMO - Chega depois de amanhã, mãe. Parece mentira...
SINHANA - Tu leu direito, filho? É verdade mesmo?
JERÔNIMO - Então. Mãe, eu não sei lê? Olha: (lê em voz alta) “Chego trem de quinta-feira. Duda”.
Sinhana pensava nos anos de ausência do filho. Nunca escrevera uma linha, nunca mandara notícia... e as lágrimas deslizaram incontidas pela face da velha mãe. Jerônimo se aproximou. Com rudeza levantou as pontas do avental e enxugou as lágrimas da mãe.
SEBASTIÃO - Deixa isso pra lá, velha. Sei porquê ta chorando, mas cada um tem seu jeito de sê.
SINHANA - (voltou-se para o marido) Se alegra, Bastião. Seu filho Duda vai chegar.
SEBASTIÃO - Ouvi tudo, mulher. Tou alegre. Você sabe que tou. (dirigindo-se ao filho) Seu irmão já sabe?
JERÔNIMO - João? Inda não.
SINHANA - Então corre, vai dizê pra ele. Tá no garimpo.
CORTA PARA:
CENA 2 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA
Peitos nus, tostados pelo sol, os garimpeiros catavam a riqueza. As peneiras rudes passando, mão-a-mão, num ritmo de máquina. O trançado fino deixando escapar fios cristalinos de água do rio, retendo o cascalho bruto, as peneiras rolavam ns dança das mãos. Peneira na água. Peneira no sol. De mão-para-mão. Barro no rio. Cascalho no sonho que não se acabava. Era a cata do diamante.
Jerônimo apareceu correndo.
JERÔNIMO - (telegrama na mão) João! Ô João!
O homem rijo susteve a peneira. Era um jovem másculo de peito largo, irmão Coragem de olhos negros, mãos calosas do trabalho duro de sol-a-sol. Fez sinal ao outro que esperasse. Era todo concentração no dançar das pedras. Jerônimo avizinhou-se, impaciente.
JERÔNIMO - Bamburrou, mano?
JOÃO - Nada. É um chibiu, pedrinha miúda.
JERÔNIMO - Olho de mosquito...
JOÃO - Que era que tu vinha gritando, feito maluco?
JERÔNIMO - Trago notícia, Jão. Chegou telegrama do Rio. Do Duda... ele vai vir depois de amanhã.
JOÃO – (virando-se risonho) Duda? Vai vir aqui?
JERÔNIMO – Pode lê o telegrama, mano.
JOÃO - (segurando o telegrama com a mão molhada e suja de barro) É mesmo. Puxa, há quanto tempo não vejo aquele sem-vergonha. Vai ser uma alegria pros velhos...
JERÔNIMO - Tão chorando de alegria.
JOÃO - (feliz) Menino, vai sê uma festança!
Dois homens se aproximavam a cavalo. Um deles, tipo estranho, de gestos afeminados, conhecido em toda a região do garimpo. Juca Cipó. Homem de feições traiçoeiras, onde a maldade se mostrava clara. Caráter formado em anos de crime contra a gente simples do garimpo. Juca era temido. Rostos sombrios, ele e o companheiro alcançaram a margem do rio. Súbito silencio quebrou a alegria dos presentes.. O próprio ar pareceu parar de repente.
JUCA CIPÓ - Tardes...
JOÃO - Tardes...
JUCA CIPÓ - Como vai o garimpo, gentes? Bamburrando muito?
JOÃO - Que o quê.... só farinhada, quando muito.
JUCA CIPÓ - Trago um recado do patrão procês. Do coroné Pedro Barros.
Todos os olhos se voltaram a um só tempo.
JOÃO - Que recado?
JUCA CIPÓ - Avisar a ocês que tem gringo na cidade. O coroné manda prevenir que quem vender diamante pra eles vai se dá mal...
Jerônimo sentiu o rosto ferver. Tentou sacar da arma que descansava na bainha. Deu um passo á frente na direção do capanga. João, pressentindo a aproximação do perigo, num gesto rápido, conteve a fúria do irmão. Juca Cipó permanecia atento, o riso sarcástico na boca feminina.
JERÔNIMO – (impetuoso) - Pois diga lá ao “seu” coronel Pedro Barros que quem vai se dar mal é ele. Nós vendemos nossas pedra pra quem quisé.
JOÃO - Calma, Jerônimo... ( e dirigindo-se a Juca Cipó) Este garimpo é nosso. “Seu” coronel Pedro Barros manda lá, no garimpo dele.
Impassível, acariciando a crina do animal, Juca observava a reação dos Coragens. Jerônimo apertou os olhos, nervosamente.
JUCA - Tá certo. Mas na hora de vendê as pedras ocês tem que vendê pra ele.
JOÃO - A gente sempre vende.
JERÔNIMO - E ele se aproveita pagando o que qué...
JOÃO - (explodindo) Até o dia que a gente quisé vendê a outro, porquê a gente é livre, Juca!
Juca irritou-se. Sorriu, irônico.
JOÃO – (chegando perto da montada) Hôme, vou até lhe dizê... Tenho encontro marcado com os gringos e vou vendê minhas pedras pra eles.
JUCA - Pois vamos vê... O recado tá dado. O resto é com ocês. Vamo.
Juca partiu a galope seguido do capanga. Os irmãos permaneceram rígidos, como que tocados por um vento de morte. Ao longe os cavalos se perdiam numa curva da estrada. O tropel cessara.
JERÔNIMO - Que vontade, Jão, de dar uma surra nesse jagunço desgraçado.
JOÃO - Calma, mano. Nada de gastá vela com mau difunto...
João estreitou o irmão num abraço e caminhou com ele até a beira do rio.
JOÃO - Anda. Vem me ajudá a catá um pouco. Esta noite sonhei que estava correndo atrás de um boi.
JERÔNIMO - Sonhar com boi é pedra grande na certa!
JOÃO - E o boi era zebu.
JERÔNIMO - Melhor ainda.
O cascalho acumulava-se á margem do rio. Macias as águas rolavam acariciando o fundo barrento. O ritmo da peneirada voltou a alegrar os homens rudes e a confundir-se com a movimentação da natureza – o rio a correr, os pássaros a voar, o vento a embalar a copa das árvores. João lembrou-se do telegrama e da chegada do irmão.
JOÃO - Como será que ta o Duda, mano?
JERÔNIMO - Tá um home. É jogadô de futebol, de fama.
JOÃO - Vivo que ele é. Encontrou uma mina nos pés, o safado. E a gente aqui, a dá duro feito um escravo...
FIM DO CAPÍTULO 1
Duda (Cláudio Marzo), Sinhana (Zilka Salaberry), João (Tarcísio Meira) e Jerônimo (Cláudio Cavalcanti)
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
# NO GARIMPO DO CORONEL PEDRO BARROS, SEUS CAPANGAS CASTIGAM O GARIMPEIRO BRAZ, ACREDITANDO QUE ENGOLIU UM DIAMANTE.
# COROADO ESTÁ EM FESTA COM A CHEGADA DO ÍDOLO DO FLAMENGO.
# RITINHA ESTÁ ANSIOSA PARA REVER SEU AMOR DE INFÃNCIA.
# JOÃO CORAGEM SE IMPRESSIONA COM A BELEZA DE MARIA DE LARA, FILHA DE SEU INIMIGO, O CORONEL PEDRO BARROS.
NÃO PERCA O CAPÍTULO 2 DE IRMÃOS CORAGEM!!!
Muito bem escrito. Parabéns, Toni. Aguardo os próximos lances da novela. Seja bem vindo. Um abraço e obrigado.
ResponderExcluirObrigado, amigo! Fico feliz que tenha gostado!
ResponderExcluirAbraço!!!
Toni amei! A descrição de cada personagem, é ótima! Pra quem, como eu, assistiu essa novela, é um presentão, faz reviver tantas emoções! Eu gostava tanto daquelas cenas no rancho dos Coragem, e lendo esse capítulo, deu uma saudade...Vou esperar com ansiedade o próximo. Parabéns, ficou bom demais!
ResponderExcluir