Roteirizado por Toni Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 2
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
JUCA CIPÓ
BRAZ CANOEIRO
PEDRO BARROS
JOÃO
SINHANA
RITINHA
JERÔNIMO
MARIA DE LARA
ESTELA
LOURENÇO
GARIMPEIROS
JAGUNÇOS
CENA 1 – COROADO – GARIMPO DE PEDRO BARROS – EXT. – DIA
Na outra banda da cidade, os tratores desvirginavam o solo á cata de diamantes. Chapelão caído sobre os olhos, o Coronel Pedro Barros enxugava a testa com um lenço úmido de suor. O trabalho se desenvolvia com a ajuda de novas máquinas. Trabalho penoso, amenizado pela força do aço que abria sulcos na pele dura da terra. Pedro Barros dava ordens, gesticulava, gritava. Seus cabelos e barba, grisalhos, embebidos de suor. O sol queimava. Depois de alguns minutos afastou-se em direção ao rio. O garimpo faiscava. Dezenas de homens peneiravam, pés submersos, água na altura dos joelhos., á procura das gemas que não lhes pertenciam. Da fortuna que jamais lhes serviria no futuro. Braz Canoeiro era um deles.Negro,de bonita estampa, leal, bom caráter. O suor que lhe escorria das costas parecia refletir, qual espelho, o olho coruscante do sol.
Juca Cipó acabava de chegar.Desmontou e observou o bando em atividade. Seus olhos fixaram a figura em negro de Braz Canoeiro e se concentraram em seu gesto natural de limpar os lábios com o dorso da mão.
JUCA CIPÓ - Peguem esse homem!
CAPANGA - Qual homem, seu Juca?
JUCA CIPÓ - (correndo na direção do negro) - Braz Canoeiro. Ele engoliu um diamante!
O garimpo parou de estalo para assistir á cena. Vencido pelo jagunço, Braz foi lançado ao solo, de encontro ao cascalho.
BRAZ CANOEIRO - Cês tão enganado... eu não engoli nada, não.
JUCA CIPÓ - Engoliu sim. Eu vi. Vi quando ocê passô a mão na boca, nego nojento.
BRAZ CANOEIRO - Passei sim, mas não engoli nada... juro.
Braz empalideceu. Abriu a boca com as duas mãos. O Coronel Pedro Barros se aproximou do local. Severo nos seus sessenta e poucos anos.
PEDRO BARROS - Que foi que houve aí?
JUCA CIPÓ - Esse crioulo sujo, seu coroné. Engoliu um diamante.
PEDRO BARROS - Façam ele botar pra fora.
BRAZ CANOEIRO - (reagindo, amedrontado) Não é verdade, seu coroné. Eu não engoli nada. Juro por Deus, pela minha mãe.
PEDRO BARROS - Façam ele cuspir o diamante. Por cima ou por baixo. Cadê o óleo de rícino?
De um salto o jagunço chegou á cabana onde estavam guardados o material de trabalho, alimentos e remédios de uso permanente. Voltou com uma garrafa na mão.
BRAZ CANOEIRO - (gritando, enlouquecido, apavorado) Não! Eu não engoli nada. Eu não engoli...
Juca Cipó puxou do revólver, puxou com violência a cabeça do negro e encostou o cano na têmpora encarapinhada.
JUCA CIPÓ - Vamos, bebe ou morre!
Braz ingeriu todo o conteúdo. E caiu ao solo.
CORTE PARA:
CENA 2 - COROADO - CENTRO DA CIDADE - EXT. - DIA.
Na igrejinha branca, o papel de seda multicolorido, cortado em tiras, se destacava qual pintura em alto-relevo. A cidade vivia. Coroado se engalanava para receber seu filho famoso. De um lado para outro da rua estreita, a faixa se destacava – SEJA BEM-VINDO, DUDA. Pés no chão, calça de brim, rota, aqui e ali desenhada de remendos coloridos, um tabaréu palitava os cacos de dentes, debruçado no balcão sujo da bodega. Deu uma bicada, cuspindo o pardo do fumo de mistura á brancura da aguardente que queimava. Ao longe um sino tangia. Na rua um moleque pregava o “sabor da cocadinha de côco”. O bimbalhar do chocalho conduzia o jumento da água ao seu destino. No armarinho-tem-de-tudo, Dona Ana vendia rendas e peças de chita .A cidade vibrava. Coroado estava em festa.
De repente o monstrengo estremeceu a rua . João Coragem surgia num fordeco 34, caindo aos pedaços . Sinhana de vestido novo, sorridente. Jerônimo, medalhão sobre o peito, admirando as novidades e João, feliz, na direção do calhambeque.
JOÃO - (mostrando a faixa embalada pelo vento) Olha, mãe. Vou lê: SEJA BEM-VINDO, DUDA.
SINHANA - (surpresa) Como é que já souberam?
JOÃO - Todo mundo sabe. Tão preparando um festão pra quando ele chegá.
CORTE PARA
CENA 3 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.
A moça apareceu na esquina. Quase correndo no seu andar lépido e aprumado. Rita de Cássia era toda excitação. O vestido florido, de saia rodada, escondia formas firmes e arredondadas. Os seios saltavam a cada movimento da jovem, na tentativa de libertar-se da prisão do pano. As faces vermelhas acentuavam o rubor no esforço da pressa.
RITINHA - João.
JOÃO - Rita.
RITINHA - (contendo o entusiasmo, dirigindo-se a Sinhana) Oh, Sinhana... É verdade que ele chega mesmo amanhã?
JOÃO - (apontando a faixa, orgulhoso) Tu não ta vendo? Tem faixa na rua. Banda ensaiando. Parece até deputado em véspera de eleição.
RITINHA - Eu quase não acreditei. Faz tanto tempo...
SINHANA - Sete anos, Ritinha. Sete anos. Quando saiu daqui, tinha 16. Tá um home.
RITINHA - Será que ele ainda se lembra da gente?
SINHANA - Intão num havia de se lembrá, Ritinha? De mim, que sou mãe dele?
RITINHA - (desconcertada) Eu... espero que não tenha me esquecido, também.
Era visível a preocupação da moça. Naquele momento via o pai sair da farmácia e se aproximar do grupo.
RITINHA - (despedindo-se, apressada) Té logo, Sinhana. Té logo, João.
Enquanto Ritinha se afastava, Sinhana comentou com o filho:
SINHANA - Por quê tanto assanhamento dessa menina?
JOÃO - Não se lembra, mãe? Ela foi namorada do Duda.
SINHANA - Ah, é verdade...
CORTE PARA:
CENA 4 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.
O cadilaque de Pedro Barros estacionou pouco atrás do fordeco. Maria de Lara deixara a quietude da fazenda em busca do rebuliço de Coroado. Quase ninguém conhecia a filha do coronel na cidadezinha agitada dos garimpos. Desde menina, presa nos limites da fazenda, quando moça fora para o Rio e só agora retornara, professora, para a tranqüilidade das terras do coronel. Comentava-se a beleza, a bondade da filha do coronel – um oásis no clima de violência da fazenda do pai. O carro permanecia parado. No rosto da moça a doçura, a meiguice. Foi isto que mais impressionou João Coragem ao se aproximar do veículo.
JOÃO - (murmurando) Bonita demais...
JERÔNIMO - Quê que ce viu aí dentro, mano?
JOÃO - (despertando do repentino enlevo) Um diamante, Jerônimo. Um rubim daqueles!
JERÔNIMO - Num é o carro de Pedro Barros?
JOÃO - (sem tirar os olhos da moça) É. Mas ela quem é?
JERÔNIMO - Sei lá, João. Vamo simbora. Isso é bamburra demais pra nós.
CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - ALPENDRE - INT. - DIA.
No alpendre da casa grande da fazenda, Estela e Pedro Barros conversavam. Típica construção do interior, com salas imensas, varandas largas, paredes fortemente caiadas e interiores decorados com ostentação e mau gosto. No terreiro algumas galinhas ciscavam á procura de alimento. Vários homens tentavam aquietar a indocilidade de um touro nas cercanias do curral.
Maria de Lara acabava de chegar. Os pais foram ao encontro da filha.
PEDRO BARROS - Então? Gostou da cidadezinha? Muita diferença?
MARIA DE LARA - Não sei, pai. Saí daqui tão criança que nem me lembrava mais. Algumas coisas sim... algumas coisas tinham ficado na minha memória.
ESTELA - Mas a cidade não mudou nada. Aquele mesmo atraso. Aquela mesma gente inexpressiva.
MARIA DE LARA - Sim, mas a miséria do povo... Porquê há tanta miséria, pai, numa região tão rica?
PEDRO BARROS - É a gente que é preguiçosa, não quer trabalhar. Acham um diamantezinho, um olho de mosquito, vem aqui, vendem e só voltam a trabalhar depois que o dinheiro acaba.
MARIA DE LARA - Mas a maioria não é empregada no seu garimpo?
PEDRO BARROS - (titubeando, com visível aborrecimento) É preciso vigiar dia e noite pra não me roubarem. Ontem mesmo um deles engoliu uma pedra. Tivemos de lhe dar uma dose dupla de óleo de rícino e o desgraçado, ainda assim, não devolveu a pedra. Nem com purga, nem com sova. Negro danado...
A criada apareceu anunciando o almoço.
CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - SALA DE JANTAR - INT. - DIA.
Na outra banda da cidade, os tratores desvirginavam o solo á cata de diamantes. Chapelão caído sobre os olhos, o Coronel Pedro Barros enxugava a testa com um lenço úmido de suor. O trabalho se desenvolvia com a ajuda de novas máquinas. Trabalho penoso, amenizado pela força do aço que abria sulcos na pele dura da terra. Pedro Barros dava ordens, gesticulava, gritava. Seus cabelos e barba, grisalhos, embebidos de suor. O sol queimava. Depois de alguns minutos afastou-se em direção ao rio. O garimpo faiscava. Dezenas de homens peneiravam, pés submersos, água na altura dos joelhos., á procura das gemas que não lhes pertenciam. Da fortuna que jamais lhes serviria no futuro. Braz Canoeiro era um deles.Negro,de bonita estampa, leal, bom caráter. O suor que lhe escorria das costas parecia refletir, qual espelho, o olho coruscante do sol.
Juca Cipó acabava de chegar.Desmontou e observou o bando em atividade. Seus olhos fixaram a figura em negro de Braz Canoeiro e se concentraram em seu gesto natural de limpar os lábios com o dorso da mão.
JUCA CIPÓ - Peguem esse homem!
CAPANGA - Qual homem, seu Juca?
JUCA CIPÓ - (correndo na direção do negro) - Braz Canoeiro. Ele engoliu um diamante!
O garimpo parou de estalo para assistir á cena. Vencido pelo jagunço, Braz foi lançado ao solo, de encontro ao cascalho.
BRAZ CANOEIRO - Cês tão enganado... eu não engoli nada, não.
JUCA CIPÓ - Engoliu sim. Eu vi. Vi quando ocê passô a mão na boca, nego nojento.
BRAZ CANOEIRO - Passei sim, mas não engoli nada... juro.
Braz empalideceu. Abriu a boca com as duas mãos. O Coronel Pedro Barros se aproximou do local. Severo nos seus sessenta e poucos anos.
PEDRO BARROS - Que foi que houve aí?
JUCA CIPÓ - Esse crioulo sujo, seu coroné. Engoliu um diamante.
PEDRO BARROS - Façam ele botar pra fora.
BRAZ CANOEIRO - (reagindo, amedrontado) Não é verdade, seu coroné. Eu não engoli nada. Juro por Deus, pela minha mãe.
PEDRO BARROS - Façam ele cuspir o diamante. Por cima ou por baixo. Cadê o óleo de rícino?
De um salto o jagunço chegou á cabana onde estavam guardados o material de trabalho, alimentos e remédios de uso permanente. Voltou com uma garrafa na mão.
BRAZ CANOEIRO - (gritando, enlouquecido, apavorado) Não! Eu não engoli nada. Eu não engoli...
Juca Cipó puxou do revólver, puxou com violência a cabeça do negro e encostou o cano na têmpora encarapinhada.
JUCA CIPÓ - Vamos, bebe ou morre!
Braz ingeriu todo o conteúdo. E caiu ao solo.
CORTE PARA:
CENA 2 - COROADO - CENTRO DA CIDADE - EXT. - DIA.
Na igrejinha branca, o papel de seda multicolorido, cortado em tiras, se destacava qual pintura em alto-relevo. A cidade vivia. Coroado se engalanava para receber seu filho famoso. De um lado para outro da rua estreita, a faixa se destacava – SEJA BEM-VINDO, DUDA. Pés no chão, calça de brim, rota, aqui e ali desenhada de remendos coloridos, um tabaréu palitava os cacos de dentes, debruçado no balcão sujo da bodega. Deu uma bicada, cuspindo o pardo do fumo de mistura á brancura da aguardente que queimava. Ao longe um sino tangia. Na rua um moleque pregava o “sabor da cocadinha de côco”. O bimbalhar do chocalho conduzia o jumento da água ao seu destino. No armarinho-tem-de-tudo, Dona Ana vendia rendas e peças de chita .A cidade vibrava. Coroado estava em festa.
De repente o monstrengo estremeceu a rua . João Coragem surgia num fordeco 34, caindo aos pedaços . Sinhana de vestido novo, sorridente. Jerônimo, medalhão sobre o peito, admirando as novidades e João, feliz, na direção do calhambeque.
JOÃO - (mostrando a faixa embalada pelo vento) Olha, mãe. Vou lê: SEJA BEM-VINDO, DUDA.
SINHANA - (surpresa) Como é que já souberam?
JOÃO - Todo mundo sabe. Tão preparando um festão pra quando ele chegá.
CORTE PARA
CENA 3 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.
A moça apareceu na esquina. Quase correndo no seu andar lépido e aprumado. Rita de Cássia era toda excitação. O vestido florido, de saia rodada, escondia formas firmes e arredondadas. Os seios saltavam a cada movimento da jovem, na tentativa de libertar-se da prisão do pano. As faces vermelhas acentuavam o rubor no esforço da pressa.
RITINHA - João.
JOÃO - Rita.
RITINHA - (contendo o entusiasmo, dirigindo-se a Sinhana) Oh, Sinhana... É verdade que ele chega mesmo amanhã?
JOÃO - (apontando a faixa, orgulhoso) Tu não ta vendo? Tem faixa na rua. Banda ensaiando. Parece até deputado em véspera de eleição.
RITINHA - Eu quase não acreditei. Faz tanto tempo...
SINHANA - Sete anos, Ritinha. Sete anos. Quando saiu daqui, tinha 16. Tá um home.
RITINHA - Será que ele ainda se lembra da gente?
SINHANA - Intão num havia de se lembrá, Ritinha? De mim, que sou mãe dele?
RITINHA - (desconcertada) Eu... espero que não tenha me esquecido, também.
Era visível a preocupação da moça. Naquele momento via o pai sair da farmácia e se aproximar do grupo.
RITINHA - (despedindo-se, apressada) Té logo, Sinhana. Té logo, João.
Enquanto Ritinha se afastava, Sinhana comentou com o filho:
SINHANA - Por quê tanto assanhamento dessa menina?
JOÃO - Não se lembra, mãe? Ela foi namorada do Duda.
SINHANA - Ah, é verdade...
CORTE PARA:
CENA 4 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.
O cadilaque de Pedro Barros estacionou pouco atrás do fordeco. Maria de Lara deixara a quietude da fazenda em busca do rebuliço de Coroado. Quase ninguém conhecia a filha do coronel na cidadezinha agitada dos garimpos. Desde menina, presa nos limites da fazenda, quando moça fora para o Rio e só agora retornara, professora, para a tranqüilidade das terras do coronel. Comentava-se a beleza, a bondade da filha do coronel – um oásis no clima de violência da fazenda do pai. O carro permanecia parado. No rosto da moça a doçura, a meiguice. Foi isto que mais impressionou João Coragem ao se aproximar do veículo.
JOÃO - (murmurando) Bonita demais...
JERÔNIMO - Quê que ce viu aí dentro, mano?
JOÃO - (despertando do repentino enlevo) Um diamante, Jerônimo. Um rubim daqueles!
JERÔNIMO - Num é o carro de Pedro Barros?
JOÃO - (sem tirar os olhos da moça) É. Mas ela quem é?
JERÔNIMO - Sei lá, João. Vamo simbora. Isso é bamburra demais pra nós.
CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - ALPENDRE - INT. - DIA.
No alpendre da casa grande da fazenda, Estela e Pedro Barros conversavam. Típica construção do interior, com salas imensas, varandas largas, paredes fortemente caiadas e interiores decorados com ostentação e mau gosto. No terreiro algumas galinhas ciscavam á procura de alimento. Vários homens tentavam aquietar a indocilidade de um touro nas cercanias do curral.
Maria de Lara acabava de chegar. Os pais foram ao encontro da filha.
PEDRO BARROS - Então? Gostou da cidadezinha? Muita diferença?
MARIA DE LARA - Não sei, pai. Saí daqui tão criança que nem me lembrava mais. Algumas coisas sim... algumas coisas tinham ficado na minha memória.
ESTELA - Mas a cidade não mudou nada. Aquele mesmo atraso. Aquela mesma gente inexpressiva.
MARIA DE LARA - Sim, mas a miséria do povo... Porquê há tanta miséria, pai, numa região tão rica?
PEDRO BARROS - É a gente que é preguiçosa, não quer trabalhar. Acham um diamantezinho, um olho de mosquito, vem aqui, vendem e só voltam a trabalhar depois que o dinheiro acaba.
MARIA DE LARA - Mas a maioria não é empregada no seu garimpo?
PEDRO BARROS - (titubeando, com visível aborrecimento) É preciso vigiar dia e noite pra não me roubarem. Ontem mesmo um deles engoliu uma pedra. Tivemos de lhe dar uma dose dupla de óleo de rícino e o desgraçado, ainda assim, não devolveu a pedra. Nem com purga, nem com sova. Negro danado...
A criada apareceu anunciando o almoço.
CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - SALA DE JANTAR - INT. - DIA.
Pedro Barros, Maria de Lara e Estela almoçavam.
Os gestos grosseiros de Pedro Barros impressionavam a jovem desacostumada a suas maneiras rudes. Era duro no falar, duro nas expressões. Um pai que não se ajustava ao seu modo de proceder e de ver as coisas.
MARIA DE LARA - (voltando ao tema) O povo de Coroado parece gente muito triste, mesmo vivendo num lugar onde se tem tudo para ser alegre.
ESTELA - Alegre? Aqui? Neste fim de mundo? Isto é um buraco horroroso.
PEDRO BARROS - (eriçando-se) Mas é aqui que eu ganho a vida.
ESTELA - Sim, é aqui que você enche a pança. Mas é aqui que eu enterro minha mocidade, Pedro. Você está podre de rico, mas até hoje eu ainda não vivi. Presa neste desterro sem ver o mundo.
MARIA DE LARA - Papai tem razão. Esse é o negocio dele.
ESTELA - Você diz isso porquê sempre viveu na cidade. Queria que você vivesse aqui. Como eu. Em meio a essa gente porca e ignorante.
Pedro Barros isolara-se do mundo. Nada ouvia. Devorava um frango, mãos ensebadas, tirando dos ossos a carne gorda. Restos de comida caíam-lhe pelos cantos da boca.
ESTELA - (enojando-se com a visão repelente do marido) Ô homem, vê se não se lambuza tanto! Parece um animal.
PEDRO BARROS - Comer frango sem se lambuzar, não tem graça.
Lara se incomodava com as reprimendas e reações da mãe. Via o pai, animalesco, desligado das etiquetas, inteiramente absorvido no ato de comer. A seu lado a mãe - jovem ainda nos seus quarenta anos – revoltada contra anos de maus tratos e solidão forçada.
Lourenço entrou intempestivamente. Era homem de meia-idade – bem conservado, com certo charme – de modos decididos. Sólido como a própria região do garimpo. Entrou com a naturalidade do hábito diário.
LOURENÇO - Boas tardes, coronel. (desconcertando-se um pouco com a presença de Lara) Não sabia que tinha visita.
PEDRO BARROS - (sem levantar os olhos do prato, voz embargada pelo frango gordo) É minha filha Lara. Maria de Lara. Chegou ontem do Rio. Esteve lá estudando. Voltou doutora.
ESTELA - (corrigindo) Que doutora, Pedro. Professora.
PEDRO BARROS - É a mesma coisa. (e voltando-se para a filha) Êsse é o Lourenço, meu braço-direito aqui em Coroado.
Os olhos da moça e os do recém-chegado encontraram-se durante fração de segundos. Das mãos grossas e calosas do capataz sobressaiam dedos fortes. Cabeludos. Lara fixou o brilho dos anéis. Pedras coruscantes, imensas. Lembrou-se da gente humilde das redondezas. Casas de barro, coberturas de sapé, chão de terra. Vidas miseráveis. E das palavras do pai – “...é preciso vigiar dia e noite para não me roubarem...”
LOURENÇO - (dirigindo-se ao coronel) O senhor sabe qual foi a resposta que o patife do João Coragem lhe mandou?
Pedro Barros ergueu a cabeça, atento, limpando os lábios com o dorso das mãos.
LOURENÇO - Ele e o irmão mandaram dizer que vão vender diamantes pros gringos ou pra quem quiser.
PEDRO BARROS - (com uma chispa de cólera nos olhos, levantou-se num repelão) Pois eu quero ver alguém vender diamante pros gringos. Vou pagar pra ver isso.
A ira do coronel crescia amedrontadoramente.
PEDRO BARROS - (desaparecendo pela porta) Juca! Juca Cipó! Onde se meteu esse desgraçado?
LOURENÇO - Fique descansado, coronel. Tou vigilante. Tem homem por todo canto da cidade e eles não vão ser bestas de trair a gente...
Os gritos de Pedro Barros ecoavam no interior da casa.
PEDRO BARROS - (off) “Juca! Moleque safado!”
ESTELA - (dirigindo-se ao homem, com intimidade) Porquê não tem vindo aqui? Esqueceu que eu existo?
LOURENÇO - (num balbucio) Muito trabalho. Muito trabalho.
ESTELA - (parando a poucos passos do capataz, olhos vidrados, voz adocicada) E durante todo este tempo não sentiu um pouquinho de saudade de mim? Jura?
Os berros de Pedro morriam na distancia.
PEDRO BARROS - (off) “Juca! Moleque desgraçado!”
FIM DO CAPÍTULO 2
Diana (Gloria Menezes) e João (Tarcísio Meira) |
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...# LARA SURPREENDE A MÃE E O CAPATAZ, LOURENÇO, BEIJANDO-SE E FICA CHOCADA.
# ENQUANTO COROADO ESTÁ EM FESTA COM A CHEGADA DE DUDA, OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS RESOLVEM IR AO RANCHO DOS CORAGEM DAR UM SUSTO NO VELHO SEBASTIÃO.
# RITINHA SOFRE POR NÃO SER SIDO RECONHECIDA POR DUDA
#MARIA DE LARA FOGE COM O CAVALO DE JOÃO CORAGEM
NÃO PERCA O CAPÍTULO 3 DE IRMÃOS CORAGEM!!!
noooooooooooossa ficou muito bom JE!!!!!!!!!!!!!1
ResponderExcluiraaaaaaadoooooooooorei
Adorei esse capítulo! Tem coisas que eu não lembrava mais e aqui volto a lembrar. Parabéns Toni, está bom demais! Bjs.
ResponderExcluir