Capítulo
10 – Visita inesperada.
Emanuela
acordara um pouco cansada. Já fazia uns dois dias desde que passara mal e fora
para o hospital. Levantou-se da cama e pegou a bolsa. De dentro pode ver a
receita que o médico tinha entregado. Guardou novamente, por enquanto, não
podia comprar. Trocou de roupa e foi para a cozinha. Depois de alguns minutos,
a irmã apareceu sonolenta para o café da manhã.
—
Que milagre você aqui em casa… Não foi você que passou a semana passada toda
procurando por emprego escondida de mim? Onde está aquela garra toda? – disse,
sentando-se na cadeira próxima a mesa.
Emanuela
riu.
—
Ainda chateada com isso? Eu já entreguei muitos currículos… Acho que tenho que
esperar agora. De qualquer forma, eu tenho algumas economias, e se precisarmos
de alguma coisa, com certeza, temos vizinhos que vão nos ajudar.
—
Isso é muito feio. – disse Mariana sorrindo. – Depender assim dos outros.
Emanuela
sentou-se perto da irmã. Mariana parecia um pouco preocupada.
—
O que foi? – perguntou Manu à irmã.
—
Só estava pensando no nosso pai…
—
Eu não sei por que você gosta tanto de chamar o Rogério assim.
Mariana
riu do equívoco da irmã.
—
Não estou falando do Rogério. Estou falando do nosso pai biológico. Você nunca
teve curiosidade de saber de quem se trata?
—
Curiosidade eu tenho, mas convenhamos que é bem complicado descobrir… Você sabe
que tipo de mulher a mamãe era.
—
Eu sei. Mas a Rebeca sempre me falava que a mamãe queria desistir da vida que
levava por causa do nosso pai. Então, eu acho que ela o amava. Se é assim, é
possível que possamos descobrir quem ele era. E se…
—
Não adianta, Mari. – interrompeu Manu. – Mesmo que descobríssemos, você acha
que ele nos aceitaria? Com certeza, ele se recusaria até a fazer um exame de
DNA. Ou você esqueceu de quem somos filhas?
—
Você não pode ter certeza. – Mariana rebateu o comentário da irmã.
Emanuela
compreendia perfeitamente Mariana.
—
Tudo bem, digamos que ele nos aceite. E a família dele? Ele deve ser casado,
ter filhos… Você não acha que a nossa presença traria desconforto? Nós
destruiríamos uma família. Depois, se ele tivesse filhos, com certeza não
gostaria tanto assim de nós...
—
Tudo bem, tudo bem... – interrompeu a irmã – Mas, imagine o lado bom... E se
ele for rico?
Emanuela
olhou para a irmã assustada.
—
Mari, do que está falando? Não sabia que era tão interesseira.
—
E não sou... É só que é sempre bom ver o lado prático das coisas de vez em
quando.
Emanuela
balançou a cabeça negativamente
—
Estou desconhecendo minha própria irmã... Com que tipo de más influências você
está andando, hein?
Mariana
riu.
—
Não digo.
Um
táxi parou em frente à mansão dos Alcântara. A porta foi aberta e uma jovem
senhora com uma roupa muito provocante desceu do carro, logo em seguida,
desceram um menino nos seus seis anos de idade e sua babá. A mulher pagou o táxi
e olhou para a mansão.
—
Parece que não mudou nada… – comentou. – Vai ser muito interessante a estadia
aqui…
—
O que foi, mamãe? – perguntou o menino olhando para ela.
—
Nada. – respondeu fria. – Vamos.
Ao
entrar na casa foi recebida pela empregada.
—
Oi, dona Érica, os patrões estavam esperando pela senhora.
Érica
olhou a mansão por dentro e mais uma vez sentiu uma certa nostalgia.
—
Onde está o Otávio? – perguntou.
A
empregada não soube o que responder. Érica riu alto.
—
Parece que minha fama não ajuda muito, não é? Estava falando do Dr. Otávio e
não do Otávio Jr… Você sabe onde ele está?
—
Acho que ele está no escritório, dona Érica, quer que eu vá chamá-lo?
—
Não precisa. – e olhando para a babá. – Leve o Fabinho para o quarto, por
favor, eu vou conversar com o Dr. Otávio. A empregada vai dizer onde pode
deixar as malas.
A
babá obedeceu, enquanto Érica se dirigia ao escritório. Érica bateu à porta e
depois de ouvir um “ Pode entrar”, ela a abriu. O Dr. Otávio estava conversando
com o advogado, Dr. Tarcísio. Quando Érica entrou, os dois ficaram bastante
admirados com a presença dela.
—
Érica? Você aqui tão cedo? – perguntou Otávio, ainda não conseguindo acreditar
que ela já estava na mansão.
—
Dr. Otávio, assim você me ofende… Não foi o senhor mesmo que pediu para que eu
viesse logo?
—
Talvez ele não sabia que acordaria tão cedo. – comentou o Dr. Tarcísio.
Érica
riu.
—
Dr. Tarcísio, você tem um ótimo senso de humor.
—
Desculpe, mas acho que não fiz uma piada. – disse Tarcisio sério.
Érica
se aproximou do Dr. Tarcísio, se insinuando.
—
Por que me trata de forma tão rude, Tarcisinho?
O
Dr. Otávio pigarreou, tentando avisar que ainda estava ali.
—
Contenha-se Érica. Não gosto desse tipo de brincadeira, principalmente com o
Dr. Tarcísio que tem se dedicado a essa família por muitos anos.
Érica
sentou-se próxima à escrivaninha de Otávio.
—
Tudo bem. Vou parar com minhas brincadeiras… Mas me responda, Dr. Otávio, por
que o senhor precisa de mim? E qual é a condição para que eu fique aqui?
Dr.
Otávio tratou de explicar a condição para aceitar aquela mulher na sua casa.
—
Bem, Érica, preciso da sua ajuda com algo. Eu sei que você fez um curso de
artes cênicas e atuou como atriz durante um tempo.
Érica
riu.
—
Sim, claro... Fiz algumas peças de teatro e alguns filmes também...
Tarcísio
pigarreou, imaginando que tipo de filmes uma mulher como aquela teria feito.
—
De qualquer forma, explicarei o que quero que você faça. – disse Otávio.
—
Eu sou toda ouvidos.
Logo
após Otávio explicar o que ela iria fazer.
—
Ok, Dr. Otávio. Entendi tudo que me disse... – disse Érica - Mas, tenho uma
pergunta, por que o senhor não contratou outra atriz para isso? Não me diga que
o senhor confia mais em mim?
—
Não importa. Eu só quero que mantenha isso em segredo.
Érica
sorriu.
—
Tudo bem então. Agora, me desculpem, estou um pouco cansada. Vou para os meus
aposentos. – disse, levantando-se.
—
Antes que eu me esqueça. – disse Otávio antes que Érica saísse. – Como foi sua
estada nos Estados Unidos?
Érica
riu.
—
Maravilhosa. – respondeu, abrindo a porta e saindo.
Depois
que ela saiu, Dr. Tarcísio pode respirar aliviado.
—
Ainda bem que ela saiu logo…
O
Dr. Otávio riu.
—
Com certeza, aquela mulher sabe deixar um homem sem fôlego.
Tarcisio
parecia pensativo. Otávio resolveu interromper os pensamentos do amigo.
—
Parece que tudo está indo bem. – comentou Otávio rindo. – Mas, o senhor acha
que ela vai conseguir? E se as garotas a reconhecerem depois?
Tarcísio
sorriu.
—
Érica pode ser o que for, mas com certeza ela é uma boa atriz. Vai dar tudo
certo.
Rafael
se encontrou com Fabiano nos corredores do hospital.
—
Então é hoje que ela aparece por lá… – disse Rafael a Fabiano, enquanto andavam
pelos corredores do hospital.
—
É. Ainda bem que passo a minha vida mais aqui do que na mansão.
Rafael
riu do comentário do colega.
—
Você realmente não gosta dela, não é?
Fabiano
ficou calado por um instante.
—
Érica não é exatamente uma má pessoa… Mas, há uma dor muito grande nela que a
faz com que seja cruel às vezes. Não sei como explicar. – e olhando para
Rafael. – Se quiser paz nessa vida, é melhor não se aproximar dela.
—
Do jeito que fala, até parece que foi ela quem terminou daquela vez.
Fabiano
ficou calado, existiam coisas que até seu amigo Rafael desconhecia sobre o
relacionamento dele com Érica.
Mariana
estava assistindo TV. Naquela segunda feira, não havia nada para fazer. Olhou
em direção à cozinha e viu a irmã cozinhando. Olhou para o relógio de pulso.
Parecia que o tempo estava passando muito devagar.
—
Nossa, ainda a pouco eram 11:00 horas, agora são 11: 03... Por que esse almoço
não sai logo? – disse alto para que a irmã escutasse.
Da
cozinha, Emanuela ouviu a reclamação da irmã.
—
Se está achando ruim, então venha me ajudar.
—
Você sabe muito bem que sou péssima em fazer comida. Da última vez, coloquei
açúcar no ovo pensando que era farinha. E quando eu fui inventar de fazer
arroz, por alguma razão ele não desgrudava da colher.
Emanuela
apareceu na sala.
—
Desculpas e mais desculpas... Por que não arruma a casa por enquanto?
Mariana
se esticou no sofá.
—
Por que você só me manda fazer coisas chatas? Por que não diz: “Mari, vai comer
chocolate!” ou “Mari, tome algum dinheiro e vá tomar um sorvete!”.
Emanuela
olhou para a irmã, balançando a cabeça sem esperança.
—
Você é uma criança por acaso? Depois não quer que eu lhe trate como minha
filha.
Mari
levantou-se.
—
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa completamente diferente. Ah...
Que tédio. Pior que hoje não tenho nenhuma aula para dar e ainda tenho que
ficar aqui nessa casa com você.
—
Obrigada pela parte que me toca. – disse Emanuela, voltando para a cozinha.
De
repente, Emanuela voltou.
—
Ah, agora que lembrei. Você pode ir ao supermercado aqui perto e comprar
algumas coisas. Não tive tempo de fazer as compras e algumas coisas já
acabaram.
Mari
levantou-se do sofá com preguiça.
—
O que eu fiz? Eu fiz algo de mal a você? Por que me castiga assim?
Emanuela
semicerrou os olhos.
—
Não reclama. – disse, tirando algum dinheiro do bolso. – Você não queria fazer
alguma coisa? Então, aí está.
Mariana
saiu um pouco a contragosto. Depois de pensar um pouco, não fazia mal,
precisava espairecer um pouco. Apesar de tudo, durante todo o dia estivera com
uma sensação ruim, como se algo muito ruim estivesse prestes a acontecer.
“
Eu não posso ter esse tipo de pensamento” – falou consigo mesma.
Mariana
foi ao supermercado e estava voltando, quando por distração um carro quase a
atropelava. O que a fez cair de susto. O motorista do carro desceu depressa
para socorrê-la.
—
Você está bem? – ele perguntou.
Mariana
olhou para ele e balançou a cabeça afirmativamente, enquanto ele a ajudava a se
levantar. O motorista que era bem jovem olhou para ela.
—
Emanuela? Que coincidência!
Mariana
ia dizer que não era Emanuela, mas a curiosidade foi maior que a sua sensatez.
Estava muito curiosa para saber quem era aquele rapaz. Ele a olhou com certo
mistério.
—
Então, Emanuela... Há quanto tempo! – disse ele.
Mariana
tentou tomar cuidado nas palavras para que ele não percebesse.
—
Sim, há quanto tempo! E-Eu nem lembro quando foi exatamente a última vez que
nos vimos... Mas, me diga, como você está?
—
Bem... Que tal eu lhe dar uma carona para casa? Não está tão longe, mas pelo
menos podemos conversar um pouco no caminho.
—
Ok. Tudo bem.
Mariana
entrou no carro. Não sabia o que estava fazendo, mas não podia deixar de tentar
descobrir que segredos a irmã escondia dela.
—
E aí? Você já está melhor? – perguntou ele.
—
Sim. O carro não chegou a tocar em mim.
Ele
sorriu.
—
Não estou falando disso, estou comentando sobre você ter passado mal naquele
dia.
Mariana
ficou assustada. Emanuela não contara nada sobre aquilo.
—
Do que você está falando? – perguntou confusa.
Fabrício
sorriu disfarçadamente.
—
Nada. Acho que você não lembraria... Mas, me diga, quando vamos ter mais um
encontro daqueles?
O
rapaz olhou para Mariana e sorriu. Mariana ficou um pouco desconfiada.
—
Encontro daqueles? Ah... Encontro daqueles...
—
Você não gostou? Que tal naquele mesmo lugar? Ou...
Fabrício
aproximou o seu rosto do de Mariana lentamente.
—
... pode ser aqui também. Não faz tanta diferença.
Fabrício
se aproximava mais. De repente, Mariana gritou:
—
STOP! Eu não sou a Manu, eu não sou a Manu!
De
repente, Fabrício caiu na gargalhada.
—
Ah, pensei que ia fingir mais um pouquinho...
—
Ah? – Mariana parecia confusa.
Fabrício
ligou o carro.
—
Eu sabia que você não era a Emanuela.
Mariana
respirou aliviada.
—
Como sabia?
Fabrício
ficou confuso por alguns instantes.
—
Não sei. Só sabia que não era ela. Então, você deve ser irmã gêmea dela. Não
sabia que ela tinha uma irmã gêmea.
—
Então... – disse Mariana ainda um pouco confusa. – Não teve um encontro
daqueles?
Fabrício
riu.
—
Não... Do pouco que conheço a Emanuela, acho que ela não é desse tipo de
garota, não é?
—
Tem razão... Mas, como se conheceram?
—
Bem, acho que quando fui a padaria com um grupo de... Ex-amigos.
—
Humm. E, vocês já se encontraram muitas vezes?
—
Acho que algumas vezes... Quando eu a salvei de um cara que a tentava
estrangular e da outra vez quando ela desmaiou e...
—
Espera. – interrompeu Mariana assustada – Do que está falando? Alguém a tentou
estrangular? Ela desmaiou? Quando foi isso?
—
Ela não lhe falou? Bem, acho que não deveria ter dito então...
Mariana
olhou sério para Fabrício.
—
Me fale tudo.
Fabrício
não teve outra alternativa a não ser contar como havia encontrado Emanuela e o
que tinha acontecido em seus encontros anteriores. Quando Mariana ouviu tudo,
permaneceu calada.
Fabrício
parou o carro. Já estava perto o bastante da casa dela.
—
Você parece estar um pouco chocada.
—
Mais que isso... Estou triste porque minha irmã não me contou nada...
—
Acho que ela não queria lhe preocupar.
Mariana
parecia pensativa.
—
Você acha? Acho que é mais do que isso... A Manu tem dificuldade em confiar nas
pessoas... Ela nem sequer confia em mim. Pior que eu nem sei por quê. Depois
que a Rebeca morreu... – parou percebendo que estava falando demais. – Bem,
acho que tenho que ir agora, obrigada pela carona. – disse, abrindo a porta do
carro.
Fabrício
a chamou antes de sair completamente.
—
Entregue isso para ela. – disse entregando um cartão pessoal. – Meu número está
aí. Se ela quiser me ligar...
—
Então, você gosta da minha irmã? – disse, pegando o cartão. – Saiba que ela é
uma garota muito difícil!
Fabrício
sorriu.
—
Diga a ela que pode ligar se estiver precisando de qualquer coisa.
—
Ok, digo sim.
Depois
de se despedir, Mariana foi andando até em casa. Logo que chegou, percebeu que
havia mais alguém com Emanuela. Quando foi para a cozinha teve uma surpresa:
—
Pai?! – exclamou, enquanto via Rogério sentado à mesa.