XXIX
Algumas horas depois, Rosa desce a
escada, seguindo o som das gargalhadas de Fernanda. Claude estava com ela na
cozinha. Segurava um copo com água e fazia bolhas nela com um canudinho. A cada
vez que Claude assoprava e produzia o som, Fernanda o olhava séria e, logo em
seguida, soltava a gargalhada.
- Ensinando coisinhas erradas para ela,
hum, meu amor? Bom dia!
- Oh,oh! Mamãe nos pegou, Borboletinha!
– Bom dia, chérie! Isso non é errado... Só non é politicamente correto, hã? E
ela se diverte tanto com isso!
Rosa pega o copo da mão de Claude,
fingindo estar brava. Fernanda a acompanhava com o olhar atentamente. Então,
Rosa assopra com força, observando a reação de Fernanda. Depois da gargalhada,
ela solta sua fala:
- Mama... mama... papa... papa...
papa...
- E você mais que ela! Rsrsrs - Essa
fase é muito importante mesmo. Daqui pra frente, ela vai participar cada vez
mais das brincadeiras...
-
Eu estou ansioso pra ouvir ela me chamar de papai. Será que vai demorar muito?
-
Tenho certeza que não... tudo que temos que fazer é estimular a conversa,
sempre que estivermos com ela, usando palavras desse mini-mundo em que
ela vive. Por exemplo: A mamãe agora vai fazer o café da manhã pra todos nós,
Borboletinha!
-
Non vai non. Dadi nos chamou para tomar café por lá. Disse que merecíamos um
descanso depois de tantos contratempos...
-
Mas eu tenho que dar mamadeira pra ela e...
- O
papai aqui já fez tudo isso que você vai falar, hã? Já dei banho nela e fiz sua
mamadeira também, que por sinal ela tomou até o fim. – Diz, tirando Fernanda da
cadeirinha – Non é verdade, filha?
Como
se entendesse, Fernanda bate palmas. O celular de Claude emite o som de
mensagem. Ele tira o celular do bolso. Fernanda tenta pegar o celular das mãos
dele.
-
Non. Isso non é brinquedo, Borboletinha! – É Janete, chérie! Eston nos
esperando. Non, filha, esse você non pode pegar, hã? – Repete Claude,
pacientemente, balançando a cabeça diante da insistência de Fernanda.
-
Nã? – Repete, imitando o gesto do pai, enquanto vão para a casa-sede.
A
mesa do café estava posta, faltando apenas Claude e Rosa ocuparem seus lugares.
Dadi leva Fernanda para a varanda.
-
Filho, a comissão da festa deixou um agradecimento especial a você. – Fala
François - Fizeram um balanço superficial e essa foi uma das melhores festas
dos últimos anos. Assim que o balanço real for feito, eles divulgarão.
- D’accord.
Esse pessoal trabalha rápido, já eston desmontando tudo. A vida da fazenda vai
voltar ao normal. – Claude responde.
-
Ainda bem que esse incidente com Nara não espantou os turistas... – Comenta
naturalmente Janete. – E que nada de ruim aconteceu à Rosa.
- Foi só um grande susto mesmo, Jane. Ainda bem que meus pais não
vieram para a festa.
-
Você vai contar a eles sobre isso? – Pergunta Joanna.
- Melhor
não, Joanna. Seria preocupá-los à toa, não concordam?
Tia
Elisabeth complementa:
-
Tem razão, darling. E por falar em Nara, ainda que seja desagradável, como vai
ficar a situação deles no Brasil, Claude?
-
Voilá! Edmond acionou a embaixada francesa. Todas as providências seron tomadas
por eles daqui para frente através do consulado francês de Campo Grande.
-
Filho, como foi esse acidente? Nara estava ao volante?
-
Non, papai. Nara estava no banco do passageiro. E non usava o cinto de
segurança. Edmond contou-me, antes de ser totalmente sedado, que Nara teve uma
crise histérica, queria voltar para a fazenda e como Edmond non retornava, ela
puxou o freio de mão. Ele perdeu a direçon, capotou várias vezes e ela acabou
arremessada para fora do carro.
- Se
ela estivesse com o cinto, estaria bem menos ferida e comprometida. A maioria
das sequelas será devido às várias vezes que bateu contra o console, o vidro e
o interior do carro, como disse o policial – Completa Frazão.
-
Por mais mal que ela tenha feito ou desejado a mim, eu não consigo sentir raiva
dela. Sinto pena... – Diz Rosa.
-
Você tem um coração muito puro, Rosa. Eu acho que ela mereceu esse “castigo”.
O que ela fez a você, ou tentou fazer, não foi pouco não! Eu acho mesmo que ela
devia ter morrido! – Fala Janete.
- Eu
não entendo por que foi que o Edmond casou-se com Nara, sabendo do caráter
dela... – Comenta François.
- E
eu não acredito que estamos perdendo tempo com Nara mais uma vez, desperdiçando
nossa energia neste café da manhã fabuloso que Dadi preparou.
- Tem razão, Elisabeth. – Concorda Joanna – Vamos falar de coisas
mais agradáveis... Por exemplo, o aniversário de Fernandinha! Rosa, já resolveu
o tema da festa?
E
daí em diante o assunto foi a festa de aniversário de Fernanda, que se
aproximava.
O
resto do dia, Claude e Rosa passam colocando em ordem as faturas, pedidos e
demais documentos da festa e dos turistas que passaram pela fazenda no escritório
da casa-sede. Vistoriaram os chalés e anotaram eventuais reparos a fazer.
No
final da tarde, quando já estão mais folgados, Rosa diz:
-
Claude, eu queria muito ver Chantal. O que você acha?
- Eu
acho que você deve mesmo fazer um agrado a Chantal... Ele foi muito cuidadoso
contigo, gatinha... Apesar de estar incomodado, non derrubou você.
-
Então, eu acho que vou dar um banho nele! Assim, eu agradeço o seu esforço em
me manter em cima dele, refrescando-o desse calor.
-
Voilá! Eu encontro contigo em alguns minutos, oui? Vou telefonar ao hospital
para saber de Edmond e de Nara... Sabe, chérie, Edmond confessou-me que non
casou por gostar de Nara. Ela o chantageou.
- De
que forma? – Pergunta Rosa, aproximando-se de Claude, que a abraça. Rosa
descansa sua cabeça no peito dele.
-
Edmond tem vários contratos com estatais francesas. Superfaturamento, caixa
dois, lavagem de dinheiro... Nara juntou alguns documentos que provam essas
falcatruas e ameaçou torná-las públicas, caso Edmond non se casasse com ela. E
como ele vai ser candidato a um cargo político...
Rosa
afasta o rosto, olhando para Claude:
-
Acabou concordando para evitar um escândalo e não perder nas urnas...
- D’accord.
– Confirma, girando Rosa até enlaçá-la pela cintura.
- E
agora, com Nara nessas condições?
- Se
eu bem conheço Edmond, ele vai usar isso a seu favor. Vai conquistar a opinion
pública no papel de marido dedicado à mulher inválida... E vai se eleger.
- Meu Deus! Essas dois realmente se merecem!
-
Falando em merecer, eu acho que mereço um beijo – E inclina sua cabeça na
direção dos lábios de Rosa. – Quando o beijo termina, ele diz – Amo você,
gatinha...
-
Também amo você, gatão! – Diz sorrindo - Eu vou trocar de roupa, por um
short, pra dar banho nele.
-
Iremos ao seu encontro em instantes, oui?- Diz, soltando-a.
-
Iremos? – Pergunta Rosa, não entendendo.
-
Borboletinha e eu, chérie. Passaremos o fim de tarde em família, hã?
Mas
Claude acaba levando mais tempo que o pretendido ao falar com os médicos.
Quando ele finalmente chega com Fernanda, Rosa está no curral cercado com
Chantal.
Rosa
fazia agrados em Chantal, passando as mãos pelo pescoço do animal, que parecendo
entender seu gesto, retribui o abraço, passando uma das patas em volta do corpo
de Rosa, apoiando sua cabeça sobre os ombros dela.
Momento único e incrível, registrado por Claude, que levara a
câmera de Rosa para fotografar Fernanda.
Depois
de fazer a foto, Claude aproxima-se de Rosa.
-
Assim eu vou ficar com ciúmes, Chantal! – Fala, acariciando-o – Eu sei que você
agiu como um cavalheiro, hã? Mas Rosa é minha, d’accord?
Em
resposta, Chantal balança a cabeça para cima e para baixo, soltando um ‘prrrruhh’
seguido de um ‘irriiirriiirr’, como se concordasse com Claude.
Fernanda
atenta ao som, tenta imitá-lo e estende as mãos em sua direção, querendo tocá-lo.
-
Isso, Borboletinha, faz carinho nele, filha... – Diz Claude incentivando-a –
Está vendo, Chantal? Você está conquistando as duas mulheres de minha vida, hã?
Você ainda non deu banho nele, chérie?
-
Quando eu cheguei, Ramiro tinha acabado de dar... Então, eu vim com ele aqui,
aproveitar esse restinho de sol. Claude, o que está fazendo? – Pergunta, ao
vê-lo colocar Fernanda sobre Chantal. – Ela ainda não tem equilíbrio
suficiente!
- Eu
non vou soltá-la, Rosa. Quero apenas que ela cresça sem medo. Por que você non
faz umas fotos dela?
Algum
tempo depois, eles levam Chantal de volta à sua baia e retornam para casa.
Fernanda estava com fome e Rosa resolve alimentá-la antes do banho. Exausta de
tanto brincar pelo chão de terra do curral, acaba dormindo, tão logo Rosa lhe
dá um merecido e necessário banho.
-
Acredita que eu tive que esperar Borboletinha dar tchau para a água da banheira
até que acabasse de escoar? – Fala Rosa, entrando no quarto com a roupa toda
úmida.
-
Você deu banho em nossa filha ou ela em você, gatinha? – Fala Claude com um
sorriso zombeteiro nos lábios.
- Muito engraçadinho! – Rosa faz uma careta pra ele. - Alguém ensinou
a ela a bater na água da banheira, sabe? Resultado: eu e o banheiro nos
molhamos mais que ela. Eu devia fazer você limpá-lo agora! – Diz, entrando no
banheiro.
-
Mon Dieu! Que mau humor é esse, hã? – Claude vai atrás dela - Eu até ajudo
você... – Diz, sentando-se na borda da banheira, enquanto Rosa recolhia as
roupas de Fernanda - Mais tarde, depois que você entrar comigo nessa banheira,
d’accord?
E
puxa Rosa de frente para si, forçando-a gentilmente a sentar-se sobre suas
pernas. E a passar os braços pelo seu pescoço para equilibrar-se.
-
Hummmm... – Sussurra Rosa, com o corpo trêmulo – Você vai ensinar-me alguma
coisa também?
As
mãos dele entram suavemente por baixo da camiseta de Rosa, fazendo-a
estremecer, enquanto subiam por suas costas.
-
Non... Eu prefiro ver o que você já aprendeu, gatinha... – E a aperta contra
seu corpo pressionando-a sobre si.
E o
resto do banho foi quente, não pela temperatura da água, mas sim de seus
corpos, vagando pela imaginação, onde o real já não existe mais, apenas o
desejo de terem um ao outro, de serem um do outro...
Continua...
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