terça-feira, 7 de maio de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 25 - AUTORA: SÔNIA FINARDI


XXV

- Eu sinto tanto interromper vocês, mas meu marido quer te cumprimentar, Claude! - A irônica voz de Nara atravessou o momento.
- Nara! - Diz Claude, afastando-se de Rosa, sem olhar em sua direção - Non sabia que estava por aqui novamente. – Fala como se a ignorasse.
- Nara insistiu em passar nossa lua-de-mel no Brasil.
Claude escutou aquela voz carregada no sotaque francês e apertou os lábios. Era muita audácia de Nara. Olhou para o dono da voz e disse:
- Edmond Bouygues! - Disse sem nenhuma emoção na voz – Enton Nara, conseguiu o que queria? – Sua voz passou a ter um tom tão irônico quanto o de Nara. – Casar-se com um engenheiro francês...
- Ah, Claude, não me diga que agora está com ciúmes? – Pergunta Nara, divertindo-se com a situação.
Rosa fecha as mãos, apertando-as até sentir as unhas entrarem em sua pele. Nara era realmente insuportável e mesquinha.
- Pardon por decepcioná-la, Nara, mas você non é o centro da minha atençon. Ciúmes é algo que sentimos do que amamos. Mas non creio que sua mente pequena vá entender isso. – E sem dar tempo de resposta, enlaça Rosa pela cintura e continua - Rosa, mon amour, esse é Edmond Bouygues, engenheiro que atua nas áreas de telecomunicações e construçon civil. É a maior empresa do ramo da França. Digamos que eu era seu adversário antes de vir para o Brasil.
- Muito prazer, Sr. Bouygues. É uma honra tê-lo em nossa festa. – Responde Rosa o mais educadamente possível.
- O prazer é meu, Srª Geraldy, encantado! Nara, devia ter sido mais honesta ao se referir à senhora. – Diz de maneira simpática.
Nara fica visivelmente contrariada e diz de maneira desdenhosa:
- Oras, eu apenas disse o que vi. Que a esposa de Claude era uma mulher simples e comum.
- Pelo que eu vejo, Nara querida – Diz Edmond – de simples e comum, ela não tem nada. – E voltando-se para Claude, continua - Claude, eu soube que vocês venderam a Construtora Geraldy. Devia tê-la me oferecido, esquecendo nossas diferenças...
- Eu até faria isso, Edmond. Mas a oferta foi ton boa e num momento especial de minha vida, que non pensei duas vezes. E non me arrependo. Rosa e nossa filha son o que existe de mais importante para mim.
- Eu adoraria ter um filho, mas Nara não quer. Insistiu até em colocar isso em nosso contrato pré-nupcial.
- Uma pena, Edmond. Fernanda, minha filha, é meu melhor projeto, hã? Ser pai é uma experiência fantástica!
- Quem sabe um dia sua esposa, mude de ideia, Sr. Bouygues. – Diz Rosa gentilmente.
- Não conte com isso, querida! Eu não vou arruinar meu corpo só para satisfazer um desejo de outra pessoa.
- Tenho certeza que non, Nara. Você é egoísta demais para isso e mestre em arruinar pessoas. – Retruca Claude, referindo-se aos seus projetos roubados por Nara...
- Vocês fizeram reserva? Não lembro de ter visto seus nomes em nenhuma lista de hóspedes dos chalés... – Diz Rosa, tentando mudar o rumo da conversa.
- Oh, não, minha cara! Foi coincidência encontrarmos alguns amigos no mesmo voo para o Brasil. Quando comentaram para onde e porque estavam vindo, aqui no Brasil, Nara fez questão de passar por aqui para apreciar esta festa, que por sinal está perfeita, Claude. Parabéns!
- Non é minha festa. É um projeto do Clube do Laço e da Prefeitura da cidade. Eu apenas cedi a fazenda e assinei como responsável técnico pelas instalações... Eu non tenho por hábito fazer sucesso com projetos alheios, Edmond.
- Claude, Claude! Você ainda não esqueceu aquela pequena espionagem industrial da qual foi alvo...
- Pequena? Você descaradamente se apossou e usou o meu projeto e eu fui acusado de plágio! Quase perdi minha licença como engenheiro, hã? Quer saber? Você e Nara se merecem! Aproveitem o fim da noite. - E sai dali com Rosa.
Caminharam até a casa da piscina em silêncio. Rosa sentia a tensão de Claude pelo modo como a abraçava. A presença de Nara e seu marido não fazia bem a nenhum dos dois, pensava ela, enquanto entravam em casa.
Rosa vai direto ao quarto de Fernanda e dispensa Dadi, que fizera questão de ficar com a menina.
- ...e obrigada de novo, Dadi. Amanhã, você vai aproveitar a festa e se divertir, ok? A Fer vai comigo, não pretendo ficar muito tempo por lá. – Diz, enquanto acompanha Dadi até a porta.
Vai para seu quarto. Claude saía do banho.
- Claude... Está tudo bem, meu amor? Você parece irritado.
- Non é irritaçon, Rosa. Estou inconformado com a cara de pau de Edmond e Nara, hã? Depois de todo mal que me fizeram, agem como se fossem meus melhores amigos!
- Creio que até amanhã não irão estar mais aqui... Eu vou tomar um banho também, já volto.
- D’accord. Enquanto isso, vou dizer boa noite à nossa borboletinha, oui?
Minutos depois, quando Rosa sai do banho, escuta Claude falando ao celular.
- Como é que é Dadi? Ela insiste em ficar na casa da fazenda? Mas era só o que faltava! Estou indo aí.- Diz, desligando o celular.
- Quem quer ficar na casa da fazenda, Claude?
- Nara. É uma abusada mesmo. Disse que se non temos chalés disponíveis, ela tem o direito de passar a noite na casa, como amiga que é da família e como meus pais já eston dormindo, Dadi non soube o que fazer.
- E você vai até lá? Deve ser exatamente o que ela quer! – Diz Rosa sentida.
- Ah, non gatinha! Sem crise de ciúmes, hã?
- Ah, ok... Pensei que tinha o direito. Afinal “ciúmes é algo que sentimos do que amamos”. – Repete o que Claude dissera à Nara, sentando na cama.
- Voilá! - Claude senta-se ao lado dela – Enton, como você me ama, tem o direito de sentir ciúmes. Mas non viaje na maionese, hã? Eu vou lá apenas para evitar mais problemas. Quer ir comigo?
- Não... Não podemos deixar nossa borboletinha sozinha. Além do que... Não gostaria de ver Nara nunca mais. Eu acho até que nem mesmo o seu amigo merecia esse castigo...
- Ainda bem que ele non é meu amigo. E non gostei do modo como olhou pra você... Parecia o lobo mau olhando para a Chapeuzinho Vermelho.
- Opa! Tem mais alguém com ciúmes por aqui? – Diz Rosa, sorrindo.
- Direitos iguais, chérie. Eu a amo, logo tenho o direito, d’accord? E se você estiver acordada, quando eu voltar, vou fazer mais do que apenas falar que te amo. – Claude diz, levantando-se e passando os dedos pelo rosto de Rosa carinhosamente.
Quando já está saindo do quarto, escuta Rosa chamá-lo:
- Claude...
- Oui, gatinha? – Pergunta, voltando-se para ela.
- Se eu estiver dormindo... você me acorda?
- Seu desejo é o meu desejo, gatinha... – Diz, piscando para ela e saindo para a casa da sede.
Quando chega, tanto François quanto Joana haviam descido, pois Nara estava visivelmente descontrolada e exigia em alta voz ser hospedada na casa. Considerava-se amiga "íntima" da família e não iria se arriscar na estrada àquela hora da madrugada.
Edmond tentava acalmá-la e trazê-la de volta à razão, mas isso só fazia com que Nara se exaltasse ainda mais. François, sem ver outra alternativa, acaba concordando com o pernoite de Nara, que ameaçava até convencer o grupo de amigos franceses a abandonar a fazenda, cancelando a estadia. Como o grupo tinha várias atividades agendadas pagas à parte da festa, Claude, embora contrariado, acabou concordando.
No dia seguinte, Nara engenhosamente uniu- se ao grupo francês e todas as suas atividades diurnas, como trilhas com passeios em cachoeiras e nascentes, tendo Claude e Rosa como guias.
Nara insinuava-se para Claude deslavadamente, criando um clima tenso e desagradável.
À noite, Claude e Rosa não tinham compromisso com a festa, de maneira que puderam aproveitá-la ao lado de Fernanda.
Tia Elisabeth também chegou, pela manhã, no segundo dia da festa. E sem cerimônias instalou uma tenda mística: búzios, tarô, runas, bola de cristal, I ching, oráculo indiano, moedas, mandala, cabala, numerologia... Tudo que permitisse uma previsão sobre o futuro.
Cobrava um valor simbólico de dois a cinco reais e o total arrecadado seria repassado a uma entidade beneficente do município.
A tenda foi o maior sucesso. Como dizia tia Elisabeth, mesmo quem não acredita sempre tem a curiosidade de saber sobre o futuro.
Nara também tinha. E foi se consultar logo no início da noite. Tia Elisabeth concentrou-se e tentou afastar toda antipatia que sentia por Nara, pois sabia que o emocional poderia interferir em suas intuições durante a leitura das cartas do tarô, o oráculo que Nara havia escolhido.
Elisabeth embaralha as cartas e as coloca em forma de leque sobre uma toalha vermelha com símbolos místicos que cobria a mesa redonda. Pede a Nara que escolha três cartas, um dos métodos de adivinhação através do tarô.
Depois de escolhidas e retiradas do leque, tia Elisabeth as revela, virando-as com a imagem para cima.
- O Papa, a Lua, o Carro... – Diz pausadamente, balançando a cabeça de um lado para outro – A carta do Papa significa que você deve buscar seu equilíbrio em valores religiosos... porque as mudanças quando surgem vão trazer crescimento e evolução, através do desenvolvimento de princípios como o altruísmo, a paciência e a serenidade. A carta da Lua! - Continua Elisabeth - Representa os medos, as ansiedades e as emoções em conflito, que a paralisam diante de uma tempestade emocional e pede a você que busque a tranquilidade através do relaxamento e da paz interior. A terceira carta, o Carro... Incrível! Fala exatamente sobre isso que você precisa ter: equilíbrio entre corpo, mente e emoções e no controle consciente dos impulsos agressivos.
- Não entendi absolutamente nada, Elisabeth! Poderia ser mais clara?
- Basicamente, darling, as cartas estão aconselhando você a usar sua sabedoria para ajudar a si mesma, pois, não se pode alcançar a vitória a qualquer custo, sem considerar o outro, tendo como objetivo apenas a satisfação do próprio ego.
- Quanta balela! Nem sei por que me dei ao trabalho de ouvir essas asneiras!
- Se você pensa assim, meu bem, acaba de confirmar o que elas disseram – Diz, apontando as cartas - A verdade está aqui...
- Bobagem! Eu nem acredito nisso! Foi só por curiosidade que vim! – Diz, levantando-se, jogando uma nota de dois dólares sobre a mesa e dando alguns passos para trás.
- Pois bem, eu vou tirar uma última carta para confirmar essas advertências... ou não! – Fala Elisabeth e puxa uma outra carta do leque, sorrindo vitoriosa. - Os enamorados! - Nara para e se volta para Elisabeth - Dúvida para realizar escolhas... para encontrar dentro de si a força de assumir, sozinha, a responsabilidade por qualquer ação que pratique... O que você está tramando, Nara?
- Elisabeth! Não se deixe levar por essas suas crendices... Eu estou apenas em lua-de-mel... Obrigada por me fazer perder meu tempo com essas babaquices!
Nara caminha para sair da tenda. Mas antes de sair, ainda escuta as últimas palavras de Elisabeth:
- Cuidado com seus pensamentos, Nara! Alguém sensível o suficiente pode escutá-los... Não se esqueça da lei do retorno. Imaturidade e recusa em responsabilizar-se pelos próprios atos só lhe trarão complicações. Lembre-se que a paz só pode ser alcançada através de atitudes conscientes.
Nara olha para Elisabeth e diz, antes de sair rapidamente da tenda:
- Não acredito em nada disso. Então, nada disso é verdade para mim, Elisabeth.
Assim que Nara sai, Elisabeth recolhe as cartas e as joga rapidamente. Sua expressão é de consternação, quando examina as novas cartas, que tirara pensando em Claude e Rosa.
Preciso adverti-los... Mesmo que achem isso uma bobagem. As energias de Nara não são nada boas... para ninguém. Nem para ela mesma. Meu consolo é saber que Nara terá que assumir a responsabilidade por suas escolhas” – Pensa, recolhendo todas as cartas.

Continua...




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