segunda-feira, 20 de maio de 2013

WEBNOVELA - LAÇOS - CAPÍTULO 9 - AUTORA: JULIANA SOUSA

Capítulo 9 – Ameaças

— O que está fazendo aqui? – Mariana perguntou mais uma vez aquele homem que há muitos anos não via.
O homem que estava sentado confortavelmente se levantou. Era baixo e tinha a barba por fazer, parecia estar nos seus cinquenta anos. Olhou Mariana de cima a baixo e sorriu de forma maliciosa.
— Como você está, lindinha? – perguntou, se aproximando de Mariana e tocando em seu rosto. – Tão linda quanto a sua mãe biológica… Você tem potencial, sabia?
Mariana se desvencilhou do homem.
— O que está fazendo aqui? Nós não temos nada a ver com você! – disse Mariana nervosa.
O homem voltou a se sentar. Parecia ter tomado conta do lugar.
— Por que me trata de forma tão rude? – disse ele, pegando um cigarro e acendendo. – Afinal, eu sou quase seu pai, não é?
Mariana virou o rosto, não conseguia olhá-lo nos olhos.
— Meu pai? – disse irônica. – Com certeza, você é a última pessoa que eu gostaria que fosse meu pai… Um homem que se aproveita das mulheres para ganhar dinheiro…
O homem riu.
— Eu sou apenas um empresário. A diferença é que os produtos são os corpos daquelas vadias. – e olhando para ela. – E como eu disse, você tem potencial…
Mariana não conseguia olhar para ele. Ela sentia náuseas só de saber que ele estava ali.
— Por que você está aqui? – perguntou. – Se não tem nada o que fazer, você deveria ir embora!
— Eu quero perguntar uma coisa… Estou muito curioso… Por acaso, você encontrou com o Rogério?
Mariana se espantou.
— Meu pai? Por… por que pergunta isso? O que ele fez? – perguntou nervosa.
O homem se levantou com raiva.
— Aquele cara! – disse jogando o cigarro no chão e pisando. – Ele anda roubando as minhas vadias! Quando eu o encontrar, eu juro que vou matá-lo! – e rindo. – Bom, é claro que eu não vou sujar minhas mãos…
— Como!? – Mariana estava estarrecida. – Vo… Você vai mandar… Por favor, não faça isso… Por favor.
O homem olhou para ela.
— E você acha que vou perdoá-lo! – disse rindo. – Ele vai me pagar. Aquele maldito! Denunciou um dos meus pontos! Você sabe o prejuízo que eu tive para comprar todos aqueles lixos da polícia? – disse, sentando-se novamente. – É, preciso tirar ele do meu caminho…
Mariana estava perplexa com tanta crueldade. Ele conhecia aquele homem muito tempo e muitas vezes o vira batendo na mulher que criara ela e sua irmã.
— O que eu posso fazer para que você não faça mal a ele? Você não está falando sério, está? –perguntou Mariana nervosa.
O homem riu.
— Se você ou sua irmã quisesse trabalhar comigo, com certeza eu poderia esquecer o que ele fez…
Mariana se sentiu enojada com tal proposta.
— Nunca! Como você propõe uma coisa dessas?!
— Como você é ingênua, minha doce Mariana… A vida é assim. – levantou-se e se aproximou dela, tocando-lhe no rosto. – Tão linda. Se você aceitasse trabalhar comigo, não viveria nessa miséria. Com certeza, conseguiria bons clientes para você. Homens com tanto dinheiro que você nem consegue imaginar.
Mariana estava com os olhos vermelhos. Nunca sentira tanto desprezo por uma pessoa.
— Eu vou indo… – disse ele se dirigindo para a porta. – E diga ao seu “querido pai” que se ele não me pagar de alguma maneira, eu não vou cansar até ver aquele idiota morto. – e sorrindo. – Mas se quiser aceitar minha proposta, me procure, você sabe onde.
Viviane entrou em casa. Acabara de chegar, quando sua mãe que estava na sala lhe falou.
— Vivi, onde foi? – perguntou, enquanto lia um jornal. – Você não avisou mais uma vez que iria sair… Fiquei preocupada.
— Desculpa. Mas não precisa se preocupar tanto. Fui visitar o tio Fabrício… – disse, esparramando-se no sofá.
Gabriele deixou o jornal de lado e olhou para a filha.
— Tem certeza que foi para visitar seu tio? – perguntou Gabriele, olhando para a filha. – Eu lhe conheço muito bem, minha filha.
Viviane riu.
— Tem razão. Fui ver o Dr. Rafael… Por quê?
Gabriele suspirou, não sabia como lidar com a filha.
— Vivi, você não deveria importuná-lo. Acho que não é certo uma mulher viver atrás de um homem, principalmente uma garota como você… Ele não é muito mais velho que você?
Viviane assoprou como que impaciente.
— E daí, mãe. Hoje em dia, existem muitos casais com grande diferença de idade! E se dão muito bem. Está até na moda! – disse, dando de ombros. – E o Dr. Rafael é realmente impressionante.
— Eu sei. Mas, você tem se comportado como uma criança mimada. É só notar o jeito como você se comporta… E além do mais, acho um exagero você ir ao hospital quase três vezes por semana… Eu penso que isso não seja certo, minha filha.
Viviane levantou-se chateada.
— Por que você não me apoia? Eu gosto dele! Será que você não entende?
— E ele gosta de você, Vivi? Eu acho que você deveria dar uma chance para o Gabriel, ele é um rapaz direito, de boa família…
— Gabriel… De novo. Eu até o suportaria mais se a senhora não falasse tanto dele…  – interrompeu Viviane. – A senhora acha que estamos em que século? Eu não vou namorar com quem a senhora quer. Eu vou ficar com quem eu gosto. E com licença, eu vou para o meu quarto.
Antes que Vivi saísse da sala, Gabriele avisou.
— Antes que eu me esqueça. – disse, pegando uma revista na mesa de centro. – Seu avô está no escritório e pediu para vê-la.
Gabriele respirou fundo.
— Tomara que não seja sobre as netas bastardas dele! Que saco!
Gabriele olhou para a filha assustada.
“Onde ela aprendeu esse linguajar?” – perguntou a si mesma.
Já passava das sete horas da noite, quando Emanuela chegou em casa. A porta estava aberta indicando que a irmã já estava em casa. Quando entrou, percebeu que a irmã estava sentada na sala assistindo televisão.
— E aí, como foi seu dia hoje? – perguntou Emanuela a Mariana.
Mariana olhou para a irmã.
— Você chegou?  Como foi o seu dia? – perguntou, desligando a tevê.
Emanuela riu.
— Bem... Normal. Ah, você sabe. As exigências da chefe, as maluquices da Tati... Essas coisas.
Mariana olhou sério para a irmã.
— Você quer mesmo que eu acredite nisso?
Emanuela ficou um pouco assustada.
— Do que está falando?
Mariana parecia chateada.
— Eu liguei para a padaria... E adivinha quem atendeu? A dona. Eu perguntei por você e ela disse que você não trabalhava mais lá e que já tinha sido demitida há quase uma semana.
Mariana olhou nos olhos da irmã. Parecia séria.
— Quando ia me contar?
— Ah... Desculpa, não é que eu queria lhe esconder isso...
Mariana se levantou.
— Até quando vai me tratar como se eu fosse uma criança que tenho que ser poupada de tudo? Você acha que eu não percebo essa mania que você tem de tentar me proteger?
Emanuela desviou do olhar da irmã.
— Você sabe que não é bem assim... Eu só achei que eu iria encontrar um emprego melhor logo em breve. Eu só não quero que se preocupe. Só isso. Você sabe...
— Eu não gosto disso. – interrompeu Mariana. – Eu não sou sua filha, sou sua irmã. Você não tem a obrigação de cuidar de mim… Não tem a obrigação de me proteger. Me diga, onde foi parar aquela minha irmã que mandava eu parar de chorar, que mandava eu ser forte, que sempre dizia para eu me levantar sozinha? Por que sempre tenta me proteger?
Emanuela não entendia a reação da irmã. Não sabia como aquela discussão tinha chegado naquele ponto.
— Mariana, por que está falando assim?
Mari levantou-se para ir para o quarto.
— Se eu depender tanto assim de você, como eu vou resolver sozinha os meus problemas? Será que você não pensa nisso?
— Desculpa. – pediu Manu, ainda não entendendo a reação da irmã. – Eu não sabia que não gostava do modo como eu a tratava. Eu prometo, não vou mais esconder qualquer assunto de você...
Mariana ficou calada por um instante.
— Esqueça. Vou para o quarto. – disse saindo.
Emanuela olhou para a irmã, enquanto ela saia.
“O que deu nela? Mariana não é de falar assim…” – pensou.
Viviane bateu a porta do escritório e entrou. O Dr. Otávio estava sentado na cadeira, olhando para a janela lá fora.
— Hoje, a noite está bem agradável, não é, Vivi? – comentou sem olhar para a neta.
Viviane sentou-se na cadeira.
— O senhor até que é bem poético, não é, Dr. Otávio?
O Dr. Otávio olhou para Viviane e apesar de ver uma moça já formada na sua frente, pode ainda notar uma criança mimada.
— Não me diga que você ainda está magoada comigo?
Viviane olhou para o lado, tentando evitar o olhar do avô.
— E o que o senhor pensa? De repente, o senhor quer trazer duas bastardas para essa casa… Como se eu não tivesse problemas o bastante!
Dr. Otávio olhou sério para a neta.
— Viviane, eu não gosto que você fale assim! – disse ele, repreendendo-a. – Já basta Otávio Jr. com essas atitudes mesquinhas! Não tente imitá-lo.
— E já está defendendo elas! – comentou Vivi.
— Não me responda! – disse Otávio severamente. – Quantos anos você acha que tem?
Viviane ficou séria de repente.
— Me desculpe. Foi um descuido meu.
O Dr. Otávio respirou profundamente tentando se acalmar, Viviane estava passando dos limites.
— Eu a chamei aqui, por que eu quero que você avise a todos que Érica vai voltar a morar nessa casa.
Viviane ficou boquiaberta.
— O quê?! Aquela mulher insuportável? O que senhor acha que está fazendo, vovô!?
— Só me obedeça, por favor, Viviane.  Ela virá daqui a dois dias. Então, prepare tudo para que ela se sinta bem.
— Tudo bem. Se é assim que o senhor quer… Todos saberão ainda hoje as boas notícias. – disse levantando-se.
Viviane saiu. Dr. Otávio pensou consigo mesmo que Viviane tinha sido mimada demais por ele. Ficou preocupado com a reação dela quando as suas outras netas chegassem.
Otávio Jr., logo que chegou à mansão foi recebido por Camila. Ele pode perceber certa preocupação no olhar de sua esposa.
— O que aconteceu? – perguntou, já ficando preocupado.
— Vamos para o quarto… Lá teremos mais privacidade. – pediu a mulher.
Os dois foram para o andar de cima onde ficavam os quartos.
— Temos um problema… – disse a mulher logo ao entrar no aposento.
— O que foi agora? – perguntou Otávio Jr, sentando-se em uma poltrona. – Não me diga que o meu pai aprontou mais uma vez.
Camila respirou fundo. O que ia falar com certeza deixaria o marido nervoso.
— O seu pai vai consentir que Érica more aqui.
Otávio ficou pálido de repente, não podia acreditar no que ouvia.
— Você está falando sério? Onde foi que ouviu isso?
Camila sentou-se na cama. Otávio Jr. levantou-se e ficou andando pelo quarto.
— Viviane foi encarregada a dizer a todos da família. E aí, o que vamos fazer?
— Ela é muito esperta, com certeza vai descobrir o que estamos planejando… Se bem que as coisas não estão saindo exatamente como eu pensei.
— Tem razão. – suspirou Camila. – Trazer as duas netas ilegítimas para morar aqui conosco… Nunca imaginei que seu pai fizesse isso, no máximo, pensei que ele ia dar uma casa para as duas morarem.
— Mas podemos usar isso a nosso favor. – disse Otávio Jr. pensativo. – Mantendo elas mais perto, fica mais fácil monitorar o movimento das duas. De qualquer forma, o problema mais urgente não são as filhas do Jorge e sim a Érica e aquele pirralho.
— Eu não acredito que ela vá comentar qualquer coisa sobre o que fizemos há cinco anos ou sobre outras coisas, afinal ela também foi beneficiada… – comentou Camila.
Otávio sentou-se mais calmo.
— Você pode ter razão, mas se tratando daquela mulher, podemos esperar qualquer coisa.
— O que me intriga mais é o Dr. Otávio trazer ela para vir morar conosco. Me parece divergente de suas atitudes comuns… Ele que sempre reprovou a personalidade dela…
— É, mas ele tem uma boa desculpa para permitir que ela more aqui. Ela também é uma Alcântara e de alguma forma também vai ser incluída no testamento. – disse ele, sentando-se ao lado da esposa.
Camila ficou em silêncio por um instante.
— Otávio, estive pensando em algo… – disse Camila com o olhar distante. – Você acha que com a presença de Érica aqui, aquela outra pessoa pode voltar dos Estados Unidos?
Otávio ficou sério.
— Eu não sei. Por que a pergunta?
Camila olhou para o marido com receio nos olhos.
— Tenho medo, se ele descobrir o que fizemos… Afinal, ele é a segunda pessoa com mais ações do grupo… Ele não é alguém que perdoaria assim…
— Tem razão. – concordou preocupado. – Só eu, você e a Érica sabemos do que o tio Marcos é capaz.
— E é por causa disso que tenho tanto medo.
Otávio Jr. tentou afastar aqueles pensamentos.
— De qualquer forma, acho que o problema principal agora não é ele e sim a Érica… Espero que o fato de ela estar tão perto do meu pai, não faça ela abrir boca para falar o que não deve.
Dr. Fabiano andava em direção ao quarto da paciente “desconhecida”. Por alguma razão sentia que uma força o impelia até ela. Apesar da alegria que sentia ao visitar aquela paciente misteriosa, sentia-se um pouco deprimido com a notícia que recebera de sua sobrinha.
— E como vai a nossa paciente? – perguntou a Rafael logo que chegou ao quarto.
Rafael se admirou.
— Não me diga que hoje você está de plantão…
— Pois eu digo: Eu estou de plantão hoje… – respondeu rindo. – E como ela está?
O Dr. Rafael olhou para o prontuário da paciente.
— Tem respondido de maneira satisfatória ao tratamento. Daqui a poucos dias, poderemos vê-la acordada.
— Que bom. – disse Fabiano distante.
Rafael percebeu que havia algo diferente no colega.
— O que aconteceu? Eu te conheço e não é de hoje…
— Só uma notícia que recebi da Vivi.
Rafael se assustou.
— Da Viviane? Não me diga que ela vem visitar você no plantão!
Fabiano riu.
— Você é realmente engraçado. Ter medo assim de uma garota tão simpática.
— Isso porque não é com você… Mas mudando de assunto, o que aconteceu para você me parecer tão deprimido?
O Dr. Fabiano sentou-se em uma cadeira.
— Minha sobrinha acabou de avisar que a Érica vai morar na mansão.
Rafael não acreditava no que estava ouvindo.
— Como assim? A sua noiva vai voltar a morar com vocês?
— Eu já disse que ela não é minha noiva… – disse Fabiano. – Você sabe que isso já faz algum tempo, não há nada mais entre mim e ela. Principalmente, porque ela é esposa você sabe de quem.
— Tudo bem. Mas, isso não significa que ela não pode se divorciar. Além disso, você nunca mais conseguiu uma namorada fixa depois que... Bem, depois que aconteceu aquilo.
Fabiano estava pensativo.
— Bem, apesar de ser quem é, devo confessar que ela é linda. Isso não se pode negar.
Fabiano ficou sério.
— Meu caro amigo, ouça o que vou lhe dizer, não se aproxime daquela mulher… Ela consegue deixar qualquer um louco de paixão, mas se eu fosse descrevê-la, diria que ela é o diabo. Principalmente, quando está apaixonada.
— Qualquer mulher apaixonada fica enlouquecida… – disse Rafael pensativo.
Fabiano riu.
— Não compare Érica com Viviane… Viviane é apenas uma menina na flor da idade, sem nenhuma experiência… Mas a Érica não, ela é capaz de conseguir qualquer coisa de um homem quando quer e mesmo estando casada, não me admiraria de andar se oferecendo para outros.
— E aquele filho dela? Você já sabe quem é o pai? Conseguiu alguma resposta dela desde a última vez que se falaram? Você conseguiu uma confirmação de que você não é o pai daquele menino?
Fabiano ficou com o olhar vago.
— Bem, ser pai não é algo que eu não queira. Eu até perguntei para ela logo quando ela engravidou, mas ela afirmou categoricamente que o filho não era meu… De qualquer forma, se fosse meu ela se aproveitaria disso para conseguir uma boa pensão. Ela, com certeza, é desse tipo de mulher…
Rafael foi chamado pelo interfone para a emergência.
— Bem, a conversa está muito boa, mas tenho que ir. – disse saindo.
O Dr. Fabiano olhou para a paciente que estava deitada.
— Quando me sinto um pouco mal, eu venho vê-la... Não sei porquê, mas, apenas ver seu rosto me deixa mais tranquilo. Quem é você, afinal? – perguntou como para si mesmo, enquanto observava a paciente deitada na cama.
Bruno conversava com a esposa Iêda em uma pequena sala. Enquanto olhava alguns de seus projetos de arquitetura e analisava-os, poderia conversar um pouco com Iêda.
— Você recebeu a notícia? – perguntou Iêda para o marido.
Bruno desviou a atenção e olhou para a esposa.
— Sobre a Érica? Sim. E fiquei muito surpreso. Queria saber o que o meu pai pretende trazendo aquela mulher para essa casa.
Iêda olhou para o marido e suspirou. Bruno notou certa preocupação na esposa.
— O que foi? – perguntou, voltando a olhar para os papéis que estava nas mãos.
— A presença daquela mulher não me agrada em nada. Por mais que eu saiba que ela também é da família, mesmo assim, eu não gosto dela…
Bruno olhou para a esposa e sorriu.
— Posso saber o por quê?
— E você ainda pergunta? Aquela mulher se insinua para qualquer homem, não importa se ele é casado ou não.
Bruno riu.
— Então é isso, a sua implicância com ela não passa de ciúmes. – disse, observando novamente os projetos de arquitetura. – Mas não se preocupe. Ela é bonita, isso não posso negar, mas não sou o tipo de homem que trairia a confiança da esposa.
— Eu confio em você, meu querido. – disse sorrindo e depois um pouco mais séria. – Eu só não confio nela… De qualquer forma, o que me consola é que aquela pobre criança poderá ter convívio com outras pessoas…
Bruno olhou para a esposa.
— Também penso assim. Aquela criança precisa de uma família. Aquela mulher não cuida nem de si mesma.
— Ouvi dizer que ela contrata alguém para ficar com ele o dia todo. Nem sequer passa um dia inteiro com ele. Aquela mulher não nasceu para ser mãe.
— Pelo menos agora ele vai ter os cuidados que precisa. Talvez fosse por isso que o meu pai consentiu que ela voltasse a morar aqui.
Iêda pareceu pensativa.
— Acho que o motivo vai além disso. O meu sogro é muito inteligente.
Bruno olhou para Iêda. Talvez ela estivesse com a razão.
Fabrício voltou para o apartamento. Estava exausto. Quando entrou em casa, percebeu que a irmã estava quase pronta para sair.
— Pensei que não voltaria hoje. – disse ela, pegando a bolsa. – Você sabe que horas são? São quase dez da noite. Que passeio foi esse?
— E você, aonde vai? Você sabe que horas tem que voltar, não é?
Verônica sorriu.
— Até parece que você se preocupa tanto assim comigo. De qualquer forma, vou logo avisando que não volto antes das duas.
Fabrício sentou-se no sofá. Verônica remexia na bolsa, se certificando que não esquecera nada.
— Tome cuidado. – avisou Fabrício.
Verônica pegou na cabeça do irmão, se certificando se ele não estava com febre.
— Me parece normal. – e olhando para o Fabrício. – Você é mesmo meu irmão?
— Muito engraçadinha. Até parece que não me preocupo nem um pouco com você. Não sou seu irmão mais velho?
Verônica sentou-se ao lado do irmão.
— Não é isso. É que você me parece estar de bom humor… Acho que o passeio foi bem proveitoso… – disse ela rindo. – Encontrou algum passarinho verde?
— Não, mas talvez tenha encontrado algo muito melhor que isso…
— Não me diga que você encontrou mais uma garota para ser sua vítima.
— Do que está falando?
Verônica levantou-se para ir.
— Eu não gosto quando você faz isso. Depois quem tem que atender as ligações das garotas apaixonadas e inventar várias desculpas sou eu…
Fabrício riu.
— E eu tenho culpa de ser tão irresistível?
— Sem graça essa sua piada… – disse desinteressada. – De qualquer forma, diga ao papai quando ele voltar que não vou voltar tarde.
Fabrício ficou calado.
— Se não quiser, não diga. – disse Verônica, lembrando que o irmão tivera uma discussão recente com o pai. – Tchau.
Fabrício ficou sentado alguns instantes, estava pensativo.
“Emanuela... Por que é tão diferente das outras garotas? Ou será que eu é que estou diferente?” – pensou.
Emanuela entrou no quarto. Os vitrôs estavam abertos e o quarto estava na penumbra. Sentou-se na cama, onde a irmã estava deitada.
— Você está acordada? – perguntou.
Mariana levantou-se sonolenta.
— O que foi?
Emanuela olhou para a irmã e riu.
— Eu que pergunto… Você ainda está com raiva de mim?
— Não. Eu só estou um pouco estressada…
Emanuela levantou-se e acendeu a luz.
— Vamos, me conte logo… Eu te conheço, Mariana… Você não ia ficar tão irritada só porque eu escondi que fui demitida.
Mariana ficou apreensiva. Emanuela sentou-se novamente ao lado da irmã.
— Hoje, quando eu cheguei, a porta estava aberta. – começou Mariana. – Eu pensava que você tinha chegado, mas quando entrei tinha um homem sentado no sofá da sala.
Emanuela ficou surpresa.
— Um homem? Mas, ele não te fez nenhum mal, não foi? – perguntou preocupada.
— Não se preocupe, não aconteceu nada. – respondeu Mariana, tentando acalmar a irmã.
— E quem era esse homem? – perguntou Emanuela ainda preocupada.
Mariana ficou calada.
— Quem era ele, Mari? – perguntou Manu novamente.
— Fernandes… – respondeu Mariana quase inaudível.
Emanuela quase caiu pra trás.
— O que você está dizendo?! Fer… Fernandes esteve aqui? O que ele veio fazer? – perguntou mais nervosa do que nunca.
— Ele veio perguntar sobre o Rogério, parece que o nosso pai conseguiu confusão com ele. Ele disse que vai matá-lo, Manu! – falou com desespero na voz.
Emanuela não sabia o que fazer. Era muita informação.
— E agora? Aquele homem com certeza vai querer algo em troca da vida de Rogério… Ele pediu alguma coisa, dinheiro, por exemplo?
— Não.
Mariana omitiu a proposta que Fernandes fizera quando foi visitá-la. Nem ela, nem Emanuela cogitariam naquela hipótese absurda.
— Então, era por isso que você estava tão tensa... Ainda bem que me contou. De qualquer forma, não devemos nos preocupar com nada. É só mantermos distância do Fernandes e está tudo bem.
Mariana concordou com a cabeça, mas ela sentiu um mau pressentimento sobre aquilo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário