Capítulo 9 –
Ameaças
— O que está fazendo aqui? – Mariana
perguntou mais uma vez aquele homem que há muitos anos não via.
O homem que estava sentado
confortavelmente se levantou. Era baixo e tinha a barba por fazer, parecia
estar nos seus cinquenta anos. Olhou Mariana de cima a baixo e sorriu de forma
maliciosa.
— Como você está, lindinha? –
perguntou, se aproximando de Mariana e tocando em seu rosto. – Tão linda quanto
a sua mãe biológica… Você tem potencial, sabia?
Mariana se desvencilhou do homem.
— O que está fazendo aqui? Nós não
temos nada a ver com você! – disse Mariana nervosa.
O homem voltou a se sentar. Parecia
ter tomado conta do lugar.
— Por que me trata de forma tão
rude? – disse ele, pegando um cigarro e acendendo. – Afinal, eu sou quase seu pai,
não é?
Mariana virou o rosto, não conseguia
olhá-lo nos olhos.
— Meu pai? – disse irônica. – Com
certeza, você é a última pessoa que eu gostaria que fosse meu pai… Um homem que
se aproveita das mulheres para ganhar dinheiro…
O homem riu.
— Eu sou apenas um empresário. A
diferença é que os produtos são os corpos daquelas vadias. – e olhando para
ela. – E como eu disse, você tem potencial…
Mariana não conseguia olhar para
ele. Ela sentia náuseas só de saber que ele estava ali.
— Por que você está aqui? –
perguntou. – Se não tem nada o que fazer, você deveria ir embora!
— Eu quero perguntar uma coisa…
Estou muito curioso… Por acaso, você encontrou com o Rogério?
Mariana se espantou.
— Meu pai? Por… por que pergunta
isso? O que ele fez? – perguntou nervosa.
O homem se levantou com raiva.
— Aquele cara! – disse jogando o
cigarro no chão e pisando. – Ele anda roubando as minhas vadias! Quando eu o
encontrar, eu juro que vou matá-lo! – e rindo. – Bom, é claro que eu não vou
sujar minhas mãos…
— Como!? – Mariana estava
estarrecida. – Vo… Você vai mandar… Por favor, não faça isso… Por favor.
O homem olhou para ela.
— E você acha que vou perdoá-lo! –
disse rindo. – Ele vai me pagar. Aquele maldito! Denunciou um dos meus pontos!
Você sabe o prejuízo que eu tive para comprar todos aqueles lixos da polícia? –
disse, sentando-se novamente. – É, preciso tirar ele do meu caminho…
Mariana estava perplexa com tanta
crueldade. Ele conhecia aquele homem muito tempo e muitas vezes o vira batendo
na mulher que criara ela e sua irmã.
— O que eu posso fazer para que você
não faça mal a ele? Você não está falando sério, está? –perguntou Mariana
nervosa.
O homem riu.
— Se você ou sua irmã quisesse
trabalhar comigo, com certeza eu poderia esquecer o que ele fez…
Mariana se sentiu enojada com tal
proposta.
— Nunca! Como você propõe uma coisa
dessas?!
— Como você é ingênua, minha doce
Mariana… A vida é assim. – levantou-se e se aproximou dela, tocando-lhe no
rosto. – Tão linda. Se você aceitasse trabalhar comigo, não viveria nessa miséria.
Com certeza, conseguiria bons clientes para você. Homens com tanto dinheiro que
você nem consegue imaginar.
Mariana estava com os olhos
vermelhos. Nunca sentira tanto desprezo por uma pessoa.
— Eu vou indo… – disse ele se
dirigindo para a porta. – E diga ao seu “querido pai” que se ele não me pagar
de alguma maneira, eu não vou cansar até ver aquele idiota morto. – e sorrindo.
– Mas se quiser aceitar minha proposta, me procure, você sabe onde.
Viviane entrou em casa. Acabara de
chegar, quando sua mãe que estava na sala lhe falou.
— Vivi, onde foi? – perguntou,
enquanto lia um jornal. – Você não avisou mais uma vez que iria sair… Fiquei
preocupada.
— Desculpa. Mas não precisa se
preocupar tanto. Fui visitar o tio Fabrício… – disse, esparramando-se no sofá.
Gabriele deixou o jornal de lado e
olhou para a filha.
— Tem certeza que foi para visitar
seu tio? – perguntou Gabriele, olhando para a filha. – Eu lhe conheço muito bem,
minha filha.
Viviane riu.
— Tem razão. Fui ver o Dr. Rafael…
Por quê?
Gabriele suspirou, não sabia como
lidar com a filha.
— Vivi, você não deveria
importuná-lo. Acho que não é certo uma mulher viver atrás de um homem,
principalmente uma garota como você… Ele não é muito mais velho que você?
Viviane assoprou como que
impaciente.
— E daí, mãe. Hoje em dia, existem
muitos casais com grande diferença de idade! E se dão muito bem. Está até na
moda! – disse, dando de ombros. – E o Dr. Rafael é realmente impressionante.
— Eu sei. Mas, você tem se
comportado como uma criança mimada. É só notar o jeito como você se comporta… E
além do mais, acho um exagero você ir ao hospital quase três vezes por semana…
Eu penso que isso não seja certo, minha filha.
Viviane levantou-se chateada.
— Por que você não me apoia? Eu
gosto dele! Será que você não entende?
— E ele gosta de você, Vivi? Eu acho
que você deveria dar uma chance para o Gabriel, ele é um rapaz direito, de boa
família…
— Gabriel… De novo. Eu até o
suportaria mais se a senhora não falasse tanto dele… – interrompeu
Viviane. – A senhora acha que estamos em que século? Eu não vou namorar com
quem a senhora quer. Eu vou ficar com quem eu gosto. E com licença, eu vou para
o meu quarto.
Antes que Vivi saísse da sala,
Gabriele avisou.
— Antes que eu me esqueça. – disse,
pegando uma revista na mesa de centro. – Seu avô está no escritório e pediu
para vê-la.
Gabriele respirou fundo.
— Tomara que não seja sobre as netas
bastardas dele! Que saco!
Gabriele olhou para a filha
assustada.
“Onde ela aprendeu esse linguajar?”
– perguntou a si mesma.
Já passava das sete horas da noite,
quando Emanuela chegou em casa. A porta estava aberta indicando que a irmã já
estava em casa. Quando entrou, percebeu que a irmã estava sentada na sala
assistindo televisão.
— E aí, como foi seu dia hoje? –
perguntou Emanuela a Mariana.
Mariana olhou para a irmã.
— Você chegou? Como foi o seu dia? – perguntou, desligando a
tevê.
Emanuela riu.
— Bem... Normal. Ah, você sabe. As
exigências da chefe, as maluquices da Tati... Essas coisas.
Mariana olhou sério para a irmã.
— Você quer mesmo que eu acredite
nisso?
Emanuela ficou um pouco assustada.
— Do que está falando?
Mariana parecia chateada.
— Eu liguei para a padaria... E adivinha
quem atendeu? A dona. Eu perguntei por você e ela disse que você não trabalhava
mais lá e que já tinha sido demitida há quase uma semana.
Mariana olhou nos olhos da irmã.
Parecia séria.
— Quando ia me contar?
— Ah... Desculpa, não é que eu
queria lhe esconder isso...
Mariana se levantou.
— Até quando vai me tratar como se
eu fosse uma criança que tenho que ser poupada de tudo? Você acha que eu não
percebo essa mania que você tem de tentar me proteger?
Emanuela desviou do olhar da irmã.
— Você sabe que não é bem assim...
Eu só achei que eu iria encontrar um emprego melhor logo em breve. Eu só não
quero que se preocupe. Só isso. Você sabe...
— Eu não gosto disso. – interrompeu
Mariana. – Eu não sou sua filha, sou sua irmã. Você não tem a obrigação de
cuidar de mim… Não tem a obrigação de me proteger. Me diga, onde foi parar
aquela minha irmã que mandava eu parar de chorar, que mandava eu ser forte, que
sempre dizia para eu me levantar sozinha? Por que sempre tenta me proteger?
Emanuela não entendia a reação da
irmã. Não sabia como aquela discussão tinha chegado naquele ponto.
— Mariana, por que está falando
assim?
Mari levantou-se para ir para o
quarto.
— Se eu depender tanto assim de
você, como eu vou resolver sozinha os meus problemas? Será que você não pensa
nisso?
— Desculpa. – pediu Manu, ainda não
entendendo a reação da irmã. – Eu não sabia que não gostava do modo como eu a
tratava. Eu prometo, não vou mais esconder qualquer assunto de você...
Mariana ficou calada por um
instante.
— Esqueça. Vou para o quarto. –
disse saindo.
Emanuela olhou para a irmã, enquanto
ela saia.
“O que deu nela? Mariana não é de
falar assim…” – pensou.
Viviane bateu a porta do escritório
e entrou. O Dr. Otávio estava sentado na cadeira, olhando para a janela lá
fora.
— Hoje, a noite está bem agradável,
não é, Vivi? – comentou sem olhar para a neta.
Viviane sentou-se na cadeira.
— O senhor até que é bem poético,
não é, Dr. Otávio?
O Dr. Otávio olhou para Viviane e
apesar de ver uma moça já formada na sua frente, pode ainda notar uma criança
mimada.
— Não me diga que você ainda está
magoada comigo?
Viviane olhou para o lado, tentando
evitar o olhar do avô.
— E o que o senhor pensa? De repente,
o senhor quer trazer duas bastardas para essa casa… Como se eu não tivesse
problemas o bastante!
Dr. Otávio olhou sério para a neta.
— Viviane, eu não gosto que você
fale assim! – disse ele, repreendendo-a. – Já basta Otávio Jr. com essas
atitudes mesquinhas! Não tente imitá-lo.
— E já está defendendo elas! –
comentou Vivi.
— Não me responda! – disse Otávio
severamente. – Quantos anos você acha que tem?
Viviane ficou séria de repente.
— Me desculpe. Foi um descuido meu.
O Dr. Otávio respirou profundamente
tentando se acalmar, Viviane estava passando dos limites.
— Eu a chamei aqui, por que eu quero
que você avise a todos que Érica vai voltar a morar nessa casa.
Viviane ficou boquiaberta.
— O quê?! Aquela mulher
insuportável? O que senhor acha que está fazendo, vovô!?
— Só me obedeça, por favor,
Viviane. Ela virá daqui a dois dias. Então, prepare tudo para que ela se
sinta bem.
— Tudo bem. Se é assim que o senhor
quer… Todos saberão ainda hoje as boas notícias. – disse levantando-se.
Viviane saiu. Dr. Otávio pensou
consigo mesmo que Viviane tinha sido mimada demais por ele. Ficou preocupado
com a reação dela quando as suas outras netas chegassem.
Otávio Jr., logo que chegou à mansão
foi recebido por Camila. Ele pode perceber certa preocupação no olhar de sua
esposa.
— O que aconteceu? – perguntou, já
ficando preocupado.
— Vamos para o quarto… Lá teremos
mais privacidade. – pediu a mulher.
Os dois foram para o andar de cima
onde ficavam os quartos.
— Temos um problema… – disse a
mulher logo ao entrar no aposento.
— O que foi agora? – perguntou
Otávio Jr, sentando-se em uma poltrona. – Não me diga que o meu pai aprontou
mais uma vez.
Camila respirou fundo. O que ia
falar com certeza deixaria o marido nervoso.
— O seu pai vai consentir que Érica
more aqui.
Otávio ficou pálido de repente, não
podia acreditar no que ouvia.
— Você está falando sério? Onde foi
que ouviu isso?
Camila sentou-se na cama. Otávio Jr.
levantou-se e ficou andando pelo quarto.
— Viviane foi encarregada a dizer a
todos da família. E aí, o que vamos fazer?
— Ela é muito esperta, com certeza
vai descobrir o que estamos planejando… Se bem que as coisas não estão saindo
exatamente como eu pensei.
— Tem razão. – suspirou Camila. –
Trazer as duas netas ilegítimas para morar aqui conosco… Nunca imaginei que seu
pai fizesse isso, no máximo, pensei que ele ia dar uma casa para as duas
morarem.
— Mas podemos usar isso a nosso
favor. – disse Otávio Jr. pensativo. – Mantendo elas mais perto, fica mais fácil
monitorar o movimento das duas. De qualquer forma, o problema mais urgente não
são as filhas do Jorge e sim a Érica e aquele pirralho.
— Eu não acredito que ela vá
comentar qualquer coisa sobre o que fizemos há cinco anos ou sobre outras
coisas, afinal ela também foi beneficiada… – comentou Camila.
Otávio sentou-se mais calmo.
— Você pode ter razão, mas se
tratando daquela mulher, podemos esperar qualquer coisa.
— O que me intriga mais é o Dr.
Otávio trazer ela para vir morar conosco. Me parece divergente de suas atitudes
comuns… Ele que sempre reprovou a personalidade dela…
— É, mas ele tem uma boa desculpa
para permitir que ela more aqui. Ela também é uma Alcântara e de alguma forma
também vai ser incluída no testamento. – disse ele, sentando-se ao lado da
esposa.
Camila ficou em silêncio por um
instante.
— Otávio, estive pensando em algo… –
disse Camila com o olhar distante. – Você acha que com a presença de Érica
aqui, aquela outra pessoa pode voltar dos Estados Unidos?
Otávio ficou sério.
— Eu não sei. Por que a pergunta?
Camila olhou para o marido com
receio nos olhos.
— Tenho medo, se ele descobrir o que
fizemos… Afinal, ele é a segunda pessoa com mais ações do grupo… Ele não é
alguém que perdoaria assim…
— Tem razão. – concordou preocupado.
– Só eu, você e a Érica sabemos do que o tio Marcos é capaz.
— E é por causa disso que tenho
tanto medo.
Otávio Jr. tentou afastar aqueles
pensamentos.
— De qualquer forma, acho que o
problema principal agora não é ele e sim a Érica… Espero que o fato de ela estar
tão perto do meu pai, não faça ela abrir boca para falar o que não deve.
Dr. Fabiano andava em direção ao
quarto da paciente “desconhecida”. Por alguma razão sentia que uma força o
impelia até ela. Apesar da alegria que sentia ao visitar aquela paciente
misteriosa, sentia-se um pouco deprimido com a notícia que recebera de sua
sobrinha.
— E como vai a nossa paciente? –
perguntou a Rafael logo que chegou ao quarto.
Rafael se admirou.
— Não me diga que hoje você está de
plantão…
— Pois eu digo: Eu estou de plantão
hoje… – respondeu rindo. – E como ela está?
O Dr. Rafael olhou para o prontuário
da paciente.
— Tem respondido de maneira
satisfatória ao tratamento. Daqui a poucos dias, poderemos vê-la acordada.
— Que bom. – disse Fabiano distante.
Rafael percebeu que havia algo
diferente no colega.
— O que aconteceu? Eu te conheço e
não é de hoje…
— Só uma notícia que recebi da Vivi.
Rafael se assustou.
— Da Viviane? Não me diga que ela
vem visitar você no plantão!
Fabiano riu.
— Você é realmente engraçado. Ter
medo assim de uma garota tão simpática.
— Isso porque não é com você… Mas
mudando de assunto, o que aconteceu para você me parecer tão deprimido?
O Dr. Fabiano sentou-se em uma
cadeira.
— Minha sobrinha acabou de avisar
que a Érica vai morar na mansão.
Rafael não acreditava no que estava
ouvindo.
— Como assim? A sua noiva vai voltar
a morar com vocês?
— Eu já disse que ela não é minha
noiva… – disse Fabiano. – Você sabe que isso já faz algum tempo, não há nada
mais entre mim e ela. Principalmente, porque ela é esposa você sabe de quem.
— Tudo bem. Mas, isso não significa
que ela não pode se divorciar. Além disso, você nunca mais conseguiu uma
namorada fixa depois que... Bem, depois que aconteceu aquilo.
Fabiano estava pensativo.
— Bem, apesar de ser quem é, devo
confessar que ela é linda. Isso não se pode negar.
Fabiano ficou sério.
— Meu caro amigo, ouça o que vou lhe
dizer, não se aproxime daquela mulher… Ela consegue deixar qualquer um louco de
paixão, mas se eu fosse descrevê-la, diria que ela é o diabo. Principalmente,
quando está apaixonada.
— Qualquer mulher apaixonada fica
enlouquecida… – disse Rafael pensativo.
Fabiano riu.
— Não compare Érica com Viviane…
Viviane é apenas uma menina na flor da idade, sem nenhuma experiência… Mas a
Érica não, ela é capaz de conseguir qualquer coisa de um homem quando quer e
mesmo estando casada, não me admiraria de andar se oferecendo para outros.
— E aquele filho dela? Você já sabe
quem é o pai? Conseguiu alguma resposta dela desde a última vez que se falaram?
Você conseguiu uma confirmação de que você não é o pai daquele menino?
Fabiano ficou com o olhar vago.
— Bem, ser pai não é algo que eu não
queira. Eu até perguntei para ela logo quando ela engravidou, mas ela afirmou
categoricamente que o filho não era meu… De qualquer forma, se fosse meu ela se
aproveitaria disso para conseguir uma boa pensão. Ela, com certeza, é desse
tipo de mulher…
Rafael foi chamado pelo interfone
para a emergência.
— Bem, a conversa está muito boa,
mas tenho que ir. – disse saindo.
O Dr. Fabiano olhou para a paciente
que estava deitada.
— Quando me sinto um pouco mal, eu
venho vê-la... Não sei porquê, mas, apenas ver seu rosto me deixa mais
tranquilo. Quem é você, afinal? – perguntou como para si mesmo, enquanto observava
a paciente deitada na cama.
Bruno conversava com a esposa Iêda
em uma pequena sala. Enquanto olhava alguns de seus projetos de arquitetura e
analisava-os, poderia conversar um pouco com Iêda.
— Você recebeu a notícia? –
perguntou Iêda para o marido.
Bruno desviou a atenção e olhou para
a esposa.
— Sobre a Érica? Sim. E fiquei muito
surpreso. Queria saber o que o meu pai pretende trazendo aquela mulher para
essa casa.
Iêda olhou para o marido e suspirou.
Bruno notou certa preocupação na esposa.
— O que foi? – perguntou, voltando a
olhar para os papéis que estava nas mãos.
— A presença daquela mulher não me
agrada em nada. Por mais que eu saiba que ela também é da família, mesmo assim,
eu não gosto dela…
Bruno olhou para a esposa e sorriu.
— Posso saber o por quê?
— E você ainda pergunta? Aquela
mulher se insinua para qualquer homem, não importa se ele é casado ou não.
Bruno riu.
— Então é isso, a sua implicância
com ela não passa de ciúmes. – disse, observando novamente os projetos de
arquitetura. – Mas não se preocupe. Ela é bonita, isso não posso negar, mas não
sou o tipo de homem que trairia a confiança da esposa.
— Eu confio em você, meu querido. –
disse sorrindo e depois um pouco mais séria. – Eu só não confio nela… De
qualquer forma, o que me consola é que aquela pobre criança poderá ter convívio
com outras pessoas…
Bruno olhou para a esposa.
— Também penso assim. Aquela criança
precisa de uma família. Aquela mulher não cuida nem de si mesma.
— Ouvi dizer que ela contrata alguém
para ficar com ele o dia todo. Nem sequer passa um dia inteiro com ele. Aquela
mulher não nasceu para ser mãe.
— Pelo menos agora ele vai ter os
cuidados que precisa. Talvez fosse por isso que o meu pai consentiu que ela
voltasse a morar aqui.
Iêda pareceu pensativa.
— Acho que o motivo vai além disso.
O meu sogro é muito inteligente.
Bruno olhou para Iêda. Talvez ela
estivesse com a razão.
Fabrício voltou para o apartamento.
Estava exausto. Quando entrou em casa, percebeu que a irmã estava quase pronta
para sair.
— Pensei que não voltaria hoje. –
disse ela, pegando a bolsa. – Você sabe que horas são? São quase dez da noite.
Que passeio foi esse?
— E você, aonde vai? Você sabe que
horas tem que voltar, não é?
Verônica sorriu.
— Até parece que você se preocupa
tanto assim comigo. De qualquer forma, vou logo avisando que não volto antes
das duas.
Fabrício sentou-se no sofá. Verônica
remexia na bolsa, se certificando que não esquecera nada.
— Tome cuidado. – avisou Fabrício.
Verônica pegou na cabeça do irmão,
se certificando se ele não estava com febre.
— Me parece normal. – e olhando para
o Fabrício. – Você é mesmo meu irmão?
— Muito engraçadinha. Até parece que
não me preocupo nem um pouco com você. Não sou seu irmão mais velho?
Verônica sentou-se ao lado do irmão.
— Não é isso. É que você me parece
estar de bom humor… Acho que o passeio foi bem proveitoso… – disse ela rindo. –
Encontrou algum passarinho verde?
— Não, mas talvez tenha encontrado
algo muito melhor que isso…
— Não me diga que você encontrou
mais uma garota para ser sua vítima.
— Do que está falando?
Verônica levantou-se para ir.
— Eu não gosto quando você faz isso.
Depois quem tem que atender as ligações das garotas apaixonadas e inventar
várias desculpas sou eu…
Fabrício riu.
— E eu tenho culpa de ser tão
irresistível?
— Sem graça essa sua piada… – disse
desinteressada. – De qualquer forma, diga ao papai quando ele voltar que não
vou voltar tarde.
Fabrício ficou calado.
— Se não quiser, não diga. – disse
Verônica, lembrando que o irmão tivera uma discussão recente com o pai. –
Tchau.
Fabrício ficou sentado alguns
instantes, estava pensativo.
“Emanuela... Por que é tão diferente
das outras garotas? Ou será que eu é que estou diferente?” – pensou.
Emanuela entrou no quarto. Os vitrôs
estavam abertos e o quarto estava na penumbra. Sentou-se na cama, onde a irmã
estava deitada.
— Você está acordada? – perguntou.
Mariana levantou-se sonolenta.
— O que foi?
Emanuela olhou para a irmã e riu.
— Eu que pergunto… Você ainda está
com raiva de mim?
— Não. Eu só estou um pouco
estressada…
Emanuela levantou-se e acendeu a
luz.
— Vamos, me conte logo… Eu te
conheço, Mariana… Você não ia ficar tão irritada só porque eu escondi que fui
demitida.
Mariana ficou apreensiva. Emanuela
sentou-se novamente ao lado da irmã.
— Hoje, quando eu cheguei, a porta
estava aberta. – começou Mariana. – Eu pensava que você tinha chegado, mas
quando entrei tinha um homem sentado no sofá da sala.
Emanuela ficou surpresa.
— Um homem? Mas, ele não te fez
nenhum mal, não foi? – perguntou preocupada.
— Não se preocupe, não aconteceu
nada. – respondeu Mariana, tentando acalmar a irmã.
— E quem era esse homem? – perguntou
Emanuela ainda preocupada.
Mariana ficou calada.
— Quem era ele, Mari? – perguntou
Manu novamente.
— Fernandes… – respondeu Mariana
quase inaudível.
Emanuela quase caiu pra trás.
— O que você está dizendo?! Fer…
Fernandes esteve aqui? O que ele veio fazer? – perguntou mais nervosa do que nunca.
— Ele veio perguntar sobre o
Rogério, parece que o nosso pai conseguiu confusão com ele. Ele disse que vai
matá-lo, Manu! – falou com desespero na voz.
Emanuela não sabia o que fazer. Era
muita informação.
— E agora? Aquele homem com certeza
vai querer algo em troca da vida de Rogério… Ele pediu alguma coisa, dinheiro,
por exemplo?
— Não.
Mariana omitiu a proposta que
Fernandes fizera quando foi visitá-la. Nem ela, nem Emanuela cogitariam naquela
hipótese absurda.
— Então, era por isso que você estava
tão tensa... Ainda bem que me contou. De qualquer forma, não devemos nos
preocupar com nada. É só mantermos distância do Fernandes e está tudo bem.
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