XVII
- Enton, gostou do lugar, gatinha? – pergunta
Claude, descendo da moto, enquanto Rosa tirava o capacete e balançava os
cabelos.
-
É lindo! Aquela árvore é incrível! Um espetáculo da natureza. Ainda bem que ela
foi preservada.
-
É uma árvore centenária, hã? Vai ser o nosso lugar! – diz, pegando as mochilas
com uma mão e estendendo a outra para Rosa. – Deixa os capacetes aí no guidon.
Rosa
segura na mão de Claude e eles sobem os degraus da varanda, entrando na casa-sede. A noite começava a escurecer sob os tímidos
raios da lua.
Não
era bem assim que Rosa imaginava um lugar só deles. Como uma árvore gigantesca
como aquela poderia ser o lugar de alguém? Ainda mais ali, à beira do rio, que
com certeza na época das chuvas deveria ficar alguns metros encoberta!
Enfim,
respirou fundo e não disse nada. Não queria discutir com Claude e poderiam
fugir sempre que quisessem para a cabana de Pimpinone.
-
Preparada? – pergunta Claude, parado à frente da porta – Sabe que teremos uma
recepçon daquelas, non é?
-
Bem, eu creio que todos já sabiam que acabaríamos assim... Ou pelo menos
torciam para que isso acontecesse.
-
Non vai ser nada agradável ouvir as piadinhas de Frazon.
-
Deixe de ser tão mal humorado! Até que ele se sai bem...
Mas
assim que entram, apenas Elisabeth está na sala.
-
Meus queridos! Pensei que passariam a
noite fora também!
-
Também? – pergunta Rosa
-
Yes, darling. Frazão e Janete foram se divertir na cidade e creio que só voltam
amanhã.
-
Voilá! Non teremos que ouvir as provocações dele, gatinha. Eu vou subir com as
nossas mochilas e tomar um banho. Você non vem? – pergunta ele a Rosa.
Aquela
pergunta soou como um convite e Rosa sentiu o rosto esquentar.
-
Daqui a pouco... – começa a dizer.
-
Não seja cruel, Claude! Monopolizou Rosa o dia todo. Deixe-me trocar algumas
palavras com ela, ok?
-
D’accord, titia! Mas non pergunte nada que a deixe encabulada, hã? – diz,
piscando para Rosa e sai da sala.
-
Então, my angel, foi tudo como você esperava?
-
Tia Elisabeth, a senhora é impossível! Rsrsrs – Foi tudo muito bom! Eu acho que finalmente nos equilibramos. Ou quase - completa a
frase, lembrando-se da queda junto à goiabeira. – A cabana fica num lugar
lindo, com uma pequena cachoeira logo abaixo dela.
-
Oh, God! Um amor e uma cabana! Wonderful, perfect! Darling, eu não disse que um banho de
cachoeira faria milagres?
-
Como sabe que... – Rosa para de falar, lembrando-se da noite de amor que
tiveram sob as águas da cachoeira - Céus, está me deixando embaraçada! Eu vou
subir e tomar um banho.
-
Eu espero vocês para o jantar! Dadi já está com quase tudo pronto! Não demore,
honey!
Durante
o jantar, Claude e Rosa comentam sobre as fotos e o vídeo que fizeram, sobre o
encontro com Pimpinone, a história das borboletas, até mesmo sobre as abelhas
que provocaram mais uma queda...
-
Well! Ao menos dessa vez, foi uma queda
que terminou em risos! Ou em algo mais
prazeroso...
-
É... Bem eu vou subir! – fala Rosa, vendo Elisabeth levara a bandeja do café
para a cozinha.
-
Não se esqueça que quero ver suas novas fotos, Rosa. Boa noite, querida. – responde,
enquanto caminha para a cozinha, deixando os dois sozinhos.
-
Boa noite, tia Elisabeth. Amanhã, a senhora vê todas elas! – conclui Rosa,
levantando-se da cadeira. – Boa noite, Claude.
-
Eu bato na sua porta pra te dar boa noite em alguns minutos, hã? – diz Claude,
segurando e beijando a mão dela.
Mais
de uma hora depois, cansada de esperar, Rosa prepara-se para deitar, colocando
sua camisola. Já havia puxado os lençóis da cama, quando escuta os toques na
porta.
Rosa
abre a porta, colocando apenas a cabeça à vista. Lá estava Claude, de short e
regata, segurando sua mochila e a máquina fotográfica.
-
Pardon pela demora! Tia Elisabeth deu-me um sermon, hã?
-
Sermão? Mas eu pensei que ela torcesse pra que nós... pra que nós nos
acertássemos!
-
Oh, ela torce! Queria apenas certificar-se que non estou brincando contigo, que
non vou magoá-la. Olha, eu trouxe suas coisas...
-
Ela está ansiosa pra ver as fotos que eu fiz – diz, abrindo inteiramente a
porta - vou levar pra ela! - e pega a
máquina da mão de Claude, que não a solta. – Claude?!
-
Você non devia usar isso perto de mim, gatinha... – diz, sem tirar os olhos do
corpo ela – Eu acho que vou te dar mais que
boa noite, chérie... - e aproxima sua boca dos lábios dela.
-
Mas a máquina, sua tia... – começa a falar Rosa, enquanto Claude a faz recuar
para dentro do quarto, beijando-a ao mesmo tempo.
-
Minha tia acabou de se recolher ao quarto dela.
– diz, fechando a porta atrás de si, colocando a mochila no chão e
tirando a máquina das mãos de Rosa. –
Ela pode esperar até amanhã... Mas eu
non... Non quero esperar pra fazer amor
contigo de novo.
A
luz do luar, já não tão tímido, atravessou a imensa janela e encheu o quarto, refletindo-se nos corpos adormecidos
e abraçados,pernas entrelaçadas.
Nas
primeiras horas do dia seguinte, Rosa desperta e vê Claude levantar.
-
Por que está indo embora? – protesta ela.
-
Preciso ir, gatinha. Non quero que pensem mal de você. Volte a dormir. Teremos
muitas outras noites de amor, hã?
-
Mas... – começa a protestar novamente, sentando na cama.
-
Psiuuuu. – diz Claude, colocando seu dedo sob os lábios dela. – Non quero
Frazon fazendo piadinha sobre nosso amor, d’accord?
-
Então eu vou com você até a porta...
-
Non. Fique exatamente onde está, hã? Se você for, vai me convencer a ficar e
corremos o risco de alguém nos ver. – dá um selinho nela, joga a camiseta sobre
o ombro e levanta. – Nos vemos no café da manhã, oui?
-
“Oui” – Responde contrariada
Claude
sorri da criancice dela e se afasta de costas até alcançar a porta, abri-la e
sair. Somente quando está do lado de fora, ele gira o corpo, ainda sorrindo e
puxando a camiseta do ombro.
Mas
seu sorriso desaparece ao ver François e Joanna no último degrau da escada.
Joanna tinha um sorriso disfarçado. Já François tinha a desaprovação estampada
no olhar.
-
Papai, Joanna... Que surpresa, quando voltaram?
-
Muito bem, Claude! – François ignora a pergunta de Claude - Pode me explicar o
que significa isso?
-
François, meu bem, que pergunta mais óbvia e indiscreta essa sua. Acabamos de chegar, Claude. – Joanna é quem
responde.
-
Joanna, eu sei muito bem o que deve ter acontecido! E por isso mesmo quero ter
uma conversa séria com ele. Agora, no escritório.
-
Deus, homem! Eles são adultos, livres, você não pode se intrometer assim.
-
Não comece a defender seu enteado queridinho, Joanna. Essa atitude foi no mínimo indecorosa. Coloque sua camiseta e me siga,
rapaz! – Fala como se Claude tivesse quinze anos de idade.
François
desce na frente e aguarda Claude no escritório. Quando Claude entra e ocupa a
cadeira à frente da mesa, François o olha em silêncio por um longo tempo antes
de começar:
-
Claude, o que pensa que está fazendo com essa moça? Rosa não é qualquer uma que
você usa, brinca e descarta!
-
Papai, se me ouvir vai...
-
Eu não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas. Rosa é como uma filha pra mim.
Conheço-a desde criança, é a melhor amiga de Janete, embora moremos tão
distantes.
-
Mon Dieu, até parece que eu fiz algo mortal com ela ou a obriguei a... a alguma
coisa!
- Já imaginou se fosse o pai dela, chegando e
vendo você sair furtivamente do quarto dela a essa hora?
-
Non. Mas você está reagindo como se fosse.
-
Claude, se fosse o Giovanni no meu lugar, você estaria no mínimo desacordado.
Aquele italiano é tradicional ao extremo, uma pessoa que exige um comportamento
exemplar de seus filhos. E eu gostaria
que você respeitasse essa casa.
-
O senhor é muito incoerente. Non o vejo pedindo isso à Janete e Frazon.
-
Sua irmã e Frazão se amam e estão juntos há anos, são noivos – diz, calmamente.
-
Por isso non! Eu posso ficar noivo de Rosa. Isso o deixaria mais aliviado?
-
Você ainda brinca com a situação? Francamente! - fala François, balançando a
cabeça, inconformado.
-
Non estou brincando. – Claude se levanta, irritado. - Papai, eu vou me casar
com Rosa, hã? Non sou nenhum moleque irresponsável! Eu a amo, ela me ama e
vamos nos casar. E garanto que vai ser antes de Janete, oui?
François
conhecia plenamente o caráter do filho e teve certeza que ele não falava aquilo
da boca pra fora. Decidiu encerrar a conversa por ali. Levantou-se e caminhou
até a porta.
-
Está realmente apaixonado por ela, não é?
-
Oui. Você sempre me cobrou netos. Pois é Rosa quem vai ser a mãe deles...
Já
estava praticamente fora do escritório, quando perguntou de maneira natural e
espontânea sem olhar para Claude.
-
Falando nisso, vocês se preveniram, não? – E não pode ver a reação de Claude,
desabando na cadeira com os olhos estalados.
Continua...
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