terça-feira, 2 de abril de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 17 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XVII

- Enton, gostou do lugar, gatinha? – pergunta Claude, descendo da moto, enquanto Rosa tirava o capacete e balançava os cabelos.
- É lindo! Aquela árvore é incrível! Um espetáculo da natureza. Ainda bem que ela foi preservada.
- É uma árvore centenária, hã? Vai ser o nosso lugar! – diz, pegando as mochilas com uma mão e estendendo a outra para Rosa. – Deixa os capacetes aí no guidon.
Rosa segura na mão de Claude e eles sobem os degraus da varanda, entrando na casa-sede.  A noite começava a escurecer sob os tímidos raios da lua.
Não era bem assim que Rosa imaginava um lugar só deles. Como uma árvore gigantesca como aquela poderia ser o lugar de alguém? Ainda mais ali, à beira do rio, que com certeza na época das chuvas deveria ficar alguns metros encoberta!
Enfim, respirou fundo e não disse nada. Não queria discutir com Claude e poderiam fugir sempre que quisessem para a cabana de Pimpinone. 
- Preparada? – pergunta Claude, parado à frente da porta – Sabe que teremos uma recepçon daquelas, non é?
- Bem, eu creio que todos já sabiam que acabaríamos assim... Ou pelo menos torciam para que isso acontecesse.
- Non vai ser nada agradável ouvir as piadinhas de Frazon.
- Deixe de ser tão mal humorado! Até que ele se sai bem...
Mas assim que entram, apenas Elisabeth está na sala.
- Meus queridos!  Pensei que passariam a noite fora também!
- Também? – pergunta Rosa
- Yes, darling. Frazão e Janete foram se divertir na cidade e creio que só voltam amanhã.
- Voilá! Non teremos que ouvir as provocações dele, gatinha. Eu vou subir com as nossas mochilas e tomar um banho. Você non vem? – pergunta ele a Rosa.
Aquela pergunta soou como um convite e Rosa sentiu o rosto esquentar.
- Daqui a pouco... – começa a dizer.
- Não seja cruel, Claude! Monopolizou Rosa o dia todo. Deixe-me trocar algumas palavras com ela, ok?
- D’accord, titia! Mas non pergunte nada que a deixe encabulada, hã? – diz, piscando para Rosa e sai da sala.
- Então, my angel, foi tudo como você esperava?
- Tia Elisabeth, a senhora é impossível! Rsrsrs – Foi tudo muito bom!  Eu acho que finalmente nos equilibramos. Ou quase - completa a frase, lembrando-se da queda junto à goiabeira. – A cabana fica num lugar lindo, com uma pequena cachoeira logo abaixo dela.
- Oh, God! Um amor e uma cabana! Wonderful, perfect!  Darling, eu não disse que um banho de cachoeira faria milagres?
- Como sabe que... – Rosa para de falar, lembrando-se da noite de amor que tiveram sob as águas da cachoeira - Céus, está me deixando embaraçada! Eu vou subir e tomar um banho.
- Eu espero vocês para o jantar! Dadi já está com quase tudo pronto! Não demore, honey!
Durante o jantar, Claude e Rosa comentam sobre as fotos e o vídeo que fizeram, sobre o encontro com Pimpinone, a história das borboletas, até mesmo sobre as abelhas que provocaram mais uma queda...
- Well!  Ao menos dessa vez, foi uma queda que terminou em risos!  Ou em algo mais prazeroso...
- É... Bem eu vou subir! – fala Rosa, vendo Elisabeth levara a bandeja do café para a cozinha.
- Não se esqueça que quero ver suas novas fotos, Rosa. Boa noite, querida. – responde, enquanto caminha para a cozinha, deixando os dois sozinhos.
- Boa noite, tia Elisabeth. Amanhã, a senhora vê todas elas! – conclui Rosa, levantando-se da cadeira. – Boa noite, Claude.
- Eu bato na sua porta pra te dar boa noite em alguns minutos, hã? – diz Claude, segurando e beijando a mão dela.
Mais de uma hora depois, cansada de esperar, Rosa prepara-se para deitar, colocando sua camisola. Já havia puxado os lençóis da cama, quando escuta os toques na porta.
Rosa abre a porta, colocando apenas a cabeça à vista. Lá estava Claude, de short e regata, segurando sua mochila e a máquina fotográfica.
- Pardon pela demora! Tia Elisabeth deu-me um sermon, hã?
- Sermão? Mas eu pensei que ela torcesse pra que nós... pra que nós nos acertássemos!
- Oh, ela torce! Queria apenas certificar-se que non estou brincando contigo, que non vou magoá-la. Olha, eu trouxe suas coisas...
- Ela está ansiosa pra ver as fotos que eu fiz – diz, abrindo inteiramente a porta - vou levar pra ela! - e  pega a máquina da mão de Claude, que não a solta. – Claude?!
- Você non devia usar isso perto de mim, gatinha... – diz, sem tirar os olhos do corpo ela – Eu acho que vou te dar mais que  boa noite, chérie... - e aproxima sua boca dos lábios dela.
- Mas a máquina, sua tia... – começa a falar Rosa, enquanto Claude a faz recuar para dentro do quarto, beijando-a ao mesmo tempo.
- Minha tia acabou de se recolher ao quarto dela.  – diz, fechando a porta atrás de si, colocando a mochila no chão e tirando a máquina das mãos de Rosa.  – Ela pode esperar até amanhã...  Mas eu non...  Non quero esperar pra fazer amor contigo de novo.



A luz do luar, já não tão tímido, atravessou a imensa janela e  encheu o quarto, refletindo-se nos corpos adormecidos e abraçados,pernas entrelaçadas.
Nas primeiras horas do dia seguinte, Rosa desperta e vê Claude levantar.
- Por que está indo embora? – protesta ela.
- Preciso ir, gatinha. Non quero que pensem mal de você. Volte a dormir. Teremos muitas outras noites de amor, hã?
- Mas... – começa a protestar novamente, sentando na cama.
- Psiuuuu. – diz Claude, colocando seu dedo sob os lábios dela. – Non quero Frazon fazendo piadinha sobre nosso amor, d’accord? 
- Então eu vou com você até a porta...
- Non. Fique exatamente onde está, hã? Se você for, vai me convencer a ficar e corremos o risco de alguém nos ver. – dá um selinho nela, joga a camiseta sobre o ombro e levanta. – Nos vemos no café da manhã, oui?
- “Oui” – Responde contrariada
Claude sorri da criancice dela e se afasta de costas até alcançar a porta, abri-la e sair. Somente quando está do lado de fora, ele gira o corpo, ainda sorrindo e puxando a camiseta do ombro.
Mas seu sorriso desaparece ao ver François e Joanna no último degrau da escada. Joanna tinha um sorriso disfarçado. Já François tinha a desaprovação estampada no olhar.
- Papai, Joanna... Que surpresa, quando voltaram?
- Muito bem, Claude! – François ignora a pergunta de Claude - Pode me explicar o que significa isso?
- François, meu bem, que pergunta mais óbvia e indiscreta essa sua.  Acabamos de chegar, Claude. – Joanna é quem responde.
- Joanna, eu sei muito bem o que deve ter acontecido! E por isso mesmo quero ter uma conversa séria com ele. Agora, no escritório.
- Deus, homem! Eles são adultos, livres, você não pode se intrometer assim.
- Não comece a defender seu enteado queridinho, Joanna. Essa atitude foi no mínimo indecorosa. Coloque sua camiseta e me siga, rapaz! – Fala como se Claude tivesse quinze anos de idade.
François desce na frente e aguarda Claude no escritório. Quando Claude entra e ocupa a cadeira à frente da mesa, François o olha em silêncio por um longo tempo antes de começar:
- Claude, o que pensa que está fazendo com essa moça? Rosa não é qualquer uma que você usa, brinca e descarta!
- Papai, se me ouvir vai...
- Eu não quero ouvir suas desculpas esfarrapadas. Rosa é como uma filha pra mim. Conheço-a desde criança, é a melhor amiga de Janete, embora moremos tão distantes.
- Mon Dieu, até parece que eu fiz algo mortal com ela ou a obriguei a... a alguma coisa!
 - Já imaginou se fosse o pai dela, chegando e vendo você sair furtivamente do quarto dela a essa hora?
- Non. Mas você está reagindo como se fosse.
- Claude, se fosse o Giovanni no meu lugar, você estaria no mínimo desacordado. Aquele italiano é tradicional ao extremo, uma pessoa que exige um comportamento exemplar de seus filhos.  E eu gostaria que você respeitasse essa casa.
- O senhor é muito incoerente. Non o vejo pedindo isso à Janete e Frazon.
- Sua irmã e Frazão se amam e estão juntos há anos, são noivos – diz, calmamente.
- Por isso non! Eu posso ficar noivo de Rosa. Isso o deixaria mais aliviado?
- Você ainda brinca com a situação? Francamente! - fala François, balançando a cabeça, inconformado.
- Non estou brincando. – Claude se levanta, irritado. - Papai, eu vou me casar com Rosa, hã? Non sou nenhum moleque irresponsável! Eu a amo, ela me ama e vamos nos casar. E garanto que vai ser antes de Janete, oui?
François conhecia plenamente o caráter do filho e teve certeza que ele não falava aquilo da boca pra fora. Decidiu encerrar a conversa por ali. Levantou-se e caminhou até a porta.
- Está realmente apaixonado por ela, não é?
- Oui. Você sempre me cobrou netos. Pois é Rosa quem vai ser a mãe deles...
Já estava praticamente fora do escritório, quando perguntou de maneira natural e espontânea sem olhar para Claude.
- Falando nisso, vocês se preveniram, não? – E não pode ver a reação de Claude, desabando na cadeira com os olhos estalados.

Continua...

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