quinta-feira, 4 de abril de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 18 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XVIII

Rosa sentou-se à mesa do café, sentindo-se muito embaraçada. Baixou a cabeça diante do olhar dos pais de Claude.
Havia escutado as palavras de François, quando Claude saíra de seu quarto.  Pensou em sair e defendê-lo, mas a vergonha seria ainda maior. O que não estariam pensando dela nesse momento! No mínimo que não soubera respeitar o apreço que tinham por ela. E ainda não tinha encontrado com ele nessa manhã.
Reuniu toda coragem que pode, levantou os olhos e disse antes que os outros chegassem:
- Joanna, François, eu quero pedir desculpas pelo meu comportamento, sei que estão pensando que desrespeitei sua casa. Oh, Deus! É tão embaraçoso falar sobre isso!
- Não fique assim, querida! Claude já explicou tudo. Não tem do que se envergonhar, não é, François?
- Foi uma preocupação de pai, Rosa. Eu a tenho como uma filha. E não gostaria que Claude ou qualquer outro homem a magoasse.
- Obrigada, François. Eu nem sei o que dizer... A não ser que os considero minha segunda família!
- Que vai passar a ser a primeira, hã? – Claude entra na sala ao lado de Elisabeth – Bom dia, chérie! - Se inclina e a beija na face – Bom dia, papai e Joanna. – E senta-se ao lado de Rosa.
Rosa sente o rosto corar. Ainda não se acostumara àquela intimidade toda com Claude.
- Good morning a todos! Que bom que voltaram! – diz Elisabeth, olhando para François e Joanna – Janete e Frazão não desceram ainda?
- Desceram sim, senhora - responde Dadi, que trazia mais café à mesa. – Saíram pra caminhar faz uma meia hora.
- Oh, thank you, Dadi, pela informação! Então, Claude, já escolheram a data do casamento?
- Assim que Rosa falar com os pais dela, titia.
E é o que Claude a “obriga” a fazer, assim que terminam o café da manhã, levando-a ao escritório.
- Agora, gatinha! Sem desculpas - Claude segura o fone com a mão e faz um sinal a Rosa - Adiar essa tarefa,  non  vai torná-la mais  fácil de fazer, hã?
- Isso não vai ser fácil de maneira nenhuma. Ainda bem que vou falar por telefone. Se ele se zangar demais, eu desligo, como se a ligação tivesse caído.
- Muito engenhoso de sua parte. – Claude faz uma careta - Qual é o número?
Claude faz a ligação e passa o aparelho para Rosa. Quem atende é Amália. Depois de falar com ela alguns instantes, Rosa pede:
- Mamãe, chama o papai. Eu preciso falar com ele.
-  Bongiorno, filha!
- Bom dia, papai! O Senhor está bem?
- Muito bem, filha. Mas com muita saudade da minha bambina!  Quando é que você volta pra casa?
- É... eu acho que não volto, papai. Eu vou me casar! – diz de uma vez, olhando para Claude e sorrindo.
- Como assim não volta? E que história de casamento é questa, Serafina? Amália nossa filha tá falando que vai se casar, Amália! – Rosa escuta Giovanni – Você só pode estar brincando!
- Papai, não é brincadeira!  Eu vou me casar!
- Então, o Júlio foi mesmo atrás de você, filha?  Isso me alegra muito, hã?  D. Pepa  só sabe  falar que você fugiu com outro, Serafina!
- O quê? Não, papai, eu vou me casar com o Claude, o irmão francês da Janete!
- Como assim, filha?  E o Júlio?
- Papai, eu não amo o Júlio!
- Ma era só o que me faltava, minha filha se casar com um estrangeiro! Escuta aqui, Serafina, se isso non for uma brincadeira, eu quero os dois aqui, nesta casa. Capisce? Caso contrário, você não casa com a minha benção!
- Mas, papai!
- Sem mais papai, Serafina.  Io quero falar pessoalmente com este tal de, como é o nome dele mesmo?
- Claude, papai. Claude Antoine Geraldy.
- Va bene!  Eu quero esse senhor Geraldy aqui na minha frente. Quero olhar bem nos olhos dele! Essa história de casar assim de repente com outro, vai dar o que falar, filha! O pessoal aqui da vila vai...
- Papai... alô? Oi... Não escuto direito, a ligação ficou péssima... Alô! Nossa, uma chiadeira só, eu ligo depois! – E coloca o fone no gancho.
Olha para Claude ingenuamente e diz:
- Não é que a ligação ficou péssima? Caiu!
Claude a rodeia com os braços, encostando seu rosto ao dela.
- O que foi que ele falou que a deixou ton  irritada, hã?
- Meu pai é um italiano tradicional. Pensou que eu estava falando em casar com meu ex-noivo. Ele quer falar com você pessoalmente ou não vai nos abençoar.
- E isso é muito importante pra você, non é? A aprovação dele.
- É sim. Mas eu não vou deixar de ser feliz contigo, caso ele desaprove. Mas para isso, você precisa me pedir em casamento primeiro.
- Eu já fiz isso, gatinha. Lá na cabana – diz no ouvido dela, bem baixinho. E desce arranhando-a pela face com sua barba. 
- Não... Lá você me pediu para ser a mãe dos seus filhos, não sua mulher, sua esposa - sua voz sai pesada, estremecida.
- D’accord – diz, virando-a para si e olhando-a profundamente, antes de colocá-la sentada sobre a mesa – Sobre isso, eu só tenho uma coisa a dizer, chérie: Senhorita Serafina Rosa Petroni, você non esteve nos pedidos que fiz a Dieu, mas sempre estará nos agradecimentos. Quer casar comigo, ser minha esposa, minha amante... mon amour?
Os olhos de Rosa brilham. Em poucos segundos, Claude a vê sorrir.
- Quando nós trocamos o primeiro olhar, o meu coração pediu para se apaixonar. E quando eu nasci o meu amor já te pertencia, igual o sol que nasce e só pertence ao dia.  Sim, eu quero ser sua mulher e me apaixonar por você muitas vezes...
Então, a boca de Claude caiu sobre a dela.
- Bom dia, meus queridos! Eu vim... meu Deus, francês! Você não dá folga pra Rosa, não?
- Frazon! – diz, se afastando o mínimo de Rosa - Por que diabos, você non aprende a bater na porta, hã?
- Dessa vez eu bati, mon ami! Mas eu entendo, não tinha como vocês ouvirem meus suaves toques sobre aquele pobre pedaço de madeira morta, nesse momento...
- Frazon - diz Claude, pegando um peso de papel que estava sobre a mesa - Eu vou contar até cinco, pra dar tempo de você sair:  um... dois...
- Mas que mau humor! Eu só vim... – diz, se aproximando dos dois.
- Três...
- Droga, Claude! Eu só quero dar os parab...
- Quatro... – Claude levanta a mão e Frazão recua alguns passos.
- ...béns pelo seu casamento!
- Cinco! - Claude faz o movimento de arremesso e Frazão sai rapidamente, mal fechando a porta.
- Você não ia jogar isso no Frazão, ia? – pergunta Rosa.
- Claro que non. Esse peso non merece esse fim, hã? Rsrsrs. Agora vem. Hora de fazer a mala e enfrentar seu pai, gatinha...
No dia seguinte, Rosa era o assunto mais comentado na vizinhança, ao aparecer no casarão de mãos dadas com “um estranho com sotaque engraçado”.
Na sala do casarão, Rosa e Claude tentavam explicar e convencer Giovanni sobre o casamento.
Amália, Terezinha e Dino simpatizaram com Claude de cara, mas Giovanni tinha suas dúvidas.
- Ma come, io no entendo, Serafina! Você namorou o Júlio tanto tempo e desmanchou um noivado às vésperas do casamento. E ora, de una hora pra oltra dimmi que vai casar com esse dotore!
- Pai, eu não amava o Júlio! O senhor queria que eu fosse infeliz com ele?
- Levou quatro anos pra descobrir que no amava ele e ora em poucos meses  dimmi que  ama questo francês? Um estrangeiro?
-Papai! O Júlio vivia viajando. Quando não era a serviço, era em congressos. Mal nos víamos. E eu amo mesmo o Claude! – fala Rosa, pedindo ajuda a Amália com o olhar.
- Giovanni!! – fala Amália – E você é o que homem? Um italiano cabeça dura! Serafina se apaixonou... E o dotore também se apaixonou por ela. Como nós, amore!
Giovanni fecha a cara, carrancudo. Olha para Claude mais uma vez com desconfiança.
- E quem me garante que o senhore não vai abandonar minha filha e voltar pra Europa?
 Claude troca um olhar com Rosa antes de falar:
- Sr. Giovanni, podemos falar em particular, por favor?
Minutos depois estão numa saleta, uma pequena biblioteca, que Terezinha e Dino usavam para estudar.
- S. Giovanni, eu entendo a sua preocupaçon, entendo que o senhor ache estranho, mas non entendo por que non quer ver Rosa feliz.
- Ma che? É claro que io quero ver minha Serafina felice!
- Enton, por que non nos abençoa, hã? É tudo que Rosa quer.
- Porque não confio no senhore! Mal o conheço, como posso saber que não está só brincando com Serafina?
- Mas conhece meus pais. Eles me fizeram uma pessoa responsável, S. Giovanni. E eu tenho que casar com Rosa.
Um pouco menos desconfiado, mas agora curioso, Giovanni pergunta:
- Ma como assim, o senhore tem que casar com minha Serafina? Io no capisco!
Vendo que Giovanni começava a ceder, Claude continua com o que planejara ainda na sala de estar. Uma ideia maluca. Mas tinha que arriscar.
-Eu tenho dois motivos pra casar com ela, S. Giovanni. O primeiro é que eu amo a sua filha.
- E o segundo?
- O segundo motivo e non menos importante... Rosa non queria que o senhor soubesse assim, porém non vejo outra alternativa...
- Ma che passa? – interrompe Gioavanni com uma expressão de angústia – Por acaso Serafina tem alguma doença fatale?
- Non. O que Rosa tem non é doença... É vida S. Giovanni! E eu non vou deixar a mulher que eu amo criar meu filho longe de mim, d’accord?
Giovanni olha para Claude de boca aberta. Claude respira fundo e prende a respiração. Mas a reação, ao contrário do que Claude imaginava, não foi de raiva ou decepção.
- O dotore tá me falando que... io vou ser avô? – rsrs -  Io vou ser avô! Dio mio! O senhor tem que casar com ela imediatamente, não quero minha filha na boca do povo!
- Dieu, merci! Finalmente, o senhor entendeu!
- Sim, agora eu entendi a pressa toda de minha Serafina! Vocês têm que casar o mais rápido possível, hem? – torna a frisar.
- É tudo que mais desejo, S. Giovanni. Só peço ao senhor que non diga a ela que eu contei. Ela non queria decepcioná-lo!
- Não! Io não digo nada! Serafina, la mia principessa, vai me dar um neto, um neto! - e vai, gentilmente, empurrando Claude em direção à porta para a sala de estar.
Então, tudo se torna ao mesmo tempo alegre e confuso. Giovanni diz a Rosa que podia marcar a data, que o casamento estava abençoado por ele. Abre uma garrafa de vinho e Rosa acaba não tendo oportunidade de perguntar a Claude como conseguiu convencer Giovanni.
Apesar da insistência de Amália para que pernoitassem ali, no antigo quarto de Rosa, eles vão para o apartamento que François mantinha em São Paulo.
Giovanni acaba concordando, afinal, o que podia acontecer já tinha acontecido mesmo.
Finalmente, no apartamento, depois de sair do banho, Rosa está arrumando a cama, quando pergunta a Claude:
- Claude, eu estou curiosa! Como foi que você convenceu S. Giovanni sobre o nosso casamento?  Você disse ao meu pai que eu... que nós...?
- Non exatamente com essas palavras que você pensou!  Eu disse a ele que tinha que casar, porque você está grávida, gatinha! – e entra no banho.
Rosa se arrepia toda, seus olhos ficam totalmente abertos e suas pupilas se verticalizam por um instante, como uma gata realmente fica, quando se assusta. Isso era algo que não passara pela sua cabeça.

Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário