quinta-feira, 25 de abril de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 22 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXII

- Nara, quer soltar meu braço? – Fala Claude já sem paciência alguma. – Preciso levar esse chá para Rosa.
Claude estava ao pé da escada, voltando ao quarto, quando Nara o segurou pelo braço, tentando, outra vez, uma reaproximação.
- Precisa por quê? Ela não pôde descer e  tomar  o café à mesa, como todos fizeram?
- Non, non pôde. Ela acordou indisposta. E mesmo que non fosse isso, ela é minha esposa, e eu gosto de fazer surpresinhas para ela, d’accord? Com licença.
Nara o observa subir a escada com um brilho de raiva e inveja no olhar.  Descontou a raiva apertando o corrimão com toda força e a inveja contraindo todos os músculos do corpo.
Eu devia ocupar esse lugar na vida dele, não essa desclassificada! Tirando o detalhe da gravidez, é claro...
- Não encontrou ainda a saída, Nara? Se quiser, eu a acompanho até a porta, darling! – Fala tia Elisabeth, chegando atrás de Nara.
- Elisabeth! – Exclama Nara, girando o corpo, ficando frente à Elisabeth – Sempre gentil comigo...  – Ironiza - Vejo que se alegra com essa escolha tão provinciana do seu sobrinho querido.


- Oh, yes, baby! Principalmente porque a escolha foi do amor!  O amor os escolheu e os juntou!
Nara toma uma postura prepotente e fala:
- Você e essas suas filosofias baratas... O amor não existe. O que existe é o desejo, a atração física pura e simplesmente.
- Uma pena você não crer no amor, Nara. Por que ele acredita em todos nós, até em pessoas preconceituosas e egocêntricas como você. Agora com licença, vou voltar para meus afazeres. Faça uma boa viagem de volta a Paris, honey! – Conclui Elisabeth, saindo pela porta lateral rumo ao estúdio.
- Ora, ora, Elisabeth!  Você pensa que me conhece!  Eu posso ter perdido a batalha, mas não a guerra, afinal eu só a estou declarando agora!
Enquanto isso no quarto...
Rosa não sabia o que fazer. Estava deitada a manhã toda. Claude trouxera o café da manhã no quarto, logo cedinho. Tudo na bandeja lhe pareceu saboroso e suculento.  Tomaram o café entre risos e brincadeiras.  No entanto, assim que se levantou, precisou correr ao banheiro mais uma vez.
Devolveu todo o café de uma forma nada agradável, enquanto seu corpo todo tremia e sentia um suor frio inundar-lhe a pele. Tentava respirar e controlar as ânsias sucessivas, mas era em vão.
Claude a amparou e a ajudou a tomar um banho e refazer-se. Depois “ordenou” que ela ficasse deitada.  Seus pais e irmãos haviam vindo até ela para se despedirem. Estavam voltando para São Paulo num voo direto pela manhã.
Amália queria permanecer e cuidar de Rosa, mas vendo que Claude tomava as rédeas da situação, ficou mais tranquila.
Assim, Rosa passara boa parte da manhã revendo o álbum virtual de Tia Elisabeth.
Mostrara-o para seus familiares e vira seu pai tentando disfarçar algumas lágrimas quando viu as cenas da igreja. Nesse instante, teve certeza que todo o trabalho que teve pra transferir o casamento havia valido a pena, feito a diferença para ele.
- Tia Elisabeth registrou vários momentos, cenas maravilhosas e inesquecíveis do casamento, que seriam fixadas num álbum.  – Explicava Rosa - Mas depois decidiu que seria em dois álbuns: um virtual e um  tradicional, que ainda está  fazendo.
- Ela editou várias fotos de borboletas e mariposas das que Rosa havia tirado num passeio que fizemos, bem como o vídeo da cachoeira e os colocou no álbum virtual entre as fotos do casamento. Foi muito criativa. – Completara Claude.
Fechou o arquivo e notou um outro “ álbum making off” entre os ícones do pendrive.  Abriu, curiosa.  Era o mesmo álbum. Mas o que abria o álbum era o vídeo do primeiro encontro, quando Claude e Rosa despencaram pelo barranco.
Rosa sorriu.  É claro que tia Elisabeth não deixaria uma oportunidade dessas passar!
- Voilá! – Diz Claude, entrando no quarto com o chá – Sorrindo... É sinal que já está melhor. Acertei?
- Estou melhor sim, meu amor. Acho até que vou levantar e continuar com meu trabalho na casa da piscina.
- Mas non vai mesmo. Vai tomar esse chá e descansar o dia todo. Joanna já está marcando uma consulta para você com o médico dela em Campo Grande. A casa da piscina pode esperar.
- Mas Claude... – Começa a falar, mas Claude senta-se na beira da cama e coloca os dedos sobre os lábios dela.
- Rosa, você passou mal a noite toda e non consegue manter nada no estômago.  Se non estiver grávida mesmo, precisamos descobrir o que é... Enton, só por hoje, fique em repouso, d’accord?
- Está bem... Eu sorria pelo making-off do nosso  álbum. Tia Elisabeth adicionou o nosso primeiro encontro na abertura dele.
- Voilá! Essa eu quero ver, me mostra, gat...
O celular toca e Claude atende, enquanto Rosa abria o arquivo novamente.
- Sinto muito, chérie. Os empreiteiros eston precisando de minha presença com urgência. Volto assim que puder, d’accord? – Diz, despedindo-se com um beijo leve.
E saiu do quarto sem dar tempo a Rosa de protestar.
Teimosa, Rosa levantou-se devagar. Nada, não sentia nada que a obrigasse a ficar na cama.
Então, ariscou o primeiro passo e tudo a sua volta girou. 
- Droga! – Exclama, voltando atrás rapidamente até sentar-se na cama e encostar-se à cabeceira dela sobre os travesseiros.
Fechou os olhos e respirou profundamente, concentrando-se em afastar aquele mal estar.  Acabou cochilando e acordou com o barulho da porta se abrindo. E não gostou nada do que viu.
- Posso entrar, querida?  - Nara pergunta, entreabrindo a porta e entrando sem esperar pela resposta.
Com certeza era a última pessoa que Rosa gostaria de ver naquele momento. Sentiu-se o próprio patinho feio da história infantil. Estava pálida, com olheiras, os cabelos desalinhados e de pijama.
Nara estava impecável. Vestia uma blusa azul  royal de seda pura e uma calça branca.  Cuidadosamente penteada e maquiada. 


O que tem de elegante, tem de fria, pensa Rosa, enquanto Nara a olhava demoradamente.
- Vim ver se está melhor. Claude me pareceu tão perturbado! Sua saúde sempre foi frágil assim?
- Minha saúde é perfeitamente normal. Só estou passando por um período delicado.
- Sei... O Claude sempre foi responsável. Agora eu entendo porque se casou com você, queridinha. Um filho sempre foi o sonho dele, ao contrário do meu.
- O Claude não se casou comigo por eu estar grávida, se é o que está insinuando.
- Ah, não? E que outro motivo ele teria? Ele veio parar nesse fim de mundo, só pra tentar me esquecer. Tenho certeza que depois que essa criança nascer, ele volta pra França pra ficar comigo.
Rosa que esperava pacientemente pelo fim da conversa, aperta os dedos contra o lençol que segurava entre as mãos. Olhou para o rosto impassível de Nara e seu coração se apertou.  Ela não era apenas fria. Era insensível, vingativa, ferina e perigosa, lhe alertou aquela voz interior.
- Quer chamar Dadi para mim? Acho que vou vomitar...
Foi a vez de Nara empalidecer, levantando-se incomodada.
- Claro, não se mexa... – Falou, saindo rapidamente para fora do quarto.
Rosa sorriu diante do evidente descontrole de Nara com a possibilidade de seu mal estar. Mas o sorriso se transformou em choro. Abaixou a cabeça entre as mãos, sentindo os olhos úmidos e antes que pudesse evitar as lágrimas escorreram pelo seu rosto, por entre seus dedos.
Quando Dadi entrou, estava ainda enxugando o rosto.
- Dona Rosa! Que foi que essa cobra fez pra senhora? 
- Nada não, Dadi.  A presença dela estava me cansando e eu arrumei uma desculpa, só isso.
- Já cansou a todos. Não sei como o Dr. Claude foi capaz de namor... Desculpa, Dona Rosa, isso é passado.
- Um passado que existiu entre eles... – Murmura Rosa mais pra si que pra Dadi. – Eu vou tentar dormir mais um pouco, obrigada por ter vindo, Dadi.
- A senhora não quer comer nada?
- Não. Mais tarde, quem sabe...
Rosa acomodou-se nos travesseiros e tentou relaxar e afastar os pensamentos que invadiam sua mente. Nunca havia pensado na possibilidade de Claude ainda gostar de Nara... Não, aquilo não tinha  lógica. 
A imagem de Claude apareceu diante de seus olhos: a barba por fazer, os cabelos levemente despenteados, sorrindo para ela. Com aquele sorriso profundo, que lhe provocava tantas sensações...

  
Fechou os olhos e relaxou. Não havia dúvida, eles se amavam. E foi seu último pensamento antes de adormecer.


Algum tempo depois, Rosa acordou. Sentia-se melhor. Saiu da cama com cuidado e ficou de pé. O chão pareceu oscilar, mas logo recuperou as forças e tudo ficou bem. Olhou para o relógio: mais de duas da tarde! Dormira por mais de quatro horas!
 Feliz por estar bem, foi tomar um banho e voltou ao quarto. Estava tão atenta procurando uma roupa, que mal ouviu a porta se abrir, quietamente, como se alguém pensasse que ela ainda dormia. Então, uma voz profunda ecoou em seus ouvidos:
- Mas o que pensa que está fazendo, hã?
Por um momento não se mexeu, sentindo-se a garotinha com a mão na cereja do bolo.
- Estou me arrumando... Acabei de tomar um banho, tenho que por uma roupa.
- Sei... – Claude falou como se falasse com uma criança – Non disse que deveria ficar de repouso?
- Sim, mas... – Sentiu-se tão culpada diante do olhar de Claude que as palavras não saíam.
- Vamos, de volta pra cama! – Disse, erguendo-a nos braços.
- Não! Me deixa pelo menos por uma roupa!Eu estou melhor e não sou criança, sei me cuidar!
- Non é o que parece, segundo eu fiquei sabendo. – Fala, enquanto a coloca no chão - O que Nara queria com você?
- Saber se eu tinha melhorado – Diz, desviando o olhar de Claude, enquanto se vestia.
- Por que non me diz exatamente o que ela falou, hã? Dadi disse que você estava chorando.
Mas porque Dadi foi abrir a boca, pensou, afastando-se até a janela, ficando de costas para Claude.
- Rosa? Quer, por favor, me contar? – Pede com uma entonação de ordem.
Sem saber explicar porque, Rosa sentiu-se profundamente irritada com isso e respondeu mais ríspida do que queria.
- Se está tão interessado, por que não pergunta a ela?
- Primeiro, porque estou perguntando a você. E segundo, porque Nara já foi embora.
- Se despediu dela? – A curiosidade foi maior.
- Sim, ela fez o favorzinho de me procurar...
- E ficou triste porque ela já foi? Queria desfrutar mais da companhia dela? Se arrependeu de casar comigo?
- Mon Dieu!  Ela deve ter envenenado sua cabecinha contra mim...  Non foi isso?
- Olha, devia ter perguntado a ela. Tenho certeza que ela adoraria explicar tudo pra você.
Claude ignora a leve ironia nas palavras de Rosa e insiste:
- Vai me contar ou non? Sei muito bem do que aquela víbora é capaz!
Rosa se mantém em silêncio, olhando para o jardim através da janela. Claude se aproxima, ficando quase colado ao corpo dela.
- Voilá! Estou vendo que discutir contigo é chover no molhado, hã?
- Se sou assim... tão aguada, por que se casou comigo? – Pergunta abaixando a cabeça.
Então, sente os braços de Claude rodearem seu corpo e a voz dele em seus ouvidos:
- Porque eu te amo. É razon suficiente ou quer mais? – Diz, apertando-a contra seu corpo, naquele abraço, juntando seus corpos e roçando sua barba pelo rosto de Rosa.
- É suficiente! – Diz sorrindo.  E girando no abraço o enlaça pelo pescoço – Mas para que não fiquem dúvidas, vou querer algo mais... convincente!
E o convite mudo de seus lábios entreabertos logo foi aceito.


Continua...

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