XXI
Parte II
Então,
escutam algumas tossidas e olham na direção do som.
-
Júlio? - Fala Rosa surpresa demais.
-
Nara? - Rosa escuta Claude falar logo depois de si.
-
O que você veio fazer aqui? – Falam os dois ao mesmo tempo.
Então,
Elisabeth entra na sala:
-
Com licença... Oh, my God! Claude e Rosa, vocês estão encharcados! Non podem
ficar assim, darling, ou vão pegar um resfriado. Subam e tomem um banho, ok? E
vocês dois – Diz, pegando suavemente nos
braços de Nara e Júlio – Podem voltar comigo para o café que Dadi fez, enquanto
nossos pombinhos se aprumam...
Claude
e Rosa se olham e caminham para a escada, subindo-a:
-
Essa era sua noiva? – Pergunta Rosa,
o ciúme invadindo seu coração.
-
Non cheguei a ficar oficialmente noivo como você. O que ele
faz aqui?
Rosa
para no degrau em que está e olha para Claude, um degrau abaixo dela:
-
Não faço a mínima ideia... Não está pensando que eu o convidei, está? –
Pergunta ante a expressão desconfiada de Claude.
-
Non. Por acaso, pensa que eu convidei Nara? – Fala, subindo os degraus,
passando à frente dela.
-
Quer parar de responder minhas perguntas com outra pergunta?
-
Eu non estou fazendo isso, estou?
-
Não só está a... aaa... atchin!... como fez de novo! Atchin! Atchin!
-
Olha aí! Você já está toda resfriadinha... Melhor tirar logo esse vestido, hã?
Vem... – Diz, estendendo a mão.
Rosa
sobe rapidamente os degraus da escada para alcançá-lo e quando para, fecha os
olhos, sentindo tudo girar ao seu redor e se agarra a Claude, abraçando-o.
-
Voilá! Que ímpeto, gat... – Mas para ao perceber que não era uma brincadeira,
assim que a escuta.
-
Claude, me segura... – Pede com voz tensa.
-
Rosa, o que foi? – Seu tom muda de zombaria para preocupação.
-
Eu não sei... Uma vertigem. Acho que vai
ser mais que um resfriado...
Claude
a carrega para o quarto e direto para o banheiro. Depois de tomarem um banho,
decidem de comum acordo que cada um deveria conversar com a sua “visita”.
Assim,
Claude vai para o escritório com Nara e Rosa para a sala de TV.
No
escritório.
-
Claro que vim ver você, mon amour! – Fala Nara, aproximando-se e colocando os
braços ao redor do pescoço dele. - Não combinamos isso? Que eu viria ao Brasil?
-
Você só pode estar brincando, hã? Eu non combinei nada contigo. – Diz, tirando
as mãos dela e afastando-se. – O que aconteceu, Nara? Seu amante já a trocou
por outra?
-
Isso não é da sua conta! A não ser, é claro, que esteja interessado em ter
uma... – Insinua-se claramente.
-
Non seja ridícula!
-
Ridícula é essa sua esposinha! Sem brilho e sem classe!
-
Você acredita que foi justamente por isso que me apaixonei por ela? – Diz
Claude, calmamente, ignorando o veneno de Nara - Nosso primeiro encontro foi
ridículo, sem classe e sem brilho... Eu quase a atropelei,despencamos de um
barranco e literalmente ficamos atrelados um ao outro...
-
Mon Dieu! Eu jamais estragaria meu look, ficando lambida como um pintinho
molhado!
-
Tem razon... Você non ficaria bem toda molhada... – Fala, olhando para o rosto
de Nara excessivamente maquiado - Borraria demais seu rosto, hã? Já com
ela... Eu adoro quando Rosa fica assim
toda molhadinha...
-
Bem... – Diz, mudando de atitude, o que era um hábito para ela – Se te agrada,
eu posso tentar!
-
Tentar o quê, Nara? – Pergunta, distraído com as lembranças.
-
Ficar molhada pra você! Adoro banhos de hidromassagem... – Diz, espalmando as
mãos e passando-as pelo peito de Claude. – Principalmente, naquelas banheiras
francesas...
-
Non se rebaixe assim, Nara, e tire suas mãos de mim, s'il vous plaît, hã? – Diz
friamente - Se gosta tanto do papel de amante e das banheiras francesas volte
pra lá. Eu amo Rosa. Ela é a mulher de minha vida. E mesmo que ela non
existisse, você non me serviria nem como amante, d`accord? [por favor]
-
Você não pode me humilhar dessa maneira, Claude! Seu... francês estúpido! -
Fala com raiva, levantando a mão para acertá-lo.
-
Guarde seus ataques histéricos – Diz, segurando a mão de Nara no ar, com força
– Coloque-os em sua mala, volte para a França e esqueça que eu existo! E já que está aqui... Os pais de Rosa non
gostam de atrasos nas refeições. – Então a solta bruscamente, saindo do
escritório e batendo a porta com força.
Ao
mesmo tempo, na sala de TV.
-
Rosa, como pôde me esquecer assim tão rápido?
-
Não foi tão rápido, Júlio. Eu levei quatro anos pra te esquecer! – Diz,
ironicamente.
-
Nós ficamos juntos por quatro anos!
Como pôde se casar em poucos meses com um estranho?
-
O Claude não é um estranho. É irmão
da Janete.
-
Você já o conhecia, então? É isso? Veio para cá pra encontrar-se com ele!
-
O que está insinuando, Júlio? Que eu tinha um caso com o Claude, enquanto
estava com você, é isso?
-
Eu não disse nada, você está dizendo...
-
Olha, eu não sei o que veio fazer aqui! Aliás, como conseguiu me encontrar?
-
Seu pai... Eu implorei a ele o seu
paradeiro, assim que cheguei daquele congresso, porque queria que você
reconsiderasse o meu pedido de casamento.
-
Eu sinto muito Júlio. Perdeu seu tempo, eu deixei bem claro que não havia
chances de voltarmos. Não nos amamos!
-
Você não me ama! Mas poderia aprender a me amar.
-
Não, Júlio. O amor não se aprende. A gente simplesmente ama. Quantas vezes,
você prestou atenção nas minhas ideias, nos meus sonhos, nos meus desejos, no
que eu falava? Era sempre “eu” e nunca “nós”! Isso não é amor.
-
Se não tivesse se casado ainda, se eu tivesse chegado ontem, você voltaria
comigo?
-
Não! Mesmo que não estivesse casada, eu não voltaria com você, nem para você.
Eu amo o Claude. Ele é o homem da minha vida.
E quer saber? – Diz, olhando para o relógio no pulso – Já está na hora
do jantar. Os pais do Claude não gostam de atrasos!
Rosa
caminha até a porta e Júlio a segue. Quando coloca a mão na maçaneta, Júlio a
detém, cobrindo-o com a sua.
-
Espera... Eu... Eu me contentaria em ter
um outro papel na sua vida... – Fala e desliza seus dedos pelo braço de Rosa. –
Eu não me importaria... Poderíamos passar uns dias na França, que tal? Já temos
as passagens mesmo...
-
Eu acho que não entendi direito... Você está me propondo ser... ser meu...
-
Seu amante... Eu viajo sempre, poderíamos nos encontrar durante os congressos
que eu organizo e... - Plaft!
Foi
o som que ecoou na sala, quando a mão de Rosa bateu contra o rosto de Júlio com
toda força que foi capaz.
-
Essa é a sua ideia de amor? Eu fico
feliz em não concordar com você! E mais
feliz ainda em não ter casado com
você! – Diz, saindo e batendo a porta com força.
Rosa
escuta a porta do escritório bater e segue andando na direção da sala de jantar,
enquanto diz:
-
Era só o que faltava... Ser meu amante!
Claude
escuta a porta da sala de TV bater e segue andando na direção da sala de
jantar, enquanto diz:
-
Era só o que faltava... Ser minha amante!
Então
param a meio metro um do outro.
-
O que foi que você disse?– Perguntam ao mesmo tempo. - Eu perguntei primeiro! –
Continuam falando juntos. - Está bem, eu... – Calam-se sorrindo, pois
continuavam a falar juntos.
-
Isso non vai dar certo... Melhor tentarmos outra coisa! – Diz Claude, puxando-a
para si e beijando-a avidamente.
-
Humhum... Eu sinto interromper essa cena tão linda, mas o jantar está servido,
meus queridos! - Fala Frazão com um sorriso divertido nos lábios. - Onde estão nossos... hóspedes? Dadi não
gosta de atrasos...
Claude
e Rosa indicam as portas com as mãos e continuam o beijo.
Frazão
revira os olhos e gira na direção indicada, mas as portas se abrem ao mesmo
tempo e Nara e Júlio saem.
- Nara e Júlio! Queiram me acompanhar, por
favor! – Fala, fazendo um gesto com a mão, indicando o caminho para a sala de
jantar e indo logo atrás deles. – Meus queridos... Não demorem!
O
olhar de Nara ao passar por ele era de ódio e despeito. Já o de Júlio parecia
mais com derrota e decepção.
Em minutos, todos estão à mesa.
Dadi
fizera um jantar tipicamente matogrossensse: arroz boliviano, farofa de banana,
caldo de piranha, frango caipira com pequi e peixe assado... puchero e sobá –
uma comida japonesa feita com um tipo de
macarrão mais fino, incorporada à região.
Rosa
não deixa de notar os olhares e gestos de Nara, tentando chamar a atenção de
Claude.
-
Claude, eu não sei por que prato começar... É tudo tão diferente do que estou
acostumada.
Rosa
interfere rapidamente:
-
Querida, não se preocupe. Tudo que a Dadi faz é delicioso. Comece pelo caldo de
piranha. – Diz, indicando a porção individual que estava à frente do prato.
Mal
dá a primeira colherada, Nara engasga e tosse, muito vermelha.
-
Oh, me desculpe! Esqueci de avisar que esse prato é muito apimentado...
-
Oh, Nara querida, beba um pouco de água! – Fala Tia Elisabeth, piscando para Rosa.
– Você não acostumada a esses pratos brasileiros tão apimentados... Coma um pedaço de pão, ajuda a passar o
ardor...
Nara
dá um sorriso amarelo e lança um olhar ainda mais irado para Rosa. Mas não
poderia fazer nada.
Tanto
os pais de Claude quanto os pais de Rosa fizeram de tudo para contornar a
situação.
Finalmente,
Dadi trouxe a sobremesa: mousse de bocaiuva - ou macaúba, uma palmeira cujos
frutos são encontrados maduros de setembro a dezembro, conhecida como chiclete
cuiabano pela característica peculiar de não ser facilmente degustada e pela textura
grudenta como chiclete.
Rosa
acha delicioso e pega um segunda porção. Mas na terceira colherada, sente seu estômago
revirar, fica pálida, com uma enorme ânsia.
-
Filha, o que você tem? Ficou pálida de repente! – Pergunta Amália.
-
Rosa... Non tá bem de novo? O que você tem?
-
Eu preciso ir ao banheiro... Desculpem... – Diz, levantando-se com a mão sobre
a boca.
-
Isso é natural no estado dela... Non é, Amália? Tá esperando o que dotore? Vai
logo atrás de minha Serafina!
Claude
levanta para ir atrás de Rosa, mas ainda escuta as perguntas.
-
Estado dela? Como assim? – Pergunta Nara
-
O que a Rosa tem s. Giovani? – Pergunta Júlio – Ela está doente?
-
No! Rosa está com mais saúde do que nunca, Júlio! Rosa vai ter um bambino,
capisce?
Claude
sobe rapidamente até o quarto. Entra e vê Rosa saindo do banheiro, aproxima-se
dela e diz:
-
Gatinha, seu pai está convencido de sua gravidez, non precisava toda essa
encenaçon, hã?
-
Claude, olha bem pra mim... – Diz Rosa, levantando o rosto pálido para ele. – Espera...
vou vomitar outra vez! – E corre ao banheiro.
Quando
volta ao quarto, vai direto para a cama.
-
Mon Dieu... Você realmente passou
mal... Enton... Rosa será que você está
mesmo grá...
Algumas
batidas na porta que é aberta em uma pequena fresta, interrompem a conversa.
-
Com licença, honey! – Seu mal estar causou uma pequena confusão, darling! Agora
todos sabem que você está grávida... Seu ex-noivo resolveu ir embora hoje
mesmo. Infelizmente, não posso falar o mesmo de Nara... Oh, Lord! Rosa, melhor você ficar deitada, sua
aparência está péssima!
-
É, eu sei, tia Elisabeth. Acabei de me olhar no espelho...
-
Olhe, peguem o notebook e deem uma olhada no seu álbum virtual de casamento. –
Diz, entregando um pendrive à Rosa. – Se estiver do seu agrado, honey, farei a
gravação num DVD com o making-off da cerimônia... Tem cenas muito
interessantes!
-
Obrigado, tia Elisabeth. Vamos ver agora mesmo, non é, chérie?
-
Sim... Aproveita, enquanto eu não tenho que ir ao banheiro de novo...
Elisabeth
sai, deixando-os sozinhos. Claude liga o note e conecta o pendrive e deita ao
lado de Rosa.
-
Vamos ver... Nossas primeiras memórias, gatinha... – diz, passando o braço por
trás de Rosa, aconchegando-a junto de si.
Depois
que terminam de ver, Claude coloca o note ao lado da cama, no chão.
-
Ficou lindo! Tia Elisabeth é uma grande artista!
-
D’accord... Gatinha... Eu realmente gostaria que você estivesse grávida,... De
uma outra gatinha... Non, de uma borboletinha!
-
Isso que eu tive não prova nada... Pode ser só um mal estar...
-
Enton, nesse caso, melhor continuar tentando, non acha?
E
prende Rosa sob seu corpo, cobrindo-a de beijos e carícias até alcançarem o
êxtase total...
Continua...
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