quinta-feira, 18 de abril de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 21 - PARTE 1 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XXI
Parte I

Rosa sentiu-se balançar e o rosto esquentar.  Uma claridade intensa a incomodou. Abriu os olhos e sorriu. Não fora sonho. Ela estava realmente numa jangada no meio do rio.  E Claude a mantinha presa em seus braços.
A brisa matutina deixava o ar frio. Aconchegou-se anda mais a ele, puxando a coberta. Claude pensara em tudo. Até uma camisola, ele deixara preparada.
- Bom dia, gatinha! Uma gatinha oficialmente comprometida, agora.
- Bom dia, amor! Então foi pra isso que você desviou o pessoal da fazenda...
- Oui. Nossa lua de mel tinha que ser especial, sem ser em Paris.
- E foi!  Você foi muito original e extremamente romântico...
- Você merece, d’accord? Rosa, eu nunca te perguntei isso...  tem medo de altura?
- Eu acho que não, por quê?
- Olha ali na nossa árvore que você vai entender...
Rosa gira o corpo e olha para onde Claude indicava.
 - Meu Deus... Claude, o que é aquilo na árvore? – Pergunta, incrédula com o que via.
- É o nosso refúgio, gatinha... Aquele é um lugar só nosso... Vem, vamos subir lá.
- E como é que faremos isso?
- Tem uma escada do outro lado do tronco...



- Ainda non está acabada, chérie. Falta o toque de uma certa arquiteta...
- Pois me parece perfeita! Uma casa na árvore!  - Fala Rosa, quando já estão lá em cima – Acho que é o sonho de toda criança.
- Daqui podemos ver quase toda a fazenda – Diz Claude, aproximando-se da grade de madeira.
- Realmente, a região do pantanal é linda!  - Exclama Rosa, ficando ao lado dele.
- É sim... Mas você é muito mais... – Diz, enlaçando-a pela cintura e beijando-a docemente – Vem... tem um café da manhã nos esperando...
- Hummm, muito engenhoso de sua parte colocar tudo numa caixa térmica.
- Eu poderia ficar com o elogio, mas ele pertence à Dadi, hã? Foi dela a ideia.
- Eu vou lembrar de agradecê-la,  já que meu marido  iria me deixar  morrer de fome!
- De fome, talvez. Mas nunca por falta de amor, d’accord? – Diz, abraçando-a apertadamente.
- Podemos ficar aqui até de tarde? – sussurra Rosa.
- Oui, gatinha...  Hoje o dia é só de nós dois...
Na fazenda.
- Eu não falei pra vocês que as cartas não mentem? – Falava Elisabeth a Frazão e Janete. – Foi como elas disseram... Dose dupla de passado.
- Mon Dieu, o que ela faz aqui, titia?- Pergunta Janete, num tom preocupado. - E ele?
- Claro que ela veio atrás do Claude e ele atrás da Rosa, minha rainha. - Fala Frazão – Por que  outro motivo seria?
- Ainda bem que eles não chegaram ontem por causa da chuva. Teria sido uma tragédia!
- Por supuesto, darling!  Mais uma prova que Deus, sabe o que faz! O voo atrasou devido a chuva e eles só puderam vir para a fazenda hoje.
- E agora estão lá, Nara com meus pais e o Júlio com os pais da Rosa!
- Quando eles voltarem, vão levar um susto e tanto! – Fala Janete.
- Maior susto estão levando esses dois ao saber que Claude e Rosa estão casados...
No escritório da casa.
- Como assim o Claude casou ontem, François? –Pergunta Nara, tentando não perder a classe. – Ele não podia ter feito isso comigo!
- Não seja dramática, Nara.  Até onde sei, foi você quem fez algo ao Claude, quando se apoderou do projeto dele e passou para a concorrência. Isso foi golpe sujo. Se você fosse uma simples funcionária, eu até entenderia... Mas você era praticamente noiva dele!
- E por que acha que vim até aqui, nesse fim de mundo? Eu me arrependi, François!
- Não me faça rir, Nara! – Diz Joanna, até então calada – Você arrependida? Eu acho é que você levou foi um belo pé no traseiro, isso sim!
- Olha aqui, Joanna, eu não admito que você fale assim comigo!
- Quem não admite as coisas aqui, sou eu! Você está na nossa casa, Nara! Sem ser convidada! E não vou admitir que você fale assim com minha esposa e muito menos que tente arruinar o casamento de Claude. Eles estão muito felizes e você não vai atrapalhar essa felicidade. Entendeu?
- Claro que entendi. Você tem toda razão...  Eu deveria ter vindo antes. Mas como ia imaginar que ele me trocaria em tão pouco tempo?
- Por Deus, garota! Claude não trocou você por nada, nem por ninguém! – Fala Joanna. – Quando ele veio para o Brasil, vocês já não tinham nenhum relacionamento.
- Joanna, o Claude era apaixonado por mim. Ele veio pra cá pra tentar me esquecer. – Diz Nara, querendo mostrar segurança.
- Que bom que você não faltou às aulas de português, Nara. Usou o verbo no tempo certo: “era” apaixonado, se é que foi mesmo um dia.
- E esqueceu completamente. Conforme-se Nara. Esta você perdeu! – Completa Joanna.
- Ainsi, est la vie! – diz Nara, mudando de atitude - Creio que vocês estão cobertos de razão. Eu devia ter vindo... melhor, eu não devia ter deixado ele sair da França... Enfim!  Quando é que ele volta da viagem de lua-de-mel?  [Bem, é a vida]
- Eles não viajaram, estão em algum canto da fazenda, creio que acampados. Devem retornar ainda hoje.
- Mon Dieu! Claude continua com essas ideias id... incríveis, não é mesmo? Eu posso esperar? Gostaria muito de cumprimentá-los!
- Bem, fique à vontade. Joanna, essa parte é com você.
- Eu vou pedir à Dadi que leve suas coisas para o quarto de hóspedes. Poderá tomar um banho e descansar um pouco.
- Muito obrigada, Joanna. Eu vou pegar minha mala do carro que aluguei, com licença.
Nara sai do escritório.
- Concordou muito rápido. Ela vai aprontar alguma, François! – Diz Joanna com a testa franzida.
- É, mon amour. Parece que teremos outra tempestade. E não vai ser só de água dessa vez... – Diz, olhando pela janela e vendo as nuvens que se aproximavam pelo céu.
Na varanda da casa.
- Mas como o senhor deu sua permissão, S. Giovanni? Eu disse que iria procurar por ela! – Falava Júlio, desconcertado.
- Filho, o que eu podia fazer? Serafina ama esse dotore e o dotore  ama  minha Serafina, hum?
- Eu não acredito nisso!  Ficamos quatro anos, S Giovanni, quatro anos juntos e agora em alguns míseros... seis meses, ela  ama outro? Dá até pra pensar certas coisas. – Diz, passando a mão pela testa.
- Ehhh... pensar o que hem, Júlio? – Pergunta Giovanni.
 - Que Rosa me deixou por causa desse...  desse francês!
- Epa!!! Pera lá! Minha filha é uma mulher honesta! – Fala Amália – Ela nunca enganou você, Júlio. Foi tão honesta, que desistiu quando percebeu que não era amor que sentia por você!
- Desculpe-me, D. Amália, eu estou desesperado... Droga! Se eu estivesse em São Paulo, teria impedido ela de fazer essa loucura de vir pra cá!
- Va bene! Esse foi o seu problema, Júlio! – Fala Giovanni - Molta preoccupazione con il lavoro e poco con Serafina!
- Eu estava trabalhando pra dar mais conforto a ela! Montei nosso apartamento, mobiliei...
- Mas Júlio, pensa bem! Não ia dar certo. Se Serafina se apaixonou pelo dotore, é porque o coração dela estava vazio, filho!
- Eu tinha esperanças de reconquistá-la... Eu lhe falei isso, S. Giovanni!
- Ma porca miséria, você demorou muito, Júlio!
- Eu tinha um congresso marcado... Não podia faltar!
- Tá vendo? Serafina se cansou de ser trocada pelo seu trabalho! E eu estou do lado da minha filha.
- Pra onde ela foi? Paris? Usou as passagens da nossa viagem?
- Claro que não!  Imagina se o dotore ia aceitar... Ia precisar de usar  aquelas passagens! – Fala Amália.
- Eles estão aqui na fazenda mesmo. O Claude construiu uma cabana só pra lua de mel deles.  – Completa Giovanni.
- Estou desconhecendo o senhor, S. Giovanni... O senhor sempre foi tão preocupado com a reputação de Rosa, com a moral e os bons costumes...
- Eu tenho minhas razões, Júlio! E a principal delas é que o marido de Serafina é um homem íntegro, de caráter e ama minha filha. Ele foi até São Paulo pra pedir a mão dela em casamento, capisco? E se minha filha está  felice, io tenho que estar  também!
- Eles voltam hoje? – Pergunta Júlio.
- Io entendo que sim, perché eles saíram com a roupa do corpo, ou seja, do  casamento, capisco?
- Eu vou esperá-la, então.  O senhor me permite?
- Você é maior de idade e responsável pelos seus atos, filho...
Na sala de estar.
- Well, meus queridos, vou voltar para o estúdio, ok?  Quero terminar de editar as fotos e montar um álbum virtual para Rosa.
- Está bem titia! Eu vou ver o que está acontecendo por aí... com essa dupla. Vou ficar de olho em Nara! Não confio nela.
- E eu vou verificar como vai o acabamento dos últimos chalés. A ideia da Rosa de colocar nomes típicos com animais do pantanal ficou show!
- E eu não sei? – diz Elisabeth – Você já viu o que ela fez com a garagem? Ficou magnifique! Um estúdio completo, bem iluminado, arejado, perfeito! Bye!
- E pensar que o Claude não a queria por ser mulher! Francamente, esse francês tem cada uma! – Fala Frazão.
- Frazão, você podia ficar de olho no Júlio, puxar conversa com ele, quem sabe... – Vai falando Janete, enquanto saem da casa.
Do outro lado da fazenda, Claude e Rosa curtiam os últimos momentos do dia.  O sol já começava a se pôr e eles estavam à beira do rio.
- O dia já se foi, chérie. Hora de voltarmos pra fazenda.
- Foi tudo tão incrível! Muito melhor que ir a Paris...
- Non exagere, hã? Isso aqui foi muito bom, mas Paris... é Paris, gatinha! Nada se compara. E eu vou te levar pra conhecê-la, d’accord? Vai ser a nossa segunda lua de mel.
- É uma promessa? – Estremece ao ouvir o som de um trovão ao longe.
- Oui! Vamos?  Ou, enton, pegaremos chuva pelo caminho...
- Ok, me ajuda a colocar o vestido de novo?
- Voilá! É sempre melhor tirá-lo, hã? – diz, sorrindo com canto da boca. - Vamos sair da beira do rio... Que foi, por que ficou séria assim de repente, olhando tudo ton fixamente?
- Eu quero gravar tudo isso na memória... Essa noite e esse dia lindos que você me deu...
 - Isso tudo é porque eu te amo, gatinha!
- Eu também amo você, Claude Geraldy! – E os lábios de Claude tocam os dela.
Depois de estarem vestidos novamente, partiram de volta à fazenda. Era uma corrida contra o tempo, pois nuvens carregadas arrastavam-se velozmente pelo céu, parecendo vir de encontro a eles.
Haviam deixado tudo organizado e arrumado. No dia seguinte, voltariam com a camionete para levar o que tinha que ser levado.
Quanto à jangada, ela ficaria ali, amarrada ao tablado, pois pretendiam vir muitas outras vezes por ali e, quem sabe, descer o rio com ela. Rosa já imaginava as fotos que conseguiria fazer.
Claude acelerava nos trechos mais plainos, o que fazia com que Rosa se agarrasse mais a ele.
- Claude! Assim, vamos cair! – Fala alto, tentando ser ouvida por ele, apesar do capacete e do vento.
- Non vamos non, gatinha... Dessa vez non! Segura firme, d’accord? Quero ver se chegamos à fazenda antes da chuva!
A volta pareceu ser mais rápida. Minutos depois, já avistavam os chalés e os jardins entre eles. E o telhado da casa-sede.
Mais um pouco e avistaram a piscina e o salão. Claude diminuiu a velocidade e, alguns minutos depois, circundou o entorno da casa, parando ao lado da piscina.
Mas antes que chegassem, a chuva caiu, repentina e torrencialmente, sem pingos de aviso.


Desceu e ajudou Rosa a descer da moto. Estavam encharcados. O vestido de Rosa colara em seu corpo e a chuva fazia de seus cabelos uma moldura para o seu rosto.
Olhou para Claude e viu a água escorrendo pelo rosto dele. Delicadamente, tentou secá-lo, mesmo sabendo ser impossível.
- Toda vez que o céu fechar e começar a chover, podíamos nos beijar. – Fala Rosa suavemente.
- D’accord...  – Responde Claude, tomando-lhe os lábios semiabertos e beijando-a.
- Quer dançar comigo? – Pergunta Rosa, encostando sua boca no ouvido dele.
- Por que non? Vamos terminar nosso beijo molhado com uma dança sem música – Responde, sorrindo.
- Como assim sem música? Não está ouvindo os sinos tocarem?  Parecem até pingos de chuva tocando o chão...
Claude sorri. Ela usava o mesmo truque seu...  Abraça Rosa, puxando-a de encontro a si firmemente, mantendo-a bem encostada em seu corpo. E dançam uma música que só tocava em seus corações apaixonados...
Trocaram beijos, carícias e promessas...
- O bom da chuva é que parece non ter fim, chérie. Igual ao nosso amor! Os trovões estão aumentando, é melhor entrarmos antes que um raio nos atinja!
- Por onde vamos entrar, molhados desse jeito? – Pergunta Rosa, tentando torcer a saia do vestido.
- Pela porta da frente, gatinha... Como tem que ser, hã?
Claude a pega pela mão e logo estão subindo os degraus da varanda. Coloca a mão na maçaneta, mas retira rapidamente.
- Non... Vamos entrar como manda a tradiçon! – E a pega em seus braços – Você abre a porta, gatinha...
- Pois non, monsieur Geraldy! – Brinca Rosa e os dois entram rindo. A porta escapa e bate com a força do vento.
Claude a coloca no chão, lentamente.
- Bem vinda ao lar, Senhora Geraldy – Diz baixinho, beijando-a e acabam perdendo o equilíbrio, derrubando um cabideiro que ficava perto da porta.
Então, escutam algumas tossidas e olham na direção do som.
- Júlio? - Fala Rosa, surpresa demais.
- Nara? - Rosa escuta Claude falar, logo depois de si.
- O que você veio fazer aqui? – Falam os dois ao mesmo tempo... 

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