4°
CAPÍTULO – A decisão.
No
dia seguinte, Mariana e Emanuela acordaram cedo e estavam tomando café da manhã
quando alguém bateu à porta. Era Vanessa, amiga e vizinha das duas.
— Oi, lindas, desculpem invadir, mas queria dizer
"bom dia", já que quase não tenho falado com vocês. Ultimamente,
tenho chegado muito tarde. Esse trânsito é horrível, não preciso nem dizer, né?
Mariana
sorriu.
— Não se preocupe. Está servida?
— Obrigada, mas não posso ficar muito tempo. Só
queria saber como vocês estavam - e sentando-se em uma das cadeiras próxima a
mesa - Vocês já sabem sobre o homem que estava perguntando por vocês duas?
Mariana
olhou para Emanuela.
— Sim, nós soubemos antes de ontem pela sua mãe. Mas
eu acho que vocês estão exagerando demais na preocupação - disse Emanuela
tentando disfarçar a própria ansiedade.
Vanessa
balançou a cabeça negativamente.
— Pois, eu acho totalmente o contrário - disse
Vanessa - Afinal, vocês moram sozinhas. E, de repente, um homem que não se sabe
o porquê, vem aqui e pergunta por vocês... Isso é muito estranho, vocês não
acham?
Mariana
percebeu que Emanuela parecia tensa.
— Pode ser estranho, mas também pode não ser - Mariana
falou, tentando tirar a preocupação do rosto de Emanuela - Por exemplo, pode
ser que alguém queira que eu dê aulas de reforço...
Vanessa
sorriu.
— É verdade. Eu sei que estão há pouco tempo aqui,
mas parece que conheço vocês há muito tempo, por isso me preocupo - e
levantando-se - Bem, agora estou indo, meninas, porque hoje não posso chegar
atrasada à aula... Depois da aula, eu venho aqui para a gente conversar mais um
pouco.
Vanessa
saiu. Emanuela e Mariana olharam uma para outra.
— Manu, você parece muito preocupada desde ontem. É
por causa do que a D. Helô falou?
Emanuela
olhou para a irmã.
— Mari... – disse, olhando um pouco apreensiva para
a irmã - Eu tenho minhas suspeitas sobre quem estava perguntando por nós.
— Quem? - perguntou a outra desinteressada.
Emanuela
olhou séria para a irmã.
— Você tem certeza que não desconfia de ninguém?
— Você está desconfiando que seja alguém que a gente
conhece? - disse Mariana pensativa e se assustando de repente ao perceber de
que Emanuela desconfiava. - Por acaso você não está falando do nosso pai, está?
Emanuela
ficou calada.
— Mas é impossível!- continuou Mariana - Quer dizer,
faz muito tempo que não o vemos.
— Não se esqueça o tipo de pessoa que ele é.
— Acho que se for ele, não há por que ter tanta
preocupação. Afinal ele é o nosso pai de criação. Ele nos ajudou a fugir da
Tânia e nos entregou para a Rebeca.
— E nos levou para o abrigo, dizendo que sempre
estaria com a gente, mas depois de um tempo desapareceu. E para as pessoas, um
ladrão sempre será um ladrão...
Mariana
olhou para a irmã com tristeza.
— Acho que não deveria falar assim do homem que nos
criou como se fôssemos filhas de verdade. Não se esqueça que ele foi preso
durante um tempo por nossa causa.
— Eu sei - disse Emanuela, suspirando - O problema é
que as pessoas não podem saber que somos filhas de uma "mulher da
vida" e fomos criadas por um ladrão. Não que eu não goste da nossa mãe e
do homem que nos criou, mas o que as pessoas vão pensar? "Filho de peixe,
peixinho é", não é o que sempre dizem?
Mariana
suspirou, não podia ir contra os argumentos da irmã.
— Eu não tiro sua razão, mas mesmo assim é um pouco
triste ouvir você falar assim do Rogério – depois sorriu - Mas vamos deixar de
lado tudo isso e vamos trabalhar. Você não está atrasada?
Emanuela
olhou para o relógio e se assustou.
— Meu Deus! Estou muito atrasada – disse, se
levantando e dando um beijo na irmã - Tchau, mana, depois a gente se fala!
Mariana
olhou para a mesa desarrumada.
"Parece
que ela faz de propósito, deixa sempre a mesa comigo!" - pensou.
Viviane
acordou cedo para avisar ao avô que já havia falado com a família sobre a
reunião que ele queria fazer.
— Bom dia, vovô – disse, entrando no escritório do
avô.
Dr.
Otávio olhou para a neta rapidamente, enquanto organizava alguns papéis.
— Sim, Viviane. O que quer?
— Sobre aquilo que o senhor tinha me pedido... Eu
falei com todos ainda ontem... A maioria terá um tempo livre ainda hoje, depois
do almoço. O senhor que quer eu faça mais alguma coisa?
Otávio
parecia satisfeito.
— Não. Obrigado, Viviane.
Viviane
sentou-se em uma cadeira próxima.
— Vovô... O que o senhor tem a falar tem a ver com
aquela carta que eu achei?
Otávio
olhou para a neta de repente.
— Não se preocupe. Você vai saber em breve – disse,
levantando-se, enquanto guardava os últimos documentos que estavam em cima da
mesa.
Viviane
observou o avô sair.
— Por que ele não me diz logo? – falou como para si
mesma – Eu não estou gostando nada disso...
O
Dr. Fabiano, o filho médico do Dr. Otávio, olhou pela janela do quarto da
paciente que ele havia operado há alguns dias. Entrou no quarto e anotou alguns
dados médicos, enquanto a enfermeira aplicava o medicamento.
— Com licença, enfermeira. Você sabe dizer se já
descobriram alguma coisa sobre essa paciente.
— Não, Dr. Fabiano. Mas, se o senhor perguntar ao
Dr. Rafael, ele poderá lhe responder melhor. Soube que andou conversando com o
policial que a encontrou no dia do acidente.
— Obrigado.
Fabiano
suspirou. Fazia muito dias que não via Rafael. Ultimamente, por conta do
mestrado, ele estava tendo alguns dias de licença e mesmo quando estava no
hospital, estava sempre muito ocupado.
Verônica
estava na biblioteca estudando. De repente, olhou para Viviane ao lado e
percebeu que a amiga estava muito pensativa.
— O que foi agora?
Viviane
suspirou impaciente.
— Eu não sei... – disse semicerrando os olhos – Eu
não sei. Eu não sei.
— O que você não sabe? – perguntou Verônica um pouco
desinteressada.
— Eu estou dizendo que eu não sei! – e olhando para
a amiga – Sabe aquela sensação que diz que alguma coisa está prestes a
acontecer?
— Humm.
— Então, eu estou com essa sensação... Por que ele
não me falou logo?
Verônica
olhou para a amiga um pouco confusa.
— Ele quem? Do que está falando?
— Nada.
Verônica
sorriu.
— Já que você não está fazendo nada, nem pensando
nada, você poderia me fazer um favor e pegar um livro para mim? – disse escrevendo
algo em um papel – É esse aqui. Faça esse favor, hã?
Viviane
suspirou e se levantou. Nas estantes, localizou o livro e já ia voltando,
quando esbarrou em alguém e derrubou o livro.
— Não acredito. Você devia olhar para onde anda! –
disse, pegando o livro no chão e ouvindo as desculpas da outra pessoa.
De
repente, percebeu que a pessoa em quem esbarrara era conhecida.
— Então é você. Gabriel Arantes – disse com olhar de
poucos amigos.
— Digo o mesmo, Viviane Alcântara – replicou ele, a
encarando.
Viviane
riu-se.
— Não me diga que você é um stalker? Sim, porque só isso explicaria o fato de um estudante de
Engenharia Civil estar frequentando uma biblioteca do curso de Medicina.
— E quem eu estaria perseguindo? Você?
— Claro. Afinal, eu sou linda, inteligente e rica. E
por que não quase perfeita? Mas, sinceramente, você não vai conseguir nada com
isso.
Gabriel
riu.
—
Do que está falado, garota quase perfeita?
—
Estou falando que não é uma coincidência você estar justamente aqui e agora. Isso me faz pensar que você não estava
falando sério, quando falou aquilo na festa da Yasmin.
— Para seu governo, querida Viviane, eu estou aqui
ajudando uns amigos. E, antes que você continue entendendo errado, garotas
quase perfeitas como você, eu quero bem, bem longe de mim – disse saindo.
Viviane
foi em direção a mesa onde Verônica estava e sentou-se rapidamente em uma
cadeira próxima.
— Está aqui o seu livro – disse irritada, colocando
rudemente o livro em cima da mesa.
Verônica
ficou um pouco assustada com o humor de Viviane.
— O que foi agora?
— Não me pergunta. Só estuda.
Verônica
deu de ombros, enquanto via a amiga assoprar de raiva.
Otávio
parecia um pouco tenso. Pedira a Viviane para reunir todos, mas não achava que
fosse tão rápido. Todos já haviam almoçado e agora estavam reunidos ali. Á sua
frente, na sala principal da mansão, estavam sentadas sua neta Viviane, sua
nora Gabriele, mãe de Viviane e seu advogado Dr. Tarcísio. Fabiano, seu filho
que era médico, chegaria mais tarde. No entanto, estavam seus outros dois
filhos e suas esposas, Bruno e Iêda, arquitetos renomados e Otávio Jr. e
Camila.
— Estamos todos aqui, pai. O que queria falar de tão
importante que foi preciso chamar toda a família? - perguntou Otávio Jr com seu
mau humor habitual - Espero que realmente seja muito importante.
— Não seja tão impaciente, Otávio – disse,
levantando-se - Bom, tenho realmente algo muito importante para falar e, antes
de tudo, espero que compreendam a minha decisão.
Dr.
Tarcísio pigarreou. Não importava como Otávio falasse, o que ele estava prestes
a dizer não iria causar uma boa reação nos presentes.
— Vovô, o que pode ser tão importante assim? –
perguntou Viviane já um pouco impaciente - Eu estou ficando preocupada. O
senhor não poderia falar logo? Para quê esse suspense todo?
Gabriele,
mãe de Viviane, olhou-a com reprovação.
— Não fale assim com seu avô, Vivi. Tenha modos,
minha filha. Você não é mais uma criança.
Otávio
estava sério.
— Claro, Viviane, mas isso também diz respeito a
você - suspirou. - O que eu tenho a falar é... Bem, eu soube que há uma grande
possibilidade de que Jorge teve filhos com outra mulher.
Gabriele
ficou pálida. A reação de todos foi de total surpresa.
— O quê?! O que o senhor está dizendo, pai? -
perguntou Otávio Jr., estranhamente exagerado em sua reação.
— Isso é realmente verdade? - o outro filho, Bruno,
também não estava acreditando no que estava ouvindo.
— Meu sogro, isso só pode ser uma brincadeira, não
é? - perguntou Camila, esposa de Otávio Jr.
Otávio
já esperava aquela reação.
— Eu sei que parece mentira, mas eu averiguei os
fatos. A verdade é que é quase certeza que Jorge teve filhos além da Vivi. Para
ser mais exato, duas filhas, gêmeas.
Viviane
ficou sem reação.
— Mas como o senhor descobriu isso, vovô?
— Pela carta que você encontrou, Vivi. E se quiserem
saber mais detalhes, o Dr. Tarcísio poderá lhes explicar.
— E o que o senhor pretende agora? - perguntou
Bruno. - Creio que o senhor tomará algumas providências, visto que o senhor
está aqui para comunicar algo além do que acabamos de ouvir, não é?
Otávio
sempre se surpreendia com a perspicácia de seu filho Bruno, não era à toa que
se tornara um dos melhores arquitetos do estado.
— Sim, Bruno, você está certo. O que eu tenho a
dizer é que eu pretendo trazê-las para morar conosco.
Todos
ficaram perplexos com que tinham ouvido.
— O quê?! - exclamou Vivi quase gritando - O
senhor... O senhor pretende trazer pessoas desconhecidas para morar aqui? O
senhor ficou louco?
— Viviane! – Gabriele quase gritou – Mais respeito
com seu avô!
Viviane
parecia bastante irritada.
— Eu... Eu não concordo com isso! Como o senhor pode
tomar essa decisão sem perguntar a ninguém aqui? Como?! Como?!
Otávio
olhou sério para Viviane.
— Viviane, você é minha neta e eu lhe amo como tal,
mas a minha decisão independe da opinião de qualquer um aqui.
— Então, porque nos mandou chamar? - perguntou
Otávio Jr. ainda consternado - Era só tomar sua maldita decisão e pronto!
Afinal, você é o dono do Grupo Demontieux!
Dr.
Otávio olhou para Otávio Jr. e suspirou.
— Eu só quero que essas meninas tenham o que vocês
tiveram. Afinal, quer vocês queiram ou não, elas têm o sangue dos Alcântara. E
a única pessoa que poderia tentar criticar minha decisão permaneceu calada sobre
isso até agora.
Todos
os outros olharam para Gabriele que estava sentada.
— O que você me diz Gabriele? - perguntou o Dr.
Otávio.
Gabriele sorriu um pouco pálida.
— Se o meu sogro quer assim. De qualquer forma, como
o senhor mesmo disse, elas têm o sangue dos Alcântara...
Otávio
olhou com tristeza para a nora.
— Obrigado, Gabriele. Eu sei que é difícil para
você. Mas, acredito que, com o tempo, vai me apoiar nessa decisão - e olhando
para todos - Já está decidido, elas vão morar aqui.
— Só uma pergunta, meu pai. - pediu Bruno - Por
acaso, elas já sabem da decisão que o senhor tomou?
Dr.
Tarcísio tomou a palavra.
— Bem, isso é algo que ainda estamos providenciando.
Por enquanto, há uma grande possibilidade delas desconhecerem até o pai.
Otávio
bateu palmas, sarcástico.
— Parabéns, meu pai, o senhor conseguiu tornar a
situação mais cômica ainda.
De
repente, entrou na sala Fabiano, que tinha conseguido sair do hospital para a
reunião.
— E aí, como está a família mais feliz do Brasil?
Todos
olharam sério para ele.
— Alguém poderia me explicar o que está acontecendo aqui?
- perguntou meio sem jeito.
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