XIII
Toda
coragem de Rosa, desapareceu quando ele
entregou o capacete à ela, antes de subir na moto. Suas mãos tremeram.
Percebendo sua relutância, Claude diz:
-
Com medo de mim ou da moto?
-
Da moto... Eu não sei se estou preparada. Há alguns anos atrás, eu fui
“cortada” por um carro e desde então não tive mais coragem...
-
Mais um motivo pra você confiar em mim, gatinha... Vem, eu vou fazer você
perder todos os seus medos...
Sem
pensar outra vez, Rosa subiu na moto e acomodou-se, enquanto Claude dava a partida.
-
Pode me dizer agora aonde vamos? – Pergunta com a voz abafada pelo capacete.
-
Oui! – Diz, fazendo o contorno rumo à saída da fazenda – Vamos caçar borboletas
azuis...
Trilharam
uma curta estrada de terra e saíram da fazenda chegando a estrada que liga Aquidauana a Bonito. Não há
como ignorar o trocadilho: Bonito é realmente muito bonito.
A
estrada, federal, de boa qualidade, foi um convite à velocidade, fazendo com
que Rosa se colasse ainda mais nele, tentando se segurar, enquanto seu coração
batia acelerado e conseguiram chegar por lá antes das dez horas da manhã.
O
plano de Claude era chegar à Estância Mimosa, aquela fazenda que conciliava
criação de gado com turismo rural e ecoturismo e seguir por uma trilha para um
lugar que conhecera há alguns anos atrás, pantanal adentro.
A antiga sede da fazenda fora mantida em seu
estilo original, recebendo apenas algumas melhorias para possibilitar a
visitação turística, passos que seu pai seguia agora.
Havia
conversado com o proprietário, Eduardo Coelho Freitas, por telefone e por vídeo-conferência
algumas vezes, ainda da França, antes de assumir os projetos de François e
agora, finalmente, iria conhecê-lo
pessoalmente, junto com Rosa.
Na
casa sede da fazenda, Freitas já os aguardava com um lanche de "boas
vindas", com chás, bolos e biscoitos típicos da região, caprichosamente
preparados.
-
Sr. Geraldy, finalmente nos conhecemos! – Fala, enquanto trocam um aperto de
mão. – Srª Geraldy, eu suponho?
Rosa
já ia desfazer o mal entendido, mas Claude diz antes dela:
-
Por favor, hã? Nos chame apenas de Claude e Rosa.
-
Ok. Então, como vai a reforma da fazenda?
Eu gostei muito da sua ideia de ser um parceiro da Estância Mimosa,
dando-nos suporte com acomodações e transportes para os turistas da Europa, principalmente.
Precisamos falar mais sobre isso.
-
D’accord, Freitas. Mas non hoje. – Responde, observando o olhar surpreso de
Rosa – Hoje non terei tempo. Rosa e eu estamos atrás de uma trilha que eu fiz
alguns anos atrás... e que levava até uma cabana no meio da mata.
-
Você deve estar se referindo à cabana do velho Pimpinone. Sim, ela ainda
existe.
-
E ele, ainda está vivo?
-
Sim, tornou-se um defensor dessas paradas, impedindo caças predatórias, várias
vezes. Anda por todo pantanal. Difícil encontrá-lo.
-Já
gostei desse senhor. – Exclama Rosa - Gosto de pessoas que defendem a natureza!
-
Rosa é arquiteta, Freitas. É dela a responsabilidade pela reforma da fazenda de
meu pai.
-
Oh, ela é a idealizadora daquele belo projeto! Parabéns, Rosa! Você tem
excelentes ideias...
-
Obrigada. Vocês têm uma excelente cozinha! Uma delícia esse café!
-
Nossa proposta é mostrar aos visitantes não apenas as belezas naturais da
região, como também um pouco da peculiar cultura sul mato-grossense e a
culinária não poderia ficar de fora! Já experimentou o tereré?
-
Tereré? Não, o que é isso?
-Tereré
é uma bebida feita com a infusão da erva-mate de origem paraguaia. Pode ser tomado
com água, leite, limão, sucos, hortelã, entre outros.
-
Algo a ver com o chimarrão? – Pergunta curiosa.
-
Não! Diferentemente do chimarrão, que é
feito com água quente, o tereré é consumido com água fria. É uma bebida
agradável e refrescante. O Mato Grosso do Sul foi o primeiro estado do Brasil a
conhecer a bebida, através dos paraguaios e índios guarani e kaiowá.
-
Que interessante! – Eu nunca tinha ouvido falar nessa bebida.
-
Aqui no Mato Grosso do Sul, ela é consumida
a todo momento, é uma bebida apreciada
por todos, desde crianças até os mais velhos e sempre o mais novo serve o mais
velho. Em tempos de tanta tecnologia, o tereré aproxima muito os jovens, pois é
comum vê-los em tardes de sábados e domingos, consumindo o tereré, onde se
falam diversos assuntos: esporte, política, televisão, entre outros...
Continuam
com a conversa, até Claude dizer que tinham que continuar.
-
Freitas, foi um prazer falar pessoalmente contigo. Vamos marcar um próximo
encontro pra tratarmos unicamente de negócios, hã? Que tal um almoço ou jantar
na fazenda de meu pai?
-
Combinado, Claude! É uma pena que minha esposa não esteja aqui, hoje. Ela iria
adorar conhecê-la Rosa. Bem, se querem curtir a natureza, é melhor seguirem em
frente. Avançar em direção ao pantanal é sempre muito agradável: suas paisagens
bonitas o tornam um dos mais belos ecossistemas do mundo. É o lugar perfeito
para quem busca sossego, tranquilidade e paz. Ou emoções inesquecíveis...
-
Exatamente isso que estamos buscando: emoções inesquecíveis, non é chérie?
Rosa
se surpreende. Era a primeira vez que a chamava assim na frente de alguém e o
comentário a faz ficar vermelha...
-
Claude, tem certeza que não quer a presença de um guia? Por motivos de
segurança, eu nunca deixo um grupo sair sozinho por aí...
-
Non, Freitas! Eu agradeço, mas non precisaremos de um guia. E non se preocupe,
estou com um mapa na mochila, d’accord?
-
Muito bem. Vou abrir uma exceção para vocês. Mas por favor, tomem imenso
cuidado, se resolverem entrar em alguma cachoeira. Rios podem ser traiçoeiros.
Após
esta recepção caseira e aconchegante, partiram para dentro da mata ciliar do
Rio Mimoso. De repente, Claude para a moto.
-
Que foi? Algo errado? - Pergunta Rosa.
-
Non... Mas eu preciso descansar um pouco, esticar as pernas, hã? E dar algo pra
você. – Fala, pegando a mochila e tirando “algo” de dentro dela. - Isso é um
presente pra você ...
-
Uma câmera... profissional! Claude! Não precisava, afinal eu também tive culpa
na nossa queda...
-
Precisava sim... Você gosta tanto de fotografar... Por que non começa agora mesmo? Quem sabe non
consegue observar algum animal silvestre? Ou mesmo essas árvores que devem ser
centenárias, com essas orquídeas e bromélias... Se tem flores, com certeza
vamos achar borboletas pelo caminho...
-
Obrigada! Eu... nem sei o que falar! É uma das melhores que eu conheço!
Exclama, enquanto manuseia a câmera, curiosa.
-
Você merece só o melhor, gatinha! – Diz isso, levantando o rosto dela com seus
dedos, para, em seguida, inclinar-se e beijá-la suavemente.
-
Melhor seguirmos em frente... Está com fome? Eu trouxe algumas barras de
cereais – Diz gentilmente.
-
Não. Depois daquele café mais que reforçado, acho que não sentirei fome por
muitas horas.
Eles
voltam à moto e agora Claude vai mais devagar, proporcionando a Rosa fazer
fotos e imagens várias da natureza que os cercava.
Mais
de duas horas depois, ele para novamente.
-
Eu preciso descansar um pouco. – Diz, tirando o capacete e colocando-o no
guidão da moto. – E preciso... bem, a
natureza me chama!
-
Entendi. Eu também preciso... Então, garotos à esquerda e garotas à direita,
ok?
-
Ok, garota! – Ele sorri - Cuidado onde pisar, d’accord? – Conclui e se afasta
na direção oposta à dela.
Alguns
minutos depois, quando Rosa retorna, Claude já está a esperá-la, sentado à
sombra de uma árvore.
-
Você demorou, gatinha! Pensei que tinha se perdido! Tudo bem contigo?
-
Você se esquece que as coisas são um pouquinho mais complicadas para nós
mulheres... anatomicamente falando, é claro.
-
Touchê! Mas non vou pedir pardon por me preocupar contigo. Vem sente-se aqui
comigo. É melhor comermos alguma coisa antes de continuar em busca de um lugar
só nosso...
Rosa
pega a câmera antes de juntar-se a ele, disfarçando seu embaraço diante do que
ele falou. Depois de sentar-se ao lado dele, comenta:
-
Você reparou quantas flores por aí? Vou dar uma volta e tentar encontrar
borboletas...
-
Só depois que comer, hã? Non quero você desmaiando de fraqueza! – Fala num tom sério
de voz.
-
Está bem! Dê-me uma dessas barrinhas então!
-
Boa menina! – Brinca Claude, entregando-lhe uma das barrinhas de cereal.
-
Você conhece mesmo esse senhor, o tal Pimpinone?
-
Oui! Ele tem muitas historia interessantes. É quase um filósofo. Depois que a
esposa faleceu, embrenhou-se pelo pantanal. A cabana dele serve de abrigo.
-
Então não será um lugar só nosso...
Podemos chegar lá e encontrar alguém...
-
Non... Lá só entra quem tem a chave do cadeado. E cadeados só têm duas chaves,
chérie...
-
Mas e se... se ele estiver por lá?
-
Eu non a levaria até lá se non fôssemos ficar... sozinhos, hã? – E enrosca seus dedos pelos cabelos de Rosa, pousando seus lábios sobre os dela.
O beijo começou suave e aprofundou-se na mesma
medida que seus corpos se atraiam e se inclinavam até ficarem completamente
deitados sobre a relva.
De
repente, ouviram um barulho...
-
Trovoadas... – disse Claude, ainda com os lábios pelo rosto dela – Vamos caçar
suas borboletas e seguir antes que a chuva nos encontre...
E
durante algum tempo, andaram buscando borboletas para ela fotografar. Depois,
seguiram pela trilha, até chegarem a uma das cachoeiras. Porém, a chuva os
alcançara.
Claude
para a moto.
-
Com essa chuva, vamos ter que seguir a pé por essa trilha até chegarmos no alto. Ou poderemos cair na ponte...
-
É aquela a cabana que você falou? É linda! É quase um chalé tradicional! Eu
esperava algo mais... rústico.
-
Achou que eu te trazia pra uma cabana de palha, non é? O que está fazendo?
-
Eu vou filmar isso tudo daqui debaixo e depois de cima...
-
Mas Rosa tá chovendo...
-
Já estamos molhados mesmo! Um pouco mais um pouco menos, não fará diferença...
-
D’accord, gatinha... Siga em frente...
Um
tempo depois...
-
Já chega, hã? Pare de filmar, aquelas pessoas parece que non eston gostando...
-
Parecem turistas, isso sim. E devem estar acostumados com isso... Mas como eu
estou ficando gelada... Pronto. – Desliga a máquina - Podemos continuar.
Os
dois atravessam a pequena e estreita ponte que os faria chegar à cabana,
passando pelas pessoas que Rosa filmara e que pareciam não se importar
realmente.
Assim
que entraram na cabana, Rosa tirou a jaqueta. Depois de toda aquela chuva,
estava encharcada... A camiseta branca, grudada em seu corpo deixava seus seios
aparecerem.
Claude
sentiu como se uma labareda invadisse seu corpo e sua alma. Não conseguiu
desviar o olhar dela, inocente e cheio de desejo. Só torcia para que Rosa não
mudasse de ideia.
-
Você non sabe o que faz comigo, gatinha. – Fala aproximando-se dela e passando
as costas de sua mão pelo rosto dela, numa carícia terna e quase infantil.
-
Então, por que não me conta? – Pergunta, sem saber onde arrumara coragem para
dizer isso.
Seus
lábios se encontraram, e os dois se uniram num abraço apertado. Beijaram-se com
volúpia.
-
Eu te quero, Rosa... Desde a primeira vez que a vi. - Sua voz falhava entre os pequenos beijos
que distribuía pelo pescoço dela.
-
Eu também te quero, meu amor...
Claude
a arrastou até um pequeno sofá, onde a fez se deitar e cobriu-a com seu corpo.
E
de repente o mundo lá fora com toda aquela chuva deixou de existir... O vento, que fazia as árvores balançarem,
raspando a parede de madeira da cabana era como música em seus ouvidos...
Rosa
estremeceu quando ele a tomou nos braços e a carregou para o quarto,
colocando-a sobre a cama.
Foi
uma explosão incontrolável. Sabia que seria assim com Rosa. Estavam perdidos. Perdidos de amor, de
desejo, de paixão...
Estavam
perdidos num lugar reservado apenas aos amantes...
Rosa
abriu os olhos, o corpo ainda trêmulo.
Claude estava deitado ao seu lado, um braço sobre os olhos e o outro
retendo-a, como que temendo que ela fosse lhe escapar ou fugir...
-
Tudo bem contigo? - Ele rolou de lado e
passou a mão sobre o corpo de Rosa.
-
Eu jamais imaginei que... pudesse ser tão bom! – Fala sem olhar para ele.
Claude
afastou-lhe os cabelos do rosto.
-Non
fique envergonhada, gatinha. Você foi uma revelaçon e tanto, hã? Agora pra
ficar perfeito – Diz, puxando-a lateralmente até seu corpo – A gente dorme um
pouco assim coladinho...
E
com os carinhos que Claude lhe fazia, deslizando levemente sua mão por seus
braços, ambos adormecem, enquanto chovia lá fora...
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário