domingo, 17 de março de 2013

O INFERNO DE UM ANJO - SEGUNDA PARTE - CAPÍTULO 31 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


ÚLTIMO CAPÍTULO

Capítulo XXXI
PARA SEMPRE UNIDOS

Mas uma alegria aguardava a Maria "Flor de Amor" no seu regresso àquela cidade onde Marta Aubert, a doce criatura que lhe deu existência, vivia isolada num pavilhão do palácio do conde Fernando como uma doente da qual não se esperava a recuperação.
- Maria - disse-lhe gravemente o conde, apenas chegaram à mansão - está muito contente por ter perto de você o pai, que você tantas vezes invejou às outras meninas?
- Oh, sim, paizinho! -foi a pronta respostada jovem - Agora me sinto tão feliz, tão feliz...
- Ainda vai ser mais feliz, minha filha querida, se Deus, com sua bondade divina, quiser. Chegou o momento, Maria, de você saber que, num pavilhão deste palácio, há uma mulher que foi meu primeiro e único grande amor, Marta!E essa mulher é sua mãe, Maria!
- Minha mãe? - replicou Maria "Flor de Amor, aturdida pela surpresa.
- Sim. Vamos para perto dela - decidiu Fernando.
E juntos pai e filha dirigiram-se até o pavilhão onde a vítima da marquesa Renata vivia entregue aos cuidados de eficiente enfermeira.
- Marta! - pronunciou Fernando, dirigindo-se à mulher que, sentada de costas a eles, observava o vôo dos pássaros no jardim.
Aquela voz, a voz do homem que tanto amava, foi para ela algo semelhante a uma sacudida elétrica.Virou a cabeça, olhou para o conde, em seguida para Maria e imediatamente ficou em pé e começou a andar com trêmulos passos.
- Minha filha! Minha Maria "Flor de Amor"! - exclamou convulsivamente Marta.
- Mãe! Mãezinha querida! - quase gritou Maria, sentindo a voz do sangue no coração, que lhe dizia inequivocamente: "Essa é a mártir que te deu o ser... A infortunada que enlouqueceu porque se viu privada de você, que era todo seu amor, sua esperança e sua alegria."
Com os olhos marejados de lágrimas, o conde Fernando presenciava a comovente cena. E a prece que ele fizera ao Criador Divino suscitara a realidade tão almejada. Marta Aubert não só recuperou, naquele momento, a filha tão adorada, como a luz da razão voltou a brilhar em seu cérebro.
Era o choque necessário para que Marta pudesse voltar ao convívio social, fazendo-o agora nos braços de sua filha.
- Mamãe, vou me casar! - disse Maria "Flor de Amor" à Marta - Meu noivo é o melhor dos homens...
- Minha filha - interrompeu-a Fernando - lembre-se de que agora vai haver dois casamentos. Recuperada, sua mãe não vai se recusar a cumprir a promessa que me fez quando éramos jovens: casar comigo! Não é verdade, Marta, que você irá até o altar para receber a meu lado a bênção de Deus?
- Oh, Fernando... Você não tem outra mulher? – perguntou Marta, agora plenamente dona de sua razão.
- Não - afirmou o conde - Apenas houve um amor platônico. Sempre confiei em sua cura. E assim, através dos anos, conservei-me divorciado. Agora poderei dar à minha filha o nome de Chanteloup, como lhe corresponde. Ela será condessa de Robertson e quando eu deixar de pertencer a este mundo, herdará o título de condessa de Chanteloup.
Marta não ia recusar aquela proposta. E assim uniram-se no mesmo dia e na mesma igreja, a catedral de Nova Orleans, consagrada a Nossa Senhora dos Anjos. As festas do casamento foram apoteóticas. Nunca houve na capital da Louisiana festas de matrimônio como aquelas em que foi solenizada a união de Fernando e Marta e de Maria "Flor de Amor" com Luís Paulo. À sagrada cerimônia nupcial, assistiu entre os convidados, Flora Sardon, a mulher que sonhou um dia em se casar com Fernando, por ter, de certo modo, interessado ao coração do nobre. Mas aquele afeto, que não chegou a ser amor, originado pela solidão sentimental em que Fernando de Chanteloup vivia, agora estava transformado em fraternal afeição.
Flora era a melhor amiga de Marta. E depois de conhecer Maria "Flor de Amor", ficou amiga dela também. Flora não abandonaria o palácio, seria dama de companhia da condessa Marta e professora de piano da baronesa Maria "Flor de Amor".
***

Num daqueles dias, o conde Fernando foi visitado pelo doutor George Brancion que, desta vez, não vinha ao castelo para ver Marta, porque ela já não precisava dos seus cuidados médicos. Ele tinha outro assunto urgente e foi recebido prontamente pelo conde Fernando.
- Prazer em revê-lo, conde Fernando. Não sei se ainda serei bem vindo aqui, uma vez que o senhor sabe que sou filho do falecido doutor Démon. - disse o médico. - Sei que o nome de meu pai só pode suscitar no senhor amargas recordações. Ele fez tanto mal... Peço a Deus que lhe perdoe os muitos crimes que cometeu nesta vida. Eu me esforço em fazer o bem na clínica onde meu pai semeou o mal. Ele fez dela um cárcere de horrores... Falando nisto, na semana passada, eu estive no terrível manicômio de São Roque, administrado por pessoas tão ruins como o autor dos meus dias. No leprosário desse hospício, achei uma senhora, em farrapos, toda cheia de feridas, desesperada, com um desespero que desgarrava a minha alma. Parece que ela foi, violentamente, internada por seu inimigo, o detetive particular Ubaldo Duroi. Ela alega ser a marquesa Renata e com lágrimas nos olhos, pediu-me que eu falasse com o senhor. Ela me disse: “Ele foi meu esposo, ninguém melhor do que ele pode identificar-me e confirmar que sou a marquesa Renata e não a cartomante Ivonne Delapierre”. Essa senhora mostra-se arrependida de suas más ações e confia em conseguir seu perdão.
“Renata, a orgulhosa, a elegantíssima, em farrapos e reclusa no leprosário de um hospício... Que tremendo, que duro castigo para os seus crimes!” Pensou o conde Fernando. E por fim, disse:
- Estou disposto a ajudá-la, apesar de que a marquesa não mereça - foi a resposta do nobre.
- O senhor tem que me desculpar por fazer esta visita com algum atraso. Faz oito dias que falei com essa infortunada. No mesmo dia, caí doente com febre alta e só hoje pude cumprir este dever de caridade.
Nesse momento, o conde Fernando ordenou a seu mordomo:
- Por favor, peça que atrelem os cavalos à berlinda. Vou sair com o doutor George Brancion.
Pouco depois, o conde e o doutor Brancion chegavam às portas do sinistro hospício de São Roque. Fernando de Chanteloup fez-se anunciar ao diretor. Este se apressou em receber o ilustre visitante e ao doutor GeorgeBrancion. Em pessoa, os acompanhou até o leprosário do hospício. Já não estava lá a marquesa Renata Duplessis. Um dos enfermeiros explicou:
- Se ela não estava louca, aqui enlouqueceu indubitavelmente. Possuída de furiosa e agressiva demência, anteontem, foi necessário recolhê-la a uma cela solitária, onde se encontra atualmente.
O conde Fernando a viu por uma janelinha que existia na porta da cela. Era ela sim, terrivelmente desfigurada, envelhecida, com os olhos fora das órbitas, de agora em diante irrecuperavelmente louca...
Fernando de Chanteloup, que era bom cristão, sabia perdoar as ofensas. Resolveu não deixar naquele terrível desamparo aquela infeliz que com más artes, conseguiu, durante um tempo, ser sua esposa. E pediu ao diretor do hospício que Renata fosse transladada ao pavilhão, onde estavam os dementes cuja assistência era custeada pelas famílias.
- Faça-a instalar num quarto limpo e arejado. Ponha uma enfermeira exclusivamente para tomar conta dela.
Mais uma vez, o conde Fernando demonstrou a bondade de seu coração generoso.
Naquele mesmo dia, lendo o jornal, Luís Paulo se deparou com uma notícia que não lhe surpreendeu.
O detetive particular Ubaldo Duroi tinha sido morto à bala. Ignorava-se o autor ou autores do crime.

***

Um ano depois de casados, sem que sua lua-de-mel tivesse entrado em minguante, Maria "Flor de Amor" e Luís Paulo, em vez de mulher e marido pareciam dois noivinhos na fase mais apaixonada de um amor, que não tardaria em dar seus frutos.


- Você, querido, que vai querer? Menino ou menina?
- Eu?... Menina! Uma criatura linda, doce e extremamente bondosa como você!

FIM

BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Fascículos encartados na
Revista Grande Hotelnº 1343 a 1384
Publicações: maio / 1973 a janeiro / 1974 Ilustrações: amartim

7 comentários:

  1. Paulo gostei muito desse final e desse folhetim! Todos tiveram o fim que mereciam, até o esperto Ubaldo! E os casais se reencontrando e sendo felizes, emocionante! Uma bela história, que você conservou com carinho e agora gentilmente compartilhou conosco. Obrigada! Beijos

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    1. Boa noite, Maria do Sul, que bom que o folhetim te agradou. Um grande abraço.

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  2. Paulo,adorei esse folhetim muito bom mesmo! Elenita

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    1. Que bom que este final fez você deixar de ser anônimo.
      Obrigado Elenita, um grande abraço. Valeu!

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  3. Paulo, obrigado por sua colaboração. Amei o folhetim. Grato por tudo.

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    1. Um grande abraço, José Eugênio. Valeu! Só desejava saber se você tem uma estimativa de quantos(as) leitores(as) acessavam o folhetim a cada publicação.

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  4. PERFEITO, este foi o final que tanto esperei. Valeu, Paulo, adoro finais felizes, ainda mais depois de tanto sofrimento de Maria Flor, que foi mais que um anjo nesta história. Até o próximo folhetim, parabéns e obrigada Paulo.

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