O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
ÚLTIMO
CAPÍTULO
Capítulo
XXXI
PARA
SEMPRE UNIDOS
Mas
uma alegria aguardava a Maria "Flor de Amor" no seu regresso àquela
cidade onde Marta Aubert, a doce criatura que lhe deu existência, vivia isolada
num pavilhão do palácio do conde Fernando como uma doente da qual não se esperava
a recuperação.
-
Maria - disse-lhe gravemente o conde, apenas chegaram à mansão - está muito
contente por ter perto de você o pai, que você tantas vezes invejou às outras
meninas?
-
Oh, sim, paizinho! -foi a pronta respostada jovem - Agora me sinto tão feliz,
tão feliz...
-
Ainda vai ser mais feliz, minha filha querida, se Deus, com sua bondade divina,
quiser. Chegou o momento, Maria, de você saber que, num pavilhão deste palácio,
há uma mulher que foi meu primeiro e único grande amor, Marta!E essa mulher é
sua mãe, Maria!
-
Minha mãe? - replicou Maria "Flor de Amor, aturdida pela surpresa.
-
Sim. Vamos para perto dela - decidiu Fernando.
E
juntos pai e filha dirigiram-se até o pavilhão onde a vítima da marquesa Renata
vivia entregue aos cuidados de eficiente enfermeira.
-
Marta! - pronunciou Fernando, dirigindo-se à mulher que, sentada de costas a
eles, observava o vôo dos pássaros no jardim.
Aquela
voz, a voz do homem que tanto amava, foi para ela algo semelhante a uma
sacudida elétrica.Virou a cabeça, olhou para o conde, em seguida para Maria e
imediatamente ficou em pé e começou a andar com trêmulos passos.
-
Minha filha! Minha Maria "Flor de Amor"! - exclamou convulsivamente Marta.
-
Mãe! Mãezinha querida! - quase gritou Maria, sentindo a voz do sangue no
coração, que lhe dizia inequivocamente: "Essa é a mártir que te deu o
ser... A infortunada que enlouqueceu porque se viu privada de você, que era
todo seu amor, sua esperança e sua alegria."
Com
os olhos marejados de lágrimas, o conde Fernando presenciava a comovente cena.
E a prece que ele fizera ao Criador Divino suscitara a realidade tão almejada.
Marta Aubert não só recuperou, naquele momento, a filha tão adorada, como a luz
da razão voltou a brilhar em seu cérebro.
Era
o choque necessário para que Marta pudesse voltar ao convívio social, fazendo-o
agora nos braços de sua filha.
-
Mamãe, vou me casar! - disse Maria "Flor de Amor" à Marta - Meu noivo
é o melhor dos homens...
-
Minha filha - interrompeu-a Fernando - lembre-se de que agora vai haver dois
casamentos. Recuperada, sua mãe não vai se recusar a cumprir a promessa que me
fez quando éramos jovens: casar comigo! Não é verdade, Marta, que você irá até
o altar para receber a meu lado a bênção de Deus?
-
Oh, Fernando... Você não tem outra mulher? – perguntou Marta, agora plenamente
dona de sua razão.
-
Não - afirmou o conde - Apenas houve um amor platônico. Sempre confiei em sua
cura. E assim, através dos anos, conservei-me divorciado. Agora poderei dar à
minha filha o nome de Chanteloup, como lhe corresponde. Ela será condessa de
Robertson e quando eu deixar de pertencer a este mundo, herdará o título de
condessa de Chanteloup.
Marta
não ia recusar aquela proposta. E assim uniram-se no mesmo dia e na mesma
igreja, a catedral de Nova Orleans, consagrada a Nossa Senhora dos Anjos. As
festas do casamento foram apoteóticas. Nunca houve na capital da Louisiana
festas de matrimônio como aquelas em que foi solenizada a união de Fernando e
Marta e de Maria "Flor de Amor" com Luís Paulo. À sagrada cerimônia
nupcial, assistiu entre os convidados, Flora Sardon, a mulher que sonhou um dia
em se casar com Fernando, por ter, de certo modo, interessado ao coração do nobre.
Mas aquele afeto, que não chegou a ser amor, originado pela solidão sentimental
em que Fernando de Chanteloup vivia, agora estava transformado em fraternal
afeição.
Flora
era a melhor amiga de Marta. E depois de conhecer Maria "Flor de
Amor", ficou amiga dela também. Flora não abandonaria o palácio, seria
dama de companhia da condessa Marta e professora de piano da baronesa Maria
"Flor de Amor".
***
Num
daqueles dias, o conde Fernando foi visitado pelo doutor George Brancion que,
desta vez, não vinha ao castelo para ver Marta, porque ela já não precisava dos
seus cuidados médicos. Ele tinha outro assunto urgente e foi recebido
prontamente pelo conde Fernando.
-
Prazer em revê-lo, conde Fernando. Não sei se ainda serei bem vindo aqui, uma
vez que o senhor sabe que sou filho do falecido doutor Démon. - disse o médico.
- Sei que o nome de meu pai só pode suscitar no senhor amargas recordações. Ele
fez tanto mal... Peço a Deus que lhe perdoe os muitos crimes que cometeu nesta
vida. Eu me esforço em fazer o bem na clínica onde meu pai semeou o mal. Ele
fez dela um cárcere de horrores... Falando nisto, na semana passada, eu estive
no terrível manicômio de São Roque, administrado por pessoas tão ruins como o
autor dos meus dias. No leprosário desse hospício, achei uma senhora, em farrapos,
toda cheia de feridas, desesperada, com um desespero que desgarrava a minha
alma. Parece que ela foi, violentamente, internada por seu inimigo, o detetive
particular Ubaldo Duroi. Ela alega ser a marquesa Renata e com lágrimas nos
olhos, pediu-me que eu falasse com o senhor. Ela me disse: “Ele foi meu esposo,
ninguém melhor do que ele pode identificar-me e confirmar que sou a marquesa
Renata e não a cartomante Ivonne Delapierre”. Essa senhora mostra-se
arrependida de suas más ações e confia em conseguir seu perdão.
“Renata,
a orgulhosa, a elegantíssima, em farrapos e reclusa no leprosário de um
hospício... Que tremendo, que duro castigo para os seus crimes!” Pensou o conde
Fernando. E por fim, disse:
-
Estou disposto a ajudá-la, apesar de que a marquesa não mereça - foi a resposta
do nobre.
-
O senhor tem que me desculpar por fazer esta visita com algum atraso. Faz oito
dias que falei com essa infortunada. No mesmo dia, caí doente com febre alta e
só hoje pude cumprir este dever de caridade.
Nesse
momento, o conde Fernando ordenou a seu mordomo:
-
Por favor, peça que atrelem os cavalos à berlinda. Vou sair com o doutor George
Brancion.
Pouco
depois, o conde e o doutor Brancion chegavam às portas do sinistro hospício de
São Roque. Fernando de Chanteloup fez-se anunciar ao diretor. Este se apressou
em receber o ilustre visitante e ao doutor GeorgeBrancion. Em pessoa, os
acompanhou até o leprosário do hospício. Já não estava lá a marquesa Renata
Duplessis. Um dos enfermeiros explicou:
-
Se ela não estava louca, aqui enlouqueceu indubitavelmente. Possuída de furiosa
e agressiva demência, anteontem, foi necessário recolhê-la a uma cela
solitária, onde se encontra atualmente.
O
conde Fernando a viu por uma janelinha que existia na porta da cela. Era ela sim,
terrivelmente desfigurada, envelhecida, com os olhos fora das órbitas, de agora
em diante irrecuperavelmente louca...
Fernando
de Chanteloup, que era bom cristão, sabia perdoar as ofensas. Resolveu não
deixar naquele terrível desamparo aquela infeliz que com más artes, conseguiu, durante
um tempo, ser sua esposa. E pediu ao diretor do hospício que Renata fosse
transladada ao pavilhão, onde estavam os dementes cuja assistência era custeada
pelas famílias.
-
Faça-a instalar num quarto limpo e arejado. Ponha uma enfermeira exclusivamente
para tomar conta dela.
Mais
uma vez, o conde Fernando demonstrou a bondade de seu coração generoso.
Naquele mesmo dia, lendo o jornal, Luís Paulo se
deparou com uma notícia que não lhe surpreendeu.
O
detetive particular Ubaldo Duroi tinha sido morto à bala. Ignorava-se o autor
ou autores do crime.
***
Um
ano depois de casados, sem que sua lua-de-mel tivesse entrado em minguante,
Maria "Flor de Amor" e Luís Paulo, em vez de mulher e marido pareciam
dois noivinhos na fase mais apaixonada de um amor, que não tardaria em dar seus
frutos.
-
Você, querido, que vai querer? Menino ou menina?
-
Eu?... Menina! Uma criatura linda, doce e extremamente bondosa como você!
FIM
BIBLIOTECA
GRANDE HOTEL
Fascículos
encartados na
Revista
Grande Hotelnº 1343 a
1384
Publicações:
maio / 1973 a
janeiro / 1974 Ilustrações: amartim
Paulo gostei muito desse final e desse folhetim! Todos tiveram o fim que mereciam, até o esperto Ubaldo! E os casais se reencontrando e sendo felizes, emocionante! Uma bela história, que você conservou com carinho e agora gentilmente compartilhou conosco. Obrigada! Beijos
ResponderExcluirBoa noite, Maria do Sul, que bom que o folhetim te agradou. Um grande abraço.
ExcluirPaulo,adorei esse folhetim muito bom mesmo! Elenita
ResponderExcluirQue bom que este final fez você deixar de ser anônimo.
ExcluirObrigado Elenita, um grande abraço. Valeu!
Paulo, obrigado por sua colaboração. Amei o folhetim. Grato por tudo.
ResponderExcluirUm grande abraço, José Eugênio. Valeu! Só desejava saber se você tem uma estimativa de quantos(as) leitores(as) acessavam o folhetim a cada publicação.
ExcluirPERFEITO, este foi o final que tanto esperei. Valeu, Paulo, adoro finais felizes, ainda mais depois de tanto sofrimento de Maria Flor, que foi mais que um anjo nesta história. Até o próximo folhetim, parabéns e obrigada Paulo.
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