XVI
Depois
de um tempo, eles se despedem de Pimpinone e de Freitas e continuam a viagem de
volta à fazenda. A paisagem era exuberante e Rosa faz Claude parar várias vezes
para fotografá-la.
A
última parada foi à beira da estrada a poucos quilômetros da fazenda, na mesma
curva do primeiro encontro.
-
Por que você parou aqui, Claude? – Pergunta Rosa, descendo da moto e tirando o
capacete.
-
Porque foi aqui que tudo começou... A nossa história, hã? Vem! – E estende sua
mão a ela.
-
Você não acha que eu vou rolar barranco abaixo outra vez, acha?
-
Você é uma graça, sabia? Claro que non
vamos rolar... Se bem que rolar contigo agora, non seria má ideia. – Diz,
puxando-a para si e beijando-a demoradamente.
-
Nem pense nisso, francês... Eu fiquei toda esfolada, cheia de arranhões...
Minha roupa então...
-
Onde está seu romantismo, gatinha? Anda, pega sua máquina, vamos descer, hã?
-
Posso saber por que insiste tanto em descer esse barranco?
-
Quem sabe non encontramos aquela arara que você filmava... Tem certeza que non
quer rolar comigo? – Pergunta, piscando para ela.
-
Tenho! Rsrsrsr. Sabia que já faz algum
tempo que não caímos?
-
D’accord. Vai ver “equilibramos a nossa energia”, hã? Responde, sorrindo
maliciosamente.
Eles
descem cuidadosamente até chegarem às arvores que ladeavam a estrada. Apesar do
sol que fizera o dia todo, o chão ainda estava úmido da última chuva. As copas
das árvores formavam uma cobertura densa, impedindo o sol de penetrar
totalmente até o chão.
Andaram
por vários metros, mas nem sinal da tal arara.
-
É melhor voltarmos – diz Rosa – Com esse calor, ela deve estar no seu ninho.
-
D’accord... Antes eu quero uma foto sua aqui... – E tira a máquina das mãos de
Rosa – Se afaste um pouco... isso,
perfeito... Atençon, hã?
-
Espera... Aquilo ali é um pé de goiaba? – Pergunta, apontando para algo atrás
de Claude. - Eu não acredito!!! Adoro goiaba! – E anda na direção da árvore.
-
Mon Dieu, Rosa! Eu quero uma foto sua,
non de uma goiaba! – Diz, movimentando os olhos.
-
Vem, me ajuda a pegar uma...
Claude
se volta para a mesma direção e olha para o pé de goiaba carregadinho.
-
Você só pode estar brincando... Já viu a que altura elas eston? E non dá nem
pra subir no pé, porque o tronco é esguio e comprido demais, hã?
Rosa
olha atentamente para a goiabeira, depois para Claude.
-
Já sei. Se você me segurar, eu alcanço uma delas!
-
Non sei non, gatinha. Isso non me parece uma boa ideia...
-
Hummmm... Por favor! Se a gente não
tentar, não vai saber se é uma boa ideia!
Rosa parecia uma criança pedindo um presente,
mas suas mãos no peito de Claude o fizeram falar:
-
Oui. E o que eu ganho em troca? – Pergunta com um sorriso safado no canto da
boca.
Rosa
se aproxima dele, bem perto de seu rosto, quase colando seus lábios aos dele e
diz provocante:
-
Um beijo... - E passa seus lábios pelos dele – Assim do jeito que você gosta - Então,
se afasta e conclui - Sabor goiaba!
-
Isso soa como um desafio, gatinha... E eu non sou de fugir a eles, hã?
Então,
eles se aproximam da goiabeira e pensam numa maneira mais adequada para Claude segurar
Rosa. Antes, colocam a máquina num lugar seguro.
Por
fim, Claude decide que é melhor ela ficar sentada em seus ombros, por cima de
sua cabeça, pois levantando os braços, alcançaria a tal goiaba. Então, ele se
abaixa para que ela pudesse subir em seus ombros.
-
Mon Dieu... Non seria mais fácil
comprarmos goiabas no mercadinho? – Diz, enquanto se ergue devagar, equilibrando-se
para não derrubá-la.
-
Não teria o mesmo gosto... Comer fruta direto do pé é muito melhor... E
encontrar uma goiabeira aqui, então, foi muita sorte! Vai mais pra direita um
pouquinho... Não foi muito... volta!
Rosa
tenta alcançar a goiaba, levantando apenas um dos braços com a outra mão
pousada na cabeça dele.
-
Essa sua ideia, vou te contar, gatinha...
-
Claude, me segura direito ou vou cair!
-
É só você ficar paradinha que eu non saio do lugar...
-
Eu to quase conseguindo... só mais um pouquinho... Peguei! Você quer uma?
-
Non...
-
Ok. Hummm... Tá deliciosa! - Fala depois
de morder a goiaba. - Tem certeza que não quer uma? – E morde a goiaba de novo.
-
Me contento com um pedaço da sua... me dê aqui! – Diz, soltando a mão da perna dela
e estendendo-a para cima...
- Eu sabia que você não resistiria... Essa não!
– Fala alto, chacoalhando a cabeça e abanando as mãos.
-
Essa non o que, Rosa? – Pergunta Claude, sentindo-a balançar o corpo.
-
Abelhas!!! Claude, socorro! Me põe no chão!!! – Grita agitada, mexendo-se
demais.
-
Abelhas?? Era só o que faltava, hã? –
Ele tentava olhar para cima e se abaixar ao mesmo tempo.
-
Rápido, Claude, elas estão me atacando!
Eu acho que vieram todas as operárias, a colmeia toda!
Enquanto,
Claude dava alguns passos adiante, Rosa tentava desesperadamente “pular” do
ombro de Claude, antes que ele estivesse totalmente abaixado.
-
Rosa, non faça isso, senon vamos ca... Ai! – Ele solta uma expressão abafada.
Tarde
demais! Rosa projetou o corpo para frente, fazendo com que Claude se
desequilibrasse de vez e caísse para trás. Automaticamente, ele esticou as
pernas e soltando Rosa, colocou as mãos na direção do chão, tentando amortecer
sua queda. Foi a sorte dela. Rosa caiu para frente, quase “sentada”,
com o rosto entre as pernas de Claude, bem na região do quadril e escuta
ele dizer:
-
Mon Dieu, non sei por que concordei com essa ideia maluca!
Ela
percebeu a reação imediata dele e, embaraçada, girou o corpo rapidamente,
sentando no chão ao lado dele, tentando espantar com uma das mãos algumas
abelhas retardatárias e insistentes.
-
Porque você me ama, oras! – Responde sorrindo e continua - Desculpa! Eu...
machuquei você?
-
Non, machucar non é a palavra
apropriada, hã? – Ele puxa as pernas, sentando de frente para ela. – E você se feriu, foi picada?
-
Creio que não... Você foi? – E percorre
o rosto dele com o olhar.
-
Non tenho certeza... – Diz, passando a
mão na lateral do pescoço - Mas tá
ardendo aqui...
-
Deixa eu ver. – Diz chegando perto – É, tá vermelhinho... mas não vejo ferrão
nenhum!
-
Com certeza eram abelhas nativas... essas, ao contrário das africanas, por exemplo, non tem ferron... E
você ficou sem sua goiaba... – Fala, acariciando-a no rosto.
-
Não fiquei não! – Sussurra, sorrindo e mordendo o lábio, enquanto abre o zíper
da jaqueta e tira algo de dentro dela – Eu peguei duas! Vamos dividir?
E
eles comem a goiaba, alternando as mordidas. Quando terminam...
-
Bem, vamos? Ainda podemos chegar antes do entardecer na fazenda. – Fala Claude.
-
Espera! O que é combinado não sai caro... – Diz, aproximando-se dele.
-
Non entendi, pardon...
-
Eu prometi um beijo em troca da goiaba... Um beijo, sabor goiaba, esqueceu? – E encosta seus lábios nos dele
suavemente.
E
aos poucos, foram se inclinando, até ficarem deitados na relva macia, o corpo
de Rosa sob o dele, pressionando-a sedutoramente.
E
decidida, a boca de Claude exigiu que ela entreabrisse os lábios.
Passou
seus braços pelo pescoço dele e o abraçou...
-
Incrível, gatinha... - Sussurra Claude,
enquanto desliza seus lábios pelo rosto dela - Uma abelha visita dez flores por
minuto em busca de pólen e néctar....
Son quarenta voos diários, quarenta mil flores. Eu só preciso de uma flor pra
me satisfazer... você, chérie. Minha Rosa!
-
Amo você! – Responde ela, ofegante pelas carícias dele...
E
permanecem ainda por vários minutos, trocando carinhos e afagos...
Finalmente,
ao cair da tarde, chegam à Fazenda Borboleta Azul. Mas Claude não para na casa da
sede, avançando para o outro lado da fazenda com a moto.
R:
Claude, por que não paramos?
C:
Eu quero te mostrar um lugar, do outro lado da fazenda, na beira do rio... Um
lugar que vai ser só nosso, unicamente nosso...
Continua...
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