quinta-feira, 21 de março de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 14 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

XIV

Algum tempo depois, Rosa desperta. A chuva parara e o único som que ela percebia era o da respiração de Claude. Durante o sono, ele havia virado de costas e jogado os braços acima da cabeça.
Rosa o observa atentamente.  O rosto sereno e relaxado, a barba por fazer e o movimento do seu peito, subindo e descendo. Sorri e pensa na loucura que fizera. Mas fora uma loucura tão boa! E o carinho com que ele a possuíra superara o desconforto e o medo.
Seus olhos brilham e, então, ela deita sua cabeça sobre o peito dele, deslizando sua mão entre os pelos.
Sem abrir os olhos, Claude a envolve em seus braços, como a protegê-la e virando-se parcialmente de lado, passa suas pernas sobre as dela.
Rosa mergulha naquele abraço, fechando os olhos e, em poucos segundos, dorme novamente.
Na fazenda, após o jantar, Frazão e Janete estão sentados à mesa, enquanto Elisabeth fazia suas previsões com o tarô no canto oposto.
- Claude não falou mesmo pra você aonde ia levar a Rosa, Frazão?
- Não, Janete. Ele só falou algo sobre fotografar borboletas e mariposas.
- Eu só espero que ele não magoe a Rosa com seu mau humor!
- Pelo que eu vi esta manhã, minha deusa, tudo o que ele não está é mal humorado. Eles foram pra um lugar sossegado, sem testemunhas, para uma conversa particular, se é que me entende...
- Frazão eu estou falando sério.
- Eu também, oras. Não concorda comigo, Elisabeth? – Mas ela não responde, olhando fixamente para as cartas sobre a mesa.
- Titia?- Repete Janete – Tia Elisabeth, tudo bem?
- Suas cartas não trazem boas notícias, é isso? - Fala Frazão.
- Tudo caminhava tão wonderfull!  Mas essa última carta que eu virei... Não gostei nada dela...
- E o que ela significa?
 - Neste caso – Diz, mostrando a carta – Pajem de paus - obstáculo, algo que vai ofuscar a capacidade de ver a realidade e denegrir necessidades emocionais. Alguém frívola, teatral e oca. Cruel, mesmo...
Ela puxa outra carta do baralho: Cavaleiro de Paus.
- Mon Dieu! Oh, Lord! Confirmado! Perigo à vista... com pessoas do passado... – E, inconformada, vira outra carta. – Well!  A Roda da fortuna! O final é feliz!
Na  cabana, Claude  acorda  e  com  muito cuidado  para  não acordar Rosa, sai da cama. A chuva não aliviara o calor e o ar estava abafado.
Claude sai da cabana. A noite estava magnífica. A lua, imensa e amarela, parecia flutuar pelo céu.
Olhou para baixo nas águas límpidas e frescas que caiam da cachoeira, formando uma piscina natural. Não pensou duas vezes. Enrolou-se numa toalha da cintura pra baixo e desceu até lá, mergulhando.
Rosa abriu os olhos e sentou-se rapidamente na cama. Puxou o lençol até o pescoço. Estava sonhando ou realmente ouvira eco do seu nome vindo de algum lugar? E onde estava Claude?
- “Será que ele teve coragem de me deixar sozinha aqui nesse fim de mun...” - Começa a pensar, quando ouve:
- Rosa! Acorda, gatinha!
Não era sonho... Era a voz dele mesmo. Saiu enrolada  no lençol e  foi até a  varanda, seguindo o som.
- Voilá! Pensei que non ia acordar!
- Claude, você enlouqueceu?
- Non. Mas se você non vier aqui comigo, com certeza, vou enlouquecer! Vem, gatinha... A água está perfeita!
- Mas...
- Semmas! Non tem desculpas. Olha só pra cima! Eu pedi à lua e ela iluminou a noite só pra nós, hã? Desce aqui, chérie.
Rosa dá um sorriso e se afasta da varanda. Claude parecia uma criança feliz. Momentos depois, lá estava ela, à beira do riacho, com o lençol moldurado em seu corpo.
Claude se aproxima dela e diz:
-Você non vai precisar dele aqui. - E puxa a ponta do lençol jogando-o junto à sua toalha.
E pegando-a pela mão, a faz entrar na água, até que chegue à sua cintura.
- Água no umbigo, sinal de perigo! – Sussurra, olhando para Claude que sorri entre malicioso e zombeteiro.


- No nosso caso, é sinal de tentaçon! – E a atrai para junto de si, beijando-a demoradamente...
Depois de um longo tempo abraçados sob a queda d’água, já com os corpos relaxados e satisfeitos, eles conversam, sentados na pedra.
- Só você pra me convencer a fazer essa loucura toda! - Diz Rosa.
- Arrependida? – Indaga Claude.
- Não. Mas devo admitir que não faria isso com... com  outra pessoa.
- E por que non?
- Porque eu sempre soube que só faria amor quando encontrasse uma pessoa especial ou por quem  eu me apaixonasse.
- E o seu ex-noivo non era especial ou você non estava apaixonada?
- Acho que nos acostumamos um com o outro e deixamos o tempo passar. Eu não poderia casar com ele. Não daríamos certo. Isso abalou meus pais, eles não conseguem entender... Se souberem que eu me entreguei pra você, assim sem compromisso... Deus, não quero nem pensar! Vamos subir? Eu estou ficando com frio...
- D’accord, vamos...
Assim que sai da água, Rosa se enrola no lençol e em poucos segundos já estava entrando na cabana, seguida de Claude.
- Com fome? Eu vou ver o que podemos arrumar por aqui. Sempre tem algum enlatado na dispensa dele.
- Eu vou me vestir e já volto pra te ajudar.

Antes

Um tempo depois, eles estão sentados na varanda, perdidos no tempo. Rosa está sentada ao lado de Claude com a cabeça apoiada em seu ombro.
- Rosa, você disse que só faria amor com uma pessoa especial ou por quem se apaixonasse... Em qual categoria eu me incluo?
- Nas duas! – Responde baixinho, temendo que ele a achasse boba ou infantil demais.
- Mon Dieu, que bom ouvir isso... Eu vou falar primeiro, oui?
- Falar o quê?
- Algo que eu nunca disse a mulher nenhuma. Fazer amor contigo foi mágico... sabe porquê? – Diz, forçando-a suavemente a levantar o rosto e o encarar.
- Não... porquê?
- Porque eu me apaixonei por você, gatinha... Eu amo a mulher que você é... Eu amo você, chérie!
- Eu... acho que idem...
- Idem? Non, idem non... Fale a frase toda, hã? – Suas mãos já estavam embrenhadas nos cabelos dela, sua boca encostada à dela...
- Eu amo você, Claude Geraldy...  e acho que é por toda minha vida...
E as estrelas no céu pareceram deixar a noite ainda mais cintilante, como se sorrissem e entendessem o que acontecia entre esses dois corações humanos... Até a lua estendeu seus braços sobre eles, iluminando-os docemente, enquanto selavam seu amor com um beijo...

Continua...

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