XIV
Algum
tempo depois, Rosa desperta. A chuva parara e o único som que ela percebia era
o da respiração de Claude. Durante o sono, ele havia virado de costas e jogado
os braços acima da cabeça.
Rosa
o observa atentamente. O rosto sereno e
relaxado, a barba por fazer e o movimento do seu peito, subindo e descendo.
Sorri e pensa na loucura que fizera. Mas fora uma loucura tão boa! E o carinho
com que ele a possuíra superara o desconforto e o medo.
Seus
olhos brilham e, então, ela deita sua cabeça sobre o peito dele, deslizando sua
mão entre os pelos.
Sem
abrir os olhos, Claude a envolve em seus braços, como a protegê-la e virando-se
parcialmente de lado, passa suas pernas sobre as dela.
Rosa
mergulha naquele abraço, fechando os olhos e, em poucos segundos, dorme
novamente.
Na
fazenda, após o jantar, Frazão e Janete estão sentados à mesa, enquanto
Elisabeth fazia suas previsões com o tarô no canto oposto.
-
Claude não falou mesmo pra você aonde ia levar a Rosa, Frazão?
-
Não, Janete. Ele só falou algo sobre fotografar borboletas e mariposas.
-
Eu só espero que ele não magoe a Rosa com seu mau humor!
-
Pelo que eu vi esta manhã, minha deusa, tudo o que ele não está é mal humorado.
Eles foram pra um lugar sossegado, sem testemunhas, para uma conversa
particular, se é que me entende...
-
Frazão eu estou falando sério.
-
Eu também, oras. Não concorda comigo, Elisabeth? – Mas ela não responde,
olhando fixamente para as cartas sobre a mesa.
-
Titia?- Repete Janete – Tia Elisabeth, tudo bem?
-
Suas cartas não trazem boas notícias, é isso? - Fala Frazão.
-
Tudo caminhava tão wonderfull! Mas essa
última carta que eu virei... Não gostei nada dela...
-
E o que ela significa?
- Neste caso – Diz, mostrando a carta – Pajem
de paus - obstáculo, algo que vai ofuscar a capacidade de ver a realidade e
denegrir necessidades emocionais. Alguém frívola, teatral e oca. Cruel,
mesmo...
Ela
puxa outra carta do baralho: Cavaleiro de Paus.
-
Mon Dieu! Oh, Lord! Confirmado! Perigo à vista... com pessoas do passado... – E,
inconformada, vira outra carta. – Well!
A Roda da fortuna! O final é feliz!
Na cabana, Claude acorda
e com muito cuidado
para não acordar Rosa, sai da
cama. A chuva não aliviara o calor e o ar estava abafado.
Claude
sai da cabana. A noite estava magnífica. A lua, imensa e amarela, parecia
flutuar pelo céu.
Olhou
para baixo nas águas límpidas e frescas que caiam da cachoeira, formando uma
piscina natural. Não pensou duas vezes. Enrolou-se numa toalha da cintura pra
baixo e desceu até lá, mergulhando.
Rosa
abriu os olhos e sentou-se rapidamente na cama. Puxou o lençol até o pescoço.
Estava sonhando ou realmente ouvira eco do seu nome vindo de algum lugar? E
onde estava Claude?
-
“Será que ele teve coragem de me deixar sozinha aqui nesse fim de mun...” -
Começa a pensar, quando ouve:
-
Rosa! Acorda, gatinha!
Não
era sonho... Era a voz dele mesmo. Saiu enrolada no lençol e
foi até a varanda, seguindo o
som.
-
Voilá! Pensei que non ia acordar!
-
Claude, você enlouqueceu?
-
Non. Mas se você non vier aqui comigo, com certeza, vou enlouquecer! Vem,
gatinha... A água está perfeita!
-
Mas...
-
Semmas! Non tem desculpas. Olha só pra cima! Eu pedi à lua e ela iluminou a
noite só pra nós, hã? Desce aqui, chérie.
Rosa
dá um sorriso e se afasta da varanda. Claude parecia uma criança feliz.
Momentos depois, lá estava ela, à beira do riacho, com o lençol moldurado em
seu corpo.
Claude
se aproxima dela e diz:
-Você
non vai precisar dele aqui. - E puxa a ponta do lençol jogando-o junto à sua
toalha.
E
pegando-a pela mão, a faz entrar na água, até que chegue à sua cintura.
-
Água no umbigo, sinal de perigo! – Sussurra, olhando para Claude que sorri
entre malicioso e zombeteiro.
-
No nosso caso, é sinal de tentaçon! – E a atrai para junto de si, beijando-a
demoradamente...
Depois
de um longo tempo abraçados sob a queda d’água, já com os corpos relaxados e
satisfeitos, eles conversam, sentados na pedra.
-
Só você pra me convencer a fazer essa loucura toda! - Diz Rosa.
-
Arrependida? – Indaga Claude.
-
Não. Mas devo admitir que não faria isso com... com outra pessoa.
-
E por que non?
-
Porque eu sempre soube que só faria amor quando encontrasse uma pessoa especial
ou por quem eu me apaixonasse.
-
E o seu ex-noivo non era especial ou você non estava apaixonada?
-
Acho que nos acostumamos um com o outro e deixamos o tempo passar. Eu não
poderia casar com ele. Não daríamos certo. Isso abalou meus pais, eles não
conseguem entender... Se souberem que eu me entreguei pra você, assim sem
compromisso... Deus, não quero nem pensar! Vamos subir? Eu estou ficando com
frio...
-
D’accord, vamos...
Assim
que sai da água, Rosa se enrola no lençol e em poucos segundos já estava
entrando na cabana, seguida de Claude.
-
Com fome? Eu vou ver o que podemos arrumar por aqui. Sempre tem algum enlatado
na dispensa dele.
-
Eu vou me vestir e já volto pra te ajudar.
Antes
Um
tempo depois, eles estão sentados na varanda, perdidos no tempo. Rosa está
sentada ao lado de Claude com a cabeça apoiada em seu ombro.
-
Rosa, você disse que só faria amor com uma pessoa especial ou por quem se
apaixonasse... Em qual categoria eu me incluo?
-
Nas duas! – Responde baixinho, temendo que ele a achasse boba ou infantil
demais.
-
Mon Dieu, que bom ouvir isso... Eu vou falar primeiro, oui?
-
Falar o quê?
-
Algo que eu nunca disse a mulher nenhuma. Fazer amor contigo foi mágico... sabe
porquê? – Diz, forçando-a suavemente a levantar o rosto e o encarar.
-
Não... porquê?
-
Porque eu me apaixonei por você, gatinha... Eu amo a mulher que você é... Eu
amo você, chérie!
-
Eu... acho que idem...
-
Idem? Non, idem non... Fale a frase toda, hã? – Suas mãos já estavam
embrenhadas nos cabelos dela, sua boca encostada à dela...
-
Eu amo você, Claude Geraldy... e acho
que é por toda minha vida...
E
as estrelas no céu pareceram deixar a noite ainda mais cintilante, como se
sorrissem e entendessem o que acontecia entre esses dois corações humanos...
Até a lua estendeu seus braços sobre eles, iluminando-os docemente, enquanto
selavam seu amor com um beijo...
Continua...
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