IX
Rosa
estava ansiosa. Com Júlio, a vontade de
se divertir fora abolida. Ele não gostava de frequentar casas noturnas, bares,
restaurantes, cinemas, teatros ou shows. Mas agora estava solteira. Era livre,
leve e... quase solta. Podia fazer o que quisesse, quando
quisesse, com quem quisesse...
Aquidauana
era uma cidade pequena que possuía por volta de cinquenta mil habitantes e servia de apoio às pessoas que moravam
nas fazendas e nas cidades mais próximas.
Igrejas,
agências de correio, mercearias e restaurantes, lojas de departamentos, bancos,
casa do artesão, centro cultural, clube do laço, mercado municipal, museu de
Artes Pantaneiras, hospitais, pronto-socorro padarias... Era um município próspero! Tem até shopping,
pensava Rosa.
Apesar
de pequena, Aquidauana também tinha uma
vida noturna!
E
Rodrigo era realmente um gentleman, como dizia tia Elisabeth. De pronto
concordara em levá-las para a cidade. E agora parecia se divertir muito,
enquanto conversava com ela. Parecia realmente interessado por Elisabeth e Rosa
sentiu-se aliviada. Não queria magoar ninguém e não sentia nada por ele.
Rosa
não gostava de cerveja, mas o calor estava insuportável e depois de tomar um
refrigerante, resolveu mudar radicalmente.
Se
queria se divertir, teria que estar mais solta e a cerveja ajudaria a deixá-la
assim. E a sentir-se mais segura naquela roupa...
O
bar era bem decorado, estilo aconchegante. Além do atendimento no balcão,
algumas mesas espalhadas pelo salão estavam ocupadas por todos os tipos de
fregueses. Uma modesta, mas bem atraente pista de dança era usada por alguns
casais que se arriscavam ao som de uma música lenta.
Um
bar e um violão... pensou Rosa,
nostálgica.
E
um cantor afinadíssimo na dupla que se apresentava por ali! Sertanejo não era
sua preferência, mas também não era tão ruim assim...
Do
lado de fora, Claude para seu carro em frente à praça, atravessa a rua e vai
para o bar. Além das pessoas de sempre, havia várias das cidades vizinhas. Com
certeza pela dupla que se apresentaria por ali. Pediu uma bebida e sentou-se
junto ao balcão, trocando algumas palavras com o barman, como sempre fazia.
-
Ouvi dizer que estão adaptando a Fazenda Borboleta Azul para o ecoturismo,
Claude. Se precisar dos serviços de um barman, conte comigo!
-
Possivelmente vamos precisar, quando tivermos atrações ou open bar! Lembrarei
de você, Colibri!
Alguns
conhecidos o cumprimentaram, chamando-o para suas mesas, mas preferia ficar
sozinho nesta noite. Tinha que amadurecer seus pensamentos sobre Serafina Rosa!
Há
dias a observava, apesar de saber que não devia. Mas admirar sua figura estava
virando uma obsessão para ele. Nesse momento, teve certeza que sofria de um mal
que só ela podia curar... Talvez se a tivesse uma única vez, poderia tirá-la da
cabeça...
Que
tolice! Sabia que jamais conseguiria tirá-la da cabeça!Com Serafina Rosa seria
diferente... especial, de um modo que
ele não sabia precisar. Seria amor...
E
desse sentimento, queria distância! Não, não seria subjugado por aquela
baixinha teimosa que fazia seu sangue ferver! Ela seria um problema sério! E envolver-se
seriamente nunca mais!
Terminou
a bebida e virou-se para admirar as pessoas na pista de dança e levou um
choque! Rosa dançava e seus movimentos eram no mínimo muito sensuais...
-
“Mas que diabos ela pensa que está
fazendo, dançando desse jeito e vestida assim num lugar como esse?” - Seus
olhos percorreram aquele corpo que o seduzia desde a primeira vez que a vira...
Será que ela tinha consciência do quanto estava sexy naquele jeans apertado ao
extremo, que realçava suas pernas esguias e torneadas? E que retalho de tecido era aquele que ela
usava como blusa? Aquilo era indecente! Deixava seus seios firmes e delicados
destacados demais! Como podia ter feito isso?
E
logo seus olhos lhe deram a resposta ao ver tia Elisabeth numa mesa próxima à
pista em companhia de Rodrigo. E também o alertaram para os olhares masculinos
que ela recebia.
Aquilo
era demais! Caminhou até ela e segurou-lhe o braço, sem nenhuma delicadeza,
levando-a para perto do balcão, sob o olhar atento e disfarçado de tia
Elisabeth.
-
Claude, o que pensa que está fazendo? Quer me soltar? – Exclama indignada,
tentando se soltar dele.
-
Estou fazendo o que todos os homens aqui pensaram em fazer! Vou lhe oferecer
uma bebida pra começo de conversa – Fala, olhando-a de cima a baixo
descaradamente e pedindo duas bebidas – Tem noçon do que pensam que você é,
vestida assim num lugar como esse?
-
Não vejo nada demais na minha roupa! É comum garotas se vestirem assim! E eu já
frequentei lugares piores, ok? – Não era verdade, mas tinha que passar essa
impressão para ele.
-
D’accord! E como foi que fez para vestir essa calça e essa blusa? Nunca vi nada
ton escandalosamente apertado em toda minha vida! Está procurando encrenca,
gatinha!
-
Oras! Você não é meu pai, não é meu dono, não é nada meu... Não preciso ficar
ouvindo isso de você! – Faz menção de sair, mas Claude a manteve onde estava,
segurando-a mais forte ainda.
O
barman serviu as bebidas e lançou um olhar mais que interessado em Rosa,
assoviando baixinho:
-
Uau! Isso sim é uma visão do paraíso! A bebida é por minha conta, princesa!
Rosa
não gostou da maneira come ele disse “princesa” ou de como a olhou. Mas não
iria deixar que Claude saísse ganhando...
-
Pode ter certeza que lembrarei desta sua gentileza real... – E sorri
amavelmente.
Claude
engoliu em seco! Como ela ousava dar corda aquele tipo de cantada? E ele, como
ousava olhar para ela daquela maneira?
Ah, não! Isso não era tolerável! Precisava fazer alguma coisa. E fez.
-
Colibri – Falou num tom que inspirava respeito – Esta é Serafina Rosa Petroni,
a arquiteta de São Paulo, responsável pela adaptaçon da fazenda de meu pai. Ela
vai passar uma temporada por aqui...
Aquilo
bastou e Colibiri, o barman, entendeu a mensagem de Claude.
-
Desculpe pela brincadeira, senhorita Petroni. Espero que goste de nossa cidade
e aprecie sua estada por aqui!
-
Na companhia de pessoas certas, tenho certeza que vou apreciar! – Fala, pegando
sua bebida e voltando para a mesa junto de Elisabeth e Rodrigo, sob o olhar
possessivo de Claude.
-
Essa tem as unhas afiadas! – Fala Colibri – Mas pelo jeito, você logo consegue
apará-las! – E vai para o outro lado do balcão servir novos clientes.
Durante
o resto da noite, Rosa bebeu mais cerveja, dançou com vários rapazes,
tornando-se o centro das atenções masculinas, porque todos queriam dançar com
ela e femininas, porque despertava inveja em algumas e admiração de outras.
Claude
não perdia um só movimento que Rosa fazia. Sabia até quantas vezes ela havia
ido ao banheiro. Ela estava testando sua paciência e tinha que reconhecer que
já estava no fim, se é que já não havia acabado.
Devia
tomar uma decisão: ir embora ou fazer o que seu coração pedia, tirando-a dali
antes que outro a tirasse!
Foi
então que viu um dos cantores da dupla que se apresentava descer do palco e aproximar-se dela, sorrindo.
Sentaram-se
numa mesa vazia e começaram a conversar animadamente. O rapaz segurou as mãos
de Rosa e disse algo que a fez rir um pouco mais alto e balançar a cabeça,
primeiro em sinal negativo e depois em afirmativo. Então, a levou ao palco, enquanto cantava com
a banda.
Aquilo
foi a gota d’água! E pior era ver tia Elisabeth incentivando esse comportamento
de Rosa com gritinhos de “u-hu” e “vai darling”! Assim que a música acabou, Rosa ganha um
abraço e um beijo da dupla e, ao se voltar e descer do palco, deu de cara com
Claude:
-
Já se divertiu o suficiente por esta noite, gatinha. É hora de voltar pra casa,
hã? – Diz num tom nada agradável.
-
Eu não sou sua gatinha, nem de ninguém!
E ainda não me diverti o suficiente! –Responde furiosa, virando-lhe as
costas, na intenção de voltar à pista de dança.
Mas
Claude a segura pelo braço, impedindo-a de continuar.
-
O que pensa que está fazendo?
-
Seguindo seu conselho! Não disse que eu
precisava de mais experiências?
-
E desde quando você segue minhas ordens?
Então
Rosa o encara com uma expressão zangada e livrando-se do braço dele, levanta o
punho para atingi-lo, mas Claude é mais rápido e segura-lhe a mão no ar.
-
Dessa vez você non vai me atingir, Rosa! Non gosto do que estou vendo e sua
diverson chegou ao fim, d’accord?
E
antes que se desse conta, Rosa estava sobre os ombros dele, sendo carregada
para fora, diante de olhares curiosos e surpresos.
Rodrigo
tem a intenção de intervir, mas um gesto de Elisabeth o impede.
-
Me põe no chão seu... troglodita... bruto... estúpido! – Exclama, esperneando e
tentando descer ao chão.
Mas
Claude só a soltou quando chegou no
seu carro.
-
Claude Geraldy, você não tinha o direito de fazer isso comi... - Mas Claude a
cala com um beijo.
-Como
se atreve a me beijar?
- Se é essa a experiência que deseja, enton,
encontrou um mestre, minha gatinha... - Claude torna a beijá-la.
Rosa
lutou bravamente. Resistiu o quanto
pôde. Lutou, batendo com os punhos contra o peito de Claude. Tentou ficar fria
e insensível, até sentir a cabeça rodar e o coração disparar.
Seria
sempre assim com ele! Sabia disso desde o primeiro beijo. Sentiu a pressão da carícia diminuir, mas isso
não amenizou os seus sentidos.
Claude
encostou sua boca junto ao ouvido de Rosa e sussurou :
-
Gatinha, precisamos nos acertar, de uma vez por todas...
Rosa
não respondeu nada. Só sentiu que ele a
ergueu e a colocou no banco do passageiro...
Andaram
alguns quilômetros, dividindo olhares e sorrisos, numa cumplicidade silenciosa,
repleta de sedução e desejo... Então, de repente numa curva:
-
Pare o carro rápido! A voz de Rosa se fez ouvir e Claude freou bruscamente.
-
O que foi? Mudou de idei...
Rosa
saltou do carro antes que ele parasse completamente como um animal em fuga.
Claude só entendeu quando a escutou ter ânsias e vomitar.
Adeus
à noite de amor e paixão, pensou Claude batendo a palma da mão na testa. Por
que sempre que estavam juntos, se tocando, o inesperado acontecia?
Se
aproximou dela que, agachada no acostamento, estava lívida e trêmula…
-
Está melhor? – Perguntou, querendo ser gentil.
-
Sim...
-
Ótimo, vamos voltar para o carro.
Rosa não saiu do lugar. Que situação mais
embaraçosa! Estava pagando caro por sua falta de juízo, pensava . Aquilo tudo era constrangedor. Tinha feito coisas
que nunca fizera pra provocá-lo e se deixara seduzir... para nada?
-
Venha, vamos para casa, você non tem mais condiçôes de... - Parou a frase por
ai e a ergueu em seus braços.
Mas
Rosa começou a passar mal de novo. Colocou-a imediatamente no chão. Rosa esforçou-se
para manter o equilíbrio e depois de mais uma rodada passando mal, finalmente
foram para o carro.
Céus,
como ele podia agir assim com ela? A náusea já era o bastante. Precisava
puni-la dirigindo tão depressa? Mas ela merecia, pensava...
O
show no bar, os beijos no estacionamento, fizeram-na perder a cabeça. E caira
nessa armadilha, novamente.
Quando
chegaram na fazenda, Rosa dormia e Claude não sabia ao certo o que fazer dela. O melhor
seria acordá-la para que tomasse algum remédio. Ou podia colocá-la na cama. Ou
deixá-la no carro para não cair na tentação.
Antes
que tomasse uma decisão Rosa se aninhou em seu colo e gemeu com candura,
abrindo os olhos... Claude ficou tenso, o
som percorrendo-o dos pés a cabeça e antes que seu corpo se
pronunciasse, tomou-a nos braços, tirando-a
do carro.
-
Por que nos trouxe de volta a fazenda? Não íamos...
-
Íamos... Mas se non vamos até o fim, melhor non irmos a lugar nenhum...
-
Tem toda razão! Eu é que devia ter sido menos idiota! Me põe no chão, por
favor?
Continua...
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