sexta-feira, 15 de março de 2013

O INFERNO DE UM ANJO - SEGUNDA PARTE - CAPÍTULO 30 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA

O INFERNO

DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’un Ange




Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


PENÚLTIMO CAPÍTULO

Capítulo XXX
A ENCANTADORA INESQUECÍVEL

Nunca houve neste mundo um homem que tenha feito mais averiguações para descobrir o paradeiro de uma pessoa que o barão Luís Paulo, para saber onde poderia encontrar Maria "Flor de Amor". Mobilizou todos os detetives particulares, toda a polícia oficial, mas com resultado negativo. Ninguém era capaz de indicar pista alguma da desaparecida. Tudo o que se sabia era que ela obtivera um passaporte que permitia viajar por toda Europa e América. Viajou? Passou para os Estados Unidos? Para a Europa ou para a América Latina? Impossível decifrar esse enigma. Nessa época, a polícia não exigia a relação dos passageiros que viajavam em navios com rumo a outros países. Dos que viajavam por estradas, tampouco se tinha referências.
Àquela tarde, Ubaldo Duroi apresentou-se no palácio do barão de Rastignac. Ao porteiro que o interrogara, pois Luís Paulo não queria receber visitas, o detetive respondeu que o assunto que o trouxera até ali era da maior importância para o barão. Quando o empregado transmitiu a Luís Paulo o que dissera o visitante, uma grande esperança apoderou-se dele. Seria possível que aquele policial intrigante tivesse descoberto o paradeiro de Maria "Flor de Amor"? Ordenou, pois, que o fizessem entrar. Não. Infortunadamente, Ubaldo Duroi não sabia nada a respeito da jovem, cujo paradeiro não cessava de esforçar-se por descobrir. Mas ele trazia consigo um documento de capital importância para a vida e o futuro do barão. Luís Paulo escutou isso com absoluta indiferença. Para ele, a única coisa verdadeiramente importante era saber onde podia encontrar a mulher de sua vida, Maria "Flor de Amor". O detetive, todo salamaleques, abriu a pasta que trazia consigo e tirou uma folha de papel almaço, escrita por mão de mulher.
- Este documento tem importância decisiva para vossa excelência - disse Ubaldo. - Nele, Denise reconhece ter-se apropriado do nome e personalidade de Maria Aubert, conhecida por Maria "Flor de Amor", fazendo-se passar por ela para contrair núpcias com o senhor, Sr. Barão.
 Luís Paulo, então, apanhou aquele papel, cuja escrita reconheceu de chofre ser da impostora Denise.
- Sim. Está escrito por ela, evidentemente - disse Luís Paulo. - Agradeço seu interesse em servir-me, Sr. Ubaldo. Muito obrigado.
- Senhor barão, eu gostaria que seu agradecimento por este serviço de tanta valia não se reduzisse a ser expresso apenas com palavras.
- Acho que você tem razão - tornou o barão. E sem mais acrescentar, dirigiu-se até uma papeleira próxima e abriu uma gaveta, retirando dela um pacote de notas, que entregou em seguida ao detetive.
- Cinquenta mil francos!... Muito lhe agradeço - disse Ubaldo. - O senhor sempre foi um cavalheiro verdadeiramente generoso.
- Ponha diante de meus olhos Maria "Flor de Amor", e eu, em recompensa, lhe darei um milhão de francos.
- Oh, um milhão! - exclamou o detetive, deslumbrado. - Vou procurá-la por toda parte, removerei céus e terras até encontrá-la. Dito isto, despediu-se do barão com mais mesuras.
Uma vez só, Luís Paulo guardou numa gaveta a declaração de Denise reconhecendo ter usado nome falso para casar. Esse documento e mais a declaração do falecido, Afonso Houdin constituíam prova suficiente para que os casamentos, tanto religioso como civil, de Luís Paulo e Denise fossem declarados nulos e sem efeito. Mas ele não pensava neste caso judiciário que não tardaria em precisar ser resolvido. Agora, o que ocupava totalmente o pensamento do jovem barão era o anseio de conseguir averiguar o paradeiro de Maria "Flor de Amor", a amada inesquecível de seu coração. Sozinho no seu gabinete, sentindo o desejo de compartilhar com alguém suas mágoas, resolveu escrever ao conde Fernando que, como já dissemos, encontrava-se em Londres. Sentou-se diante da escrivaninha, pegou pena e papel e começou a escrever a seguinte carta:
"Meu querido conde Fernando. Não há exagero em dizer-lhe que estou desesperado. Minhas inúmeras gestões fracassam uma após outra. Passam os dias e não consigo descobrir a mais leve pista de nossa Maria “Flor de Amor”. Mobilizei todos os detetives de Nova Orleans, fiz publicar nos jornais um anúncio oferecendo polpuda recompensa a quem me der notícias dela e só se apresentou um vigarista querendo fazer-me engolir um conto matreiramente urdido. Não sei que mais fazer, nem a quem apelar. E não cesso de refletir e de recorrer a todas aquelas pessoas que, acho eu, poderiam ajudar-nos a chegar até onde se encontra nossa querida Maria "Flor de Amor".
Que me aconselha você que é o pai dela? Escreva-me à volta do correio e sugira algo que me possa servir para, de uma vez, pôr termo a esta insuportável ansiedade. A impaciência e o desespero estão arruinando minha saúde.
                                     Um abraço com todo afeto,
LUÍS PAULO"

Durante sua permanência na Inglaterra, Fernando de Chanteloup deixou de usar seu título de conde francês, para em seu lugar usar o título de conde e Lord britânico, que acabava de herdar de seu tio. Por todo o tempo que Fernando permanecesse na Inglaterra, seria chamado unicamente de Lord ou conde Robertson. E era assim como lhe chamavam os que habitavam o histórico e suntuoso castelo de Robertson ou aqueles que o visitavam para entrar em contato com o seu atual dono.
O conde Fernando recebeu a carta de Luís Paulo e admirou uma vez mais a firmeza e intensidade do amor que o jovem barão professava a Maria "Flor de Amor", a filha com quem o nobre sonhava em compartilhar sua vida, sua velhice serena. Quando Maria "Flor de Amor" estivesse perto dele, não acharia nela o falso amor da impostora Denise, mas sim a ternura franca e sincera de uma verdadeira filha.
- Que ótimo rapaz é Luís Paulo! - ponderou para si o conde Fernando. - Ele fará feliz à nossa suspirada Maria "Flor de Amor", quando Deus quiser que volte para nós.
Eram três horas de uma tarde ensolarada, coisa pouco frequente nos invernos londrinos, pródigos em nevoeiros densos, em céus cinzentos ou chuvosos.
Colocou novamente a carta dentro do envelope e resolveu descer até o jardim para dar umas voltas por suas alamedas, aproveitando o benéfico calor do rei dos astros. Fernando, agora Lord Robertson, observou satisfeito que o jardim estava bem cuidado e que se achava enriquecido por plantas exóticas e raras que, sem dúvida, chamariam a atenção de quantos o visitavam.
Depois avançou pela galeria do térreo do castelo, dirigindo-se para a grande sala de armas. De repente, abriu-se uma porta e no seu umbral apareceu uma jovem loura, modestamente vestida.
O conde Fernando, inconscientemente, olhou para ela e algo semelhante a uma descarga elétrica sacudiu seu ser. Seria possível ou estava sofrendo uma alucinação nascida de sua ânsia de ver à sua frente a tão querida Maria "Flor de Amor"?
Esfregou os olhos para persuadir-se de que não se tratava de um fantasma criado pela sua imaginação. Nesse momento, uma suave, melódica voz feminina exclamava com a mais intensa das surpresas:
- O senhor é o conde Fernando de Chanteloup! Não estou sonhando não!
- Sou algo mais que o conde Fernando para você. Sou seu pai, que a vem procurando tão ansiosamente.
- Meu pai?! Por fim, então, consegui conhecer meu pai? Deus me concede essa alegria, logo eu que sempre pensei ser órfã?
- Não é órfã não, minha querida filhinha - respondeu o nobre, abrindo os braços e apertando amorosamente contra seu coração a conturbada Maria "Flor de Amor", de cujos belos olhos azuis desprendiam-se agora as lágrimas.
- Obrigado, Senhor Todo Poderoso, por eu não ser órfã - disse ela, olhando para o alto com o seu sensível coração cheio de gratidão.
- Você, minha querida, tem pai e tem mãe - disse gravemente o conde.
- Eu procurei minha mãe no manicômio do doutor Démon e ali me disseram que ela morreu...
- Mais uma das tantas mentiras daquele médico bandido, que a estas horas está pagando seus crimes no mesmo inferno. Sua mãe está viva e eu vou levar você até os seus braços.
- Ela está aqui? - perguntou com ansiedade Maria "Flor de Amor".
- Não. Encontra-se em Nova Orleans. Espero que lhe faça um bem imenso recuperar sua filha, pela qual tanto suspirou e chorou - respondeu Fernando de Chanteloup.
- Você, papai, está de passagem por Londres, de visita neste castelo? - perguntou Maria "Flor de Amor".
- Não, minha filha. Não estou de visita, porque este castelo e muitas outras propriedades deste condado me pertencem.
- Mas eu entendera que este castelo pertence ao Lord conde Robertson.
- É que o conde Robertson sou eu, filhinha - esclareceu Fernando. - Por motivo da morte de meu tio, herdei todos os seus bens. Eu vim até Londres para assistir meu velho parente em seus últimos momentos. E você, querida, como é que se encontra aqui? Estava visitando o castelo?
- Não sou visitante e sim empregada. Meu trabalho consiste em cerzir e passar a ferro quente as librés da criadagem - explicou Maria "Flor de Amor".
- Você, a futura Milady condessa Robertson, cerzindo librés daqueles que estão obrigados a ser seus criados atenciosos e obedientes? - exclamou Fernando, consternado pela surpresa. - Minha filha fazendo um trabalho tão inferior, tão impróprio de sua alta classe social?
- Papai, o trabalho sendo honesto, antes enaltece que humilha - observou Maria "Flor de Amor", que não se envergonhava de ter ganhado seu pão mediante seu próprio esforço.
- Sim, minha filha. Vale mais um trabalhador por modesto que seja, que um aristocrata dissipador e parasita.
Nesse momento, o mordomo apareceu, avançando pela galeria. O conde Fernando fez-lhe sinal para que se aproximasse. Assim o fez o servidor, em atitude respeitosa, porém, sem poder dissimular sua estranheza por ver o conde, o atual dono do castelo, em amigável conversa com uma das empregadas mais insignificantes da mansão: a cerzideira das librés.
- Samuel - disse Fernando, encarando seu subordinado.
- Esta senhorita que está ao meu lado é minha filha, é a condessa Maria. Quero que todos vocês acatem e respeitem suas ordens como se fossem minhas.
- As ordens de vossa excelência serão fielmente cumpridas - prometeu o mordomo, inclinando-se respeitosamente.
- Está bem, Samuel. Pode retirar-se.
O mordomo obedeceu com nova e acentuada inclinação da espinha dorsal,
- Agora eu e você vamos para meu gabinete. Temos que escrever uma carta para alguém que vive em intenso desespero por não saber notícias de você. Acho que não preciso dizer quem é.
- Luís Paulo? - exclamou Maria "Flor de Amor" - Mas não é possível. Ele me considera a última das mulheres, a amante de um bandido. Eu aceitei representar aquele odioso papel para evitar que Afonso, um criminoso, matasse o barão. Não pode pensar em mim senão com horror.
- Já não é como você pensa, querida filha. De repente, a verdade resplandeceu. Ferido de morte, Afonso Houdin confessou toda a verdade daquela encenação. Agora Luís Paulo sabe que você continua a ser um anjo de pureza e quer casar com você!
- Oh, meu Deus,que alegria saber que Luís Paulo voltou a considerar-me digna de seu amor! - suspirou Maria "Flor de Amor" com lágrimas nos olhos - Mas você, meu pai, diz que ele quer casar comigo. Porém, isso não é possível, já que Denise é sua esposa.
- Denise confessou ser uma impostora que, à instigação da marquesa Renata, prestou-se a se fazer passar por Maria Aubert, isto é, por você. Ela está fugitiva. E como casou com falso nome, usurpando-o de você, esse casamento é legalmente nulo. Luís Paulo pode considerar-se solteiro e até noivo de você, se você o quiser.
- Oh, que felicidade! - exclamou Maria "Flor de Amor" - Num mesmo dia meu pai me acolhe em seus braços e o homem de minha vida voltou a amar-me, a desejar unir os nossos destinos indissoluvelmente.
Pai e filha tinham chegado diante da porta do gabinete do conde. Entraram nele.
- Vamos escrever a Luís Paulo - propôs Fernando.
- Agora mesmo - disse com impaciência a jovem.
O conde deu, naquela carta, a Luís Paulo, a alvissareira notícia do seu encontro com Maria "Flor de Amor" exatamente em seu próprio castelo de Londres.
Maria "Flor de Amor" limitou-se a escrever estas linhas no fim da carta de seu pai:
"Venha o quanto antes, meu amor. A alegria de saber que ainda me amas faz de mim a mulher mais feliz e invejável deste mundo. E a impaciência me consome, quero que você volte a estar perto de mim para que possamos trocar juras e beijos. Por amor de meu amor, Luís Paulo, pegue o primeiro barco, pois o está esperando sua apaixonada Maria."
Uma vez fechado o envelope, pai e filha saíram em direção ao correio geral de Londres. Num "landeau", suntuosa carruagem, puxada por dois briosos corcéis, dirigiram-se desde o castelo para o centro da grande cidade.
A carta, registrada, foi depositada no correio. Depois, o conde Fernando levou Maria "Flor de Amor" a uma das mais célebres joalherias de Londres.
Brilhantes, esmeraldas, brincos, braceletes, "pendentifs". O conde comprou para sua filha uma fortuna em joias, não escutando a modesta Maria "Flor de Amor", que protestava diante daquelas compras, pois ela não amava o luxo, nem as exibições de riqueza.
- Lembre-se, querida, que você não tardará em ser Milady Maria, condessa de Robertson e, no dia em que eu morrer, passará a ser a condessa de Chanteloup. Quando casar com Luís Paulo, você acrescentará mais um título aos seus: baronesa de Rastignac.
Depois do joalheiro, Fernando levou Maria ao atelier de madame Marcel, costureira francesa estabelecida em Londres e com fama de ser uma das melhores modistas do velho mundo.
Ali encarregou roupas suntuosas de "soirée", de passeio e para a intimidade caseira. E apresentou sua filha como Lady Maria, condessa de Robertson.
- Quando Luís Paulo chegar a Londres - disse o conde Fernando - você possuirá um guarda-roupa completo. Ainda temos que comprar muita coisa para você.

* * *

Era dia de correio da Europa e o jovem barão de Rastignac aguardava ansiosamente a aparição do carteiro. Este, efetivamente, entrou no vestíbulo do palácio e depositou nas mãos do porteiro uma carta lacrada. Já em seu poder, Luís Paulo viu que procedia do conde Fernando. Antes de abri-la, comentou para si:
- Terei de responder-lhe uma vez mais que, apesar de estar removendo céus e terra, não consigo averiguar coisa alguma a respeito de Maria "Flor de Amor".
Abriu a carta sem suspeitar a grande notícia que iria achar nela. Mas quando, com os olhos estupefatos, conseguiu ler, o coração a ponto de saltar de seu peito, que Maria "Flor de Amor" estava ao lado de seu pai, que de humilde empregada no castelo tinha-se transformado em condessa e dona do mesmo, pois o conde Fernando decidira ceder à sua filha tanto o título de nobreza como todas as propriedades e riquezas que ele herdara do tio, o velho conde Robertson, Luís Paulo, crente e fervoroso, caiu de joelhos e seus lábios murmuraram:
- Bendito sejas, Senhor, por ter-nos devolvido a felicidade!
Momentos depois de ter lido essa carta do conde Fernando, que foi como uma ressurreição para o seu coração atribulado, o barão mandou atrelar os cavalos à berlinda e partiu para o centro de Nova Orleans.
O cocheiro deteve a carruagem frente à porta de uma agência de navegação. Nela entrou Luís Paulo, ansioso de saber quando partiria algum vapor com destino a Liverpool.
Teria que esperar quatro mortais dias antes de poder embarcar.
Viveu-os devorado pela impaciência. Que ânsia sentia de se ver frente à Maria "Flor de Amor" e de cair aos seus pés, implorando-lhe perdão por tê-la destratado naquele amaldiçoado hotel, numa cena forjada por uma intrigante e perversa mulher.
Quando, por fim, viu-se na coberta do "Jean Lambert", um suspiro de alívio escapou de seu peito. Logo o barco estaria transportando-o para a felicidade tão almejada, que as crueldades de um destino soberbo o separou.
Passou os dias de navegação com o pensamento fixo na criatura amada, em Maria "Flor de Amor", não a mulher, mas o anjo de sua vida. Mal pisou no porto de Liverpool, saiu quase correndo para tratar de conseguir um lugar na diligência que não demoraria em partir para Londres. Já na capital inglesa, subiu numa carruagem de aluguel, dando ao cocheiro indicação de que deveria levá-lo até o castelo do conde Robertson.
A viagem até esse castelo pareceu a Luís Paulo a mais demorada de sua vida. Mesmo durante a última parte do trajeto, não cessou de pedir ao cocheiro que, em vez de trotar, fizesse galopar os cavalos. Ao anoitecer, o tempo melhorara e o vento bastante frio desviou as nuvens do céu, tornando-o azul como numa noite de primavera.
O castelo pareceu surgir como por encanto entre as velhas e frondosas árvores, após a última curva, tendo por fundo um panorama de montanhas cobertas de neve. Assim que a berlinda estacionou diante do grande portão, Luís Paulo foi recebido por um porteiro de libré que, respeitosamente, tirou o chapéu, saudando-o.
Nesse mesmo instante, em direção do recém-chegado avançava o mordomo do castelo, a dar as boas-vindas ao jovem barão Luís Paulo de Rastignac.
O apaixonado quase que não ouviu aquelas frases corteses do servidor. Movido pela impaciência, Luís Paulo subiu os degraus das escadas de mármore que, desde o jardim, davam acesso ao vestíbulo. Uma vez neste, o barão gritou com toda a força de seus robustos pulmões:
- Maria "Flor de Amor"! Meu anjo! Onde está você? Sou eu... Luís Paulo!
Aquele imperioso chamado pareceu revolucionar a mansão, ecoando pelas salas do castelo e fazendo com que a criadagem acorresse de todos os lados a fim de ver o que estava acontecendo.
O conde Fernando saiu precipitadamente de seu gabinete e com uma expressão de grande e sincera alegria no rosto, correu, braços abertos, a estreitar contra o seu coração o querido viajante.
Os criados os olhavam com comovido respeito, pressentindo que desde aquele dia uma nova vida ia começar no castelo. Lílian, a camareira de Maria "Flor de Amor", correu para os fundos do castelo, onde estavam os luxuosos aposentos ocupados por nossa admirada heroína.
- Senhorita - disse Lílian, dirigindo-se à filha do conde Fernando. - Aquele que com tanta ansiedade estava aguardando... Acaba de chegar.
- O meu Luís Paulo está no castelo? - replicou ela, resistindo a admitir tanta felicidade.
- Ele chamou a senhorita aos brados. Ficou conversando com o senhor conde.
Maria "Flor de Amor" não quis saber mais nada e começou acorrer por uma comprida galeria em direção ao vestíbulo do castelo.
Quando os olhos do barão pousaram na inefável criatura que penetrava no grandioso vestíbulo, trêmulo de paixão, sentiu-se tão transtornado que suas pernas a duras penas conseguiam mantê-lo de pé.
- Maria! Maria "Flor de Amor". Fada da minha vida, rainha do meu coração!
Ela, dominando sua emoção o melhor que podia, avançou em direção de Luís Paulo. Um momento depois, aqueles dois corações batiam lado a lado, enquanto que beijos de supremo amor selavam seus lábios...
- Não estarei sonhando? - exclamou o jovem barão, duvidoso de tanta felicidade. - Deus se apiedou de mim e permitiu que eu chegasse até você! - acrescentou.
Depois Luís Paulo, deixando de abraçar Maria "Flor de Amor", caiu de joelhos diante dela.
- Que faz você, meu querido? - perguntou Maria "Flor de Amor", aturdida pela surpresa de ver o homem que amava naquela atitude contrita.
- Estou pedindo-lhe perdão pelas frases ofensivas e pelo desprezo com que a tratei naquele hotel maldito de Nova Orleans, enganado pelas aparências!
- Oh, meu amor! - ela o desaprovou - por que evocar um passado tão triste neste momento em que somos tão felizes? Apaguem-se em nossa memória tudo o que aconteceu em outros tempos. Vivamos apenas para o presente e também para o futuro, porque penso que há um futuro para nós.
- Os obstáculos que se interpunham entre nós estão desfeitos - depôs Luís Paulo - Antes de sair de nossa cidade, o advogado me comunicou uma notícia que não quero demorar em dar a você. Meu casamento com Denise foi declarado nulo e sem efeito pela Suprema Corte de Justiça de Nova Orleans. Ela casou comigo fingindo ser você, fazendo-se passar pela filha do conde Fernando. Cometeu um delito, pelo qual não poderá ser castigada porque ela já há algum tempo que desapareceu de nosso país. Denise viajou, acho que está em Paris.
- Oh, que bom... Que ótima notícia, meu querido! Você recuperou sua liberdade...
- Uma liberdade que estou pondo aos seus pés. Estou aqui para pedir a meu amigo o conde Fernando a mão de sua encantadora filha. Você aceitará ser esposa deste homem que tão pouco merece essa tão grande felicidade? - perguntou Luís Paulo.
- Espero que meu pai não lhe diga "não", sobretudo depois de me ouvir dizer a você com toda a minha alma: SIM!-
- Meu céu na terra! Meu amor adorado! - prorrompeu Luís Paulo, abraçando-a com ternura. - Vou ser o mais invejado dos homens. Vou ter a mais ideal, a mais cativante das esposas.
- Tem certeza de que você será feliz casando comigo?
- Feliz? Isso é muito pouco. Digo supremamente feliz e estarei um pouco mais perto da realidade. Seu amor, Maria, é para mim como o sangue de minhas veias: não posso viver sem, ele!
Novamente seus lábios se uniram em êxtase apaixonado.
- Meus filhos – disse, então, o conde Fernando, - vocês se esqueceram de que eu estou aqui?
- Oh, conde, perdoe-me - escusou-se Luís Paulo. - Pense o que significa este nosso encontro de agora, depois de tantas penas e sofrimentos, de tanto padecer um distante do outro.
- Não tínhamos combinado - reclamou Maria "Flor de Amor" - que nosso passado ficaria sepultado no panteão do esquecimento?
- Você tem razão. Nunca mais farei a menor alusão ao já acontecido. O passado é passado - prometeu o barão.
- Vocês agora - interveio Fernando de Chanteloup - têm que pensar, sobretudo, no futuro. Mas, antes de tudo, como ouvi esse cavalheiro dizer - acrescentou, apontando para Luís Paulo - que tem de me fazer um pedido, peço-lhe que o formule agora mesmo.
- Candidato-me a ser o esposo dessa moça, que parece amar-me quase tanto como eu a amo.
- Quase!... Suprima essa palavra - exigiu Maria "Flor de Amor".
- Suprimida - disse o barão. - Qual sua resposta, conde Fernando?
- Eu estarei plenamente de acordo com o que resolver minha filha.
- Eu resolvo que... Quero ser para toda a vida, e até depois da morte, a esposa, a companheira dedicada do único homem que posso amar neste mundo: Luís Paulo de Rastignac!
- Pois bem, casal romântico, pergunto a vocês: onde preferem casar, neste velho castelo dos Robertson, na cinzenta Londres,ou em nossa ensolarada Nova Orleans, onde todos nos conhecem e gostam de nós, onde o casamento de vocês será a mais alegre das festas e um autêntico acontecimento social? - perguntou o conde Fernando aos dois jovens.
- Onde prefere, minha querida? - quis saber Luís Paulo.
- Em Nova Orleans - respondeu sem vacilar Maria "Flor de Amor".
- Então, não percamos tempo. Comecemos já os preparativos para a viagem - determinou o conde.
Naquela mesma semana, Maria "Flor de Amor", Luís Paulo e Fernando de Chanteloup abandonavam a nebulosa Inglaterra para reintegrarem-se às terras ensolaradas da Louisiana.
Mais tarde, depois da boda, o conde Fernando voltaria à Inglaterra a dar cumprimento às beneficentes disposições testamentárias de seu falecido tio, última vontade que ele não podia desatender.
Em Nova Orleans, a melhor costureira recebeu o encargo do vestido de noiva para Maria "Flor de Amor". De sua parte, o barão Luís Paulo renovou a mobília de seu palácio para que nada do que pertenceu ou foi usado por Denise estivesse diante dos olhos da que agora ia ser para ele a legítima e definitiva esposa.

NÃO PERCA O ÚLTIMO CAPÍTULO DE “O INFERNO DE UM ANJO”!
__ Qual será o destino de Marta Aubert?

Um comentário:

  1. Paulo, que bom esse capítulo! O esperado encontro desses três sofredores, agora sem o perigo da presenta dos três monstros (Dr. Démon, Renata e Denise). Foi lindo o reencontro de Maria e seu pai, fiquei emocionada! Vou aguardar ansiosa, tomara que Marta fique bem, coitada! E o espertalhão Ubaldo será que vai terminar a história numa boa? Paulo, eu não estava comentando os capítulos, devido a problemas de saúde e outras dificuldades que me fazem ter pouco tempo e ânimo pra internet, mas sempre conseguia ler e apreciar o folhetim, que está terminando. Gostei muito! Bjs.

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