XII
Na
manhã seguinte, durante o café da manhã.
-
Rosa, my darling, essas fotos que você tirou são maravilhosas! Já pensou em tornar-se
fotógrafa? Você leva jeito! Seu trabalho daria uma excelente vernissage!
-
Tia Elisabeth! Fala, sério! Essas fotos são apenas um passatempo, algo que faço
pra me distrair! Mas os seus quadros... São lindos! Verdadeiras obras-primas! Dariam
incríveis capas de romances! – Diz olhando um catálogo de Elisabeth.
-
Menos, darling! Só serviriam para romances do tipo água com açúcar!
-
São os meus preferidos! Só acho que terminam rápido demais. Depois de tanto sofrerem e, finalmente,
descobrirem que é amor, normalmente, eles se beijam e tudo termina em tom de
“viveram felizes para sempre”!
Rosa
leva à xícara de café à boca.
-
É esse o seu desejo? Viver feliz para sempre ao lado do Claude? – Pergunta
Elisabeth com uma boa dose de curiosidade e humor.
-
Coff! Coff! Ahaanahn Coff! – Engasga-se com a bebida quente e doce - Ti-a
Elisabeth! Coff!
-
Rosa, esse é o sonho de toda mulher. E eu quero pintar um quadro de vocês...
Estou tendo uma visão, muito interessante. No fundo, somos todas “programadas”
para viver uma linda história de amor... Como será a de vocês, chérie!
-
Como eu queria que fosse assim...
-Vai
ser, meu bem, vai ser! Quando desejamos algo a alguém com fé e determinação,
tal coisa “pega”. A palavra tem poder, a mente tem poder, desejo de madrinha
tem poder! E pra sua sorte, eu sou a
madrinha dele!
-
Pois a minha deve ter desejado que eu nunca fiz... Deixa pra lá! Então gostou
mesmo das fotos?
-
São perfeitas! Mas o vídeo é... fantástico!
-
Vídeo? Que vídeo? Não me recordo de ter feito nenhum...
-
Não, você não deve se lembrar mesmo!
Estavam ocupados demais em se defenderem um do outro! Vídeos feitos “ao
acaso” são os melhores! E este então... – Ela vira o monitor na direção de
Rosa.
-
Céus! A câmera registrou toda a nossa queda! Tia Elisabeth, o Claude não pode
ver isso! Ele vai achar que fiz de propósito...
-
Ele já viu, darling! Pouco antes de você descer para o café. E não me pareceu
que tenha achado proposital ou tenha se irritado. Ao contrário, eu o peguei
sorrindo várias vezes!
-
Ele já se levantou?
-
Ele saiu de viagem, honey! Naquela moto incrível que ele tem! Você devia
experimentar a sensação.
-
O Claude viajou? Como assim? Pra onde ele foi?
-
Disse que tinha assuntos urgentes a resolver na capital. Mas que faria o
possível pra voltar ainda hoje.
-
Ele não... não deixou nenhum recado pra
mim?
-
Comigo não, darling! Tinham algo combinado?
-
Não. Eu só pensei que depois de ontem à noite... – Mas a entrada de Frazão e
Janete a interrompe.
-
Bom dia, pessoas lindas! Tia Elisabeth, que prazer revê-la! Está mais linda do
que nunca! Precisa nos passar a receita! – Exclama Frazão, enquanto abraça
Elisabeth.
-
Frazão, meu querido! A receita é uma
só: bom humor! E isso você tem de sobra! Para nossa alegria!
-
Bom dia, titia! Bom dia, Rosa! Dormiram bem?
-
Bom dia! - Responde Rosa – Vão me dar
licença, eu preciso ver como anda a reforma dos chalés... - E antes que alguém
a fizesse mudar de ideia, sai pela varanda.
-
Que bicho mordeu ela? – Pergunta Frazão
-
Um bichinho conhecido como amor, honey! – Mas me diga, Frazão, já escolheram a
melhor data para o casamento no mapa astral que fiz para os dois? E não me
digam “não acreditamos nisso”! Todo mundo diz isso, mas não deixa de olhar o horóscopo nos jornais...
-
Não é bem assim, tia Elisabeth! Pode ser só curiosidade e... – Janete vai
expondo seu ponto de vista, enquanto terminam o café da manhã.
Depois
de falar com os empreiteiros e sanar alguns problemas numa rápida vistoria
pelos chalés, Rosa volta à casa da piscina.
Fizera
um ótimo trabalho até agora. A pior parte já estava feita. Tinha em mente a
imagem que queria dar àquela casa. “Como
se fosse para você”. Sentiu que nas
palavras de tia Elisabeth, havia um sentido escondido...
Estou
imaginando coisas! Ela apenas quis ser gentil e confia no meu gosto. “Mas você queria a aprovação do Claude!”
De
novo aquela vozinha irritante que teimava em invadir seus pensamentos!
Por
que precisaria da aprovação dele para alguma coisa? Por que não conseguia
evitar de pensar nele? De achar que pela manhã iriam ser como um casal normal.
Um casal de... namorados?
Depois
do modo como se despediram antes de dormir... Sua estúpida! Sempre criando
expectativas! Quando é que você vai aprender a não esperar que as pessoas façam
como você faz?!
Será
que ele ficou zangado com o vídeo?
Chega! Por que estava tão deprimida só porque ele
não se despedira dela? Não tinham nenhum compromisso formal. Apenas atração
física, química - como as borboletas.
Olhou
para o piso de pedra ardósia e decidiu que o lavaria de novo e aplicaria ela
mesmo a resina. Precisava ocupar-se com alguma coisa e como não tinha ainda
comprado outra câmera, esta seria a maneira de relaxar e esquecer Claude
Geraldy. Pelo menos por aquele dia.
Horas
mais tarde, quando terminava de aplicar a segunda demão de resina sobre o piso,
seu olhar pousa sobre o lustre, que pendia imponente bem no centro da sala.
Droga! Deixara para depois e esquecera de pedir aos rapazes que o retirassem
para que fosse lavado.
Nesse
momento, Dadi vem chamá-la para o almoço. Ela tira as luvas e as botas, lava as
mãos e vai para a sede.
À
mesa, tenta engolir alguma coisa, mas o máximo que consegue é brincar com a
pouca comida que pusera no prato.
-
Me desculpem. Acho que o cheiro da resina acabou com meu apetite. Eu vou subir,
tomar um banho e descansar por alguns minutos. Com licença.
-
Será que ela está chateada comigo por eu ter buzinado e iluminado os dois ontem
à noite? – Pergunta Frazão.
-
O que você acha, Frazão? Gostaria que tivesse sido conosco? – Retruca Janete.
-
Não! Parem com isso! Ela está assim porque seu irmão viajou e nem se despediu
dela. Assim que ele chegar, vão ver como ela se ilumina outra vez!
-
Mesmo assim, eu vou até ela me desculpar. Assim que terminar aqui.
Minutos
depois...
-
Rosa! Sou eu, Frazão, posso falar com você um instante?
-
Entre! A porta está aberta. – Diz Rosa da varanda.
-
Querida Rosa! Eu quero me desculpar por ontem à noite. Quis brincar e creio que
fui... inconveniente, não é mesmo? É por
isso que está chateada?
-
Frazão sermos interrompidos quando estamos juntos já é algo tão natural e
esperado de acontecer quanto a chuva molhar. Não é por isso que estou assim.
-
Mas vocês estão bem, não estão? A Janete disse que rola um clima, uma química
entre vocês desde o primeiro dia!
-
Eu não sei se nós estamos, Frazão. Olha só, ele saiu, viajou e nem me disse
nada. Não perguntou se eu queria ir... Eu acho que ele está só brincando
comigo.
-
Rosa, Rosa, Rosa. Eu conheço o Claude. Ele é enrolado, tem medo de uma relação
séria. Mas o francês não ia brincar com
você. Principalmente, na casa do pai dele. Aquela cena que eu interrompi... bem
ele não faria isso aqui, se a intenção dele fosse só brincar. O François pode
ser moderno, liberal, mas não suporta libertinagens...
-
Obrigada por tentar me animar, Frazão.
-
Elisabeth tem razão. Você foi mordida pelo amor. E o Claude que não se atreva
em brincar com esse seu sentimento. E se
brincar me avise... Eu sou um ótimo boxeador! – Diz, piscando e já saindo do
quarto de Rosa.
Depois
de telefonar para seus pais e convencê-los que estava tudo bem, Rosa passou o
resto do dia tirando as medidas da casa da piscina, pois precisava fazer o
pedido das tintas e das texturas. Também mediu móveis e ângulos para confirmar
que a disposição deles sairia como imaginava.
Inventou
pretextos para não aparecer no lanche da tarde que Dadi fazia todos os dias.
Empenhou-se em atividades que poderiam esperar, como lixar alguns móveis pra
envernizar, só para evitar pensar em Claude.
À
noite, ficou no escritório, esperando que ele ligasse, com a desculpa de
revisar o orçamento. Mas nenhum sinal. Aborrecida mais consigo mesmo que com
outra coisa, resolve dar uma volta pelo jardim. Para seu alivio, não havia
ninguém na sala.
Saiu
pela porta lateral que dava acesso à área da piscina e percebeu que deixara a
luz da casa acesa. Já passava das onze da noite.
-
“Droga! Como fui distraída!” – E
caminha até lá. Então, o lustre chama sua atenção novamente. – Quer saber? Estou sem sono mesmo, vou limpar
você agora!
Arrastou
pra dentro uma pequena mesa que lixara pela tarde, encheu um balde com água e
sabão, colocou as luvas e com um pano nas mãos começou a limpar o lustre,
apenas com a lâmpada externa da casa acesa, que iluminava a meia luz a sala.
Em
pé sobre a mesa, molhava o pano na água e limpava o lustre cuidadosamente. Todo
o esforço que fizera durante o dia estava se refletindo agora. Sentia-se
cansada física e mentalmente. Passou as
costas da mão pela testa, enxugando o suor. O lustre começava a brilhar de tão
limpo.
Ao
inclinar o corpo para molhar novamente o pano, Rosa teve a impressão de ver um
vulto. Assustada, virou-se rapidamente, preocupada com aquela sensação incômoda.
Então, o calor, o cansaço e o quase jejum a que se submetera, fizeram sua
cabeça rodar e seus pés quase derrubaram o balde.
Tentou
resistir à tontura, mas não conseguiu.Tentou se agarrar ao lustre, mas as luvas
escorregaram e teria caído... se não
fossem dois braços fortes e conhecidos
evitarem sua queda.
-
Voilá! Pelo menos dessa vez, foi você quem caiu! E nos meus braços, hã?
Os
lábios de Claude se abriram num sorriso, enquanto a colocava no chão e a
mantinha colada em seu corpo com a mão em suas costas.
-
Obrigada, já pode me soltar. Eu estou bem.
-
Non posso non... Eu esperei o dia todo pra fazer isso – E inclina a cabeça,
beijando-a.
Notando
a resistência dela em corresponder, se afasta e pergunta:
-
Que foi, gatinha? O que foi que eu fiz de errado agora, hã? Non sentiu saudades
também?
-
Não. Eu tive muito trabalho, não parei o dia todo e fiquei sem tempo pra isso!
-
Mentirosa... – Diz suavemente, deslizando os dedos pelo braço dela.
-
Eu não sou mentirosa! – Responde, irritada consigo mesmo por não conseguir
controlar um tremor pelo corpo. Virou-se, disposta a sair dali o quanto antes.
-
É sim... E eu vou provar isso! – A voz de Claude era firme e segura, mas não
áspera. Agarrou-a pelo pulso, antes que fugisse e tornou a beijá-la, quase que
cruelmente, só diminuindo a pressão quando percebeu que era correspondido.
Encostou-a
na mesa e seus corpos se tocaram. Rosa enrijeceu o corpo, tentando afastá-lo de
si.
-
Não... para com isso!
-
Relaxe, gatinha! Como você mesmo disse, aqui non é o nosso lugar! – Diz, encontrando os olhos dela - Non poderia
seduzi-la com classe, hã? – Agora, que tal fazer um lanche comigo? Eu estou faminto!
E
sem esperar que ela aceite, segura em sua mão e a trás consigo para a cozinha
da casa sede.
Rosa
acaba se rendendo ao charme de Claude e come alguma coisa, fazendo-lhe
companhia.
Depois,
ele a acompanha até a porta do quarto.
-
Por que estava se arriscando em cima daquela mesa, chérie?
-
Eu estava sem sono e... e...
-
E ficou chateada porque non avisei que passaria o dia fora... Mas você iria querer saber o motivo e non era
hora ainda...
-
E agora é? Vai me dizer?
-
Non. Ainda non é hora. Mas tem um presentinho pra você em cima de sua cama.
Esteja com ele amanhã às seis em ponto, d’accord? – Diz num tom que não admitia
recusas - Non podemos nos atrasar.
-
Posso saber ao menos aonde vamos?
Claude
já estava na porta do seu quarto ao lado. Voltou-se para ela, sorrindo
misteriosamente:
-
Nós vamos... num lugar só nosso,
gatinha. – E entra em seu quarto, deixando Rosa atordoada.
A
noite passa. Pela manhã...
Rosa
dá duas batidas na porta e entra, falando, quase sem respirar.
-
Claude Geraldy! Você quer me levar onde com essa roupa? Eu não... –Para de falar ao vê-lo na cama,
dormindo, com os cabelos molhados, sem camisa e com aquela calça preta de
motoqueiro do primeiro encontro... Seu coração dispara...
Ela
olha em seu relógio de pulso: dez para as seis da manhã. Estava no horário
combinado. Chamou-o.
-
Claude... Pare de fingir, são seis horas. - Aproximou-se da cama e percebeu que
ele realmente dormia.
Tenta
acordá-lo, chamando-o novamente:
-
Claude! Droga! – Ela encosta sua mão no ombro dele e faz uma leve pressão –
Claude! São quase seis horas! Acorda, você não queria que eu me atrasasse e olha
só! Claude!
Ele
abre os olhos lentamente e ao vê-la, sorri.
-
Mon Dieu, como você saiu ton rápido dos meus sonhos, gatinha? Parece que acertei
em cheio na numeraçon! – Diz olhando-a da cabeça aos pés – Ficou perfeito! - E
a puxa para a cama.
-
Perfeito? - Desvia o olhar do corpo dele
– Eu estou me sentindo...
-
Sexy... Você está muito sexy nessa roupa.
E
sem que Rosa pudesse evitar começa a beija-la e desce o zíper da jaqueta de
couro que ela vestia...
Totalmente
rendida, Rosa passa suas mãos pelas costas dele, até alcançar sua cabeça e
enfiar os dedos pelos cabelos úmidos de Claude.
-
Claude... vamos perder a hora... você disse que...
-
Xiiiiii... só mais um pouquinho, gatinha...
Mas
a porta abre de repente
-
Bom dia, francês! Você pediu que eu o chamasse se sua moto estivesse... – Frazão se cala – Foi mal aí, gente...
-
Mon Dieu, Frazon, você non pode bater antes de entrar? – Claude senta-se na
cama, protegendo Rosa com seu corpo.
-
Como eu ia adivinhar que a Rosa estaria aqui?
Você pediu que eu o chamasse se sua moto ainda estivesse ai fora, quando
eu chegasse da minha corrida...
-
Cai fora, Frazon!
-
Mas Claude...
-
Fora! – Repete Claude, andando em sua direção.
-
Já estou saindo... Seu mal agradecido... Rosa, foi mal, minha querida! Mas
olha, eu não vi nada, não escutei nada e não sei de nada! – Diz, saindo do quarto com um
sorriso entre os lábios.
Claude
se volta para Rosa.
-
Tudo bem contigo? Eu esqueci completamente que tinha pedido isso a ele. Pardon,
hã?
-
Bem, não é a primeira vez que ele nos vê numa situação parecida... Só tenho a
leve impressão que ele vai contar isso à Janete agora mesmo.
-
Non seria ele, se non fizesse isso! Está pronta? – Pergunta, terminando de
vestir uma regata branca e colocando sua jaqueta por cima. – Você pode pegar
minha mochila enton, por favor? – Continua, ao vê-la afirmar que sim com a cabeça.
-
Nossa! O que tem aqui dentro? Chumbo? Que peso!
-
Aí dentro tem... sentimentos, sonhos,
fantasias, desejos... entre outras
coisas. Tudo que eu quero dividir contigo. Por isso é ton pesada. – Diz,
olhando-a fixamente e piscando um olho – E a sua?
-
No meu quarto. Segui religiosamente a sua lista... – Diz, se referindo ao
bilhete que ele havia deixado junto à roupa.
-
Enton, vamos. Antes que alguma coisa aconteça para nos impedir, tipo Frazon ou
tia Elisabeth...
Continua...
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