IV
-
Oras, a culpa foi sua, por ter segurado meus braços e me desequilibrado!
- Voilá... – Diz, ironicamente - Non teria
feito isso, se você non estivesse praticando luta livre com minha pessoa!
-
E eu não teria lutado, se não tivesse tido a cara de pau de me beijar, pra ter
certeza que sou mulher!
-
Como se você non tivesse gostado do beijo, gatinha!
-
Eu, gostado do seu beijo? – O coração de Rosa dispara - Nunca! - Diz, fazendo
um leve movimento para se levantar. Mas as mãos dele continuavam pressionando
seu corpo junto ao dele...
-
Nunca é tempo demais... Quer ver?
E
antes que Rosa pudesse prever a intenção dele, Claude sobe suas mãos até a
cabeça de Rosa, puxando-a para si, beijando-a novamente... Um beijo quente, que
nada tinha de superficial.
Suas
mãos deslizam pelas costas dela, delicadamente. Rosa quer parecer indiferente,
mas seu corpo a trai, estremecendo sob aquele contato.
Quando
o beijo termina, eles ficam imóveis e em silêncio se olhando. Até que escutam a
voz de Janete, chamando-os.
-
Quer me soltar, por favor? – sua voz sai mais fraca do que queria...
-
Eu non estou te prendendo mais, gatinha...
Rosa
sente o rosto queimar. Estivera tão envolvida naquele beijo, que nem notara que
ele não mais a segurava com força.
-
Mas posso prender, caso você também queira – Diz, com a voz mais sensual que
Rosa já escutara, girando e deixando-a presa sobre o seu corpo.
Mas
antes que ela pudesse sequer pensar em uma resposta coerente, escutam a voz de Janete:
-
Ah! Aí estão vocês... Mon Dieu, desculpem... acho que cheguei em hora errada...
-
Janete, não... não é nada disso que sua cabecinha maquiavélica está pensando...
-
Com certeza, hã? – Diz Claude, ficando em pé. – Sua amiguinha se descontrolou e
caiu me levando com ela... mais uma vez...
-
Eu posso imaginar o por quê ela se
descontrolou... às vezes, você consegue ser intolerável, Claude! Vem Rosa, eu
ajudo você! – Diz, estendendo a mão para ela.
Mas
Claude já havia feito a mesma coisa, colocando Rosa em pé, enquanto dizia:
-
É melhor mantermos uma certa distância entre nós... pelo menos por enquanto, gatinha – Sussurra só para ela.
-
Droga, Claude! Está deixando Rosa embaraçada... Melhor voltarmos logo. Papai e
mamãe voltaram e querem ver você, Rosa. Ah! E você tem uma visita também:
Rodrigo! Ele veio trazer seu carro pessoalmente.
Claude
contrai o rosto, demonstrando sua insatisfação.
-
Melhor não deixar seu salvador esperando, chérie! – E anda na frente delas,
voltando para a sede da fazenda.
-
Janete, eu... Deus, estou tão envergonhada...
-
Envergonhada?? Você é uma linda mulher, livre e desimpedida e meu irmão tem os
seus encantos, apesar de tudo... É bom saber que vocês...
-
Chega, Janete! Nem mais uma palavra,
ok? O único encanto que seu irmão tem
sobre mim é me fazer perder a cabeça! – Tarde demais percebeu que suas palavras
não foram as mais adequadas...
-
E pelo visto, esse encanto é recíproco!
Sabe, o Claude nunca foi assim impetuoso com a... deixa pra lá. Vamos?
Quando
entram na casa da fazenda, encontram todos tomando um refresco gelado. O calor
estava insuportável, naquele final de tarde.
-
Papai, mamãe! Aqui está nossa arquiteta preferida!
Rosa
se aproxima de François e Joanna.
-
Rosa, minha querida! Quanto tempo! Mas você se transformou numa linda mulher,
não é mesmo, Joanna? – Fala François, sorrindo para Rosa.
-
Linda e muito competente! Como vai Rosa?
Está gostando daqui?
-
François, Joanna, meus queridos! Quanto tempo mesmo, hem? Só nos falamos
virtualmente nesses últimos anos! Eu
estou muito bem e adorando isso tudo! Rodrigo!
Como posso lhe agradecer por cuidar do meu carro?
-
Rosa, boa tarde! Não há nada que agradecer! Como disse, por aqui somos
solidários uns com os outros. Tenho certeza que você faria o mesmo por mim.
-
Rodrigo estava nos contando sobre a sua aventura, querida!
Claude
que se mantinha calado, observando a cena, não conseguia controlar seus
pensamentos...
-
“Quanta melaçon com esse sujeitinho! Olha
só o jeito que ele olha pra Rosa! Se ele pensa que só porque a ajudou tem
direitos sobre ela, está muito enganado...”
-
É, o Rodrigo foi meu anjo da guarda, depois que o... o outro motorista me deixou sozinha, sem ajudar... Parece que nem todos
por aqui sabem o que significa ser solidário! – Diz, servindo-se de um copo do
refresco. – Mas e aí? Meu carro teve conserto?
-
Você teve muita sorte, Rosa. Se não tivesse acabado o combustível, você
provavelmente teria continuado e, aí sim, o motor teria fundido. Por sorte, só
alguns ajustes e a troca de óleo foram necessários.
-
Quanto eu lhe devo, Rodrigo?
-
Nada! Considere isso um presente! Um sinal de boas vindas!
-
Não, eu não posso aceitar isso! Você já fez demais guinchando o carro até a
oficina, o que não deve ter saído barato.
-
Façamos o seguinte: qualquer dia desses, você paga um jantar, que tal?
-
Fechado! – Diz estendendo sua mão para Rodrigo, que a aperta, selando o trato.
-
“Mon Dieu! Isso me deu até enjoo!” –
Pensa Claude - Com licença, hã? Eu preciso de um banho!
-
Que bicho mordeu ele? – Pergunta François – Bem, voltemos ao nosso assunto:
venha jantar conosco hoje, Rodrigo. Uma retribuição à sua solidariedade para
com nossa aventureira! Você foi muito corajosa, filha, viajando sozinha por um caminho
desconhecido...
-
Era só o que faltava! Um jantarzinho para homenagear nosso heróico
Rodrigo! Mon Dieu! Papai tem razon... que bicho me mordeu? – Pensa Claude,
enquanto sobe para seu quarto.
Algumas
horas mais tarde, ao cair da noite, Rosa sai do banho e abre o guarda-roupa. O
calor continuava insuportável e ela opta por um vestido leve, típico de verão,
azul-esverdeado e uma sandália de salto médio. Escova os cabelos e passa apenas
um batom.
Um
olhar para o relógio e ela percebe que ainda havia um bom tempo antes do
jantar. Resolve descer assim mesmo, quem sabe Dadi não precisava de alguma
ajuda ou, simplesmente, de alguém para bater um papo...
Entra
na cozinha, com um sorriso estampado no rosto, chamando por Dadi.
-
Dadi, cheguei! Você precisa de ajud... –Seu sorriso desaparece ao ver que
alguém já se adiantara a ela. Claude estava sentado, conversando alegremente
com Dadi e se cala ao vê-la – Desculpem, eu volto depois...
-
Por que está sempre se desculpando? – Pergunta, parecendo irritado.
-
Eu não estou sempre me desculpando! Apenas imaginei ter atrapalhado a conversa
de vocês, afinal se calou assim que me viu...
-
Você nunca baixa a guarda, non? É sempre assim na defensiva?
Neste
instante, a campainha toca.
-
Deve ser o Rodrigo! Eu vou recebê-lo, enquanto seus pais ou Janete não descem.
-
Eu vou contigo, afinal você também é uma convidada, uma hóspede de meus pais...
– Diz, tocando-lhe levemente o braço, fazendo-a caminhar com ele até a porta.
-
Eu pensei que quem estava no comando da reforma fosse você!
-
Touchê! E isso faria de você minha hóspede,
non é mesmo, gatinha? – Diz de maneira tendenciosa... quase irônica. – Isso a desaponta?
-
De maneira alguma! Mesmo porque estou aqui para trabalhar. Sou uma
profissional, lembra-se?
-
Como poderia me esquecer? Você é uma arquiteta e pode fazer tudo que um homem
também possa... Non é isso?
- Olha, esse projeto significa muito para mim!
A minha carreira como arquiteta é tão importante quanto a de
qualquer arquiteto!
Suas
palavras pareceram ser perfeitas. Pensou ter colocado Claude Geraldy em seu
devido lugar, mas ele sorria, com ar de zombaria...
-
Verdade? – Alguma coisa fez o olhar dele mudar rapidamente de expressão e
voltar à frieza habitual.
-
Verdade. – A voz de Rosa soou como um desafio.
Claude
riu e sua mão deslizou de tal maneira no braço dela, que uma onda de calor
passou pelo seu corpo. Embaraçada, tentou se afastar dele, mas ele segurou-a
pela mão.
Aquela
conversa estava longe de ser agradável, pensa Rosa. Será que Claude a beijara
de propósito, esperando que ela desistisse do seu trabalho?
-
Se a sua intenção era me fazer desistir, falhou totalmente!
Ficaram
se encarando por um longo momento. O suficiente para ela perceber o olhar dele
fixo em sua boca... Ele não se atreveria
a beijá-la novamente!
-
Claude! Rosa! Não é possível que não
estejam escutando a campainha! Será que podem abrir a porta? – diz Janete, que
acabava de entrar na sala. O pobre Rodrigo deve estar com o dedo gasto já!
Claude
faz uma careta e abre a porta, segurando Rosa pela cintura, numa evidente demonstração
de quem controlava a situação. Detalhe que não passou despercebido por Rodrigo.
-
Boa noite, Rodrigo! Sinta-se à vontade, hã? Meu pai já deve estar descendo. –
Seus olhos param em Rosa com uma expressão levemente divertida
Irritada,
algo já dizia a Rosa que aquele jantar não seria nada fácil... Essa atitude de
Claude era pior que sua explosão de raiva...
Então
foram chamados à sala de jantar...
Continua
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