VIII
Até
que a risada virou um silêncio perturbador...
-
Estou começando a achar que minha tia tem razon... Você mexe com a química do meu corpo,
gatinha! – E a ajeita ainda mais sobre si - Isso tem que acontecer, Rosa...
-
Eu sei...
Foi
tudo que ela disse antes de sentir os lábios de Claude forçando os seus a se
abrirem e invadir a sua boca...
-
Misericórdia! – Escutam a voz de Dadi, parada na porta da casa – Eu ouvi o
barulho, vim correndo... é... acho melhor ir embora...
-
Não, Dadi! Espera, não é nada do que você está pensando! - Fala Rosa, saindo
abruptamente de cima de Claude – A escada tombou e eu caí sobre o Claude...
-
D. Rosa, vocês não precisam me dar explicação nenhuma, visse? Eu vou voltar pra
minha cozinha...
-
Dadi, não! Espera... – Mas Dadi já estava distante.
-
Droga! O que ela vai pensar agora?
-
Que interrompeu a nossa diverson talvez?
-
Diversão? Estava apenas se “divertindo” comigo?– Pergunta indignada.
-
Você sabe que non foi com essa conotaçon que eu quis dizer, gatinha...
-
Oras, seu... seu grosso, estúpido e...
aproveitador de mulheres indefesas!
-
Você está longe de ser indefesa! – E admita, se aproveitou da situaçon tanto
quanto eu!
Um
intenso rubor atingiu as faces de Rosa. No fundo, sabia que ele tinha razão. O
que mais teria acontecido se Dadi não tivesse aparecido ali?
-
Isso não vai mais acontecer, tenha certeza! – Falou Rosa, zangada.
-
Perto de você non existe certeza, gatinha!
E por que está tentando se enganar? Nós sabemos que isso vai se repetir!
Mais cedo ou mais tarde, vai acontecer de novo...
-
Não se eu puder evitar!
-
Rosa, nenhum de nós quer, mas non conseguimos evitar, já reparou nisso?- Diz, fazendo uma careta de
dor, tentando levantar-se.
Sem
saber por que, Rosa se ouviu dizendo:
-
Quer que eu o ajude a levantar-se? - E
aproxima-se dele estendendo a mão.
-
Non! Quero distância de você, d’accord? Dis-tân-cia! Você é muito perigosa!
-
Pelo jeito, você não está tão mal quanto me fez pensar! – Fala secamente.
-
Depende o que você entende por “mal” nesse momento... – Diz num tom que não
deixava dúvidas ao que se referia.
-
Você é desprezível! Insuportável! E eu
achando que tinha se machucado seriamente... Quer saber? Dane-se!
Rosa
não espera pela resposta de Claude e sai praticamente voando dali. Sabia que se
ficasse, acabariam um nos braços do outro. E isso era algo que ela não
permitiria novamente! O que estava acontecendo com ela? Nunca fora assim com
ninguém! Nem mesmo com Júlio!
Ele
nunca lhe proporcionara nem um décimo das sensações que Claude provocava em seu
corpo.
Cruzou
o pátio da piscina, sentindo o olhar dele sobre seu corpo. Desde o começo sabia
que Claude era o problema. Um problema para o seu coração. Mas com ele seria
apenas aventura, tinha certeza disso!E não estava preparada para ser uma
simples aventura de alguém... Ou estaria?! Ele não parecia o tipo de homem que
se casaria por amor!
-
“Mas quem está falando de amor?” –
Pensou – “É como ele diz, apenas uma
reação física! Que poderia ser resolvida se nós... Deus o que estou pensando?”
Claude
a seguiu com o olhar até que ela entrasse na casa sede. O traseiro lhe doía.
Havia caído sentado em cima de uma caixa de garfos! Por sorte, nenhum penetrara
sua pele devido à calça jeans... Estava confuso. Até onde teria ido se Dadi não
tivesse aparecido?
E
sabia a resposta, teria ido até o fim! Mas havia algo mais naquele desejo que
sentia por Serafina Rosa... Desde o começo, sabia que ela seria um problema. Um
problema para o qual não estava preparado. Porque com ela, não seria apenas uma
aventura. Com ela seria casamento e filhos e... amor!
-
Non! É somente desejo!
Rosa
entrou na casa sede pela porta da sala.
Ao cruzar a sala de jantar, encontrou a tia de Claude. Pode notar que Elisabeth
olhava para cartas de tarô sobre a mesa e sorria.
Sorriu
também. Elisabeth era uma figura! Estava
vestida a caráter, ou seja, com uma saia
estilo cigano, blusa com mangas fofas e um lenço mega colorido na cabeça todo
bordado com pedrarias.
-
Aonde vai assim tão apressada, fugindo do destino? Que foi que Claude fez pra
você agora, darling?
-
Como sabe que ele fez alguma coisa?
-
Então estou certa, não é? Estou lendo seu corpo: sua aparência, rosto corado,
olhos brilhantes e... seus gestos, seu sorriso, influenciam na maneira como uma
pessoa reage a você. Mas o modo como você diz alguma coisa é três vezes mais
importante do que as palavras que usa... Acabou de fazer isso, chérie.
-
Seu sobrinho é um insuportável, Ms. Smith! Toda vez que ele está por perto,
acontece alguma coisa e a gente cai, geralmente, de uma forma muito... muito
constrangedora e pra ele eu sou sempre a culpada!
-
Hummmm... acidentes constantes... Isso é acúmulo de energia, mon cher! E só tem
uma maneira de resolver: na cama. E non fique com essa carinha envergonhada,
meu bem. Isso é a coisa mais natural entre um homem e uma mulher!
-
A senhora é sempre tão direta! Admiro isso! – Fala, sentando-se na cadeira em frente à Elisabeth.
-
Darling, senhora está no céu, como vocês brasileiros dizem, hã? Me chame de
você, de tia Elisabeth... Afinal é o que
vou ser mesmo! Você e Claude ainda vão se entender!
-
Com certeza, no dia que eu entregar a obra.
-
Non... As cartas non mentem, Rosa! E aqui mostra você e ele juntos...
-
A senhora acredita nisso mesmo? – Pergunta, apontando para as cartas sobre a
mesa.
-
Minha tia acredita até em duendes, elfos e fadas. Por que non acreditaria em
cartas de tarô? – A voz de Claude é levemente irônica.
-
Sente-se aqui, Claude Antoine, e escute bem o que vou falar. – O tom de
Elisabeth era o tom de quem dava uma ordem e mesmo contra sua vontade, ele
sentou-se ao lado de Rosa.
-
Para sua informação, o tarô é um jogo de cartas jogado na França, inclusive com
regras próprias. Mas, desde o século XVIII essas cartas passaram a ser usadas
para a previsão do futuro e atualmente
elas são o centro do esoterismo moderno
ao lado da Cabala, da astrologia e da alquimia medieval.
-
Particularmente, acho o pôquer mais interessante, titia!
-
Sempre com sua ironia e descrença, non é, Claude Antoine? Pois bem, eu lhe digo que aqui – E aponta
para as cartas - eu vejo o seu fim: casamento. E por amor, d’accord? Nada de
conveniências como você queria fazer...
-
Só falta dizer que será com dona Serafina Rosa!
-
Ohhh! Parece que você já sabe disso! Maravilha!
-
Mon Dieu, titia, non confunda as coisas, hã? E pare de querer adivinhar o meu
futuro! Ele non pode ser ao lado dessa pessoa!
-
E não pode por quê? – Rosa sente-se ofendida pela maneira que Claude fala- Não
tenho nenhuma doença contagiosa, sabia?
-
A non ser me derrubar! Exatamente o que
acabou de fazer! E sabe onde eu caí? Sobre uma caixa de talheres, garfos para
ser mais preciso. Nem quero pensar se um deles tivesse atingido o meu...
amiguinho. Você parece ter prazer nisso! Já o acertou por duas vezes...
As
palavras saíram naturalmente, mas não foram as mais adequadas para o momento.
Rosa fica extremamente vermelha, enquanto Elisabeth, que ouvia tudo de
camarote, solta uma exclamação:
-
Ulalá!
-
Como se eu tivesse culpa! As duas vezes foi você que atravessou o meu
caminho! E pode ter certeza não
senti nenhum prazer nisso! – Ela fica em
pé, agitada.
-
Non mesmo? Non foi isso que senti na sua reaçon enquanto nos beijamos! – Ele acompanha
o movimento de Rosa.
Os
dois ficam frente a frente, numa batalha pessoal.
-
Fui pega de surpresa, apenas isso. Não tive tempo de prevenir meu corpo contra
suas investidas...
-
Ah é? Enton tente se prevenir agora! – Diz, segurando-lhe a cabeça entre as
mãos e beijando-a ardentemente. Isso bastou para que Rosa ficasse trêmula e
assim que tomou consciência disso, empurrou-o com toda sua força, dizendo:
-
Chega! Você não tem o direito de fazer isso comigo! - E sai correndo,
sem ver o que acontece...
Claude
cai sobre cadeira que cede ao impacto e acaba no chão.
-
Mon Dieu, ela conseguiu de novo! – Exclama apoiando-se na mesa para levantar e
encontrando o olhar de satisfação de tia Elisabeth - Eu a proíbo de fazer
qualquer comentário, muito menos que isso estava escrito nas cartas!
E
sobe a escada, rumo ao seu quarto, de cara amarrada.
-Well...
Um bom tarólogo é aquele que integra conhecimento com intuição.E eu conheço
quando um coração está pronto e aberto para o amor... O meu radar está captando esses sinais e as
cartas confirmam... Ainda teremos muita confusão! Rsrsrsrrs!
Uma
semana depois, Rosa, aos poucos e com a ajuda de Milton, nas horas de folga, havia
retirado quase todos os móveis da casa da piscina. Claude não tinha mais se
aproximado dela, mas vigiara de longe essa ajuda.
O
sábado chegara e a equipe havia voltado para a cidade. Há quinze dias fora de
casa e na solidão noturna da fazenda, foram dispensados por um fim de semana.
Até porque as obras estavam adiantadas.
François
e Joanna haviam viajado para Campo Grande para encontrar Janete e Frazão e
trazê-los para a fazenda.
Claude
estava fora o dia todo. Apenas Rosa e Elisabeth na casa.
-
Darling, non é saudável uma jovem como você ficar isolada nessa fazenda o tempo
todo!
-
Eu estou bem, tia Elisabeth. – Ela insistira tanto que Rosa acabara cedendo em
chamá-la de tia.
-
Non está nada! Você emagreceu nesses quinze dias! Non tem parado um só instante
de trabalhar. Quando non é com os empreiteiros, que, aliás, são a visão do
paraíso, está enfiada naquela casa da piscina. François não devia ter dado essa
tarefa a você!
-
Eu me sinto ótima! Adoro fazer esse tipo de trabalho: reformar ambientes.
-
Mas precisa se distrair, ver gente da
sua idade e deixar meu sobrinho com
aquela pulguinha atrás da orelha, chérie!
-
Tia Elisabeth, eu não...
-
Você precisa dar uma lição nele, querida! Que tal irmos até a cidade curtir a
noite?
-
Não acho uma boa ideia sairmos sozinhas por essa estrada deserta, nessa
escuridão. E eu nem trouxe roupa apropriada para isso...
-
Roupa non é desculpa. Tenho certeza que encontraremos uma que sirva em você em
uma de minhas malas! E quem disse que
iremos sozinhas?
Continua...
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