VII
-
Yes, querido! Ca-sa-men- to! Marriage ou nuptialité como preferir... Eu preciso
da data para fazer as projeções! Vou precisar também da sua data de nascimento,
hora e local, darling! – E olha para Rosa.
-
“Céus! Ela realmente pensa que existe
algo entre nós” – Pensa Rosa, mas antes que diga alguma coisa, Claude dispara
a falar:
-
Quanto tempo vai ficar desta vez? Uma semana? - Pergunta Claude sem cerimônias.
-
Sinto desapontá-lo, dear... Meu último relacionamento deixou-me profundamente
abalada e meu mentor sugeriu uma temporada de paz e sossego junto à natureza!
-
Defina quanto é uma temporada em seu
calendário, por favor, tia Elisabeth... – Pergunta, preocupado com a resposta.
-
Well, honey... a príncipio uns seis meses, d’accord?
-
Seis meses? Mon Dieu, eu...
-
Claude, está sendo indelicado com sua tia, para não dizer mal educado! Peça
desculpas e pare de se comportar como um adolescente! – François fala
rispidamente.
-
D’accord... Pardon titia. Eu non quis parecer indelicado. Apenas acho que
descanso e sossego von ser a última coisa que conseguirá por aqui, agora que
iremos iniciar as obras.
-
Não precisa se desculpar, mon cher! Eu sei que debaixo de todo esse seu
machismo, mau humor e casca grossa, se esconde um homem de verdade! Lá no fundo
você non é tão mal quanto quer parecer... Bem lá no fundo! Agora, se non se
importam, eu gostaria de repousar por algumas horas!
Rosa
morde os lábios, tentando não rir da expressão desgostosa de Claude.
-
Claro, querida. Vamos até seu quarto! - Joana fala, enquanto a enlaça pelo
braço e saem do escritório junto com François
Depois
que já estão fora da sala, Claude solta um palavrão.
-
Francamente, Claude! Você sabe como ser grosseiro! Tia Elisabeth considera você
o filho que nunca teve, poderia ter mais respeito com ela! – Janete fala
duramente.
-
Mas o que eu falei demais, hã? – E sustenta o olhar de Janete e Rosa,
recriminando-o – Esperem o tempo passar.
Onde está Tia Elisabeth, está confuson!
Dois
dias depois, como previsto, chega a equipe que Claude contratara, seguindo a
sugestão de seu pai.
O
empreiteiro Antoninho e seus dois irmãos Milton e Sérgio comandavam uma equipe que parecia muito bem entrosada.
Antoninho
gerenciava a parte civil das obras que faziam. Milton era especialista na parte
hidráulica e Sérgio na elétrica. Juntos formavam a melhor equipe da região.
Ao
contrário do que esperava, eram bastante jovens. Seguiam os passos do pai, que
fora do ramo também. Só que, estavam sempre atentos às novidades e transformações
da área, capacitando-se constantemente.
Não
deixara de notar os olhares que a envolveram quando Claude os apresentou, muito
menos a expressão sisuda dele. Nesses dois dias, nada acontecera entre eles.
Claude parecia evitar sua presença. Na certa, temia outro desagradável incidente
que para ele apenas ela era a culpada.
Repassaram
com os irmãos empreiteiros a lista de todo material necessário. Confirmados
todos os itens, restava a Claude e ela fazer o pedido. Resolveram ir na manhã
seguinte até Aquidauana.
Depois
de deixarem os empreiteiros instalados em uma das casas, seguiram de volta para
a sede.
E
Claude não teve como impedir tia Elisabeth de se convidar para ir também...
Na
manhã seguinte, logo cedo eles partem para a cidade. Propositalmente, tia
Elisabeth faz Rosa entrar primeiro na
camionete. Dessa maneira, Rosa ficou entre eles.
Uma
leve tensão pairava dentro da cabine, pois, por várias vezes, Claude esbarrara
em suas coxas ao mudar a marcha do veículo e como não tinha espaço suficiente
para se afastar dele, tinha que se controlar muito primeiro para não lhe dizer poucas e boas, segundo para não
demonstrar o quanto esses toques a faziam se arrepiar...
Às
vezes, arriscava olhar para o lado dele, como se estivesse admirando a
paisagem, mas não conseguia definir aquela expressão. Parecia indiferente.
Até
que numa nova troca de marcha, suas mãos se tocaram e seus olhares se
cruzaram. E foi como se nada mais
existisse além deles.
Elisabeth
que parecia alheia a tudo isso, fala algo, tirando-os daquela sintonia:
-
Claude Antoine, você ainda tem vontade de realizar a construção de casas
populares em áreas mais carentes? – Pergunta, parecendo interessada.
-
Oui, titia! Mas isso demanda investimentos a longo prazo e ainda non encontrei
parceiros ideais. Todos querem lucro rápido e criam juros exorbitantes. Até
mesmo os bancos estatais que deviam ter programas mais acessíveis...
Rosa
se surpreende. Não sabia desse lado de Claude,
preocupado com pessoas menos privilegiadas... Esse seria um projeto no qual
teria orgulho de colaborar. Mas com
certeza, ele não precisaria da colaboração dela. Afinal, ela era apenas uma
mulher na visão dele.
-
Talvez eu tenha a solução para o seu problema – Continua Elisabeth – Mas não
vou confirmar nada, por enquanto. Ainda falta uma resposta. Assim que eu a
tiver, volto no assunto com você, dear!
-
Non me diga que espera a resposta de alguma carta de tarô ou alguma outra fonte
mística como fadas e duendes, por favor, hã? – Pergunta com velado sarcasmo.
-
E se for? Devolve carregando o “for” - Você
não acredita no sobrenatural, Claude Antoine?
-
Acredito no que vejo. Simples assim.
Nascemos e temos que sobreviver, fazer escolhas, decidir nosso destino.
-
Nosso destino já está traçado antes de nascermos, querido! Todos eles!
-
Todos eles? – Pergunta Rosa com curiosidade.
-
Mon Dieu! Você non vai acreditar nisso, non é, Rosa?
-
Eu quero apenas ouvir a explicação da sua tia. Posso?
-
D’accord! Sa volonté, gatinha. Explique-nos tudo enton, titia.
-
Primeiro tentem entender o que é misticismo. Ele é a prática, estudo e aplicação
das leis que unem o homem à natureza e a Deus. Se distingue da religião por
referir-se à experiência direta e pessoal com a divindade, com o transcendente,
sem a necessidade de intermediários, dogmas ou de uma teologia. Entenderam?
-
Acho que entendi – Responde Rosa – O místico não depende de religião, não
precisa dela, pois comunica-se diretamente com Deus, sem esperar pela intervenção de um padre, pastor ou afins. É
isto?
-
Oh!! Bravo, Rosa! Você entendeu perfeitamente!
Daria uma excelente aluna!
-
Sem chance, tia Elisabeth! – Fala Claude como se tivesse algum poder de impedir
Rosa – Rosa non vai aderir a essa...
prática!
-
Posso saber com que autoridade você toma decisões por mim?
Claude
não sabe por que dissera aquilo tão categoricamente. Agora tinha que dar uma
resposta à altura.
-
Com a autoridade de ser o seu patron e responsável por tudo que lhe aconteça
por aqui, hã? Já lhe disse isso, non se lembra?
-
Infelizmente eu me lembro! Disse-me mais de uma vez. Mas eu volto a esclarecer:
não sou sua escrava! Em minhas horas de folga, posso fazer o que me der na
cabeça! Eu pensei ter deixado isso bem claro!
-
E eu pensei que tivéssemos selado um acordo de paz! Por que está ton irritada?
-
Oh, Lord! Cette parfaite! Eu sinto a energia da química que gira em torno de
vocês! Isto é magnifique! Consigo entender perfeitamente, foi assim com John,
quando nos conhecemos...
- Isto é perfeitamente ridículo, dona
Elisabeth! – Diz Rosa.
- C' est tout à fait ridicule, tia Elisabeth!
– Diz Claude.
Ambos ao mesmo tempo. Então, se olham
irritados.
- Isto, porém – Diz indicando o que acontecera
- é perfeitamente possível e lógico! Quando acordarem para suas verdades, vão
ver o tempo que perderam tentando negá-la! E darling, me chame de Elisabeth, d’accord?
-
Continue sua explicação, por favor. Eu me interessei muito por esse assunto. De
repente... – Fala tentando atingir Claude.
-
Pois bem... Correntes místicas já existiam muito antes de Platão! O místico
procura na prática espiritual as bases para suas concepções de vida. Encontram-se
tendências místicas na maioria das religiões do mundo. E essa força, essa
energia com a qual nos conectamos poder ser entendida de diversas formas: Deus,
espírito cósmico, universo, etc.
-
Fascinante! – Exclama Rosa - Continue, por favor! – Pede ao ver a cara azeda de
Claude.
-
Alguns exemplos de misticismo: Budismo, Cabala, Yoga e até o famoso Santo Daime!
Quando disse que temos vários destinos, é porque temos nossas escolhas ou livre
arbítrio. E para cada uma delas, há consequências! Mas todas já estão
previstas!
-
Mon Dieu! Pardon, titia, mas nunca vi tanta sandice junto!
Ela
nada responde.
Acabavam
de chegar à loja e Claude estacionava o carro. Assim que começam a caminhar
para a loja, Elisabeth diz:
-
Você acredita em Deus, Claude? – Pergunta seriamente, não usando o Antoine como
sempre fazia.
-
Non da maneira que vocês acreditam! – Reponde, depois de pensar por alguns
segundos.
-
Pois devia, dear! Ele acredita em
você, d’accord?
Depois
de fecharem a compra, conseguindo um bom desconto, eles resolvem ir a uma
sorveteria. O calor estava grande.
Por
onde passavam, Elisabeth chamava a atenção. E não poderia ser diferente, pois
ao contrário de Claude e Rosa que vestiam jeans e uma camiseta básica com o nome da fazenda – ideia de Janete – ela
usava um vestido indiano nas cores vermelho, amarelo e laranja, pois segundo a
cromoterapia o laranja - mistura do
vermelho com amarelo - seria a cor da
prosperidade, além de serem cores
quentes, ligadas à paixão...
Eles
fazem os pedidos e enquanto aguardam, Elisabeth vai ao banheiro, deixando
Claude e Rosa “sozinhos”.
-
Entendeu agora porque falei que ela é uma louca, desvairada?
-
Ela não é louca. Tudo bem que, aparentemente, ela respire misticismo! Mas acho que apenas faz o que tem vontade, sem
se importar com a opinião dos outros!
-
E você? Faz o que tem vontade ou se preocupa com a opinon alheia?
Seria
uma pergunta fácil de responder, se não tivesse sido feita por ele daquela
maneira sutil e tremendamente perturbadora que ele usara no tom de voz! Sabia
perfeitamente a que ele se referia. Porém, preferiu fugir à resposta.
-
Desculpe, eu não entendi a sua pergunta!
-
Entendeu sim, gatinha! Eu acho que quando você quer ou decide alguma coisa, non
dá a mínima para quem quer que seja!
-
A recíproca é verdadeira! Só que você
tem o péssimo hábito de decidir pelos outros!
-
Eu non decido pelos outros, chérie!
Eu decido o que é melhor apenas, hã?
Isso te incomoda? Ou eu a incomodo?
Procurou
uma resposta adequada, mas o que falou, desconcertou-o mais do que qualquer
palavra áspera que pensara:
-
Rodrigo! Que coincidência nos encontrarmos aqui? Sente-se conosco! Você não se
importa, não é, Claude?
Rodrigo
aproxima-se da mesa ao mesmo tempo que Elisabeth.
-
Como tem passado, Rosa? Claude? – Ele o
cumprimenta polidamente.
-
Estamos todos bem – Responde Claude sem dar tempo à Rosa – Esta é minha tia
Elisabeth, irmã de meu pai. Ela vai passar uma... temporada conosco, hã? Titia,
esse é Rodrigo Bueno, nosso vizinho da fazenda.
-
Muito prazer, senhora! – Rodrigo sorri, apertando-lhe a mão.
-
O prazer é todo meu, Mr. Bueno! Mas por favor, my name is Elisabeth!
-
Ok! E o meu é Rodrigo! Por favor,
sente-se! – E puxa a cadeira para ela.
-
Oh! Quanta gentileza! Você é um gentleman, Rodrigo! Fale-me sobre você! O que
gosta de fazer nas horas vagas?
Rosa
dá um sorriso pra si mesma. Era evidente o interesse de tia Elisabeth por
Rodrigo. E ele parecia gostar do assédio. Quem não gostou foi Claude, que
passou o resto da tarde e o caminho de volta completamente calado, alheio à
conversa entre Rosa e Elisabeth.
Na
tarde do dia seguinte, todo o material comprado estava entregue e estocado no
galpão, bem como os maquinários.
E
na manhã do dia seguinte, finalmente as obras começam a todo vapor...
Um
total de quinze homens divididos em turmas iniciava os trabalhos, sob o comando
do trio de empreiteiros. Claude e Rosa estavam sempre supervisionando. Rosa,
inclusive, quando necessário, “punha a mão na massa”, não se importando em
ficar empoeirada ou em não sujar a roupa, o que deixou Claude satisfeito.
Sentia
orgulho da maneira como havia conquistado o respeito dos trabalhadores: pela
sua capacidade, pelo seu trabalho. Isso, Claude jamais poderia negar.
Alguns
dias depois, Rosa conversa com Claude:
-
Claude, seu pai me pediu para transformar a casa da piscina em um lugar
confortável para sua tia. Ele acha que ela gostaria de ter maior privacidade e
um local adequado para se dedicar às suas pinturas e esculturas. Dadi e Socorro
andam super ocupadas, cozinhando para o pessoal. Além de nós. Janete viajou
para se encontrar com Frazão. Será que eu posso pedir ajuda a um dos rapazes
para retirar os móveis de lá?
-
Por que tem que ser um dos rapazes? Non posso te ajudar?
-
Você? – Espanta-se Rosa.
-
Por que o espanto?
-
Eu pensei que você...
-
Pensou que eu não ajudaria, porque você falou que poderia fazer tudo o que um
homem é capaz de fazer!
-
Pra ser franca, foi isso mesmo...
-
Enton, estamos esperando o quê? Vamos
até lá!
A
casa da piscina parecia qualquer coisa menos uma casa de piscina. Caixas
empilhadas, móveis encostados, adornos, utensílios... Parecia mais um depósito
desorganizado.
-
Mon Dieu... Tem certeza que consegue dar conta disso?
-
Seu pai me deu carta branca! Disse que eu posso me desfazer do que achar
desnecessário. Pensei em doar para
alguma instituição.
-
D’accord!
-
Eu acho que o mais difícil vai ser tirar esse papel de parede! Deixe-me fazer
um teste! – Diz subindo em uma escada encostada na parede, na intenção de puxar
uma ponta do papel que estava descolada.
-
Rosa, o que pensa que está fazendo? Desça, essa escada non é segura...
Tarde
demais! A escada cedeu ao peso de Rosa, inclinando-se na direção de Claude.
Escutou
o grito abafado de Rosa e tentou socorrê-la. No instante seguinte, já tinha
caído sentado com Rosa sobre sobre suas pernas, envoltos em uma tira do papel
que ela havia puxado e numa proximidade bastante íntima...
Isso
bastou para perder o controle que havia tido sobre seus pensamentos e hormônios
nos últimos dias, mantendo-se longe de Serafina Rosa.
Mas
o que mais o incomodava era a dor em seu traseiro! Havia caído em cima de uma
caixa de talheres e ou muito se enganava ou algum talher tinha lhe machucado
pra valer!
-
Oh, meu Deus! Claude você se machucou? - Rosa começa a rir da situação.
-
O que você acha, hã? Mon Dieu, espero non ter quebrado nenhum osso da... do meu...
você sabe! Quer parar de rir?
-
Desculpe! Eu vou tentar!.... Rsrsrsrs. Não dá, eu não consigo! Rsrsrsrsr.
Apesar
de toda a dor que sentia, alguma coisa na risada de Rosa o contagiou e de repente,
ele também estava rindo.
Até
que a risada virou um silêncio perturbador...
-
Estou começando a achar que minha tia tem razon... Você mexe com a química do
meu corpo, gatinha! – E a ajeita ainda mais sobre si - Isso tem que acontecer,
Rosa...
-
Eu sei...
Foi
tudo que ela disse antes de sentir os lábios de Claude forçando os seus a se
abrirem e invadir a sua boca...
Continua...
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