terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 7 - AUTORA: SÔNIA FINARDI

VII

- Yes, querido! Ca-sa-men- to! Marriage ou nuptialité como preferir... Eu preciso da data para fazer as projeções! Vou precisar também da sua data de nascimento, hora e local, darling! – E olha para Rosa.
- “Céus! Ela realmente pensa que existe algo entre nós” – Pensa Rosa, mas antes que diga alguma coisa, Claude dispara a falar:
- Quanto tempo vai ficar desta vez? Uma semana? - Pergunta Claude sem cerimônias.
- Sinto desapontá-lo, dear... Meu último relacionamento deixou-me profundamente abalada e meu mentor sugeriu uma temporada de paz e sossego junto à natureza!
- Defina quanto é uma temporada em seu calendário, por favor, tia Elisabeth... – Pergunta, preocupado com a resposta.
- Well, honey... a príncipio uns seis meses, d’accord?
- Seis meses? Mon Dieu, eu...
- Claude, está sendo indelicado com sua tia, para não dizer mal educado! Peça desculpas e pare de se comportar como um adolescente! – François fala rispidamente.
- D’accord... Pardon titia. Eu non quis parecer indelicado. Apenas acho que descanso e sossego von ser a última coisa que conseguirá por aqui, agora que iremos iniciar as obras.
- Não precisa se desculpar, mon cher! Eu sei que debaixo de todo esse seu machismo, mau humor e casca grossa, se esconde um homem de verdade! Lá no fundo você non é tão mal quanto quer parecer... Bem lá no fundo! Agora, se non se importam, eu gostaria de repousar por algumas horas!
Rosa morde os lábios, tentando não rir da expressão desgostosa de Claude.
- Claro, querida. Vamos até seu quarto! - Joana fala, enquanto a enlaça pelo braço e saem do escritório junto com François
Depois que já estão fora da sala, Claude solta um palavrão.
- Francamente, Claude! Você sabe como ser grosseiro! Tia Elisabeth considera você o filho que nunca teve, poderia ter mais respeito com ela! – Janete fala duramente.
- Mas o que eu falei demais, hã? – E sustenta o olhar de Janete e Rosa, recriminando-o – Esperem o tempo passar.  Onde está Tia Elisabeth, está confuson!
Dois dias depois, como previsto, chega a equipe que Claude contratara, seguindo a sugestão de seu pai.
O empreiteiro Antoninho e seus dois irmãos Milton e Sérgio comandavam uma  equipe que parecia muito bem entrosada.
Antoninho gerenciava a parte civil das obras que faziam. Milton era especialista na parte hidráulica e Sérgio na elétrica. Juntos formavam a melhor equipe da região.
Ao contrário do que esperava, eram bastante jovens. Seguiam os passos do pai, que fora do ramo também. Só que, estavam sempre atentos às novidades e transformações da área, capacitando-se constantemente.
Não deixara de notar os olhares que a envolveram quando Claude os apresentou, muito menos a expressão sisuda dele. Nesses dois dias, nada acontecera entre eles. Claude parecia evitar sua presença. Na certa, temia outro desagradável incidente que para ele apenas ela era a culpada.
Repassaram com os irmãos empreiteiros a lista de todo material necessário. Confirmados todos os itens, restava a Claude e ela fazer o pedido. Resolveram ir na manhã seguinte até Aquidauana.
Depois de deixarem os empreiteiros instalados em uma das casas, seguiram de volta para a sede.
E Claude não teve como impedir tia Elisabeth de se convidar para ir também...
Na manhã seguinte, logo cedo eles partem para a cidade. Propositalmente, tia Elisabeth  faz Rosa entrar primeiro na camionete. Dessa maneira, Rosa ficou entre eles.
Uma leve tensão pairava dentro da cabine, pois, por várias vezes, Claude esbarrara em suas coxas ao mudar a marcha do veículo e como não tinha espaço suficiente para se afastar dele, tinha que se controlar muito primeiro para  não lhe dizer poucas e boas, segundo para não demonstrar o quanto esses toques a faziam se arrepiar...
Às vezes, arriscava olhar para o lado dele, como se estivesse admirando a paisagem, mas não conseguia definir aquela expressão. Parecia indiferente.
Até que numa nova troca de marcha, suas mãos se tocaram e seus olhares se cruzaram.  E foi como se nada mais existisse além deles.
Elisabeth que parecia alheia a tudo isso, fala algo, tirando-os daquela sintonia:
- Claude Antoine, você ainda tem vontade de realizar a construção de casas populares em áreas mais carentes? – Pergunta, parecendo interessada.
- Oui, titia! Mas isso demanda investimentos a longo prazo e ainda non encontrei parceiros ideais. Todos querem lucro rápido e criam juros exorbitantes. Até mesmo os bancos estatais que deviam ter programas mais acessíveis...
Rosa se surpreende.  Não sabia desse lado de Claude, preocupado com pessoas menos privilegiadas... Esse seria um projeto no qual teria orgulho de colaborar.  Mas com certeza, ele não precisaria da colaboração dela. Afinal, ela era apenas uma mulher na visão dele.
- Talvez eu tenha a solução para o seu problema – Continua Elisabeth – Mas não vou confirmar nada, por enquanto. Ainda falta uma resposta. Assim que eu a tiver, volto no assunto com você, dear!
- Non me diga que espera a resposta de alguma carta de tarô ou alguma outra fonte mística como fadas e duendes, por favor, hã? – Pergunta com velado sarcasmo.
- E se for?  Devolve carregando o “for” - Você não acredita no sobrenatural, Claude Antoine?
- Acredito no que vejo. Simples assim.  Nascemos e temos que sobreviver, fazer escolhas, decidir nosso destino.
- Nosso destino já está traçado antes de nascermos, querido! Todos eles!
- Todos eles? – Pergunta Rosa com curiosidade.
- Mon Dieu! Você non vai acreditar nisso, non é, Rosa?
- Eu quero apenas ouvir a explicação da sua tia. Posso?
- D’accord! Sa volonté, gatinha. Explique-nos tudo enton, titia.
- Primeiro tentem entender o que é misticismo. Ele é a prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à natureza e a Deus. Se distingue da religião por referir-se à experiência direta e pessoal com a divindade, com o transcendente, sem a necessidade de intermediários, dogmas ou de uma teologia. Entenderam?
- Acho que entendi – Responde Rosa – O místico não depende de religião, não precisa dela, pois comunica-se diretamente com Deus, sem esperar pela  intervenção de um padre, pastor ou afins. É isto?
- Oh!! Bravo, Rosa! Você entendeu perfeitamente!  Daria uma excelente aluna! 
- Sem chance, tia Elisabeth! – Fala Claude como se tivesse algum poder de impedir Rosa – Rosa non vai aderir a essa...  prática!
- Posso saber com que autoridade você toma decisões por mim?
Claude não sabe por que dissera aquilo tão categoricamente. Agora tinha que dar uma resposta à altura.
- Com a autoridade de ser o seu patron e responsável por tudo que lhe aconteça por aqui, hã? Já lhe disse isso, non se lembra?
- Infelizmente eu me lembro! Disse-me mais de uma vez. Mas eu volto a esclarecer: não sou sua escrava! Em minhas horas de folga, posso fazer o que me der na cabeça! Eu pensei ter deixado isso bem claro!
- E eu pensei que tivéssemos selado um acordo de paz! Por que está ton irritada?
- Oh, Lord! Cette parfaite! Eu sinto a energia da química que gira em torno de vocês! Isto é magnifique! Consigo entender perfeitamente, foi assim com John, quando nos conhecemos...
 - Isto é perfeitamente ridículo, dona Elisabeth! – Diz Rosa.
 - C' est tout à fait ridicule, tia Elisabeth! – Diz Claude.
 Ambos ao mesmo tempo. Então, se olham irritados.
 - Isto, porém – Diz indicando o que acontecera - é perfeitamente possível e lógico! Quando acordarem para suas verdades, vão ver o tempo que perderam tentando negá-la! E darling, me chame de Elisabeth, d’accord?
- Continue sua explicação, por favor. Eu me interessei muito por esse assunto. De repente... – Fala tentando atingir Claude.
- Pois bem... Correntes místicas já existiam muito antes de Platão! O místico procura na prática espiritual as bases para suas concepções de vida. Encontram-se tendências místicas na maioria das religiões do mundo. E essa força, essa energia com a qual nos conectamos poder ser entendida de diversas formas: Deus, espírito cósmico, universo, etc.
- Fascinante! – Exclama Rosa - Continue, por favor! – Pede ao ver a cara azeda de Claude.
- Alguns exemplos de misticismo: Budismo, Cabala, Yoga e até o famoso Santo Daime! Quando disse que temos vários destinos, é porque temos nossas escolhas ou livre arbítrio. E para cada uma delas, há consequências! Mas todas já estão previstas!
- Mon Dieu! Pardon, titia, mas nunca vi tanta sandice junto!
Ela nada responde.
Acabavam de chegar à loja e Claude estacionava o carro. Assim que começam a caminhar para a loja, Elisabeth diz:
- Você acredita em Deus, Claude? – Pergunta seriamente, não usando o Antoine como sempre fazia.
- Non da maneira que vocês acreditam! – Reponde, depois de pensar por alguns segundos.
- Pois devia, dear! Ele acredita em você, d’accord?
Depois de fecharem a compra, conseguindo um bom desconto, eles resolvem ir a uma sorveteria. O calor estava grande.
Por onde passavam, Elisabeth chamava a atenção. E não poderia ser diferente, pois ao contrário de Claude e Rosa que vestiam jeans e uma camiseta básica  com o nome da fazenda – ideia de Janete – ela usava um vestido indiano nas cores vermelho, amarelo e laranja, pois segundo a cromoterapia o laranja -  mistura do vermelho com amarelo -  seria a cor da prosperidade, além de serem  cores quentes,  ligadas à paixão...
Eles fazem os pedidos e enquanto aguardam, Elisabeth vai ao banheiro, deixando Claude e Rosa “sozinhos”.
- Entendeu agora porque falei que ela é uma louca, desvairada?
- Ela não é louca. Tudo bem que, aparentemente, ela respire misticismo! Mas acho que apenas faz o que tem vontade, sem se importar com a opinião dos outros!
- E você? Faz o que tem vontade ou se preocupa com a opinon alheia?
Seria uma pergunta fácil de responder, se não tivesse sido feita por ele daquela maneira sutil e tremendamente perturbadora que ele usara no tom de voz! Sabia perfeitamente a que ele se referia. Porém, preferiu fugir à resposta.
- Desculpe, eu não entendi a sua pergunta!
- Entendeu sim, gatinha! Eu acho que quando você quer ou decide alguma coisa, non dá a mínima para quem quer que seja!
- A recíproca é verdadeira!  Só que você tem o péssimo hábito de decidir pelos outros!
- Eu non decido pelos outros, chérie! Eu decido o que é melhor apenas, hã? Isso te incomoda? Ou eu a incomodo?
Procurou uma resposta adequada, mas o que falou, desconcertou-o mais do que qualquer palavra áspera que pensara:
- Rodrigo! Que coincidência nos encontrarmos aqui? Sente-se conosco! Você não se importa, não é, Claude?
Rodrigo aproxima-se da mesa ao mesmo tempo que Elisabeth.
- Como tem passado, Rosa?  Claude? – Ele o cumprimenta polidamente.
- Estamos todos bem – Responde Claude sem dar tempo à Rosa – Esta é minha tia Elisabeth, irmã de meu pai. Ela vai passar uma... temporada conosco, hã? Titia, esse é Rodrigo Bueno, nosso vizinho da fazenda.
- Muito prazer, senhora! – Rodrigo sorri, apertando-lhe a mão.
- O prazer é todo meu, Mr. Bueno! Mas por favor, my name is Elisabeth!
- Ok! E o meu é Rodrigo!  Por favor, sente-se! – E puxa a cadeira para ela.
- Oh! Quanta gentileza! Você é um gentleman, Rodrigo! Fale-me sobre você! O que gosta de fazer nas horas vagas?
Rosa dá um sorriso pra si mesma. Era evidente o interesse de tia Elisabeth por Rodrigo. E ele parecia gostar do assédio. Quem não gostou foi Claude, que passou o resto da tarde e o caminho de volta completamente calado, alheio à conversa entre Rosa e Elisabeth.
Na tarde do dia seguinte, todo o material comprado estava entregue e estocado no galpão, bem como os maquinários.
E na manhã do dia seguinte, finalmente as obras começam a todo vapor...
Um total de quinze homens divididos em turmas iniciava os trabalhos, sob o comando do trio de empreiteiros. Claude e Rosa estavam sempre supervisionando. Rosa, inclusive, quando necessário, “punha a mão na massa”, não se importando em ficar empoeirada ou em não sujar a roupa, o que deixou Claude satisfeito.
Sentia orgulho da maneira como havia conquistado o respeito dos trabalhadores: pela sua capacidade, pelo seu trabalho. Isso, Claude jamais poderia negar.
Alguns dias depois, Rosa conversa com Claude:
- Claude, seu pai me pediu para transformar a casa da piscina em um lugar confortável para sua tia. Ele acha que ela gostaria de ter maior privacidade e um local adequado para se dedicar às suas pinturas e esculturas. Dadi e Socorro andam super ocupadas, cozinhando para o pessoal. Além de nós. Janete viajou para se encontrar com Frazão. Será que eu posso pedir ajuda a um dos rapazes para retirar os móveis de lá?
- Por que tem que ser um dos rapazes? Non posso te ajudar?
- Você? – Espanta-se Rosa.
- Por que o espanto?
- Eu pensei que você...
- Pensou que eu não ajudaria, porque você falou que poderia fazer tudo o que um homem é capaz de fazer!
- Pra ser franca, foi isso mesmo...
- Enton, estamos esperando o quê?  Vamos até lá!
A casa da piscina parecia qualquer coisa menos uma casa de piscina. Caixas empilhadas, móveis encostados, adornos, utensílios... Parecia mais um depósito desorganizado.
- Mon Dieu... Tem certeza que consegue dar conta disso?
- Seu pai me deu carta branca! Disse que eu posso me desfazer do que achar desnecessário.  Pensei em doar para alguma instituição.
- D’accord!
- Eu acho que o mais difícil vai ser tirar esse papel de parede! Deixe-me fazer um teste! – Diz subindo em uma escada encostada na parede, na intenção de puxar uma ponta do papel que estava descolada.
- Rosa, o que pensa que está fazendo? Desça, essa escada non é segura...
Tarde demais! A escada cedeu ao peso de Rosa, inclinando-se na direção de Claude.
Escutou o grito abafado de Rosa e tentou socorrê-la. No instante seguinte, já tinha caído sentado com Rosa sobre sobre suas pernas, envoltos em uma tira do papel que ela havia puxado e numa proximidade bastante íntima...
Isso bastou para perder o controle que havia tido sobre seus pensamentos e hormônios nos últimos dias, mantendo-se longe de Serafina Rosa.
Mas o que mais o incomodava era a dor em seu traseiro! Havia caído em cima de uma caixa de talheres e ou muito se enganava ou algum talher tinha lhe machucado pra valer!
- Oh, meu Deus! Claude você se machucou? - Rosa começa a rir da situação.
- O que você acha, hã? Mon Dieu, espero non ter quebrado nenhum osso da... do meu... você sabe!  Quer parar de rir?
- Desculpe! Eu vou tentar!.... Rsrsrsrs. Não dá, eu não consigo! Rsrsrsrsr.
Apesar de toda a dor que sentia, alguma coisa na risada de Rosa o contagiou e de repente, ele também estava rindo.
Até que a risada virou um silêncio perturbador...
- Estou começando a achar que minha tia tem razon... Você mexe com a química do meu corpo, gatinha! – E a ajeita ainda mais sobre si - Isso tem que acontecer, Rosa...
- Eu sei...
Foi tudo que ela disse antes de sentir os lábios de Claude forçando os seus a se abrirem e invadir a sua boca...

Continua...

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