O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
XVII
QUEM
ERA NA REALIDADE A CARTOMANTE?
Depois
de um trajeto bem longo, que foi obrigada a fazer a pé, pois não tinha dinheiro
sequer para tomar uma condução, Maria "Flor de Amor" chegou a um
palacete mais ou menos isolado, circundado por um jardim no qual cresciam, em
maioria, grandes plantas tropicais.
Numa
tabuleta pregada em duas pilastras, lia-se o seguinte: Ivonne Delapierre -
QUIROMANCIA - CARTOMANCIA - CIÊNCIAS OCULTAS.
A
jovem tocou a campainha, mas em vez de ouvir o ruído habitual, comum a todas as
campainhas, o que escutou foi um som parecido com o que produz um gongo ou um
sino repercutindo longamente no interior do edifício.
Este
detalhe era bastante estranho e singular, mas, antes que ela tivesse tido tempo
para refletir, a porta do palacete se abriu e um hindu baixinho, de idade indefinível,
trajando um estranho uniforme colorido, atravessou o jardim e, tendo aberto o
portão, olhou com ar interrogativo a recém-chegada.
-
Desejo falar com a senhora Ivonne - disse Maria "Flor de Amor".
Sem
dizer palavra, o hindu se voltou e, precedendo-a, entrou para o vestíbulo e
seguiu até uma pequena peça onde, como único mobiliário, havia algumas
poltronas forradas de couro de leopardo.
Uma
vez ali, fez sinal à jovem para que esperasse e se foi, sem fazer o mínimo
ruído, fechando cuidadosamente a porta atrás de si.
Maria
"Flor de Amor", cada vez mais inquieta, ficou à espera, de pé,
perguntando-se se fizera bem em aceitar o oferecimento da diretora da agência
de empregos.
Aquele
lugar nada tinha, certamente, de alegre e atraente e, embora ela compreendesse
que o sinistro gongo, o hindu silencioso e singularmente uniformizado, as peles
de leopardo, tudo isso fizesse parte de uma complicada encenação organizada de
propósito pela quiromante, para impressionar os clientes, nem por isso deixava
de experimentar uma estranha sensação, de mal-estar, quase de medo, como se um
perigo secreto, cuja natureza não conseguia ver, a ameaçasse. Ela estava ainda
imersa em seus pensamentos quando uma senhora, muito bonita e de boa aparência,
excentricamente vestida, entrou na saleta.
-
Sou Ivonne Delapierre - disse a quiromante, fitando na jovem os olhos de
estranho verde-esmeralda. - Veio para uma consulta?
-
Não, senhora. Venho a mando da agência de empregos.
-
Sim, sim... Efetivamente, eu pedi que me enviassem uma pessoa de toda
confiança.
Observou
demoradamente Maria "Flor de Amor", que se sentiu ruborizar, sob
aquele olhar penetrante, e depois continuou:
-
Então... É a pessoa de que eu preciso...
-
Sim, senhora...
-
Como se chama?
-
Maria Aubert, senhora.
Os
olhos da quiromante se apertaram ligeiramente, ocultando um lampejo estranho.
-
Que foi que disse?
A
jovem, estranhando, repetiu, mais devagar, procurando dar a mais clara
entonação às palavras: - Maria Aubert, minha senhora. Acaso já ouviu alguma vez
o meu nome?
-
Não, não! Apenas não ouvira bem, eis tudo. Tenho o maior prazer em recebê-la
como... Colaboradora, senhorita. Além do trabalho que já lhe foi explicado na
agência, terá de ajudar-me em alguns afazeres no serviço da casa. Nada de
trabalho pesado, naturalmente. Tem alguma coisa a objetar?
Maria
"Flor de Amor" sacudiu energicamente a cabeça.
-
Oh! Trabalho nenhum me assusta, até gosto! Além disso, confesso que, no
momento, preciso muitíssimo de uma ocupação, porque estou sem dinheiro nenhum.
-
Aprecio muito sua boa vontade. Quanto ao seu salário, estou certa de que
gostará do que vai ganhar. Você tem jeito de ser inteligente e de ter certo
preparo, senhorita. Assim sendo, deve compreender que, para me satisfazer
integralmente, deve mostrar-se, antes de mais nada, discreta, não levando em
conta aquilo que seus olhos virem aqui dentro. Estamos entendidas?
-
Sim, minha senhora. Aliás, não deve recear que eu dê com a língua nos dentes,
que vá contar lá fora o que se passar aqui... Não tenho amizades na cidade e,
além disso, pretendo tratar unicamente do meu trabalho, pois o que mais me
interessa é que fique contente comigo.
-
Muito bem. Vejo que nos entendemos perfeitamente. Para melhor compreensão
ainda, devo explicar que tenho um caráter talvez estranho e, sendo assim, não
se deve espantar nem ressentir-se se alguma vez meu comportamento para com você
não corresponder ao que você espera. Sou muito nervosa e o trabalho que executo
não é de molde a contribuir para me acalmar os nervos, pelo contrário, percebe?
-
Sim, senhora - concordou Maria "Flor de Amor", embora não estivesse
entendendo muito bem.
-
Quanto ao resto - concluiu a cartomante - eu lhe explicarei com vagar. Pode
ficar aqui a partir deste momento?
-
Certamente! Não tenho razão para não fazê-lo e minha bagagem se reduz a uma
maleta que trouxe comigo.
Ivonne
Delapierre bateu palmas duas vezes e imediatamente, como se já tivesse
permanecido até então atrás da cortina, o hindu da libré chamativa entrou na
sala.
-
Jordi é mudo - explicou a quiromante, enquanto Maria "Flor de Amor"
olhava para o empregado, não podendo deixar de sentir certa repulsa por ele -
mas, em compensação, não há melhor cumpridor de ordens, fará o que eu mandar,
seja lá o que for, sem a menor hesitação...
Fez
uma pausa, como se quisesse dar um significado especial àquelas palavras.
Depois, acrescentou, virando-se para o servidor:
-
Jordi, acompanhe a senhorita Maria até o quarto que vai ser dela e arranje tudo
conforme o seu gosto.
Fazendo
um aceno com a cabeça para a patroa, o hindu fez um sinal indicando o hall,
para que “Flor de Amor” o precedesse.
Ficando
sozinha, a quiromante passou num gesto nervoso a mão muito branca e afilada
pelo rosto e disse falando consigo mesma:
“Que
sorte a minha! O destino fez com que eu a encontrasse quando menos esperava,
mas no instante em que mais necessidade tinha dela! Maria Aubert, a verdadeira
filha do conde Fernando!... Denise tem razão para começar a tremer, desde este
momento! Aquela idiota parece que não levou em conta a minha ameaça... Pois
bem, agora vai ter que enfrentar as terríveis consequências! Pretensiosa, filha
indigna que ousou desacatar as minhas ordens, depois de tudo o que fiz por ela!
Ah! Como se arrependerá!”
Maria caiu nas garras de Renata novamente, coitada! E periga sofrer muito mais ainda, que sina! Renata quer prejudicar a própria filha, que pessoa desumana! Quanta reviravolta nessa trama!
ResponderExcluirO que será que a maldosa Renata pretende? Vem mais emoções e das grandes por aí... Muito bom. Parabéns, Paulo.
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