quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

FIC - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - CAPÍTULO 2 - AUTORA: SÔNIA FINARDI


II

Aquela mulher era um perigo! Um atentado violento à sobrevivência! Era o que Claude pensava, enquanto seguia para a cidade mais próxima da fazenda – Aquidauana.  Um município brasileiro do estado de Mato Grosso do Sul. Situada na Serra de Maracaju, a 139 km de Mato Grosso do Sul. É conhecida por Cidade Natureza, devido à variedade de flora e fauna. Possuindo muitas atrações, a cidade encanta com seus cenários únicos.  Beira os cinquenta mil habitantes, é o sétimo maior centro urbano do estado.
Não podia se comparar com Paris, obviamente, mas precisava de um pouco de distração e mesmo sem o glamour dos grandes centros, sabia que poderia encontrar diversão em um dos bares da cidade, frequentados principalmente por peões da região. Um local limpo, com boa bebida e alguns atrativos extras. Às vezes, havia música ao vivo. Tinha até uma pequena pista de dança.
Precisava se distrair um pouco. Sair da rotina daquela fazenda. Precisava se encontrar isso sim! Havia deixado a França, logo depois de terminar seu relacionamento com Nara.
Bonita, vivida, sexy, uma mulher que todos desejavam.  Mas o que tinha de desejável, tinha de venenosa. Claude descobrira um pouco tarde demais.
Conhecera Nara, quando ela passou a ser estagiária em sua empresa, a pedido do pai, um grande amigo e colaborador de Claude. Um interesse mútuo logo aconteceu e quando se deu conta estava quase noivo.
Mas foi aí que Nara deu aquele golpe. Um duplo golpe: literalmente roubara o principal projeto de Claude: a construção de condomínios residenciais em áreas menos valorizadas, para pessoas das classes mais carentes e apresentou ao seu principal concorrente, que não primava pela honestidade.
Foi neste momento que Claude descobriu que Nara era amante dele. Desde então, passara a frequentar baladas, noite após noite. E descobrira que Nara não lhe fazia falta.
A ideia de seu pai de transformar a fazenda em um lugar para o ecoturismo atraiu sua atenção e quando François lhe sugeriu gerenciar o serviço, não pensou duas vezes. Gostava do Brasil e há muitos anos não tirava férias.
E o projeto que o pai lhe enviara para análise era surpreendente, não demandava um gasto exagerado, preservava a arquitetura original, com ideias simples e arrojadas ao mesmo tempo. O tipo de projeto que ele gostava.
Já era quase noite, quando ele chegou ao seu destino. Como sempre, assim quem tirou o capacete, pode perceber os olhares femininos em sua direção.
Mas, queria apenas se distrair. Não poderia nem beber, pois estava dirigindo. Não estava a fim de ficar com ninguém e não conseguiria mesmo: aquela baixinha o atingira em cheio! E andar de moto todos aqueles quilômetros não ajudou a melhorar, pelo contrário, o desconforto aumentara.
Conhecia muitas mulheres ousadas, mas aquela ultrapassava o limite do bom senso... imprudente, abusada, audaz, impertinente, determinada, intrigante, impulsiva, desejável... e com uma pontaria certeira.
- “Mas que droga! Como foi que você voltou aos meus pensamentos?” – Claude pergunta a si mesmo como se a visse em sua frente e passa a mão pela cabeça, tentando com isso apagá-la de seus pensamentos...
Logo, porém, é chamado por Rodrigo, o fazendeiro vizinho e junta-se a ele numa mesa do canto, no interior do bar, afastando-a  de sua mente.
Conversaram sobre os problemas comuns entre as duas fazendas, sobre generalidades, por uma ou duas horas. Rodrigo decide ir embora. Claude ainda permanece por lá.
Encostada no carro, Rosa pensava no que fazer.
Não poderia simplesmente fechar o carro e sair por aquela estrada deserta. Sabe-se lá, quantos quilômetros até encontrar uma alma viva! E naquela escuridão que esta noite prometia... Não, definitivamente, essa não era a saída!
Deu a volta, fechou o capô do carro e voltou ao interior do mesmo, sentando-se no banco do motorista.
A visão daquele motoqueiro deixando-a sozinha ali, naquelas condições, depois de tê-la atropelado e arrastado, era o que lhe ia pelo pensamento.
- “Grosso! Mal educado, prepotente, arrogante... - Pensava ela sobre Claude - Que outros adjetivos eu posso usar para qualificá-lo? - Ah! Estúpido, irresponsável, cínico, irritante, intolerável, desagradável, mal humorado, atrevido, perturbador, insinuante, decidido, másculo, atraente, charmoso, extremamente sexy e viril... Céus! Que foi que me deu?”
Irritada consigo mesma por ter aqueles pensamentos tolos, abriu o porta-luvas e tirou de lá uma lanterna do tipo recarregável, que não precisa de pilhas.
- “Pois bem, Sr. Sabe-tudo, eu vou ficar bem! Não preciso da sua ajuda! Uma mulher prevenida vale por duas, você  devia saber disso. Pelo menos, não vou ficar na escuridão total! Eu poderia  seguir  com essa lanterna iluminando a estrada... Não, pode aparecer algum animal e eu posso ser atacada.”
Rosa trava as portas do carro e acende a lanterna.  Estava cansada, faminta e ansiava por um banho, um longo e refrescante banho. Mas, no momento, tudo que poda fazer era olhar as fotos que tirara. Ela liga a máquina, mas ela não responde aos comandos.
Na certa, a queda deve ter danificado alguma coisa! Ainda bem que o cartão está intacto! Assim que chegar à fazenda, eu passo para o note. Melhor eu me ajeitar e tentar dormir.
Ela coloca a lanterna sobre o painel, que age como um abajur e fecha os olhos. O silencio só é quebrado pelo ruído dos grilos, o que torna a noite um tanto sinistra. Acaba cochilando. De repente, uma batida no vidro do carro a faz acordar assustada. Imediatamente, ela pega a lanterna e ilumina a janela.
A mão que tentava impedir aquele facho de luz de acertar os olhos era grande. E o rosto do desconhecido era simpático e agradável. Inspirava confiança. Rosa abaixa o vidro da janela alguns centímetros.
- A moça precisa de ajuda? – O tom de preocupação com que as palavras foram pronunciadas confirmava a impressão que ela teve.
- Meu carro pifou! Eu acho que o motor fundiu e pra ajudar fiquei sem bateria também. Sabe me dizer se estou muito longe da Fazenda Borboleta Azul da família Geraldy? Será que dá pra ir a pé?
- Você está com sorte! Mas vamos por partes, ok?  Meu nome é Rodrigo Fernandes. Eu sou moro na fazenda vizinha.  E você é?
- Serafina Rosa Petroni, mas pode me chamar de Rosa simplesmente. Eu posso pedir uma carona? Sei que é desagradável...
- Claro! Estamos indo na mesma direção. Antes, abre o capô e me empresta essa lanterna, eu vou dar uma olhada, quem sabe é menos do que você imagina.
Totalmente confiante, Rosa desce do carro, entregando a lanterna a ele.
Depois de olhar por alguns minutos e mexer em alguns lugares, ele se volta para ela.
- Então? Eu tinha razão? O motor fundiu mesmo?
- Aparentemente não. Ainda não!  Mas se você continuar com ele assim, vai fundir. Está completamente sem óleo no motor.  Posso tentar uma partida?
- Claro, as chaves estão no contato, mas não vai adiantar, está sem bateria... – Diz observando-o entrar no carro e virar a chave.
- Realmente. Nem sinal. Mas esse não é seu único problema. Está quase sem combustível, também. Isso acontece sempre com turistas, não se recrimine.
- Não me recriminar? Isso é imperdoável! Acho que foi o encanto pelas paisagens e por fotografá-las que me fizeram esquecer de conferir tudo isso no último posto...
- Ah, então você é fotógrafa? Trabalha para alguma revista?
- Não sou fotógrafa, embora adore fotografar a natureza. Nem turista. Sou arquiteta. O Sr. François Geraldy me contratou para adaptar a fazenda para o ecoturismo. Parece que vai investir nisso. Além do que sou amiga de Janete.
- Oh, verdade! Claude comentou algo a respeito. Mas... Bem deixa pra lá. Vamos? Pegue suas coisas, eu deixo você na fazenda e amanhã providencio para que alguém reboque o seu carro até uma oficina. Não deve ser nada grave.
- Tem certeza que não vou te atrapalhar, não está indo pra algum outro lugar?
- Não, estou justamente voltando pra casa e vou passar “na porta” da fazenda. A pé e nessa escuridão, você passaria direto, pois para se chegar até ela há uma longa e deserta estrada secundária.
- Eu nem acredito! Você está sendo um verdadeiro anjo! Obrigada.
- Não tem de que. Por aqui a solidariedade é muito importante e valorizada entre os fazendeiros. Moramos praticamente isolados da civilização, rsrsrsrs! As cidades mais próximas estão há quilômetros de distância. – Vai dizendo, enquanto acomoda a bagagem de Rosa em sua pick-up.
- “Acho que algumas pessoas não foram avisadas sobre isso ou não sabem o que significa ser solidário” - Pensa com a imagem de Claude na cabeça.
Mas logo a substitui por Rodrigo, que parecia satisfeito por poder fazer as honras do lugar. Cerca de cinquenta minutos depois, eles chegam à fazenda.
Mesmo sobre o fraco luar, que lutava por aparecer entre as nuvens, a fazenda era muito maior do que Rosa pensava...
Rodrigo a ajuda a descarregar sua bagagem, enquanto Rosa bate à porta da casa principal da fazenda. Uma construção equilibrada entre o colonial tradicional e o moderno, pensa Rosa. A casa era grande. Daria um excelente hotel-fazenda. O jardim parecia abandonado, mas com um bom trato ficaria charmoso e agradável. O perfume de algumas flores era muito bom.
Não precisou bater duas vezes.  Quando a porta se abriu, Rosa deu um largo sorriso para sua amiga de infância Janete, enquanto a ouvia dizer:
- Rosa! Rodrigo? Mon Dieu, o que aconteceu com você? Eu já estava preocupada, pensando em chamar alguém para procurá-la!
Elas se abraçam, depois de tanto tempo sem se verem.
- Como vai, Janete? Sua amiga teve problemas com o carro...  Bem, entrega feita! Rosa, amanhã eu cuido para que seu carro seja socorrido e entregue aqui na fazenda, ok?
- Não prefere que eu mesma faça isso? Você deve ter outros afazeres...
- Não dará trabalho nenhum...  Será um prazer ajudá-la.  Até qualquer hora! Boa noite pra vocês!
- Até, Rodrigo! E obrigada por socorrer minha amiga!
Rosa pega sua mala, frasqueira, bolsa e segue Janete porta adentro. A casa era aconchegante e a decoração de muito fino gosto. Clássica e combinando com o campo.
Elas sobem a escada, pois Janete a levava ao quarto de hóspedes. Depois de acomodá-la...
- Você deve estar cansada e com fome. Tome um banho, eu trago algo pra você comer. Esse seu figurino manchadinho...é moda em São Paulo?
- Continua espirituosa, não é? Essas manchinhas são pura lama do pantanal.  Eu estou bem agora, mas nem te conto! Fui praticamente atropelada por um motoqueiro em alta velocidade, rolamos barranco abaixo e depois ele me largou sozinha com meu carro pifado!
- Motoqueiro é? Amanhã vou querer detalhes da sua aventura! Tome um banho que eu já venho com um lanche... Mas amanhã...  amanhã  você não me escapa! Vai contar tin tin por tin tin dessa história... Depois de rever meus pais, naturalmente.
Janete deixa Rosa à vontade. Quando ela sai do banho, o lanche está a sua espera. Ela come o sanduíche e vai imediatamente para a cama. Em seu último pensamento o barulho daquela moto...
- “Devo estar enlouquecendo...” – E cai num sono profundo e revigorante.
Claude demora mais que o previsto na cidade. Ao voltar, encontra o carro ainda parado e sem sinal daquela doida.
- “Com certeza saiu andando pela noite! Impetuosa como parece ser, non deve ter pensado nos perigos da noite por aqui! Mon Dieu! Eu devia tê-la obrigado a me acompanhar até a cidade...”
Ele ainda anda alguns quilômetros vagarosamente, iluminando o acostamento com o farol da moto inutilmente. Nem sinal dela.
Claude desiste e vai para casa, remoendo seus pensamentos, tentando se eximir da culpa que começava a sentir. Não era responsabilidade dele. Além do mais, ela quase provocara a morte dos dois. E depois, ainda o acertara com o capacete em seu... Diabos, por que estava preocupado com ela?
Ele entra em casa tentando não fazer barulho e sobe direto para seu quarto. Toma um banho e vai para a cama. Ainda sentia um desconforto naquela região... Andar de moto depois do golpe só piorara a situação. Finalmente consegue adormecer.
Claude acorda cedo e toma apenas um café preto. Depois, enfia-se no escritório da casa, dizendo não querer ser incomodado. Seu mau-humor era visível e nem ele estava se aguentando. Culpa daquela desconhecida. Sonhara a noite toda com ela: os dois rolando o barranco e fazendo amor, depois de discutirem de quem era a culpa... Que absurdo! Passou a se concentrar nos jornais do dia, tentando esquecer aquele corpo sob o seu, molhado e muito atraente...

Rosa desperta assustada. Por uma fração de segundos, desconhece onde está. Então, lembra-se do dia anterior e não sabe se suspira de alívio ou de resignação.
Francamente! Esperava não cruzar nunca mais com aquele motoqueiro arrogante. Ela se arruma e desce, procurando por Janete. Por dedução chega à cozinha.
- Bom dia, Rosa! Pensei que quisesse dormir até mais tarde, descansar bem mais...
- Bom dia, Janete. Eu não consegui, estou ansiosa demais pra falar com seu pai e começar essa reforma. Vai ser um desafio e tanto pra mim.
- É sobre isso mesmo que eu tenho que te falar. Meu pai passou essa tarefa de gerenciar a reforma para meu irmão, Claude. Eu creio que você nunca o conheceu. Ele sempre morou com a mãe dele, a primeira esposa do meu pai e só vinha para o Brasil nas férias escolares de lá, que não coincidem com as nossas...
- Ah! E isso muda alguma coisa? Altera o cronograma?
- Não. Apenas que você vai resolver tudo com ele, não mais com meu pai. Aliás, meus pais pedem desculpas por não estarem aqui pra te cumprimentar, logo pela manhã. Tiveram um compromisso de última hora.
- Bem, por mim está tudo bem. Creio que será até mais fácil, se não me engano, você comentou em alguma carta que ele é engenheiro, não é isso?
- Exatamente. Mas antes de falar com ele, vamos tomar um delicioso café da manhã, preparado pela nossa grande Dadi.  Dela você se lembra, não é? Ah, olha ela aí! Dadi, lembra-se da Rosa?
- E como eu poderia esquecer daquela menina magrela, curiosa e falante? Mas de menina a senhora não tem mais nada... Como vai dona Rosa?
- Dona Rosa? Pra que tanta formalidade? – Diz, abraçando Dadi.
- Ela resolveu assim. Acha que é o certo. Até a mim ela chama de senhorita Janete! Rsrsrsrsr! Mas eu estou curiosa, me conta o que foi que aconteceu ontem com o tal motoqueiro...
Rosa conta o incidente, não omitindo nem a parte do capacete. Quando termina seu relato, Janete diz:
- Eu queria ser um mosquitinho e ter visto tudo ao vivo! Aposto que o tal motoqueiro ficou indignado! Deve estar com dor até agora! Rsrsrs
- Janete! Como você pode rir de uma coisa dessas? Foi muito... desagradável!
- Desagradável ou não, é muito engraçado! Quando eu contar pro Frazão, amiga! Ele vai ao delírio!
- E quando é que vocês vão casar? Nunca?
- Assim que a fazenda estiver pronta. Ele vem pra cá e juntos vamos tocar o negocio. Meu pai pretende viajar com mamãe em lua de mel ao redor do mundo!
- É tão bonito esse carinho que eles têm um com o outro depois de tantos anos juntos! Acho que é assim, quando se tem amor verdadeiro.
- Também acho. Bem, amiga, o Claude já deve ter lido todos os jornais. Pronta?
- Janete, impressão minha ou você está querendo me por medo?
- Impressão sua. Tenho certeza que você e meu irmão vão se dar muito bem... Vamos!
Janete leva Rosa até a porta do escritório.
- É aqui. Melhor você entrar sozinha para falar com ele, tratar de negócios... – E se afasta antes que Rosa pudesse protestar.
Sem entender a atitude de Janete, Rosa bate na porta.
- Entre - A voz era profunda e decidida, o tom estranhamente conhecido.
Rosa empurra a porta e entra.  Sentado atrás de uma mesa de madeira, o irmão de Janete continuou examinando alguns papéis e nem levantou a cabeça para ver quem era.
Depois de um longo e constrangedor silêncio, quando ele resolve erguer a cabeça, Rosa leva um choque.
- Você!? Você é o irmão da Janete? Eu não acredito!
- Quem non acredita sou eu, d’accord? O que você está fazendo em minha casa? – Os olhos dele agora já não eram tão amigáveis...
Rosa queria responder, mas sua voz não saía. Engoliu em seco, respirou fundo e, por fim, disse:
- Eu sou Serafina Rosa Petroni, a arquiteta contratada pelo seu pai, para adaptar a fazenda. Por acaso não me esperava?
- Non. Eu esperava Serafin R. Petroni, um arquiteto, como estava na planta  do projeto em queston. Você... você é uma mulher! Uma mulher extremamente perigosa, diga-se de passagem! Creio que podemos desfazer o contrato!
- Nunca me ocorreu ter que especificar meu sexo ao lado de meu nome em uma planta! Você só pode estar brincando! Não pode desfazer o contrato assim! Eu tenho tanto conhecimento quanto qualquer arquiteto - Diz enfatizando o “o”.

Continua...

2 comentários:

  1. Mais que homem machista esse Claude.
    Quando tem o próximo capitulo?

    Marli

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  2. OMG eu mato esse engenheiro afff kkkkkkkkkkkkkkkkkk é só um comentário viu gente hahahaha... mato nón!

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