quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

SESSÃO LEITURA - CRÔNICA DO MANDIOCAL - DINAH SILVEIRA DE QUEIROZ

A crônica que reproduzimos abaixo foi escrita por Dinah Silveira de Queiroz.
Para maiores informações sobre a autora, favor acessar: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=459&sid=131.
Boa leitura!

CRÔNICA DO MANDIOCAL

Quem me contou esta é o primo muito querido, Rodrigo de Queiroz Lima. Aconteceu em Belo Horizonte, com um padre que trouxe das profundezas de Goiás um índio bem pequeno, jamais saído de sua taba ('village'). Dentro dela, a vida era sempre igual: a pesca dos homens, a caça e o cuidado geral de todos os membros da tribo com a mandioca. A mandioca era o alimento, a fortuna, o bem-estar social de todo o grupo, significava o grande interesse da pequena coletividade. O índio viu a formosa Belo Horizonte, portanto, pela mão do bom padre. Conheceu até o Mineirão ('soccer stadium in Belo Horizonte'). Viu suas construções modernas, os cinemas, os bancos, as praças e tudo viu sem fazer perguntas, sem mostrar maior curiosidade. Ao sacerdote, aquela atitude do menino parecia incompreensível, pois esperava que o índio, que jamais havia saído de sua tribo, tivesse um choque. Por fim, tudo ficou monótono para o padre. Ele dizia:
"Nesta casa só há cento e vinte "malocas", isto é, cento e vinte apartamentos."
O índio olhava, prestava atenção naquela grande casa onde o homem "civilizado" agregava as suas malocas -- umas sobre outras. Não sorria, não se admirava. Parecia até mesmo que todo aquele mundo de edifícios, toda aquela deslumbrante e feérica realização que é Belo Horizonte, não despertasse no pequeno interesse senão de algo melhor para ver. Depois de mais de quarenta minutos pela cidade, vista de dentro de um carro -- o padre ia na direção ('was driving') - foi que o índio disse com impaciência:
"Meu padim (era assim que chamava o padre), quando é que a gente vai visitar o mandiocal deste povo? Você mostra tudo, mas onde é o mandiocal?"
Todo interesse é ligado à vida de cada um. A grande cidade não valia aos olhos do índio porque não tinha um mandiocal.

Fonte: http://blogdeportugues.blogspot.com.br/2004/09/cronica-do-mandiocal-por-dinah.html.

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