O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’un Ange
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo
XVIII
DUAS
RAPOSAS VELHAS CONVERSAM
Retornando
ao seu gabinete, Ubaldo, o detetive particular, soube pela secretária que o comissário, seu amigo, havia telefonado
duas vezes, tendo deixado recado para que o fosse ver, tão logo estivesse de
volta. Ubaldo Duroi fazia grande questão de nunca desagradar o referido
funcionário, depois de ter mudado de roupa tratou de ir à Chefatura de Polícia.
O
homenzinho calvo que o ajudara a meter nas grades Afonso Houdin recebeu-o muito
cordialmente e, depois de mandá-lo sentar-se, falou assim:
-
Aposto, meu caro Ubaldo Duroi, que, não obstante as suas faculdades
divinatórias quase sobrenaturais, não será capaz de adivinhar o motivo pelo
qual lhe queria falar, hem?
-
Não será para falar sobre Afonso Houdin, creio...
O
semblante do comissário se modificou.
-
Não mencione, por favor, o nome daquela enguia! Esse patife logra sempre
escorregar entre as mãos da justiça, no último momento! Graças a Deus, já não
está mais sob minha responsabilidade...
-
Mas isso não impedirá que ele deseje ver a minha caveira, na primeira ocasião
que se apresentar, pois foi graças a mim que vocês...
-Vamos,
Ubaldo! Não vai me dizer que está com medo...
-
Não é bem isso, mas você sabe que não será nada agradável ter de enfrentá-lo,
de um momento para outro, se lhe der na veneta tirar uma vingança!
-
Em todo caso, penso que Afonso, ao menos por algum tempo, não se arriscará a
circular por aí. A pessoa sobre a qual vamos conversar agora é uma mulher e,
segundo me disseram, muito bela, por sinal...
Ubaldo
pilheriou:
-
Comissário, desde quando voltou a interessar-se por mulheres bonitas?
-
Desde quando estas, fazendo-se passar por quiromantes e explorando gente
simplória, que recorre ingenuamente a este gênero de adivinhões, cobram
verdadeiras fortunas por informações mentirosas, fantasiosas e mirabolantes,
sem que nenhuma de suas vítimas tenha coragem de reclamar, o que é pior.
-
Está querendo referir-se a Ivonne Delapierre?
O
funcionário da polícia não procurou sequer ocultar seu espanto:
-
Mas você é mesmo infernal, Duroi! Será que não existe ninguém que você não
conheça? .
Ubaldo
deu de ombros, modestamente.
-
Não exageremos! Quanto a essa senhora... Sobre o que ela faz, sei muito pouco,
confesso. E nunca lhe pus os olhos em cima!
-
Que pensa dela?
-
Nada, sinceramente... Dizem que é médium e contam coisas muito estranhas sobre
seus trabalhos, mas, que quer? Eu sou um simples investigador particular e só
trabalho para aqueles que me pagam...
-
É um venal...
-
Não, sou um sujeito prático, apenas.
O
comissário inclinou-se para frente sobre a escrivaninha.
-
E não me fará um favor, um pequeno obséquio pessoal que serviria para...
Consolidar ainda mais nossas relações de recíprocas colaborações?
-
Diga do que se trata.
-
Quero saber tudo o que for possível sobre essa mulher!
Ubaldo
Duroi fitou o policial, espantado.
-
E recorre a mim para isso? Um homem na sua situação?!
-
Que há de estranho nisso?
-
Não pode servir-se de algum dos seus auxiliares?
-
Esses são bons para lidar com delinquentes como Afonso Houdin, mas não têm os
requisitos necessários, a classe, digamos, para lidar com uma mulher desse
tipo. Ela os embrulharia como bem quisesse! Além disso, não quero dar um
caráter de investigação oficial ao assunto. Eis porque gostaria de contar com
você.
O
detetive ficou um instante pensativo. Trabalhar de graça não era coisa que lhe
agradasse, mas, por outro lado, não queria descontentar o comissário, que lhe
poderia ser muito útil em qualquer oportunidade. De resto, já haviam chegado
aos seus ouvidos murmúrios curiosos sobre Ivonne Delapierre, e não desgostava
de investigar um pouco mais profundamente as transações da quiromante.
-
E então? - perguntou o funcionário.
-
Está certo - decidiu Ubaldo, levantando-se. - Tem muita urgência o caso? Para
quando deseja as informações?
-
O mais cedo possível, é claro!
-
Farei o melhor que puder para atender ao seu pedido.
Na
tarde do dia seguinte, uma charrete parou diante do palacete da quiromante.
Dela desceu um velho de cabelos brancos que, depois de ter ajustado o monóculo,
apoiando-se numa bengala de bastão de prata, tocou a campainha e foi
introduzido no palacete pelo hindu baixotinho, que o deixou no tal salão, cujas
poltronas eram forradas com pele de leopardo.
Mal
o ancião acabou de sentar, o som sinistro do gongo se fez ouvir novamente,
ressoando pela casa, e um jovem elegantíssimo foi introduzido na peça onde ele
se encontrava. O novo visitante, em vez de sentar-se, começou a andar pela
salinha, dando mostras de enorme agitação, ajeitando de vez em quando os
cabelos.
Poucos
minutos haviam decorrido, quando o hindu tornou a aparecer e, depois de olhar o
velho e o rapaz, fez sinal a este para que passasse à outra sala.
Quando
ficou a sós, o velho ergueu a cabeça, que mantivera abaixada até então e
murmurou entre dentes:
-
Ora vejam! O barão Luís Paulo de Rastignac numa quiromante! Gostaria de saber o
que pretende conseguir dela... Nunca imaginei que um homem como ele, da alta
sociedade, acreditasse nessas coisas...
Ubaldo,
pois se tratava efetivamente dele, sob um dos múltiplos disfarces que possuía,
pensou imediatamente em Rosana, que ele havia introduzido no serviço do
palácio, como camareira da baronesinha Denise.
A
certa altura, o detetive foi bruscamente perturbado em seus pensamentos por um
ruído estranho proveniente da parede fronteira à que estava às suas costas.
Tomado de curiosidade, levantou-se e apoiou a mão na tapeçaria. Viu, então, que
atrás desta havia uma porta oculta, muito bem dissimulada, cujo fecho
automático, talvez por um contato indevido, havia cedido, produzindo o ruído
que lhe chamara a atenção. "Estou começando bem", pensou Ubaldo.
"Estou a poucos minutos nesta casa e já descobri uma porta secreta! A tal
quiromante deve ser uma pessoa que entende do seu mister... Ficarei
atento!"
Depois
de um instante de hesitação, empurrou a porta e avançou, puxando-a logo atrás
de si. Encontrou-se, então, num cubículo estreito, uma espécie de cela, cuja
utilidade, ou finalidade, não conseguiu descobrir de imediato. Acostumando-se,
porém, à escuridão e aguçando a vista, descobriu uma tira de vidro, bem à
altura de seus olhos, muito estreita, por onde se via uma réstia de claridade
da outra sala no interior da casa. “Isto aqui tem todo o jeito de ser uma
espécie de observatório”, pensou consigo, olhando receoso para trás, temendo
que o hindu aparecesse às suas costas, vindo da sala de espera. Não o vendo
ali, avançou um passo, colou o rosto à lâmina de vidro e olhou através dela.
Então um sorriso de satisfação se estampou em seu rosto! Dali, pelo visor,
podia se avistar perfeitamente uma sala toda atapetada de azul e iluminada com
uma luz suave que provinha de lâmpadas dissimuladas na parede, fazendo uma
iluminação indireta.
A
quiromante, com as mãos apoiadas sobre uma bola de cristal docemente iluminada,
estava falando com Luís Paulo de Rastignac, que se encontrava em pé.
-
Não há segredos entre o céu e a terra que esta bola mágica não consiga
desvendar...
Encostando
o ouvido à parede fina, na abertura onde estava encaixada a lâmina de vidro,
Ubaldo pôde ouvir o que diziam.
Tudo
indicava que a vidente tinha ido encontrar-se com seu visitante naquele mesmo
momento, porque ela lhe estava justamente perguntando:
-
Qual o motivo que o trouxe a mim, senhor?
-
Sou o barão Luís Paulo de Rastignac - disse o fidalgo - e recebi um bilhete,
sem assinatura, convidando-me a comparecer a esta casa, hoje... Peço desculpas
se lhe digo que não acredito em feiticeiras e nos seus misteriosos globos de
cristal.
-
Se soubesse que se tratava de uma coisa assim... Não teria vindo?
-
Francamente... Não!
-
Pois teria feito muito mal! E agora, uma vez que já está aqui, sente-se, por
favor.
O
rapaz obedeceu e, enquanto isso, o detetive Ubaldo aguçava o mais que podia os
ouvidos, ansioso por ouvir mais e melhor. Tinha o pressentimento de que iria
ocorrer qualquer coisa muito interessante.
-
O senhor desfruta uma situação muito brilhante - disse a quiromante, fitando
intensamente o jovem barão - mas ultimamente tem sofrido muito...
-
Verdade... - admitiu Luís Paulo.
-
Casou-se com uma jovem muito bonita, boa e terna... Na aparência. Mas essa
moça... É indigna do seu amor.
Luís
Paulo se pôs de pé imediatamente, exclamando:
-
Minha senhora, como ousa?!...
-
Sente-se! - ordenou imperiosamente a cartomante. - Não estou fazendo mais do
que dizer, em voz alta, o que estou lendo nesse globo mágico que injustamente
despreza. A sua esposa lhe é infiel, tenho certeza! Casou-se com ela envolvido
numa trama de mentiras e de enganos.
-
Está acabando com minha paciência, pois não creio no que me diz!
-
Espere um pouco, barão. Olhe-me bem nos olhos... Olhe-me fixamente, como eu
estou fazendo. Digo-lhe que tampouco o senhor é fiel à sua mulher, sequer em
pensamento... Vejo a jovem que o senhor ama, aquela que busca e que neste
instante mesmo ocupa seu pensamento... Seu coração! Quer que eu lhe diga quem é
essa jovem?
-
Luís Paulo, verdadeiramente estupefato, sem compreender como a mulher que tinha
à sua frente podia saber tudo aquilo, conhecer seu mais íntimo segredo, embora
sentindo que já devia ter saído dali, anuiu com a cabeça.
-
A moça que o senhor ama - continuou a feiticeira - é muito jovem e tem sofrido
muito, tanto quanto o senhor... O senhor pensa nela a todo instante e sente
remorso por não a ter desposado e ter-se unido a uma outra, que não é digna do
senhor. Não consegue esquecê-la nunca e sofre terrivelmente com isso...
O
barão, malgrado seu, anuiu novamente.
-
O senhor sofre porque não tem força necessária para pôr de lado os falsos
sentimentos que o ligam à sua mulher, para divorciar-se e seguir aquela que lhe
daria a felicidade perdida!... O senhor a ama, não é verdade? Pois deve ter
coragem de lutar! Sei que sua alma está destroçada, sua mente perturbada, mas
deve seguir o que diz seu coração! Só assim pode ter certeza de não errar! O
senhor foi totalmente iludido, enganado ao ponto de trocar aquele amor casto e
puro pelo de sua mulher indigna!
Luís
Paulo revoltava-se ante o insulto que aquela mulher lançava sobre Denise. Não
acreditava no que ela dizia, naquelas frases arrogantes, mas, malgrado seu,
surpreendia-se, ouvindo-a, procurando penetrar no significado delas, como se
estivesse sugestionado pela atmosfera que o cercava, naquela casa com ambiente
de bruxaria. Como se uma força misteriosa o impelisse, disse:
-
E se eu admitisse que tudo o que a senhora diz é verdade? Que importância teria
isso? Por que devo eu combater, como a senhora diz? A mulher que eu amava mais
que minha própria vida está morta agora. Muito embora certo indício me tenha
podido levar a pensar o contrário, estou convicto de que assim é... Como
deverei proceder, então? Deverei fazer a infelicidade de minha mulher, para
andar procurando um fantasma?
-
Por que um fantasma?
Luís
Paulo se levantou e passou a mão pelos olhos, como para afastar a imagem de
Maria "Flor de Amor", que as palavras daquela estranha vidente haviam
evocado e que, ao mesmo tempo, faziam voltar a doer terrivelmente a ferida
sempre aberta em seu coração.
-
Que é que o leva a acreditar que a mulher que ama tenha morrido? - insistiu a
quiromante. - Que é que o leva a crer nisso?
-
Tudo! Tudo! - exclamou Luís Paulo a contragosto e como se não pudesse furtar-se
à influência dos olhos magnéticos daquela mulher, fixos nos seus. - Há pouco
tempo tive motivo para crer que ela ainda vivesse, que estivesse em casa de um
médico...
-
Teve motivo para crer? Que quer dizer com isso?
-
Por causa de uma carta que comunicava a morte da mãe do tal médico. Trazia a
assinatura dela...
-
E era, realmente, a assinatura da moça que o senhor sempre amou?
Luís
Paulo ficou indeciso, fez um gesto nervoso:
-
Não sei... Não sei... E é esta dúvida que me atormenta! A partir daquele
momento, meu sofrimento aumentou... Vivo continuamente num estado de incerteza,
de dúvida! Há ocasiões em que tenho medo de enlouquecer! E já devo estar mesmo
louco, falando como estou sobre esse doloroso drama de minha vida com a
senhora, contando coisas que nunca deveria falar em voz alta e que jamais
revelei a ninguém!
O
jovem barão, dizendo isso, fez menção de deixar a sala, mas a cartomante,
erguendo-se, por sua vez, o reteve, pondo-lhe a mão no braço.
-
Não se vá ainda, barão.
Luís
Paulo fitou os olhos verdes, olhos de serpente, daquela mulher. Um estranho
mal-estar se apoderava dele, provindo daquele olhar hipnótico e pela primeira
vez, desde quando ali entrara, reparou como a vidente era bonita.
-
Nada mais temos a nos dizer, minha senhora - murmurou tristemente. - Tenho a
impressão de que a descrição do meu sofrimento deve ter-lhe parecido
inoportuna...
-
Não pense assim. Diga-me antes: não mandou procurar a moça? Não falou com o tal
médico em cuja casa ela devia se encontrar?
Uma
ruga sulcou a fronte do barão de Rastignac.
-
Fiz tudo o que foi possível... Mas parece que uma estranha fatalidade se volta
contra mim, contra ela... Não consegui encontrá-la. Ela tinha saído da casa de dona
Dorotéia sem deixar endereço algum com a empregada que cuidava da velha
senhora.
Um
leve sorriso surgiu nos lábios da quiromante.
-
O senhor não confia em mim, não é, barão? Pois apesar disso, por que não me dá
o encargo de reencontrar a mulher que o senhor tanto ama?
-
Agora esse é um amor sem esperança. Reagi, tendo a força suficiente para
renunciar a essa criatura ideal tão querida para mim e consagrar minha atenção
e os meus cuidados àquela que é minha esposa.
-
Dedica-lhe muita estima, parece...
-
É natural...
-
É pena, porque ela não o merece!...
A
voz da quiromante se fizera estridente. Luís Paulo, repentinamente revoltado,
deu um passo atrás.
-
Minha senhora, está ultrapassando os limites! Não admito que continue
insultando a mulher com quem estou casado! Mesmo que me encontre, relativamente
a ela, numa situação muito especial. Mesmo que meu coração não lhe pertença,
ela goza de toda a minha estima.
Inesperadamente,
Ivonne Delapierre soltou uma risada irônica.
-
Sua estima! Ah, ah, ah! O senhor é ainda muito moço, barão de Rastignac. Mas, por
sorte, teve o bom-senso de vir a mim e eu lhe abrirei os olhos!
-
Penso que isso não vai suceder, porque não teremos mais ocasião de nos tornar a
ver...
-
Quem sabe? O senhor já viu que eu sei muitas coisas e muitas outras mais viria
a saber. Quero ser sua amiga e procuro ajudá-lo. Seria uma tolice de sua parte,
recusar isso.
-
Ao contrário, seria uma insensatez aceitá-lo.
-
Faça como quiser, mas eu repito que anda errado, depositando tanta confiança em
sua mulher e me reservo o direito de lhe fornecer até provas de como agiu
falsamente com o senhor...
Luís
Paulo, que sentia a cabeça confusa, olhou-a por alguns instantes, indeciso.
-
Mas... E a senhora, que interesse tem em me provar isso? - indagou.
Ivonne
Delapierre lhe deu as costas e ficou parada, contemplando o globo de cristal.
-
Fiz-lhe uma pergunta! - insistiu o barão.
-
E eu acho improcedente responder-lhe, por agora.
O
jovem levou a mão à maçaneta da porta.
-
Já ouvi o bastante, minha senhora - disse com firmeza e decisão. – Se a senhora
não fosse, como é, para mim, apenas uma desconhecida, poderia pensar que seu
único interesse é o de me fazer suspeitar de minha mulher...
-
E se fosse assim?
-
Não posso acreditar nisso. Seria absurdo. Apenas o meu estado de alma, minha
inquietude interior, me fez vir até aqui, até esta casa, em seguida ao recado
que recebi, mas devo dizer, sinceramente, que estou arrependido disso.
A
quiromante se virou novamente para ele e, assim, muito perto da bola de
cristal, iluminada em pleno dia pela luz de uma lâmpada, tinha um quê de
fantástico e de irreal, naquele aposento de janelas fechadas, onde não podia
entrar o sol.
-
Pense o que quiser - disse Ivonne. - Mas não creia na possibilidade de alterar
o curso do destino. O senhor vai se lembrar de tudo o que lhe disse, quando
verificar a verdade das minhas palavras e então pensará em mim...
-
Não acho que isso possa acontecer!
-
Pois eu, ao contrário, estou certíssima. E não vai demorar muito, talvez antes
de três dias...
Luís
Paulo, sem dizer mais uma palavra, abriu a porta e deu um passo para sair, mas
pareceu lembrar-se de qualquer coisa e, virando a cabeça, perguntou:
-
Não me disse o preço da sua "consulta", senhora...
Com
um sorriso sarcástico nos lábios, Ivonne Delapierre se aproximou dele.
-
Meu preço? Foi o que disse?
Perturbado
com a proximidade da estranha e misteriosa criatura, Luís Paulo hesitou, mas
respondeu:
-
Sempre ouvi dizer que as videntes cobram pelo que chamam seu trabalho...
A
mulher ergueu a mão e lhe roçou o rosto, numa espécie de suave carícia, ao
tempo que fazia um signo cabalístico.
Naquele
instante, Luís Paulo teve a impressão de já ter algum dia visto aquele rosto,
cujos traços principais a iluminação proveniente de um ângulo anormal, a luz
vermelha e mais a maquilagem excessiva, não lhe permitiam ver direito. Mas, no
momento em que pensou em observá-lo melhor, a quiromante, como se tivesse
perdido repentinamente todo o interesse por ele, ou tivesse percebido sua
curiosidade em observá-la, impeliu-o para fora da sala, fechando a porta atrás
dele.
Depois
de ter permanecido por um instante indeciso, Luís Paulo caminhou para a saída.
Quando,
porém, ia atravessando o salão, alguém que ele não viu imediatamente o chamou,
perguntando:
-
O senhor é o barão Luís Paulo de Rastignac?
Admirado,
o jovem penetrou na semi-obscuridade da antecâmara, e ali deu com um homem,
aparentemente muito velho, que estava de pé à sua frente.
-
Quem é o senhor? Que quer? - perguntou um pouco contrariado.
-
Não creia no que lhe disse aquela mulher - continuou o velho, sem se perturbar
com o acolhimento que lhe dera o fidalgo. - Ela mente!
-
Como é que o senhor sabe?
-
Oh! Mas é simples!Mas seria demasiado longo tentar explicar-lhe, pois poderá
aparecer aqui aquele hindu, que não me agrada nem um pouco. Mas tenha em mente
o que eu lhe estou dizendo!
O
velhinho fez menção de tornar a entrar na sala de espera, mas desta feita foi
Luís Paulo que o deteve:
-
Mas, afinal - exclamou, falando um pouco alto - posso saber quem é o senhor?
O
homem se voltou rápido elevou um dedo à boca.
-
Não fale alto assim! Aqui, até as paredes têm ouvidos! Se a nossa vidente
suspeitasse quem eu sou, tremeria de medo! E eu, por minha vez, morro de desejo
de lhe pôr a mão em cima...
-
O senhor é da polícia?
-
Sim e não. Sou Ubaldo Duroi, o investigador.
-
Por esta eu não esperava! - disse Luís Paulo, cheio de admiração. - E... Por
que está aqui com esse disfarce?
O
detetive segredou:
-
Observo... Sabe, sou um homem que tem necessidade de estar sempre muito bem
informado, de saber tudo... Mas, agora vai ser a minha vez de ser atendido por
madame Ivonne Delapierre. Eu lhe darei notícias minhas...
Cada
vez mais confuso, sem saber mais o que fazia, o barão saiu, da casa da
cartomante. Quando chegou ao ar livre, à rua, iluminada por um bonito sol,
ficou ao lado de sua charrete por algum tempo, pensando, tendo a impressão de
que havia sonhado. Intuía mais do que sentia, uma presença perto de si. Uma
presença como a que por tanto tempo havia buscado, mas sempre lhe fugira. Como
se impulsionado por uma força superior, voltou a cabeça e olhou para a
residência da quiromante. Foi coisa de um segundo, mas teve a sensação de ter
visto uma cortina abaixar-se, ocultando à sua vista um rosto e uns cabelos
louros de mulher...
Será que Ubaldo descobrirá o segredo de Renata. Vamos aguardar. Mas as história está pegando fogo... Muito bom!
ResponderExcluirEsse Ubaldo, é fogo! Mas, tenho medo que se torne aliado de Renata, acho que ele não é flor que se cheire rsrsrs. Renata, quer destruir a própria filha, imagino o que não fará com a pobre Maria! Muito bom!
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