quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O INFERNO DE UM ANJO - CAPÍTULO 20 - PARTE 2 - COLABORAÇÃO: PAULO SENA



O INFERNO
DE UM ANJO

Romance-folhetim



Título original:
L’enfer d’unAnge



Henriette de Tremière/o inferno de um anjo

(Texto integral) digitalizado
e revisado por Paulo Sena

Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL


Capítulo XX

UMA NOITE DE PAVOR (CONTINUAÇÃO)


- Com que, então, preparou-me uma armadilha? Não foi por generosidade que me ajudou! Foi apenas com o objetivo de me arrastar para o mal! Ah! Como sou infeliz! Em que degradação vim cair.
Dirigiu-se à porta, mas Viviana foi-lhe novamente ao encalço, e enquanto Maria "Flor de Amor" se debatia, viu que a outra, de repente soltava-a, levando as mãos ao peito.
- Ai! Eu morro! Sinto-me mal...
- Meu Deus! Que está sentindo? - perguntou a jovem. - Venha, deite-se na cama.
Procurou ampará-la, Viviana tinha os olhos fechados, parecia quase não respirar.
- Quero ajudá-la!... Diga, diga o que sente...
Neste crítico momento. Maria "Flor de Amor" ouviu baterem à porta da rua e correu a atender. Um senhor alto, elegante, de meia-idade, surgiu ante seus olhos.
- Boa noite, querida - disse ele, impressionado com a beleza da jovem. - Sou Leopoldo Verdier e tenho a certeza de que é a jovem sobre a qual Viviana me falou...
- Sou, sim, senhor. Mas... - e estava quase a dizer-lhe que queria ir embora, que não tinha motivo algum para permanecer ali, com ele, que estava revoltada só em pensar o que ele esperava dela, mas lembrou-se de que a mulher estava passando mal e disse:
- Entre. Viviana está doente, será preciso talvez chamar um médico, temos que fazer alguma coisa por ela. Não sei o que tem, nunca a vi assim... Está muito pálida!
Leopoldo Verdier fez um gesto de desdém:
- Oh! Logo agora! - exclamou, Vendo, porém, como a jovem estava apavorada, e não querendo chocá-la e atrair sua antipatia, entrou na sala, que atravessou, e se dirigiu ao quarto onde estava Viviana, que nesse ínterim já abrira os olhos.
- Que está sentindo? - perguntou. - Que aconteceu?
A mulher não respondeu, mas tentou sorrir, e seu sorriso não passou de uma careta.
- Ah! Deve ter bebido - disse Leopoldo. - Acontece frequentemente. Não se preocupe com ela.
- Não acha que está mal, não receia que... - ia quase dizer, que ela morra, mas a palavra lhe trouxe ainda mais terror. - Um médico... Ela precisa de um médico!
- Nada disso! Já a vi neste estado outras vezes! - retrucou Leopoldo Verdier. - Deixemo-la sossegada. Vamos dar-lhe um calmante... Deve haver algum nesta casa e verá como tudo vai passar.
Enquanto Maria "Flor de Amor" examinava de novo a mulher, ele foi até o, banheiro e logo depois voltava com um cálice. Aproximou-se de Viviana e forçou-a a beber o conteúdo.
- Pronto! Vai ver como tudo passa - disse a Maria "Flor de Amor". - Deixemo-la a sós e já vai melhorar.
Voltou para a sala e procurou sentar-se.
- Peço-lhe, senhorita, sente-se, primeiro. Vamos conversar vamos tratar de nos conhecer, não acha?
- Oh! Senhor! - murmurou Maria "Flor de Amor". - Este não é o momento oportuno para conversas. Estou desesperada, nem sei o que faço nem o que digo. Preciso ir ao encontro de um homem que está sofrendo, que está sendo acusado injustamente.
- Onde está esse homem? - perguntou Leopoldo Verdier.
- Levaram-no para o xadrez.
- Se está realmente na prisão, não poderá vê-lo à esta hora! Muito mais acertado será consultar previamente um advogado. Conheço um que é ótimo, é muito meu amigo e por isso posso procurá-lo a qualquer hora, mesmo a estas horas da noite.
- Acha que ele me ouvirá? Que me aconselhará sobre o que devo fazer? E é um homem direito em quem eu possa confiar?
A pobre Maria "Flor de Amor" fitava o desconhecido com olhos cheios de expectativa. Há poucos minutos pensava que não devia nem queria dirigir a palavra àquele homem, mas agora lhe parecia que só dele dependia sua salvação.
- Oh! Ajude-me, senhor, eu lhe suplico! Ajude-me, peço! Sou sozinha no mundo!
- Mas é claro! - disse ele. - É dever de um Cavalheiro ajudar uma pobre senhorita que se acha em dificuldades.
Já o homem do barco dissera aquilo mesmo, e Maria “Flor de Amor” pensou que estava errada, imaginando que a humanidade era muito menos cruel do que lhe parecera até então, que fora do terrível manicômio onde Démon a mantivera reclusa por tanto tempo, havia possibilidade de viver em paz.
- Venha comigo - disse Leopoldo, - se deseja realmente falar com o advogado, temos de partir, não podemos perder tempo. Senão, talvez seja tarde. Minha "charrette" está ai fora.
Tomou-lhe gentilmente o braço e conduziu-a consigo.
- O senhor é muito bondoso... - balbuciou Maria "Flor de Amor". - Nesta trágica noite, todos procuram ajudar-me, e isso me encoraja.
- Venha - repetiu ele.
No portão, fora, estava a "charrette", com um cavalo. Leopoldo Verdier ajudou a mocinha a acomodar-se no veículo e em seguida sentou-se ao lado dela.
A charrete corria veloz dentro da madrugada. A estrada estava deserta, não se via vivalma. Alcançaram a cidade, atravessaram boa parte dela. Quando Maria "Flor de Amor" verificou que a parte urbana ia ficando para trás, disse espantada:
- Mas, afinal, onde é que mora o advogado seu amigo? O senhor disse que era na cidade. Precisamos voltar...
- Que é que receia, senhorita? - perguntou Leopoldo Verdier. - Confie em mim, fique tranquila, nada lhe acontecerá.
As palavras de seu acompanhante desejavam ser tranquilizadoras, mas a pobre Maria "Flor de Amor" já estava trêmula e desejava livrar-se quanto antes daquela presença desagradável.
Que desgraça lhe estaria reservada agora? Tentou fechar os olhos, não pensar em nada. Leopoldo Verdier, enquanto isso, se calava e cuidava das rédeas do cavalo.
- Moço - disse de repente Maria "Flor de Amor", depois de ter olhado a estrada que se tornava cada vez mais desabitada - ou o senhor me deixa descer aqui, ou eu me atiro da "charrette". O que está fazendo comigo é ignóbil, sou uma mulher só e indefesa!
Leopoldo lhe cingiu a cintura com um dos braços e atraiu seu corpo para si, com paixão:
- Pensei que iria passar uma noite alegre em sua companhia - respondeu. - Se não fosse aquela velha maluca ter adoecido repentinamente, a esta hora estaríamos a beber e a nos divertir.
- Beber, divertir-me! Que absurdo! Nem sequer o conheço e, além disso, não estou habituada a essas coisas. Já lhe disse que concordei em acompanhá-lo porque queria entrevistar-me com o advogado do qual o senhor falou. Tenha piedade, de mim, senhor. Tudo me é adverso, sou muito infeliz...
Leopoldo apertou-a mais, procurou com os lábios o rosto dela e, enquanto ela se debatia tomada de pavor e de repugnância, ele disse-lhe:
- Você é tão jovem, tão graciosa... Verá que eu lhe darei tudo o que uma garota pode desejar. Eu a amarei, querida. Agrada-me tanto o seu ar inocente, encanta-me tudo em você, seus cabelos e seus olhos são tão lindos...
- Socorro! - gritou Maria "Flor de Amor" e tentou saltar da "charrete", mas o homem a mantinha presa junto dele.
- Fique calminha, deve ficar calminha, por que a viagem é longa - acrescentou Leopoldo. - Tome, isto é um cordial. Beba um gole e verá como esse medo passa...
Maria "Flor de Amor", debatendo-se, tentou afastar a bebida de si, masVerdier a obrigou a ingerir, encostando o pequeno cantil de bolso à sua boca. Bebeu e sentiu um estranho calor invadir-lhe o organismo, depois um grande torpor, e fechou os olhos. E enquanto o poderoso narcótico começou a fazer efeito, pensou: "Não me salvarei... Estou perdida. Oh! meu pobre Luís Paulo, o homem da minha vida, se não for meu irmão!..."
- Para onde me leva? - conseguiu perguntar ainda, com os lábios lívidos e trêmulos. - Para onde está indo?
- Vamos para a minha fazenda, onde eu sou como um rei e você será a minha feliz rainha. Saberei conquistar seu coração, você terá jóias, muito ouro e pedrarias, vestidos suntuosos, tudo quanto puder desejar...
- Para a sua fazenda? - balbuciou ainda a infeliz. - Mas o que está fazendo é horrível, senhor! É horrível!
E vencida pelo poderoso narcótico e pelo terror que a dominava, perdeu os sentidos.

2 comentários:

  1. Paulo, pobre Maria, não é só uma noite de pavor, mas uma vida! Coitada, que destino cruel! Será que ainda vai sofrer muito? Que folhetim emocionante! Bjs.

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  2. É folhetim puro, toda hora surge um novo obstáculo no caminho dos heróis. Que dureza! kkkkkkkkkk

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