O INFERNO
DE UM ANJO
Romance-folhetim
Título original:
L’enfer d’unAnge
Henriette de Tremière/o inferno de um anjo
e revisado por Paulo Sena
Rev. G.H.
BIBLIOTECA GRANDE HOTEL
Capítulo XX
UMA NOITE DE PAVOR (CONTINUAÇÃO)
-
Com que, então, preparou-me uma armadilha? Não foi por generosidade que me
ajudou! Foi apenas com o objetivo de me arrastar para o mal! Ah! Como sou
infeliz! Em que degradação vim cair.
Dirigiu-se à porta, mas Viviana foi-lhe novamente ao encalço, e enquanto Maria "Flor de Amor" se debatia, viu que a outra, de repente soltava-a, levando as mãos ao peito.
Dirigiu-se à porta, mas Viviana foi-lhe novamente ao encalço, e enquanto Maria "Flor de Amor" se debatia, viu que a outra, de repente soltava-a, levando as mãos ao peito.
-
Ai! Eu morro! Sinto-me mal...
-
Meu Deus! Que está sentindo? - perguntou a jovem. - Venha, deite-se na cama.
Procurou
ampará-la, Viviana tinha os olhos fechados, parecia quase não respirar.
-
Quero ajudá-la!... Diga, diga o que sente...
Neste
crítico momento. Maria "Flor de Amor" ouviu baterem à porta da rua e
correu a atender. Um senhor alto, elegante, de meia-idade, surgiu ante seus
olhos.
-
Boa noite, querida - disse ele, impressionado com a beleza da jovem. - Sou
Leopoldo Verdier e tenho a certeza de que é a jovem sobre a qual Viviana me
falou...
-
Sou, sim, senhor. Mas... - e estava quase a dizer-lhe que queria ir embora, que
não tinha motivo algum para permanecer ali, com ele, que estava revoltada só em
pensar o que ele esperava dela, mas lembrou-se de que a mulher estava passando
mal e disse:
-
Entre. Viviana está doente, será preciso talvez chamar um médico, temos que
fazer alguma coisa por ela. Não sei o que tem, nunca a vi assim... Está muito
pálida!
Leopoldo
Verdier fez um gesto de desdém:
-
Oh! Logo agora! - exclamou, Vendo, porém, como a jovem estava apavorada, e não
querendo chocá-la e atrair sua antipatia, entrou na sala, que atravessou, e se
dirigiu ao quarto onde estava Viviana, que nesse ínterim já abrira os olhos.
-
Que está sentindo? - perguntou. - Que aconteceu?
A
mulher não respondeu, mas tentou sorrir, e seu sorriso não passou de uma
careta.
-
Ah! Deve ter bebido - disse Leopoldo. - Acontece frequentemente. Não se
preocupe com ela.
-
Não acha que está mal, não receia que... - ia quase dizer, que ela morra, mas a
palavra lhe trouxe ainda mais terror. - Um médico... Ela precisa de um médico!
-
Nada disso! Já a vi neste estado outras vezes! - retrucou Leopoldo Verdier. -
Deixemo-la sossegada. Vamos dar-lhe um calmante... Deve haver algum nesta casa
e verá como tudo vai passar.
Enquanto
Maria "Flor de Amor" examinava de novo a mulher, ele foi até o,
banheiro e logo depois voltava com um cálice. Aproximou-se de Viviana e
forçou-a a beber o conteúdo.
-
Pronto! Vai ver como tudo passa - disse a Maria "Flor de Amor". -
Deixemo-la a sós e já vai melhorar.
Voltou
para a sala e procurou sentar-se.
-
Peço-lhe, senhorita, sente-se, primeiro. Vamos conversar vamos tratar de nos
conhecer, não acha?
-
Oh! Senhor! - murmurou Maria "Flor de Amor". - Este não é o momento
oportuno para conversas. Estou desesperada, nem sei o que faço nem o que digo.
Preciso ir ao encontro de um homem que está sofrendo, que está sendo acusado
injustamente.
-
Onde está esse homem? - perguntou Leopoldo Verdier.
-
Levaram-no para o xadrez.
-
Se está realmente na prisão, não poderá vê-lo à esta hora! Muito mais acertado
será consultar previamente um advogado. Conheço um que é ótimo, é muito meu
amigo e por isso posso procurá-lo a qualquer hora, mesmo a estas horas da
noite.
-
Acha que ele me ouvirá? Que me aconselhará sobre o que devo fazer? E é um homem
direito em quem eu possa confiar?
A
pobre Maria "Flor de Amor" fitava o desconhecido com olhos cheios de
expectativa. Há poucos minutos pensava que não devia nem queria dirigir a
palavra àquele homem, mas agora lhe parecia que só dele dependia sua salvação.
-
Oh! Ajude-me, senhor, eu lhe suplico! Ajude-me, peço! Sou sozinha no mundo!
-
Mas é claro! - disse ele. - É dever de um Cavalheiro ajudar uma pobre senhorita
que se acha em dificuldades.
Já
o homem do barco dissera aquilo mesmo, e Maria “Flor de Amor” pensou que estava
errada, imaginando que a humanidade era muito menos cruel do que lhe parecera
até então, que fora do terrível manicômio onde Démon a mantivera reclusa por
tanto tempo, havia possibilidade de viver em paz.
-
Venha comigo - disse Leopoldo, - se deseja realmente falar com o advogado,
temos de partir, não podemos perder tempo. Senão, talvez seja tarde. Minha
"charrette" está ai fora.
Tomou-lhe
gentilmente o braço e conduziu-a consigo.
-
O senhor é muito bondoso... - balbuciou Maria "Flor de Amor". - Nesta
trágica noite, todos procuram ajudar-me, e isso me encoraja.
-
Venha - repetiu ele.
No
portão, fora, estava a "charrette", com um cavalo. Leopoldo Verdier
ajudou a mocinha a acomodar-se no veículo e em seguida sentou-se ao lado dela.
A
charrete corria veloz dentro da madrugada. A estrada estava deserta, não se via
vivalma. Alcançaram a cidade, atravessaram boa parte dela. Quando Maria
"Flor de Amor" verificou que a parte urbana ia ficando para trás,
disse espantada:
-
Mas, afinal, onde é que mora o advogado seu amigo? O senhor disse que era na
cidade. Precisamos voltar...
-
Que é que receia, senhorita? - perguntou Leopoldo Verdier. - Confie em mim,
fique tranquila, nada lhe acontecerá.
As
palavras de seu acompanhante desejavam ser tranquilizadoras, mas a pobre Maria
"Flor de Amor" já estava trêmula e desejava livrar-se quanto antes
daquela presença desagradável.
Que
desgraça lhe estaria reservada agora? Tentou fechar os olhos, não pensar em
nada. Leopoldo Verdier, enquanto isso, se calava e cuidava das rédeas do
cavalo.
-
Moço - disse de repente Maria "Flor de Amor", depois de ter olhado a
estrada que se tornava cada vez mais desabitada - ou o senhor me deixa descer
aqui, ou eu me atiro da "charrette". O que está fazendo comigo é
ignóbil, sou uma mulher só e indefesa!
Leopoldo
lhe cingiu a cintura com um dos braços e atraiu seu corpo para si, com paixão:
-
Pensei que iria passar uma noite alegre em sua companhia - respondeu. - Se não
fosse aquela velha maluca ter adoecido repentinamente, a esta hora estaríamos a
beber e a nos divertir.
-
Beber, divertir-me! Que absurdo! Nem sequer o conheço e, além disso, não estou habituada
a essas coisas. Já lhe disse que concordei em acompanhá-lo porque queria
entrevistar-me com o advogado do qual o senhor falou. Tenha piedade, de mim,
senhor. Tudo me é adverso, sou muito infeliz...
Leopoldo
apertou-a mais, procurou com os lábios o rosto dela e, enquanto ela se debatia
tomada de pavor e de repugnância, ele disse-lhe:
-
Você é tão jovem, tão graciosa... Verá que eu lhe darei tudo o que uma garota
pode desejar. Eu a amarei, querida. Agrada-me tanto o seu ar inocente,
encanta-me tudo em você, seus cabelos e seus olhos são tão lindos...
-
Socorro! - gritou Maria "Flor de Amor" e tentou saltar da
"charrete", mas o homem a mantinha presa junto dele.
-
Fique calminha, deve ficar calminha, por que a viagem é longa - acrescentou
Leopoldo. - Tome, isto é um cordial. Beba um gole e verá como esse medo
passa...
Maria
"Flor de Amor", debatendo-se, tentou afastar a bebida de si,
masVerdier a obrigou a ingerir, encostando o pequeno cantil de bolso à sua
boca. Bebeu e sentiu um estranho calor invadir-lhe o organismo, depois um
grande torpor, e fechou os olhos. E enquanto o poderoso narcótico começou a fazer
efeito, pensou: "Não me salvarei... Estou perdida. Oh! meu pobre Luís
Paulo, o homem da minha vida, se não for meu irmão!..."
-
Para onde me leva? - conseguiu perguntar ainda, com os lábios lívidos e
trêmulos. - Para onde está indo?
-
Vamos para a minha fazenda, onde eu sou como um rei e você será a minha feliz
rainha. Saberei conquistar seu coração, você terá jóias, muito ouro e
pedrarias, vestidos suntuosos, tudo quanto puder desejar...
-
Para a sua fazenda? - balbuciou ainda a infeliz. - Mas o que está fazendo é
horrível, senhor! É horrível!
E
vencida pelo poderoso narcótico e pelo terror que a dominava, perdeu os
sentidos.
Paulo, pobre Maria, não é só uma noite de pavor, mas uma vida! Coitada, que destino cruel! Será que ainda vai sofrer muito? Que folhetim emocionante! Bjs.
ResponderExcluirÉ folhetim puro, toda hora surge um novo obstáculo no caminho dos heróis. Que dureza! kkkkkkkkkk
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