André partiu, não sem antes arranjar uma empregada, Maria, para ficar fazendo companhia a Carina. Já no Rio, cumpriu à risca todo o planejado. Compareceu à Assembléia e conseguiu destituir César. Tiago foi nomeado presidente das empresas e Horácio Limeira Brandão, tio de Carina, assumiu a vice-presidência.
André também reviu Ana Preta, que lhe mostrou os bilhetes escritos por Baldaracci e Malta. Mas ele tinha coisa mais séria com que se preocupar. César, na reunião em que foi destituído, deixara bem claro que se vingaria. Ocorre que André podia se defender, mas para isso precisava jogar cartada definitiva e perigosa. O que estava acontecendo era o seguinte: Romão, ordenado padre, ficara na paróquia de Nilópolis. Cheio de boa fé e ardor cristão, iniciara intenso serviço social. Fundara uma creche e uma espécie de ambulatório, onde atendia os que necessitavam de cuidados médicos, remédios etc. Pois um belo dia Pepo, doente, sempre fugindo da polícia, apareceu no ambulatório, à procura de refúgio e tratamento. Romão (que ignorava a participação de André e Pepo naquele famoso assalto, mas sabia ser Pepo um marginal) abrigou-o, protegendo-o sob a promessa de que ele iria embora tão logo se curasse. Certa ocasião, em visita a Romão, André dera com Pepo. E agora voltava a sua presença, trazendo consigo um advogado. Junto com o próprio Romão tentaram convencer Pepo a inocentar André. Só que, para isso, era preciso que ele se entregasse, explicando à polícia a inocência de André, participante forçado de um assalto com o qual muito pouca coisa tinha a ver. Pepo se viu num dilema, e não se sentia capaz de encontrar uma solução. Sua primeira reação, e a mais lógica, foi salvar.a própria pele: abandonou André a sua sorte e fugiu, desapareceu do ambulatório.
Ave, César!
César, a princípio surpreso, desorientado, logo começou a reagir. Procurou Renner, instando-o a acompanhá-lo à polícia e confirmar o reconhecimento de André como um dos participantes do assalto. Renner, contudo; receoso e confuso, relutou. César então procurou Baldaracci e, como para buscar encorajamento, um apoio do qual necessitava, contou-lhe a verdade. Evidentemente, recebeu todo apoio possível, pois Nuno exultou em conhecer o comprometimento de André em tão melindroso problema. César ligou para o delegado do Leblon, jurisdição à qual o processo estava subordinado, marcou com ele uma entrevista. E voltou a procurar Renner.
- Então? Já se decidiu? - perguntou.
- Bem, eu...
- Marquei uma entrevista com o delegado para as onze. Está quase na hora.
- Escute, César... eu não sei... estou em dúvida. Afinal...
César o interrompeu, rude:
- Afinal, o quê? Você está ajudando um assaltante a permanecer em liberdade. Já pensou na gravidade dessa atitude? Será que não sabe que ela pode prejudicá-lo seriamente?
Renner suspirou fundo:
- Está bem. Vá na frente. Eu o encontro na delegacia. Daí a pouco estavam diante do delegado, César dizendo:
- Trouxe aqui o sr. Mário Renner, testemunha do assalto ao supermercado no Leblon, no dia...
Renner completou:
- Sete de janeiro deste ano, doutor. Já estive aqui outras vezes para reconhecimentos que foram inúteis.
O delegado o encarou:
- Pois não. Eu sei.
O delegado continuou a encará-lo, esperando que ele continuasse. Mas foi César quem falou:
- Agora, finalmente, ele reconheceu o nosso homem, doutor.
E sem a menor sombra de dúvida.
- Reconheceu?
Renner confirmou, a voz fraca:
- Sim, senhor.
- Bem, e então? - insistiu o delegado.
- Trata-se de André Cajarana, doutor. Um dos principais participantes do assalto - respondeu César.
- André Cajarana? Ah, sim. Eu já sei.
- Como sabe, doutor? - espantou-se César.
- Dr. César Reis, é evidente que seu depoimento será tomado. Mas, pelo que me foi dado saber até o presente momento, foram apenas três os autores do assalto ao supermercado.
- Sim. Três. Entre eles, André Cajarana.
- Não. Eram Pedro da Silva, ou Pepo; o Curió, que morreu ao tentar reagir à polícia; e Titan, que estarnos tentando localizar. O quarto homem, justamente André Cajarana, foi inocentado por um deles.
- Como, doutor?! - exclamou César, caindo das nuvens.
- Inocentado ... - repetiu Renner, também estupefato.
O delegado mandou um detetive trazer Pepo à presença deles e lhe pediu que repetisse a confissão que havia feito. Pepo obedeceu e, à medida que falava, mais e mais César se convencia de que André, por artes do arrependimento de um marginal, se tinha livrado, em definitivo, da armadilha que ele lhe preparara.
Ave, Nuno!
Mas não apenas César se sentiria atingido por André. A Nuno também estava reservado seu quinhão, e igualmente amargo, torturante. André levou os bilhetes trocados entre seu pai e Baldaracci ao delegado de Nilópolis. Ele, após examiná-los, disse:
- Muito bem. Com a prova testemunhal que já obtivemos e com mais estes documentos - depois, claro, de examinar sua autenticidade - não pode mais haver dúvida de que frei Nicolau foi assassinado por capangas de Baldaracci, a mando dele. Mas, como já lhe expliquei, ele escapará da cadeia, por força da prescrição da pena. O que não impedirá o senhor de conseguir o que queria, ou seja, a reabilitação da memória de seu pai.
André suspirou, aliviado:
- Com a graça de Deus! Parece até impossível que consegui! A partir desse momento, Baldaracci se viu em verdadeiro inferno, inacreditável roda-viva. A notícia ganhou as manchetes dos jornais, os bilhetes foram reproduzidos, a desmoralização avançou a passos largos, o antigo prestígio acabou comprometido. O povo, sabendo-se iludido pelos milagres de frei Nicolau, conhecendo-os agora apenas como um pretexto para manter a fábrica de velas de Nuno, revoltou-se. Piquetes formaram-se diante de sua casa, a execração levada a seu próprio lar. Ele se viu compelido a, pelo menos diante de seus familiares, encontrar uma saída, alternativa, a essa altura quase imprescindível. Mas, qual? Inventou mirabolante história, jogando toda a culpa do assassinato do padre sobre um excolaborador seu chamado Vitório, também já morto. Seus familiares mais ingênuos acreditaram-no isento, nobre até, por assumir a culpa de outrem, mas Romão e Gilda não se deixaram convencer.
Romão não quis criar polêmica, alongar a discussão; Gilda, porém, foi mais radical. Aliás, com ela haviam ocorrido, ao longo de todo esse tempo, importantes modificações. Se antes da chegada de André fechava os olhos às contradições de Nuno, a vinda do filho, aos poucos, lhe fora abrindo a consciência e ela passara a se penitenciar pela maneira como o tratara, penitência mais penosa ainda na proporção em que André a ignorava, não a deixava purgar culpa que ela não suportava mais. Já pensava até, e seriamente, em obrigar Nuno a lhe devolver a parte da fortuna de Malta que cabia a André, assim como decidiu (e o recente escândalo foi a gota-d'água) não manter mais vida em comum com o marido. Não abandonaria a casa, e fazia isso para preservar a harmonia entre os filhos, mas Nuno não a tocaria, ela não se entregaria a ele. Cada vez mais apaixonado e repelido por Ana Preta, Nuno pouco se importava com o que Gilda fizesse. Mas, para ela, tudo aquilo ia se constituindo em soma enorme de sacrifícios, que já lhe começavam a minar claramente a saúde. Enfim, todo esse quadro mostra, de sobejo, o quanto a vingança de André estava a trazer desagregações e fissuras onde antes parecia só existir segurança e felicidade .
O doce gosto da vitória
Exultante, André escreveu para Carina:
O que você queria que acontecesse aconteceu. Nunca vi na minha vida um homem tão por baixo, tão humilhado como César Reis, no momento em que se sentiu perdido, em plena Assembléia, quando foi destituído. E o mais curioso é que as pessoas que o rodeavam, bajuladores, no momento em que ele perdeu o cargo, deixaram ele sozinho. Ninguém ficou ao lado dele, ninguém disse: sinto muito. Ele teve de sair com o rabo entre as pernas, completamente só. As outras notícias: o que eu soube do seu balé (a Companhia de Balé Nacional) é que sua mãe assumiu a direção. Dona Irene ficou como secretária e o Mário Renner é o empresário. O dr. Tiago se afastou para dedicar-se só à presidência das empresas. Soube também que o pessoal do balé tem se apresentado em clubes na capital e teatros pelo interior. Quanto aos negócios, estou fazendo tudo como você pediu. Espero terminar rápido e voltar o mais depressa possível. Aquele que te ama até a morte, André.
André, que já tinha motivos para se sentir exultante com aquelas coisas, em breve teria razões para maior satisfação ainda. É que o advogado lhe trouxe pessoalmente um documento importantíssimo: a certidão na qual a Justiça proclamava, de modo explícito, a inocência de seu pai. Enfim, o sonho tão longa e penosamente acalentado se tornava realidade e ele não pôde evitar que lágrimas lhe inundassem o rosto, com o coração tomado por indizível sensação de justiça, alívio.
As sutis mudanças de um vitorioso
Outro qualquer, no lugar de André, já se daria por satisfeito; seguiria à risca as demais instruções de Carina, e regressaria para junto dela o mais rápido possível. Isso, porém, não ocorreu com ele. De maneira sutil, a princípio imperceptivelmente, ele foi alterando sua maneira de proceder, envolvido em altos negócios. Poder-se-ia dizer que perdera a pureza, a ingenuidade anterior, portando-se agora de maneira mais dura; parecia que o dinheiro, o exercício do poder, a dependência que criava a sua volta lhe haviam desenvolvido outra personalidade.
Exemplo claro disso foi o que fez a Renner. Não o perdoando por tê-lo denunciado a César, obrigou-o, mediante vultosa doação à companhia de balé de Carina, a afastar-se de sua administração. E isso à revelia da própria Carina, que, embora sem nutrir por Renner a antiga amizade, reconhecia nele os méritos de grande administrador.
Mais ainda: inteiramente tomado pela obsessão de reabilitar a memória do pai e tendo esse objetivo agora esvaziado, com Baldaracci batido, André não se deu por satisfeito. Mandou contratar um escritor para reunir as memórias de Malta Cajarana, e planejava mesmo erguer-lhe um busto junto à estátua de frei Nicolau. Comprou também uma casa para Ana Preta, verdadeira mansão suburbana, e lá a fez instalar-se, com o pai e a filha.
Evidentemente agia com a maior lisura em relação ao dinheiro de Carina. Só lançava mão dos lucros que auferia com as comissões recebidas da venda dos imóveis. Esse não era, de forma alguma, o ponto principal, já que o problema todo se resumia no fato de que os novos horizontes abertos para ele o contentavam plenamente, muito mais até do que os antigos. .
Ana Preta, olhando-o com os olhos do amor, fora a única que percebera tais mudanças. Chegara mesmo a falar com ele, mas André não lhe dera ouvidos, cegado pelos compromissos, a roda-viva que criara a sua volta. Então, como que para coroar algo do qual ainda não tinha, sequer, plena-consciência, escreveu para Carina dizendo que retardaria sua volta. Ela não deveria esperá-lo para o Natal, pois havia negócios em andamento que o prendiam no Brasil. Deixou também o hotel, foi morar na casa da praia, em Ibicuí.
DEDICO O CAPÍTULO DE HOJE À FERNANDA SOUZA, NOSSA AMIGA FER, QUE TANTO TEM COLABORADO COM O BLOG E A LETE, A MAIS NOVA BISCOITINHA DO PEDAÇO.
DEDICO O CAPÍTULO DE HOJE À FERNANDA SOUZA, NOSSA AMIGA FER, QUE TANTO TEM COLABORADO COM O BLOG E A LETE, A MAIS NOVA BISCOITINHA DO PEDAÇO.
JE adorei , to ansiosa pro próximo capitulo
ResponderExcluirBeijos
JE, adoro a Sessão Retrô! Lembro de coisas já esquecidas, as vezes, parece que estou lendo uma história desconhecida. E vi a novela toda! Ótima idéia a sua, de criar essa sessão! Bjs.
ResponderExcluirEugênio quanto mais leio essa estória mais curiosa fico. Quando a novela foi ao ar eu era muito pequena, por isso não lembrava de nada. Espero ansiosa pelo próximo capitulo, quero saber até quando o André agirá dessa forma, ele era tão boa pessoa e a Carina já sofreu tanto! Ambos merecem um final feliz. Bjos!
ResponderExcluirJEEEEEEEEEEEE
ResponderExcluirObrigada pela dedicatória!
Fiquei super feliz!
Muitos beijos no coração amigoooo
brigadao viu maninho``gosto muitao de vc tambem xD beijos fraternos ♥
ResponderExcluirOi JE, finalmente consegui ler esse capitulo, continua otimo, foi bom saber que o Cesar se deu mal na armação contra André. Agora to anciosa pelo reencontro de Andre e Carina.
ResponderExcluirbeijos