Aconteceu numa fria manhã, destas em que sair da cama é tarefa quase impossível e bastante injusta. Levantei-me bem cedo e me arrumei para o trabalho. Caminhei até o metrô, onde o fluxo de pessoas era intenso. Esperei para embarcar e consegui um lugar, em pé, no corredor. Olhava pela janela aguardando a partida, quando o sinal sonoro avisou do fechamento das portas.
Neste instante, surgiu na plataforma uma mulher, em desabalada carreira, arrastando pela mão uma criança. Jogou-se para dentro do vagão, passando por uma fresta. O tempo foi curto para que as duas entrassem. A menina ficou para trás.
Fiquei injuriada, olhando para aquela mulher inconseqüente e irresponsável, não conseguindo acreditar na tolice de seu ato.
O trem começou a se movimentar.
A mãe fez um gesto para a garota, que não consegui distinguir qual fosse.
Olhei para a menina. Não tinha mais que nove anos. Seu rosto era um misto de medo, desespero e abandono. Era visível que a qualquer momento cairia no choro.
O trajeto até a próxima estação me pareceu uma eternidade. Mil suposições me passaram pela cabeça: A menina compreendera o gesto da mãe? Esperaria por ela onde estava? Tomaria o trem seguinte tentando encontrá-la? Aceitaria a ajuda de um estranho? E este estranho seria confiável? A menina se perderia? Seria seqüestrada? Seria morta ou estuprada? Ou seria entregue ilesa a mãe?
Não conseguia me conformar com a burrice daquela mulher, que para economizar míseros segundos, colocara em risco a segurança da própria filha. Para que tanta pressa? O que poderia justificar esta insanidade? Porque não avaliara antes as conseqüências de seu ato? Por que se colocara numa situação tão aflitiva?
Ou será que a aflição era só minha?
Será que se afligem os inconseqüentes?
Na parada seguinte a mulher desceu e pegou o trem de volta.
E minhas dúvidas ficaram sem respostas.
(Escrito por Valdeci Affonso de Lima, Outubro de 2008)
Val! Gostei muito do seu texto. Uma crônica, não é? À medida que lemos, vai crescendo a aflição em nós, leitores, para saber qual será o desfecho da história.
ResponderExcluirE aí você deixa em aberto. A pergunta pertinente passa a ser do leitor também. Será que aquela mãe inconsequente ficou tão aflita quanto nós? Espero que sim; esperamos que sim.
Parabéns por mais essa contribuição para seus leitores. Beijo grande!
Parabéns Val, o desfecho da história ficou a critério de cada um, belo texto.
ResponderExcluirVal espero que seja só uma ficção! Mas sei que de inconsequentes, o mundo está cheio, e isso acaba causando sofrimentos grandes e desnecessários! Parabéns Val, belo texto! Bjs.
ResponderExcluirÉ uma crônica sim, Rebeca. Obrigada por seu carinho.
ResponderExcluirEh Maria, dá para soltar a imaginação!!
Maria do Sul, não é ficção. Aconteceu de verdade! Oh povo sem noção!!! Credo!!!
Obrigada Meninas... Bjs......