quarta-feira, 24 de novembro de 2010

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO III


Duda abriu a janela do quarto do Hotel Glória e Ritinha deslumbrou-se com a vista da cidade do Rio de Janeiro. Fora uma noite maravilhosa, mas Duda já tinha de sair: precisava ir até seu apartamento. Lá residiam alguns jogadores do time e Duda queria mandá-los embora. Afinal, era ele quem pagava o aluguel. Ritinha amuou-se, ficou triste com a saída de Duda.
- Espere, amor. É por pouco tempo.
O "pouco tempo" de Duda durou horas. À tardinha, Rita resolveu agir. "Na portaria do hotel", pensou ela, "devem ter o telefone dele". Sim, tinham o telefone do "Duda do Flamengo". Ela fez a ligação e assim soube que seu marido precisava ir para o clube, e ficar na concentração. Fora convocado pelo técnico.
Rita ficou decepcionada.
- Eu te avisei que ia ser duro, não avisei? - comentou Duda. Depois pediu a Ritinha que anotasse o endereço do apartamento. - Você pega um táxi e vem direto pra cá.
Ritinha quis saber se Duda não poderia vir buscá-la; afinal, ela não conhecia nada do Rio, tinha acabado de chegar.
- Não tenho tempo, Ritinha. Olha, mando a mulher do Neca te pegar aí. É a Cármen, uma cantora. Pessoa legal às pampas.
Ritinha concordou e foi ler um pouco, na cama, aguardando a chegada da tal Cármen. Acabou adormecendo. Acordou com o toque do telefone. A gerência informava que a procuravam. Ritinha pediu para que mandassem a pessoa subir. Poucos instantes depois, bateram à porta do quarto. A moça abriu e Paula entrou.
- Boa noite! Você é a mulher do Duda?
- Sou. E você é Cármen, não é? - perguntou Rita, que não conhecia pessoalmente a amante de seu marido.
- Sim. Sou Cármen Valéria, a mulher do Neca - mentiu Paula, aproveitando-se da coincidência.
Ritinha alegrou-se, mas por pouco tempo. Logo de início, a outra começou a provocá-la:
- Você, então, é a caipirinha que agarrou Duda, hein?
- Agarrei? Como? - surpreendeu-se Rita.
Paula continuou a provocá-la. Ritinha constrangia-se com a estranha conversa da amiga do marido. Queria ir sem demora para sua nova casa.
- Sua casa? Essa é boa... Duda aluga apartamento pra se casar com outra... E, de repente, você aparece casada com ele... e rouba tudo.
- Que outra? - indagou Ritinha, chocada.
- Duda não te disse? Safado! Devia ter te contado que estava de casamento marcado com outra mulher.
- Casamento marcado?!
Paula continuou atormentando sua rival:
- Vamos embora. Tenho de te proteger. Sabe como é... Se a outra te encontra, é capaz de te esganar!
Ritinha assustou-se. Pegou a mala e saiu. Paula seguiu atrás, sorrindo ironicamente.
Quando chegaram, Duda estava na concentração. A falsa Cármen dirigiu mais algumas "amabilidades" a Ritinha e depois deixou­a sozinha com sua frustração. Reencontrou-a no dia seguinte, logo cedo, e perguntou se a jovem não gostaria de visitar seu marido na concentração.
- Eu posso?! - perguntou Rita, esperançosa, embora Duda já lhe tivesse explicado que não, que ali ficavam apenas os atletas preparando-se para o jogo.
Paula, no entanto, afirmou-lhe o contrário. Afinal, Ritinha era esposa, não haveria problema, E, assim, Rita foi para o quarto de casal, arrumar-se. Queria estar bonita quando o marido a revisse.
Estava lá quando a campainha tocou e Paula atendeu. Era a verdadeira Cármen, e estava furiosa:
- Me deixa entrar, sua vigarista! Vou esclarecer a confusão que você deve ter armado com a mulher do Duda.
Paula percebeu a dificuldade da situação. Mais um minuto e tudo estaria perdido. Mas ela sabia que a cantora iniciante precisava de uma mãozinha em sua carreira. Dizendo-se amiga de diversas pessoas influentes em gravadoras e emissoras de TV, ofereceu-se para ajudá-la.
- Não sabia que você tinha tantos conhecimentos - espantou­se Cármen.
- Mas tenho! Pode confiar em mim!
Ritinha acabara de se aprontar e aproximou-se da porta. Paula deu uma piscadela para Cármen e apresentou-a como outra pessoa qualquer.
Despediram-se de Cármen, com a desculpa de que tinham pressa, e logo as duas mulheres apaixonadas por Duda estavam no carro de Paula. Ela deixou a rival diante da sede do Flamengo.
- Você não vem contigo? - perguntou Ritinha.
- É melhor vocês se verem a sós. Boa sorte - desejou Paula, com ironia.
Já no interior do clube, Ritinha conheceu Fausto Paiva, o técnico.
- Bom dia. Quero falar com o Duda.
- Ele está em concentração - informou Fausto.
- Mas... eu sou a mulher dele. Será que não posso ver meu marido?
Fausto, que não acreditou em Ritinha, virou-se para o porteiro:
- Jarbas! Bota essa vigarista daqui pra fora!
Enquanto Ritinha, chorando, era obrigada a deixar o clube, Fausto Paiva procurava o atleta. Duda confirmou seu casamento com Ritinha e quis sair para encontrá-la.
- Absolutamente! Daqui você não sai! Afinal, isto é concentração ou parque de diversões? - perguntou o técnico, irritado.
Ritinha, desesperada, perambulou pelas imediações do clube à procura de um táxi.
- Pra onde, moça? - perguntou o motorista ..
- Eu... não sei! Não sei! - respondeu ela, desesperada.
- Calma, moça. Com um pouco de paciência a gente descobre. Você tem dinheiro aí, não tem?
- Tenho - respondeu ela. - O Duda deixou algum...
- O Duda do Flamengo?!
O motorista do táxi era fã do jogado e fez o que pôde para ajudar Ritinha. Acabou deixando-a no Hotel Glória, o único ponto de referência da moça naquela cidade. Ela estava com dinheiro suficiente apenas para passar uma noite no hote1. Não conseguiu falar com o marido na concentração e as tentativas de obter o endereço de seu apartamento foram inúteis. Sabia apenas - porque o motorista comentara - que Duda jogaria no dia seguinte, no Maracanã.
Rita esperou impaciente o tempo passar e postou-se nas imediações do estádio. Pelos rojões e pela gritaria percebeu quando o jogo acabou. Duda era novamente ovacionado como um grande craque, um herói.
Ela procurou alcançar a saída dos jogadores, movimentando-se entre a multidão que deixava o. Maracanã. Quando chegou ao grande portão, viu Duda, cercado por torcedores frenéticos, tentando entrar no ônibus do clube. Subitamente, alguém o abraçou e beijou. O atleta correspondeu, enlevado. Ritinha não acreditou no que via. Era "Cármen Valéria".
Desorientada, permaneceu vagando pelas proximidades do estádio. Dormiu num banco de jardim.
Alguém a despertou, muito tempo depois. Ritinha assustou-se:
- Quem é você?! É da polícia? Não pode dormir aqui? Eu não sabia, eu...
- Calma, moça, está tudo bem.
O rapaz apresentou-se. Era Hernani, irmão de Paula e um dos amigos de Duda que morava no apartamento. Descobrira o paradeiro de Ritinha porque um porteiro do estádio lhe informara.
Levou Ritinha de volta ao apartamento. A verdadeira Cármen Valéria estava lá e procurou desculpar-se:
- Não pude vir e Paula se fez passar por mim. Depois me convenceu de que era apenas uma brincadeira... Bem, mas estou aqui pra desfazer esse engano. Me doeu na consciência, Ritinha. Espero que me perdoe...
A porta se abriu e Neca e Duda entraram sorridentes. Cármen atirou-se nos braços do marido. Ritinha evitou até olhar para Duda. Pediu a todos que saíssem: queria estar a sós com ele. Seu desejo foi atendido.
Duda não sabia de nada do que tinha acontecido. Ritinha contou-lhe de Paula passando-se por Cármen, do episódio na concentração, da volta ao hotel, do banco de jardim.
Duda indignou-se com a atitude de Paula. Ritinha chorava. Por fim, contou-lhe que vira os dois se beijando na saída do jogo.
- E você bem que gostou!
- Você não tem direito qe fazer exigências, Ritinha. Eu...
- Sou sua mulher! Se não tenho direito... o que é que estou fazendo aqui?
- Não sei! Ainda não sei.
Já abrindo a porta do apartamento, irritado, perguntou se Ritinha queria voltar para Coroado.
- Não! Meu lugar é a seu lado. Não foi isso que jurei no altar?
- Então, saio eu.
- Aonde você vai?!
- Dar uma volta. Um amigo está me esperando... Volto mais tarde.
Da janela do apartamento, Ritinha avistou "o amigo" de Duda.
Era Paula. Correu até o quarto e atirou-se de bruços sobre a cama. Lágrimas escorriam de seus olhos.
Duda só voltou para casa no dia seguinte:
- Passei a noite na concentração, Ritinha.
Ritinha pediu-lhe que não mentisse.
- Quando você saiu, ontem, a Paula estava te esperando. Eu vi.
- Bem, eu aproveitei pra lhe dar uma tremenda bronca! Disse tudo que tinha pra dizer. Foi até bom. Rompi mesmo, no duro, de uma vez! - disse Duda, visivelmente embaraçado.
Ritinha acreditou: pessoas apaixonadas só vêem virtudes no ob­jeto de seu amor.

MINHAS TARDES DE SOL (TEMA DE RITINHA) NA VOZ DE REGINA DUARTE



OFERECEMOS ESTE CAPÍTULO À NOSSA AMIGA MARI DO MURAL DA URCA, QUE TEM CONTRIBUIDO COM BELAS MENSAGENS PARA NOSSA SESSÃO PARA MEDITAR.

4 comentários:

  1. JE, lembro bem do sofrimento de Ritinha. Paula infernizava a vida da coitada! Ritinha chorava tanto durante a novela que meu pai apelidou Regina Duarte de Choroninha (Glória Menezes era a Chorona). O relacionamento desse casal ficava cada vez mais complicado, chegando a um ponto crítico! E era um casal tão bonitinho! Adorei recordar! Obrigada! Beijo.

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  2. JE,ESTOU TÃO EMOCIONADA DE VC SE LEMBRAR DE MIM, EU É QUE TENHO DE AGRADECER A VC POR POSTAR OS TEXTOS QUE ENVIO, ACHO QUE HOJE NEM VOU DORMIR,
    SÃO TANTAS EMOÇÕES....MUITO OBRIGADA. BJOS

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  3. To adorando, mas esse Duda hein?!!!!!! acho que ainda vai fazer a Ritinha sofrer muito. Beijos

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  4. Esses homens, sempre fazendo as mulheres sofrerem,tanto na vida real como nas novelas, são todos iguais. bjos

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